A CASA BRANCA

Dar-te-ia

As imagens

Veladas,

Se a música que entoava através das palavras

Entre o negro das tulipas

Se fizesse ouvir.

Aquela casa branca que ruindo

Aos pés do desalento

Clamou por nós!

Cidade exangue de minhas mãos erguidas

À revoada,

Das chuvas de Outono

Fustigando a vidraça da esperança.

A música era azul.

Como azul era o meu bibe,

O meu céu, o mar que eu já adivinhava…

Tudo era azul.

O resto eram somente véus sobrepostos.

Tudo seria uma casa branca,

Etérea, nossa,

Se eu pudesse regressar aos teus braços, minha mãe,

Dar-te o meu abraço de alfazema doce.

Tudo o resto, seriam somente devaneios meus,

Ao som de piano e de guitarra.

Belas casas cor de rosa

Na guilhotina do tempo.

Dar-te-ia

A voz dos riachos,

O ranger da porta do meu quarto

As frases dos meus primeiros livros,

Os meus primeiros versos…

Esta trémula alegria.

Ai cidade que fazes estancar o sangue de um sorriso!

Casa branca de paixão

por minhas mãos inventada,

Ruindo aos pés do desalento…

Dar-te-ia todas as imagens

Veladas,

Se a música que então entoava

através das palavras

E o negro das tulipas

Se fizesse ouvir

Entre o meu bibe azul

E os sorrisos estancados nos lábios colados

De todas as gentes,

Entre o teu olhar sereno de outrora,

Mãe

E este meu desassossego

Fizesse retornar o Tempo.

© Célia Moura – A publicar “Terra de Lavra”

(Gunin Alexander Painting)