Santidade

Santidade

O mundo olha para a igreja esperando nela ver um diferencial, um estilo de vida que contraste com o estilo de vida da sociedade. O mundo costumava ver a igreja sob a ótica do respeito, de vida transformada, de gente diferente, de pessoas de bens - de cujo seio saiam empregados submissos, donde empregadas domésticas eram requisitadas, de gente que pagava em dia suas contas - em que o dono do armazém vendia fiado na caderneta sabendo que receberia seu dinheiro. No dizer de Pedro, sem amoldar-se às paixões da vida mundana que tínhamos antes de receber a Cristo (1 Pe 1.14). No dizer de Paulo, viver sem conformar-se com esse mundo (Rm 12.2) mostrando ao mundo "como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade" (1 Tm 3.15).

No entanto, no decorrer dos anos a igreja incorporou em seu seio os valores mundanos, a filosofia do mundo, seus modismos, deixando-se levar ao sabor do sistema. Confundiu contextualização com contemporização - não soube trabalhar no contexto da sociedade e acomodou-se à sociedade que ela tanto insiste em mudar.

Ainda hoje o mundo espera ver na igreja o diferencial entre aquilo que frustradamente vive e o que espera encontrar na igreja - e quase não o encontra. Para encobrir o que somos, criamos a moda gospel, buscando parecer que o estilo de vida cristã, sua música e mensagem tenham adquirido nova roupagem.

Pelo menos existe o charme glamouroso (desculpe-me o pleonasmo) na substituição do termo em português pelo inglês! E a geração gospel vai para a televisão falar de Cristo e do novo nascimento, literalmente sem roupagem alguma! Mulheres sensuais e seminuas com um palavreado profano - não que queiramos que todos aprendam o evangeliquês - afirmam ser membros dessa ou daquela igreja.

Não apenas as mulheres, mas também os homens confundem pelo visual e palavreado a mensagem do evangelho! A opção de ser crente, de ser um fiel discípulo de Jesus - às vezes uma decisão difícil sabendo-se que há um preço a ser pago em seguir a Jesus - já não é levado em conta por boa parte dos que se dizem cristã, por pessoas que dão péssimo testemunho, pois seu comportamento no campo de sua atividade profissional contradiz seu palavreado e suas afirmações de fé. E isso vai do carpinteiro ao artista, da empregada doméstica ao famoso atleta, do estudante ao político.

Algumas igrejas parecem ter perdido o rumo. A quantidade de divórcios entre seus membros é testemunha gritante de como o evangelho diluiu-se no meio de uma sociedade paganizada. A santidade de alguns jovens que se propõem viver castos até o casamento é motivo de chacota no seio da própria congregação.

Onde vamos parar?

“ Assim diz o Senhor: Sede santos pois Eu sou Santo...” Lv 11:44

“ Mas assim como é Santo aquele que vos chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem...” I Pe 1:15

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A) O SIGNIFICADO DA SANTIFICAÇÃO

A santificação do crente tem dois significados:

Primeiro, é o da dedicação, consagração ou separação para o uso específico; o segundo, fala de limpeza e expurgo da corrupção moral. Esta é uma experiência progressiva. Há três elementos de tempo na santificação; três fases ou aspectos distintos:

1. Ato inicial da santificação: Posicional. No momento em que a pessoa nasce de novo diz-se que ela é santificada (I Co 6.11).

1 Coríntios:

6.11 E é o que alguns têm sido, mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus e pelo Espírito do nosso Deus.

6.11 Alguns de vocês eram assim. Mas foram lavados do pecado, separados para pertencer a Deus e aceitos por ele por meio do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito do nosso Deus.

Nesse momento a santidade de Jesus é atribuída ao crente. Talvez não seja ainda santo em sua vida diária, mas a santidade de Jesus lhe é imputada quando esse é justificado. Cristo foi nos feito justiça e santificação (I Co 1.30).

1 Coríntios:

1.30 Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção; 1.30 Porém Deus uniu vocês com Cristo Jesus e fez com que Cristo seja a nossa sabedoria. E é por meio de Cristo que somos aceitos por Deus, nos tornamos o povo de Deus e somos salvos.

2. O processo da santificação: Prático. Paulo fala dos cristãos em Tessalônica como tendo sido santificados (II Ts 2.13).

