Luiz Gustavo Oliveira dos Santos

A doutrina de Marx  e a crítica ao capitalismo

Luiz Gustavo Oliveira dos Santos

Por quê, segundo Marx, o socialismo seria o modelo social mais adequado à humanidade, sendo superior ao capitalismo? 

          Karl Marx, que é classificado como  materialista histórico, apresenta em suas obras vários argumentos que procuram demonstrar o encaminhamento histórico dos modos de produção e como eles se alternam dialeticamente, tendo por base o valor de produção (escravo, terras, trabalho, etc.) até se cristalizar no moderno estágio chamado capitalismo. Segundo Marx, este estágio apresenta sérios problemas filosóficos, principalmente com relação ao ser humano.         

            O ser humano, segundo Marx, quando se submete organicamente ao capitalismo, se não for um “capitalista”, está fadado a perder-se a si mesmo, pois será apropriado pelo dito capitalista. Esta visão decorre da análise de Marx a respeito da essência do homem, o que faz com que o homem se sinta, se perceba e viva com tal. Diferente de toda a tradição, Marx vê esse elemento no trabalho. Ou seja, o homem é o que é conforme o modo de produção social em que vive. De acordo com seu estudo sobre a história dos modos de produção, verificou que o modelo capitalista é o modelo em que o valor econômico está deslocado para a atividade humana. Assim, se o que o capitalista visa é a apropriação do trabalho, e o trabalho é a essência do homem, o capitalista acaba fazendo com que o trabalhador perca a si mesmo, seu ser, para outro

            Evidentemente, todo o sistema contribui para a assimilação da ideia de que é perfeitamente “natural” essa alienação, pois este é o papel da ideologia. Uma vez que o desenvolvimento histórico levou para esse rumo o modo de produção, a alienação e a ideologia caminharam juntas para sedimentar na mente social a naturalidade de tal sistema. Mas esse sistema, como foi dito, apresenta sérios problemas filosóficos, e mesmo sócio-econômicos. 

            Segundo Marx, o problema do capitalismo teria sua origem na apropriação privada dos bens de produção (fábricas, indústrias, máquinas, etc.), que levaria o proprietário (capitalista) a dois problemas de ordem filosófica: a alienação do sujeito trabalhador e a exploração do homem pelo homem. A alienação parece se referir mais a um problema de identidade, enquanto a exploração aparece muito mais ligada a um problema moral. Apesar de Marx não aplicar juízos morais ao indivíduo capitalista, que apenas faz parte do jogo, a “maldade” aparece na própria estrutura lógica acumuladora e exploradora do sistema. Por isso, podemos perguntar: como pode alguém investir x e ganhar 2x? Evidentemente, alguém perdeu para o capitalista ganhar: este seria o operário, que “dá” parte de seu trabalho (ou seja, parte de si mesmo) em forma de lucro para o capitalista. Certamente, outros problemas passam a surgir daí, pois essa visão de homem afeta as relações sociais, familiares e profissionais, podendo até interferir nas relações afetivas. É também evidente a consequência que traz à economia, pois a acumulação contínua leva a cada vez maiores diferenças sociais e, portanto, menor poder de consumo dos trabalhadores, que somente pioram sua situação. E o próprio aumento das diferenças sociais (que são muito mais diferenças econômicas) já constitui por si só um grave problema no campo social. Também a política sofre a interferência do capitalismo, pois o Estado acaba por incorporar juridicamente os pressupostos de uma “justiça” capitalista. Como exemplo, o nosso Estado trata, no artigo 5.º da Constituição, da inviolabilidade do direito à propriedade, ideal burguês da Revolução Francesa legado aos cidadãos. 

            Devido a estes problemas, Marx vê no capitalismo apenas mais uma etapa no processo histórico, que deverá ser seguido de sua antítese dialética: o socialismo. E, por fim, o comunismo. Nesse sistema, será abolida a propriedade privada dos meios de produção. Assim, não será a preocupação com o lucro que moverá a produção, mas o interesse social. Mas, segundo Marx, cada ruptura histórica de um modo de produção é acompanhada de revoluções, que, mais do que reverter o quadro econômico e social vigente, deve “revirar” a mentalidade da sociedade. E é justamente do proletariado que deve partir a iniciativa da reviravolta do modo de produção. Por isso, Marx nunca pregou uma filosofia apenas especulativa, mas eminentemente ativa, transformadora e retificadora de erros do passado

            Graças ao seu viés historicista, herdado de Hegel, Marx pôde vislumbrar num panorama bastante sensato e concreto o que diversos socialistas anteriores enxergavam e pregavam de maneira assaz idealista, num socialismo utópico. Tanto é que alguns países, desde Marx, tentaram adotar o seu modelo. Apesar de muitos insucessos, essa foi uma das primeiras vezes em que se resolveu implantar um modelo revolucionário com relação às tendências mundiais. Foi, portanto, um passo importante para o socialismo ver-se implantado de forma concreta em alguns países por certo tempo, embora outras tentativas já tenham existido de se concretizar um estado “socialista” por convicção filosófica, como o teria feito Plotino, no séc. III, propondo ao Imperador romano a fundação da Platonópolis, uma cidade baseada na República de Platão, que chegou a ser examinada pelo Imperador, mas não saiu do papel devido a conspirações políticas. Podemos dizer, no entanto, que vivenciamos a experiência de algumas “Marxópolis”, como a U.R.S.S. ou Cuba, apesar das evidentes falhas e incoerências doutrinárias dos governos e da não implantação de um marxismo puro? Afinal, há possibilidade de Marx estar certo, se for adequadamente posto em prática. Basta aguardarmos o momento certo da revolução dialética e, quem sabe, verificarmos uma feliz derrocada do capitalismo.

—  Luiz Gustavo O. dos Santos

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