Rei Salomão

Reflexões de Salomão sobre o trabalho e as riquezas

Salomão (c. 1009-922 a.C.)

Rei e sábio de Israel

Extraído de:

Bíblia Sagrada, Provérbios e Eclesiastes (Coélet, ou o Pregador)

PROVÉRBIOS 

Justas são todas as palavras da minha boca; não há nelas nenhuma coisa tortuosa nem perversa. Todas elas são retas para o que bem as entende, e justas para os que acham o conhecimento. Aceitai antes a minha disciplina, e não o dinheiro; e o conhecimento, antes do que o ouro. Porque melhor é a sabedoria do que as jóias; e, de tudo o que se deseja, nada se pode comparar com ela. (Provérbios 8:8-11)

Os lábios do justo apascentam a muitos; mas os insensatos, por falta de entendimento, morrem. A bênção do Senhor é que enriquece; e Ele não a faz seguir de dor alguma.

É um divertimento para o insensato praticar a iniquidade; mas a conduta sábia é o prazer do homem entendido. O que o ímpio teme, isso virá sobre ele; mas aos justos será concedido o seu desejo. (Provérbios 10:21-24)

Quando vem a soberba, então vem a desonra; mas com os humildes está a sabedoria. A integridade dos retos os guia; porém, a perversidade dos desleais os destrói. De nada aproveitam as riquezas no dia da ira; porém, a justiça livra da morte. (...) A justiça dos retos os livra; mas os traiçoeiros são apanhados nas suas próprias cobiças. Morrendo o ímpio, a sua esperança desaparece; e a esperança nas riquezas também desaparece. (...) A mulher aprazível obtém honra; os homens violentos obtêm riquezas. O homem bondoso faz bem à sua própria alma; mas o cruel faz mal a si mesmo. O ímpio recebe um salário ilusório; mas o que semeia justiça recebe galardão seguro. (...)

O desejo dos justos é somente o bem; porém, a expectativa dos ímpios acaba em ira. Um dá liberalmente, e se torna mais rico; outro retém mais do que é justo, e se empobrece. A alma generosa prosperará na vida, e o que dá de beber jamais passará sede. (...) O que busca diligentemente o bem alcançará favor; mas ao que procura o mal, este lhe sobrevirá. Aquele que confia nas suas riquezas murchará; mas os justos reverdecerão como a folhagem. O que perturba a sua casa terá vento como herança; e o insensato será servo do entendido de coração. O fruto do justo é árvore de vida; e o que ganha almas sábio é. Se o justo é punido na terra, quanto mais o ímpio e o pecador! (Provérbios 11:2-4,6-7,16-18,23-25,27-31)

O homem se alimenta do fruto do que fala; mas o apetite dos ímpios alimenta-se da violência. (...) Há quem se faça rico, não tendo coisa alguma; e quem pareça pobre, tendo grande riqueza. O rico paga resgate por sua vida, mas o pobre não sofre ameaças. A luz dos justos alegra; porem, a lâmpada dos ímpios se apagará. Da soberba só provém a contenda; mas com os que se aconselham se acha a sabedoria. (...)

A herança do homem de bem permanece na sua família; a riqueza do pecador, porém, é reservada para o justo. Abundância de mantimento há na lavoura do pobre; mas a injustiça a dissipa. Aquele que poupa a vara aborrece a seu filho; mas quem o ama, a seu tempo o castiga. O justo come e se sacia; mas os ímpios passam necessidade. (Provérbios 13:2,7-10,22-25)

Na boca do tolo brota a soberba, mas os lábios do sábio o preservarão. (...) O pobre é desprezado até pelo seu vizinho; mas os amigos dos ricos são muitos. O que despreza ao seu próximo peca; mas feliz é aquele que se compadece dos pobres.

