Régis Jolivet

Teodicéia: demonstração da existência de Deus

Régis Jolivet (1891-1966)

Professor de Filosofia

Decano da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica de Lyon

Extraído e adaptado de:

Tratado de Filosofia; vol. III: Metafísica.

CONCLUSÃO SOBRE AS PROVAS DE DEUS

1. O princípio comum a todas as provas. — Todas as provas da existência de Deus não são, portanto, como acabamos de ver, senão aplicações do princípio de razão suficiente: toda coisa tem sua razão, ou em si, ou em outro. Noutros termos, o mais não pode sair do menos, nem o ser do nada. Cada prova, comportando um ponto de partida particular, precisa a aplicação do princípio de razão aos diferentes domínios da experiência, física ou moral. Cada vez, o princípio de razão obriga a concluir a existência necessária de um primeiro motor universal, de uma causa primeira da eficiência e do ser universal, de um perfeito subsistente, de uma inteligência infinita, de um ser princípio e fim de ordem moral. — Como, por outro lado, sob cada um destes aspectos onde se nos descobre a Causa primeira, afirmamos a existência de um Ser que existe por si mesmo, isto é, de um Ser cuja essência é idêntica à existência, é o nome de Deus o que, univocamente, convém para designar o Ser ao qual, por vias diversas, mas convergentes, nos conduz a argumentação racional.

Vemos, por aí, que não há necessidade de apelar para todas as provas juntas para estabelecer a existência de Deus. Cada uma, por si mesma, nos conduz a Deus e implica todas as outras. Mas cada prova serve para pôr em evidência um aspecto da causalidade divina e para mostrar que, qualquer que seja o ponto de vista que adotemos, o mundo só tem razão suficiente em Deus, de tal maneira que não há escolha senão entre estas duas conclusões: ou Deus, ou o absurdo total

2. Espontaneidade da crença em Deus. — A conclusão a que chegamos não é exclusivamente o fruto de uma demonstração científica tal como os filósofos, por cuidado extremo da precisão, ou para responder a diversas dificuldades, foram levados a formulá-la. A certeza da existência de Deus não depende diretamente da perfeição científica das provas que dela possamos fornecer. Pelo contrário, a prova necessária a todo homem para adquirir neste domínio uma plena certeza é tão fácil e tão clara, que apenas notamos os processos lógicos que ela usa, e que os argumentos técnicos, bem longe de dar ao homem a primeira certeza da existência de Deus, não podem ter por resultado senão explicitar, esclarecer e fortificar aquela que já existe. É esta espontaneidade da crença na existência de Deus que explica que possamos tantas vezes falar de uma intuição da existência de Deus, isto é, como já vimos, de uma inferência racional que apreende, em sua totalidade e, como por uma espécie de impulso natural, as condições absolutas da inteligibilidade.

 

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