Igor Salomão Monteiro
Psicólogo CRP 06/101831
UNESP Rio Claro
A pandemia chegou como uma tempestade, que estamos enfrentando em barcos diferentes, isto é, em diferentes condições sociais, de renda e de moradia, além dos próprios recursos internos e valores. Estamos sendo desafiados a conhecer nossas forças e fraquezas e rever nossa rota para um novo lugar, um novo ser, estar e pensar. É uma tempestade de incertezas: quanto tempo vai durar a pandemia? Como será o futuro? Como será o novo normal?
Essas incertezas podem nos causar medos: do desconhecido, de ser contaminado e de contaminar aos outros, de morrer ou perder alguém neste período, de ficar insensível a tudo isso. Esse medo é benéfico num certo sentido porque nos faz seguir as medidas sanitárias para nossa própria proteção e as dos outros. Por outro lado, as incertezas e os medos não podem nos paralisar.
O distanciamento social, necessário ao enfrentamento da pandemia, afetou a convivência entre pessoas. Aumentou a proximidade e tempo com parceira/parceiro, filhos e irmãos, houve sobreposição de papéis sociais no mesmo espaço físico, nas áreas profissional, familiar e escolar, acrescida, às vezes, da sensação de privação de liberdade. Essas mudanças podem provocar estresse, esgotamento, raiva, agressividade e depressão. Se de um lado a pandemia permitiu aproximar afetivamente as pessoas, por outro, tem aumentado a violência familiar, as tentativas de suicídio e o suicídio.
O modo como nos vemos uns aos outros é importante para enfrentar a pandemia. Ao invés de ver ao outro apenas como ameaça, um corpo transmissor de vírus, é preferível viver uma epidemia de solidariedade: enxergar no outro um semelhante, com quem juntos podemos vencer a situação de modo coletivo e responsável.
Neste momento de pandemia, cada pessoa deve cuidar para manter os relacionamentos interpessoais em níveis saudáveis. Seguem algumas dicas para este momento de pandemia:
Tome a iniciativa de ouvir, acolher e compreender as pessoas com quem você convive antes de ser ouvido, acolhido e compreendido;
Busque fortalecer seus vínculos afetivos e ampliar sua rede de suporte social, seja família, amigos, pessoas com crenças em comum. Permita-se entrar em contato com pessoas distantes fisicamente ou que há tempos não conversa. Use a tecnologia a seu favor, para aproximá-lo dos outros;
Mantenha uma rotina mínima de atividades, organizando tarefas e compromissos. A rotina é estruturante, nos ajuda a manter o foco e a perceber de modo mais leve a passagem do tempo, além do senso de utilidade e de previsibilidade;
Procure informações e orientações de saúde em fontes confiáveis, como os sites do Ministério da Saúde e das Secretarias de saúde de cada estado;
Faça pausas durante o dia, no sentido de processar as informações que já leu e ouviu;
Procure pessoalizar as perdas e prestar condolências às pessoas que perderam amigos e/ou familiares pela covid-19;
Converse sobre outros assuntos além da pandemia, faça planos apesar da pandemia;
Fique em silêncio por alguns minutos durante o dia, desconectado da internet, buscando conectar-se consigo mesmo, com seus pensamentos, sentimentos e sensações. Esteja presente;
Ache o seu ponto de equilíbrio entre os extremos da alienação do assunto e do pânico;
Invista tempo em alguma arte que aprecie, que te dê prazer;
Seja flexível, dispondo-se a rever pensamentos, ideias, crenças e valores; Se disponha a aprender algo novo;
Desenvolva a própria inteligência, no sentido de buscar uma melhor adaptação a este momento. Permita-se correr riscos;
Busque resgatar a esperança em algo maior que si mesmo, maior que a vida, maior que o mundo visível, maior que os governos, autoridades e ídolos.
"Oi, eu sou a Camila! Sou estudante de Física da Unesp. Faço parte desse grupo que foi criado com a intenção de estudarmos a cosmologia, a astrofísica, a astronomia como um todo. É um grupo que não tem relação direta com a Universidade, como se fosse um projeto de extensão, mas é um grupo feito por estudantes da Unesp. Estamos, nesse momento da quarentena, realizando reuniões semanais sendo que temos dois grupos diferentes: o grupo chamado Atena e o outro, chamado Gaia. A AstroLábia não tem apenas estudantes da Unesp e conta com a presença do professor Mário Novello, no grupo Atena, o que tem sido uma experiência muito legal. Essas reuniões são muito frutíferas apesar das limitações.