Porventura não erram os que maquinam o mal? Mas há beneficência e fidelidade para os que planejam o bem. (...) O coração tranquilo é a vida da carne; a inveja, porém, é a podridão dos ossos. O que oprime ao pobre insulta ao seu Criador; mas honra-o aquele que se compadece do necessitado. O ímpio é derrubado pela sua malícia; mas o justo, até na sua morte acha refúgio. (Provérbios 14:3,20-22,30-32)

Melhor é o pouco com o temor do Senhor, do que um grande tesouro, e com ele a inquietação. Melhor é um prato de hortaliça em que há amor, do que o boi gordo, e com ele o ódio. (Provérbios 15:16-17)

A estrada dos retos é desviar-se do mal; o que guarda o seu caminho preserva a sua alma. A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda. Melhor é ser humilde de espírito com os mansos, do que repartir o despojo com os soberbos. O que atenta prudentemente para a palavra prosperará; e bem-aventurado é aquele que confia no Senhor. (Provérbios 16:17-20)

Torre forte é o nome do Senhor; para ela corre o justo, e está seguro. Os bens do rico são a sua cidade forte, e como uma muralha, na sua imaginação. (Provérbios 18:10-11)

Mais digno de ser escolhido é o bom nome do que as muitas riquezas; e o favor é melhor do que a prata e o ouro. O rico e o pobre se encontram; quem os faz a ambos é o Senhor. (...) O galardão da humildade e do temor do Senhor é riquezas, honra e vida. (...) Quem vê com olhos bondosos será abençoado; porque dá do seu pão ao pobre. (...) O que, para aumentar o seu lucro, oprime o pobre e dá ao rico certamente chegará à penúria. (...) Não explores o fraco por ser fraco; nem oprimas o pobre na porta; porque o Senhor defenderá a sua causa, e aos que os roubam lhes tirará a vida. (Provérbios 22:1,4,9,16,22-23)

Não te empenhes em seres rico; nem usa tua inteligência com isso. Pois basta olhares para as riquezas e elas se vão; pois fazem para si asas, como a águia, e voam para o céu. Não comas o pão do avarento, nem cobices os seus manjares gostosos. Porque ele só pensa em si mesmo, e te diz: “Come e bebe”; mas o seu coração não está contigo. Vomitarás o bocado que comeste, e perderás as tuas boas palavras. (Provérbios 23:4-8)

Como nuvens e ventos que não trazem chuva, assim é o homem que se gaba de dádivas que não dá. (...) Procura conhecer o estado das tuas ovelhas; cuida bem dos teus rebanhos; porque as riquezas não duram para sempre, nem a fortuna passa de geração em geração. (Provérbios 25:14, 27:23-24)

O que aumenta a sua riqueza com juros e usura ajunta-a para quem se compadece dos pobres. O que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração é abominável. (...) O homem rico é sábio aos seus próprios olhos; mas o pobre que tem entendimento o desmascara. (...) O chefe insensato é também opressor cruel; quem odeia o lucro prolongará os seus dias. (...)

Quem vive com retidão se salvará; quem segue dois caminhos, num deles cairá. Quem cultiva seu campo se fartará de pão; quem busca ilusões se saciará de misérias. O homem fiel gozará de abundantes bênçãos; mas o que se apressa a enriquecer não ficará impune. Fazer acepção de pessoas não é bom; mas até por um bocado de pão o homem transgride. O cobiçoso corre atrás das riquezas; e não sabe que há de vir sobre ele a miséria. (...) O ambicioso provoca disputas; mas quem confia no Senhor prosperará. Quem confia em si mesmo é insensato; mas o que anda sabiamente estará salvo. Quem dá ao pobre não passará necessidade; mas o que fecha os seus olhos terá muitas maldições. (Provérbios 28:8-9,11,16,18-22,25-24)

Duas coisas Te peço; não me negues, antes que eu morra: Afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês riqueza nem pobreza: dá-me só o pão que me é necessário. (...) Há gente cujos olhos são altivos, e de olhar soberbo. Há gente cujos dentes são como espadas; e cujos queixos são como facas, para eliminarem da terra os pobres, e os necessitados dentre os homens. (Provérbios 30:7-8,13-14)

