CAVALO À SOLTA
Minha laranja amarga e doce
meu poema
feito de gomos de saudade
minha pena
pesada e leve
secreta e pura
minha passagem para o breve
breve instante da loucura.
Minha ousadia
meu galope
minha rédea,
meu potro doido
minha chama
minha réstia,
de luz intensa
de voz aberta
minha denúncia do que pensa
do que sente a gente certa.
Em ti respiro
em ti eu provo
por ti consigo
esta força que de novo
em ti persigo
em ti percorro
cavalo à solta
pela margem do teu corpo.
Minha alegria
minha amargura
minha coragem de correr contra a ternura.
Minha laranja amarga e doce
minha espada,
poema feito de dois gumes
tudo ou nada.
Por ti renego, por ti aceito
este corcel que não sossego
à desfilada no meu peito.
Por isso digo
canção castigo
amêndoa travo corpo alma amante amigo
por isso canto
por isso digo
alpendre casa cama arca do meu trigo.
Meu desafio
minha aventura
minha coragem de correr contra a ternura.
in " As Palavras das Cantigas"