OUTONAIS

No meu peito alvo, de neve,

as claras pétalas dos teus dedos,

finas e alongadas,

tombaram como rosas desfolhadas

à luz espásmica e fria

deste entardecer…

E o meu corpo sofre,

ébrio de luxúria, um mórbido prazer!

A cor viva dos teus beijos,

meu amor,

prolonga ainda mais o meu tormento,

na trágica dor

deste desvestir loiro e desolado

do Outono…

Repara agora, como o sol morre

num agónico sorrir

doloroso e lento!…

Noite… um abismo…

sombras de medo!

Tumultuam mais alto os teus desejos!

Sobe o clamor do meu delírio

e a brasa viva dos teus beijos,

num rúbido segredo,

vai-me abrindo a carne em sulcos de martírio!