2 Tessalonicenses:

2.13 Mas devemos sempre dar graças a Deus, por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito e fé da verdade

2.13 Irmãos, sempre devemos dar graças a Deus por vocês, a quem o Senhor ama. Pois Deus os escolheu como os primeiros a serem salvos pelo poder do Espírito Santo e pela fé que vocês têm na verdade, a fim de tornar vocês o seu povo dedicado a ele.

Mas ele ora também por sua santificação (I Ts 5.23).

1 Tessalonicenses:

5.23 E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.

5.23 Que Deus, que nos dá a paz, faça com que vocês sejam completamente dedicados a ele. E que ele conserve o espírito, a alma e o corpo de vocês livres de toda mancha, para o dia em que vier o nosso Senhor Jesus Cristo.

Ele reconhece que esses cristãos foram santificados, no sentido da santidade de Cristo ter sido atribuída a eles, mas agora necessitavam de que esta santidade imputada se tornasse progressivamente uma parte prática de sua vida cristã diária (Cl 3.8-12).

Colossenses:

3.8 Mas, agora, despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca. 3.8 Mas agora livrem-se de tudo isto: da raiva, da paixão e dos sentimentos de ódio. E que não saia da boca de vocês nenhum insulto e nenhuma conversa indecente.

3.9 Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos 3.9 Não mintam uns para os outros, pois vocês já deixaram de lado a natureza velha com os seus costumes

3.10 e vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou; 3.10 e se vestiram com uma nova natureza. Essa natureza é a nova pessoa que Deus, o seu criador, está sempre renovando para que ela se torne parecida com ele, a fim de fazer com que vocês o conheçam completamente.

3.11 onde não há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos. 3.11 Como resultado disso, já não existem mais judeus e não-judeus, circuncidados e não-circuncidados, não-civilizados, selvagens, escravos ou pessoas livres, mas Cristo é tudo e está em todos.

3.12 Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade, 3.12 Vocês são o povo de Deus. Ele os amou e os escolheu para serem dele. Portanto, vistam-se de misericórdia, de bondade, de humildade, de delicadeza e de paciência.

Nesse processo de santificação, destacamos algumas verdades bíblicas:

a) Um processo de transfiguração (II Co 3.18). 2 Coríntios:

3.18 Mas todos nós, com cara descoberta, refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.

3.18 Portanto, todos nós, com o rosto descoberto, refletimos a glória que vem do Senhor. Essa glória vai ficando cada vez mais brilhante e vai nos tornando cada vez mais parecidos com o Senhor, que é o Espírito.

b) A vida de Cristo em nós (Gl 2.20). Gálatas:

2.20 Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim.

2.20 Assim já não sou eu quem vive, mas Cristo é quem vive em mim. E esta vida que vivo agora, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se deu a si mesmo por mim.

c) Uma completa identificação com Cristo (Rm 6.3-4). Romanos

6.3 Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? 6.3 Com certeza vocês sabem que, quando fomos batizados para ficarmos unidos com Cristo Jesus, fomos batizados para ficarmos unidos também com a sua morte.

6.4 De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.

6.4 Assim, quando fomos batizados, fomos sepultados com ele por termos morrido junto com ele. E isso para que, assim como Cristo foi ressuscitado pelo poder glorioso do Pai, assim também nós vivamos uma vida nova.

d) Tomando posse da nossa morte (Rm 6.11; 6.6). Romanos

6.11 Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor. 6.11 Assim também vocês devem se considerar mortos para o pecado; mas, por estarem unidos com Cristo Jesus, devem se considerar vivos para Deus.

Romanos: 6.6 sabendo isto: que o nosso velho homem foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, a fim de que não sirvamos mais ao pecado.

6.6 Pois sabemos que a nossa velha natureza pecadora já foi morta com Cristo na cruz a fim de que o nosso eu pecador fosse morto, e assim não sejamos mais escravos do pecado.

e) Usando os membros do corpo como instrumentos de santidade (Rm 6.12-13). Romanos:

6.12 Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências;

6.12 Portanto, não deixem que o pecado domine o corpo mortal de vocês e faça com que vocês obedeçam aos desejos pecaminosos da natureza humana.

