Via-Láctea - VIII

Em que céus mais azuis, mais puros ares,

Voa pomba mais pura? Em que sombria

Moita mais nívea flor acaricia,

À noite, a luz dos límpidos luares?

Vives assim, como a corrente fria,

Que, intemerata, aos trémulos olhares

Das estrelas e à sombra dos palmares,

Corta o seio das matas, erradia.

E envolvida de tua virgindade,

De teu pudor na cândida armadura,

Foges o amor, guardando a castidade,

- Como as montanhas, nos espaços francos

Erguendo os altos píncaros, a alvura

Guardam da neve que lhes cobre os flancos.

- Olavo Bilac -