DE QUE NÉCTAR

De que néctar me desprendo

E crendo a Despedida

Recito ainda

O fôlego da poesia nas pétalas do Amor resistente

Tombando lágrimas de orvalho

Mutiladas asas

Vibrando cristalinos estandartes pelo majestoso soalho do porvir?!

De que corpos me incendeio ainda

Noctívaga sombra

Em vendaval manifesto

Ecoando o transe de existir

Por todos os riachos

Como um manto?

Derrubais-me ó gentes,

Perante adornos de mentira?

E, de tanto me julgardes a carne em viçosos rebentos

Clamando Liberdade pelos prados

Permaneceis áridos na clausura de vossas almas!

Não partirei convosco!

Rosa dos Ventos me trouxe

Aconchegada ao peito

Concedi-lhe

Num cabo de tormenta

Minha nudez de alento!

Sou filha da Luz

Peregrina de um fado maior

Em marés de sobressalto!

Cantai rouxinóis, cantai!

Chorai silêncio, chorai!

E somente na pena dos poetas

Exaltai compulsivas as pérolas

Segredos beijando sargaços em suplício.

Meus olhos vos deixo, como irmã

Em altar de sacrifício.

Derramai poetas, gargalhadas de pranto em todas as praças

Entregai ao vento todas as lágrimas!

Célia Moura, in "Enquanto Sangram As Rosas..."