Oi! Eu sou a Chahiny e vou falar sobre a frente Atena. Nós nos encontramos de quinze em quinze dias para fazer o estudo do livro do professor Mário Novello, como a Camila citou, "O que é Cosmologia?" A cada encontro a gente estuda um capítulo do livro e o professor tira nossas dúvidas, responde perguntas e explica os assuntos tratados no livro. É uma frente de estudos aberta a qualquer pessoa que tem interesse em cosmologia, astrofísica, filosofia. A gente tenta fazer com que essa frente não seja focada e direcionada apenas numa linguagem acadêmica.
E aí! Eu sou o Renan e vou falar um pouco sobre a frente Gaia. A gente tinha a intenção de fazer várias oficinas e graças ao covid-19 não será possível por causa do distanciamento social. Então as nossas reuniões continuaram acontecendo, de duas em duas semanas, mas dessa vez a gente acabou dando um foco maior pra leituras e discussões sobre alguns temas relacionados. Na última reunião conversamos sobre a teogonia indígena do Brasil, sobre como os índios enxergavam - e algumas culturas remanescentes enxergam - o céu, como relacionam com seu dia-a-dia. Um estudo meio que antropológico.
Olá! Eu sou a Mari. Complementando o que todo mundo falou, as nossas reuniões virtuais são uma maneira de não perdermos o foco e o estímulo dos nossos estudos. Estamos sentindo um baque muito grande. Nós "só" conseguimos estudar e discutir mas não conseguimos fazer o que tanto queríamos que é observar o céu (em grupo). A nossa atividade essencialmente acontece a partir das observações e algumas coisas são insubstituíveis. O que dá pra fazer é incentivar o pessoal a observar o céu de sua casa ou de onde estiver e tirar fotos, mandar pra grupo, pra gente continuar com esse estímulo. Também compartilhamos atividades online de outros grupos de astronomia, tem muita gente produzindo material e muitas lives sobre o assunto. Bom, nosso grupo é aberto e com as reuniões virtuais não existem barreiras geográficas, qualquer pessoa pode participar. Nesse momento seguimos planejando as atividades virtuais dos próximos meses e idealizando um certo futuro sem saber exatamente quando pros nossos encontros presenciais, finalmente.
Isso é um pouquinho da nossa experiência durante a quarentena. "
A partir do quadro superior esquerdo em sentido horário:
Mariana (Mari), Camila, Renan e Chahiny
Uma epidemia só acaba quando a maioria da população estiver imunizada, porque, ou contraíram o vírus, ou tomaram a vacina. Estão dizendo que como a vacina demora, é melhor deixar todos contraírem a doença, como teria acontecido em 2009 quando a gripe suína chegou. Isso não é verdade: o H1N1, vírus da gripe suína é antigo, circula desde 1918 sofrendo mutações o que dá alguma imunidade à população. O Sars-Cov-2, o vírus da covid-19, é novo e ninguém tinha imunidade. Ele se transmite muito mais rapidamente e é 30 a 40 vezes mais letal do que a gripe suína.
O H1N1 sofre mutações e a imunidade não é permanente: a vacina precisa ser renovada anualmente. Ainda não se sabe como é imunidade contra o vírus da Covid-19: se ela pode ser adquirida e por quanto tempo dura. Por essa razão ainda é arriscado apostar que o contágio da população leve à imunidade: se a imunidade for passageira, ou se ela não existir, pessoas ficariam doentes ou morreriam em vão.
O que aconteceria se população toda de Rio Claro decidisse deixar o vírus correr solto pela cidade e para todos adquirirem imunização rebanho? Ela foi tentada no Reino Unido, mas rapidamente abandonada. Uma população alcança a imunidade quando 60 a 90% está com anticorpos contra o vírus. Rio Claro com 210 mil habitantes teria que contagiar pelo menos 60% x 210 mil= 126 mil pessoas.
Calcula-se que 80% das pessoas são assintomáticas ou tem a forma leve do covid-19. Os outros 20% precisarão de cuidados hospitalares: 126 mil x 20% =25,2 mil pessoas serão hospitalizadas. Um terço das hospitalizações leva o paciente para a UTI: 25,2 mil x ⅓ = 8.400 pessoas. Elas precisarão de cuidado extremo para não se afogarem no seco, roxo por falta de ar: ficarão em média durante 10 dias sedado no respirador. Estima-se que Rio Claro possa ter cerca de 50 leitos UTI entre hospitais públicos e particulares. Com mais de 50 doentes graves, os hospitais serão obrigados a escolher quem irá para a UTI e deixar o excedente à sorte. Como cada paciente fica 10 dias na UTI, cada leito poderá receber 3 pacientes por mês ou 3 x 50= 150 pacientes na UTI por mês.