 

ECLESIASTES

E apliquei o meu coração a inquirir e a investigar com sabedoria a respeito de tudo quanto se faz debaixo do céu. Que enfadonha ocupação deu Deus aos filhos dos homens, para nela os afligir. Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol; e eis que tudo era vaidade e desejo vão. (Eclesiastes 1:13-14)

Disse eu a mim mesmo: “Ora, vem, vou te fazer experimentar a alegria; portanto, goza o prazer”. Mas eis que também isso era vaidade. Do riso disse: “Tolice”; e da alegria: “Para que serve?” Decidi estimular com vinho a minha carne, nessa minha busca da sabedoria, e como me entregar à insensatez, até ver o que convém que os filhos dos homens fizessem debaixo do céu, durante o número dos dias de sua vida. Fiz para mim obras magníficas: edifiquei casas, plantei vinhas (...). Comprei servos e servas, e tive servos nascidos em casa; também tive grandes possessões de gados e de rebanhos, mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém. Ajuntei também para mim prata e ouro, e tesouros dos reis e das províncias; provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens, concubinas em grande número. Assim me engrandeci, e me tornei mais rico do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém; sempre conservando a minha sabedoria. E tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o meu coração de prazer algum; pois o meu coração se alegrou por todo o meu trabalho, e isso foi o meu proveito de todo o meu trabalho.

Então, examinei todas as obras que as minhas mãos haviam feito, como também para o trabalho que elas haviam custado para mim; e concluí que tudo era vaidade e uma corrida atrás do vento, e proveito nenhum havia debaixo do sol. (...) Os olhos do sábio estão na sua cabeça, mas o louco anda em trevas; contudo, percebi que a mesma coisa acontece a ambos. Pelo que eu disse no meu coração: “Como acontece ao estulto, assim sucederá a mim; por que então busquei eu mais a sabedoria?” Então respondi a mim mesmo que também isso era vaidade. (...) Pelo que odiei esta vida, porque a obra que se faz debaixo do sol me era penosa; sim, tudo é vaidade e aflição de espírito. Também odiei todo o meu trabalho em que me afadigara debaixo do sol, visto que eu havia de deixá-lo ao homem que viesse depois de mim. E quem sabe se será sábio ou tolo? Contudo, ele se apossará de todo o meu trabalho em que me afadiguei e em que me houve sabiamente debaixo do sol; também isso é vaidade.

Pelo que eu me volvi e entreguei o meu coração ao desespero no tocante a todo o trabalho em que me afadigara debaixo do sol. Porque há homem cujo trabalho é feito com sabedoria, e ciência, e destreza; contudo, deixará o fruto do seu labor para ser porção de quem não trabalhou nele; também isso é vaidade e um grande enfado. Pois, que alcança o homem com todo o seu trabalho e com a fadiga em que ele anda trabalhando debaixo do sol? Porque todos os seus dias são dores, e a sua ocupação é desgosto; nem de noite o seu coração descansa. Também isso é vaidade. Não há nada melhor para o homem do que comer e beber, e fazer que a sua alma goze do bem do seu trabalho. Vi que também isso vem da mão de Deus, pois, sem Ele, quem pode comer, ou quem pode se alegrar? Porque ao homem que lhe agrada, Deus dá sabedoria, conhecimento e alegria; mas ao pecador dá trabalho, para que ele ajunte e amontoe, a fim de dá-lo àquele que agrada a Deus: também isso é vaidade e desejo vão. (Eclesiastes 2:1-4,7-11,14-15,17-26)

De novo voltei-me e atentei para todas as opressões que se fazem debaixo do sol; e vi as lágrimas dos oprimidos, e eles não tinham consolador; o poder estava do lado dos seus opressores; mas eles não tinham nenhum consolador. Pelo que julguei mais felizes os que já morreram do que os que ainda vivem. E melhor do que uns e outros é aquele que ainda não nasceu, e que não viu as más obras que se fazem debaixo do sol.

