QUISERA EU...
Quisera eu ser teu âmago,
Essas mãos
Esses touros de sangue à solta.
Quisera eu sobrevoar
A cidade do precipício
E folgar na dor
As giestas do devaneio
E da vontade.
Teu fôlego
Teu grito
Minha prece
E deixar de sentir a dormência dos dias
Nos vãos da janela
Dos murmúrios
Despir-me
Qual epopeia louca
Pelo chão das promessas.
Quisera eu aliviar
Teu desassossego
No auge do infortúnio,
Ser teu orgasmo em desalinho
Nos confins de um pincel
Ou um silêncio somente.
Quisera eu ser meu próprio vinho,
Meu regaço
Minha Aldeia à berma
Do Caminho
E voltar a ser eu
Aquela que fui
Coisa nenhuma.
Célia Moura, a publicar "No hálito de Afrodite"
Andrew Lucas Photography