6.13 nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniqüidade; mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça.

6.13 E também não entreguem nenhuma parte do corpo de vocês ao pecado, para que ele a use a fim de fazer o que é mau. Pelo contrário, como pessoas que foram trazidas da morte para a vida, entreguem-se completamente a Deus, para que ele use vocês a fim de fazerem o que é direito.

f) Aperfeiçoando a nossa santidade (II Co 7.1). 2 Coríntios:

7.1 Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus.

7.1 Meus queridos amigos, todas essas promessas são para nós. Por isso purifiquemos a nós mesmos de tudo o que torna impuro o nosso corpo e a nossa alma. E, temendo a Deus, vivamos uma vida completamente dedicada a ele.

g) Chamados à perfeição (Mt 5.48). Mateus:

5.48 Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus.

5.48 Portanto, sejam perfeitos, assim como é perfeito o Pai de vocês, que está no céu.

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O sentido é de maturidade e implica crescimento em espiritualidade, e não perfeição irrepreensível. A maturidade depende do crescimento constante. O fruto verde pode ser reconhecido como sendo perfeito para esse estágio do seu desenvolvimento, mas não está maduro. O mesmo acontece com o fruto do Espírito, ele pode ser considerado perfeito na vida do novo cristão, embora não tenha chegado à plena maturidade.

O fruto do Espírito (Gl 5.22). A estatura de Cristo (Ef 4.13).3. A santificação completa –Final - A perfeição sem pecado e a santificação completa aguardam a vinda do Senhor Jesus. Nessa ocasião seremos libertados “do corpo desta carne” (Fp 3.20-21; I Ts 3.13; I Jo 3.2). Nesse ínterim, somos encorajados a crescer “na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (II Pe 3.18).

O lado divino da santificação

1. O Pai (I Ts 5.23)

2. O Filho, o Senhor Jesus Cristo, ao verter seu precioso sangue (Hb 10.10; Hb 12.9-10)

3. O Espírito Santo (Rm 15.16; I Pe 1.2)

Z O poder interior e a unção do Espírito Santo são, talvez, os maiores agentes para nos dar a vitória sobre a carne (Rm 8.13; Gl 5.17).

O lado humano da santificação

Deus é aquele que santifica o crente. Ninguém pode fazer isto por si mesmo. Paulo declara em Fp 2.13.

Mas, ao mesmo tempo, nos é dito em várias passagens que o cristão deve santificar-se.

Portanto, santificai-vos e sede santos, pois eu sou o Senhor, vosso Deus (Lv 20.7).

Disse Josué ao povo: Santificai-vos, porque amanhã o Senhor fará maravilhas no meio de vós (Js 3.5).

Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus (II Co 7.1).

Ora, numa grande casa não há somente utensílios de ouro e de prata; há também de madeira e de barro. Alguns, para honra; outros, porém, para desonra. Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando preparado para toda boa obra (II Sm 2.20-21).

De que meios os crentes podem dispor para sua santificação?

A) A fé (At 26.18; 15.9).

B) Obediência à Palavra (Jo 17.17; Ef 5.26; Sl 119.105).

C) Rendição ao Espírito Santo (Jo 16.13).

D) Compromisso pessoal. Na experiência inicial da santificação, que tem lugar na conversão, Deus separa o crente como vaso escolhido para o Seu uso e glória. Mas chega uma hora na vida de todo seguidor sincero do Senhor Jesus Cristo em que ele, mediante um ato de profundo compromisso pessoal, se separa para qualquer serviço que Deus queira que faça. Nessa ocasião, ele se afasta das coisas do mundo da carne e se dedica à vontade perfeita de Deus para sua vida. O indivíduo recebeu Jesus Cristo como seu Salvador, mas agora O coroa como Rei e Senhor da sua vida. Este é um ato real de santificação. Paulo se refere a isto em Rm 12.1-2).Rendição da vida em definitivo a Deus constitui a suprema condição para a santificação prática. E isso envolve a entrega de todos os nossos membros à vontade dEle; “Nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça” (Rm 6.13). Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Assim como oferecestes os vossos membros para a escravidão da impureza e da maldade para a maldade, assim oferecei, agora, os vossos membros para servirem à justiça para a santificação (Rm 6.19).