TU ÉS A PRECE QUE JÁ NÃO SEI DIZER

Tu és a prece que já não sei dizer,

Os olhos que sei de cor e não recordo

O sabor de os beijar.

Tu eras o bandolim e o banjo

Que eu quisera caminho,

A guitarra onde sempre me enrosquei

Como mais um acto inacabado…

Tu eras a mais elevada torre,

O poema de brocado vestido

Última rendição.

A girândola do tempo

Somente nossa,

Esse além de sermos dois

E nos contemplarmos um só.

Puta que pariu para nós!

Hoje contemplo entre uma taça de vinho

Teu semblante,

Esta rosa branca flamejante de luto

Adornando minha secretária

Onde escrevinho e digo tudo

Como os bêbados em redor da mesa de uma tasca

Porque estar lúcido

Essa sim é a maior embriaguez

Nesta enfermaria universal de loucos!

À merda com a rotina e toda a «normalidadezinha»!

Célia Moura, 31.V.2016

Fabian Perez painting