Os rioclarences terão que torcer para que o número de pacientes graves não ultrapasse os 150 por mês. Serão 8.400 / 150 = 56 meses ou 1.680 dias ou 4,5 anos até todos que precisarem de UTI passem recebendo tratamento digno sem esperar na fila para ser atendido. Mas a doença não é tão bem comportada assim: o número de casos em Rio Claro, dobrava a cada 11 dias. Isso significa que se alguém internar na UTI hoje, sairá de lá daqui a 10 dias com quase o dobro de pessoas. Sem controle, se hoje temos 10 pacientes em UTI, em 10 dias serão 2 x 10=20, em 20 dias serão 2 x 20 =40 e em 30 dias 2 x 40=80 pacientes.
Cerca de ⅓ dos doentes que chegam às UTIs vão a óbito: 8.400 x ⅓ = 2.800 rioclarences poderão perder a vida por causa da covid-19, quase o dobro do número de mortes em Rio Claro no ano passado. Porém, se o número de doentes aumentar, a capacidade dos hospitais será ultrapassada e mais óbitos virão. É a cena de horror que se viu na Itália, no Equador e no Amazonas.
A maioria das pessoas já esqueceu o medo que a gripe suína provocou há dez anos. Na época, ninguém se atreveu a recomendar a imunização rebanho, mas sim medidas de higiene e distanciamento, parecidas com as da atual pandemia. Com paciência, o número de casos foi relativamente baixo até a vacina chegar. A Covid-19 é muito mais perigosa: 30 a 40 vezes mais letal e se espalha mais rapidamente. Faz mais sentido recomendar 30 a 40 vezes mais cuidado, como lavar as mãos, usar máscaras, manter distância segura, evitar aglomeração, do que mandar todos se contagiarem com o vírus.
Enquanto o número de casos em Rio Claro ainda é pequeno, é possível cuidar com atenção cada caso novo de covid-19. É importante descobrir com quem uma pessoa infectada teve contato e isolá-las até ter a certeza de que não transmitirão a outros. Todas as pessoas com possibilidade de ter sido contagiada e de contagiar devem permanecer isoladas durante 14 dias.
Não é preciso esperar o poder público mandar fazer o distanciamento, isolamento ou tomar medidas sanitárias. As informações estão em todos os lugares. E se encontrar alguém que não sabe, não custa nada ajudar a se informar.
A dança também está presente no período de isolamento com apresentações virtuais.
São Paulo Companhia de Dança tem programação exclusiva na semana pelas mídias sociais:
“Na segunda (01/06), vamos apresentar a edição do Figuras da Dança com o diretor do Balé da Cidade de São Paulo (Theatro Municipal de São Paulo), Ismael Ivo.
Na quarta (03/06), uma edição especial do Canteiro de Obras revela os bastidores da criação de Entreato, assinada por Paulo Caldas Paulo Caldas em 2008.
Esta é uma preparação para a estreia da íntegra da coreografia, em streaming, nesta sexta (05/06), às 18h, em nosso canal no YouTube.
Ah! E não se esqueça: GEN, de Cassi Abranches, segue disponível até 04/06, também na íntegra, no canal da SPCD no YouTube (link https://www.youtube.com/watch?v=9v-I7AfVces).”
Facebook: https://www.facebook.com/spciadedanca
Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCF08wniedCvkPSymji6_LRA
Página: http://spcd.com.br/
Existe outro filme dirigido por esse Gillo Pontecorvo. Esse se chama "Queimada". Trata de uma ilha caribenha fictícia, cujo nome é o do título do filme. A história se passa no século XIX. A ilha tem produção agrícola baseada em cana de açúcar e exploração de escravos. A língua nativa é português. Chega um inglês que logo é hostilizado pelos colonos portugueses, porque Inglaterra e Portugal eram nações inimigas. O que ele faz é provocar escravos pra ver se entre eles há algum menos submisso. Acaba encontrando um que tentou ataca-lo e começa a promover atitudes de revolta contra os senhores escravocratas. Treina os escravos, mas, na surdina, faz delações dos mesmos para os governantes. Os escravos já preparados acabam vencendo e tomando o poder. Mas o dito inglês (Marlon Brando) de fato, estava defendendo interesses comerciais da Inglaterra. O novo presidente, ex-escravo, acaba percebendo que estava sendo usado. Percebendo o fato, mas também o seu despreparo para enfrentar o mundo internacional do comércio, volta a clandestinidade, para durante anos em lutas de guerrilha, aprender a viver nesse mundo.
Mas não é só isso. Mostra que os brancos (ocidentais) não se apresentam como "solidários". Usam os escravos apenas em nome de seus próprios interesses. No entanto, esquecem que escravos são gente e, portanto, também raciocinam. Dessa forma, uma situação que julgavam sob seu controle, lhes escapa. Os ex-escravos levam a revolução para além de sua previsão.
BOLETIM ANTI COVID-19, Rio Claro: Unesp, n. 19, maio 2020. Disponível em:
https://sites.google.com/unesp.br/boletim-anti-covid-19/ed_anteriores/bac-19-03062020. Acesso em [dia / mês (abreviado) / ano]