Também vi eu que todo trabalho, e toda destreza em obras, é fruto de competição recíproca. Também isso é vaidade e desejo vão. O insensato cruza as mãos, e se consome. Melhor é um punhado com tranquilidade do que ambas as mãos cheias com trabalho e aflição de espírito. Outra vez me voltei, e vi vaidade debaixo do sol: alguém que é só, não tendo parente; não tem filho nem irmão. Contudo, de todo o seu trabalho não há fim, nem os seus olhos se fartam de riquezas. E ele nem pergunta: “Para quem estou trabalhando e privando a minha alma do bem?” Também isso é vaidade e enfadonha ocupação. (Eclesiastes 4:1-8)

Se vires em alguma província opressão de pobres, e a perversão violenta do direito e da justiça, não te espantes com isso. Pois quem está no alto tem sempre superior que o vigia; e há mais altos ainda sobre eles. O proveito da terra pertence a todos; até o rei se serve do campo. Quem ama o dinheiro nunca se sacia de dinheiro; nem o que ama a riqueza se fartará da renda; isso também é fugaz. Quando as riquezas aumentam, aumentam também aqueles que a devoram; que vantagem tem o proprietário, além de ficar olhando para seus bens? Doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco, quer muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir.

Há um outro mal doloroso que vi debaixo do sol: riquezas que o proprietário acumula para a sua própria desgraça; por qualquer má aventura as riquezas se perdem e, havendo algum filho, nada fica na sua mão. Como saiu do ventre de sua mãe, assim também voltará, nu como veio; e nada ganhará de suas fadigas que possa levar consigo. Ora, isso é um grave mal; porque justamente como veio, assim há de ir; e que proveito tirou de tanto trabalho? – Apenas vento. Ele consumiu seus dias nas trevas, padecendo de muitos desgostos, doença e aborrecimento.

Eis então que vi uma boa e bela coisa: alguém comer e beber, e gozar cada um do bem de todo o seu trabalho, com que se afadigou debaixo do sol, todos os dias da vida que Deus lhe deu; pois esse é o seu quinhão. Quanto ao homem a quem Deus deu riquezas e bens, e poder para desfrutá-los, receber o seu quinhão, e se regozijar no seu trabalho: isso é dom de Deus. Assim, não se preocupará demais com os dias da sua vida, porque Deus enche de alegria o seu coração. (Eclesiastes 5:8-20)

Há um mal que tenho visto debaixo do sol, e que pesa muito sobre o homem: alguém a quem Deus deu riquezas, bens e honra, de maneira que nada lhe falta de tudo quanto ele deseja. Contudo, Deus não lhe permite desfrutar estas coisas; antes, o estranho é que as desfruta. Também isso é fugaz e grande mal.

Se o homem gerar cem filhos, e viver muitos anos, de modo que os dias da sua vida sejam muitos; porém, se a sua alma não se fartar do bem, e, além disso, não tiver sepultura, digo que um aborto é melhor do que ele; (...) e, embora vivesse duas vezes mil anos, mas não gozasse o bem, não vão todos para um mesmo lugar?

Todo o trabalho do homem é para a sua boca e, contudo, nunca se satisfaz a sua cobiça. Que vantagem tem o sábio sobre o insensato? O que pensar do pobre que sabe se conduzir diante dos vivos? Melhor é o que os olhos vêem do que os desejos da cobiça; também isso é vaidade e desejo vão. O que aconteceu já recebeu um nome, e sabe-se o que é um homem1: não pode processar quem é mais forte do que ele. Porque, quem sabe o que é bom nesta vida para o homem, durante os poucos dias da sua vida vã, os quais gasta como sombra? Pois quem declarará ao homem o que será depois dele debaixo do sol? (Eclesiastes 6:1-3,6-12)

  

—  SALOMÃO

Provérbios e Eclesiastes.

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Notas:

1 hebr.: ‘âdâm, “homem”, vindo do ‘âdâmâh, “húmus”.