Allan Kardec

Aliança da ciência e da religião

Allan Kardec (1804-1869)

Educador, filósofo, escritor e tradutor francês, discípulo e colaborador de H. Pestalozzi

Bacharel em Ciências e Letras (Instituição de Pestalozzi, Yverdon - Suíça)

Professor de Astronomia, Física, Química, Matemática, Fisiologia e Anatomia

Presidente-Fundador da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas

Extraído de:

O Evangelho segundo o espiritismo, capítulo 1, item 8, de Allan Kardec

ALIANÇA DA CIÊNCIA E DA RELIGIÃO

A ciência e a religião são as duas alavancas da inteligência humana; uma revela as leis do mundo material e a outra as leis do mundo moral. Mas umas e outras, tendo o mesmo princípio, que é Deus, não podem se contradizer. Se elas são a negação uma da outra, uma necessariamente é errada e a outra certa, porque Deus não pode querer destruir sua própria obra. A incompatibilidade que se acreditava ver entre essas duas ordens de ideias se prende a um defeito de observação e a muito de exclusivismo de uma parte e de outra. Daí um conflito, de onde nasceram a incredulidade e a intolerância.

Os tempos são chegados em que os ensinamentos do Cristo devem receber seu complemento; em que o véu lançado propositadamente sobre algumas partes desse ensinamento deve ser levantado; em que a ciência, deixando de ser exclusivamente materialista, deve se inteirar do elemento espiritual; e em que a religião, cessando de menosprezar as leis orgânicas e imutáveis da matéria, essas duas forças, apoiando-se uma sobre a outra, e marchando juntas, prestar-se-ão um mútuo apoio. Então a religião, não recebendo mais o desmentido da ciência, adquirirá uma força inabalável, porque estará de acordo com a razão e não se poderá opor a ela a irresistível lógica dos fatos.

A ciência e a religião não puderam se entender até hoje porque, cada uma examinando as coisas sob seu ponto de vista exclusivo, repeliam-se mutuamente. Seria preciso alguma coisa para preencher o vazio que as separava, um traço de união que as aproximasse. Esse traço de união está no conhecimento das leis que regem o mundo espiritual e suas relações com o mundo corporal, leis tão imutáveis como as que regem o movimento dos astros e a existência dos seres. Uma vez constatadas essas relações pela experiência, nova luz se fez: a fé se dirigiu à razão, a razão não encontrou nada de ilógico na fé, e o materialismo foi vencido.

Mas nisso, como em todas as coisas, há pessoas que permanecem para trás, até que sejam arrastadas pelo movimento geral que as esmagará se quiserem resistir-lhe, em vez de a ele se abandonarem. É toda uma revolução moral que se opera neste momento e trabalha os espíritos; depois de elaborada durante mais de dezoito séculos, ela se aproxima do seu cumprimento e vai marcar uma era nova na humanidade. As consequências dessa revolução são fáceis de prever. Deve trazer, nas relações sociais, inevitáveis modificações, às quais não está no poder de ninguém se opor, porque estão nos desígnios de Deus e resultam da lei do progresso, que é uma lei de Deus.  

—  ALLAN KARDEC

“Aliança da Ciência e da Religião”.

O Evangelho segundo o espiritismo, capítulo 1.