A Doutrina dos Druidas

As Tríades Bardas (ou Gaulesas ou Célticas)

AS TRÍADES GAULESAS OU CÉLTICAS, A DOUTRINA DOS DRUIDAS

Esta coleção de 46 tríades é proveniente da versão galesa das Tríades Bárdicas de Iolo Morganwg, traduzidas para o francês por Yann Lemenig & Kaledvouc'h. Foi a partir desta versão francesa que traduzi para o português, considerando apontamentos de outras traduções disponíveis em: <http://coarer.blogvie.com/2015/02/20/triades-les-differentes-traductions/>. - Prof. Luiz Gustavo.

1. Três unidades primitivas existem, e não pode haver senão uma de cada: um Deus, uma Verdade, um Ponto de Liberdade em que se fazem em equilíbrio todas as oposições.

 

2. Três coisas emanadas das três unidades primitivas: toda vida, todo bem, todo poder.

 

3. Em três necessidades está Deus. Eis: a maior parte da vida, a maior parte da ciência, a maior parte de força, e não pode haver senão um máximo de cada coisa.

 

4. Três coisas que Deus não pode não ser: o que deve ser a plenitude do bem, o que quer ser a plenitude do bem, o que pode ser a plenitude do ser.

 

5. Três testemunhos de Deus sobre o que ele fez e fará: poder infinito, sabedoria infinita, amor infinito. Porque não há nada que ele não possa fazer, que ele não possa saber e que ele não possa fazer ser.

 

6. Três desejos de Deus em criar todas as coisas: diminuir o mal, reforçar o bem, esclarecer as diferenças de todas as coisas, para que seja discernido o que deve ser do que não deve ser.

 

7. Três coisas que Deus não pode deixar de fazer: o mais vantajoso, o mais necessário, o mais belo em todas as coisas.

 

8. Três fundamentos da vida: não poder ser outro, não dever ser outro, não poder ser concebido melhor, e aí o fim de todas as coisas.

 

9. Três coisas forçadas a ser: supremo poder, suprema inteligência, supremo amor de Deus.

 

10. Três supremacias de Deus: vida universal, ciência universal, poder universal.

 

11. Três causas de vida: o amor de Deus com a inteligência supremamente completa, a inteligência de Deus no supremo conhecimento de todos os meios, a força de Deus com a vontade, o amor e a inteligência supremos.

 

12. Três círculos de vida existem: o círculo vazio [Ceugant*] em que não há ninguém exceto Deus, nem vivo nem morto, e não há senão Deus que o possa atravessar; o círculo da transmigração [Abred**] em que cada estado de vida germina da morte, e o homem o atravessou; o círculo da beatitude [Gwynfyd***] em que cada estado germina da vida, e o homem o atravessará no céu.

 

13. Três estados de existência dos vivos: o estado de transmigração [Abred] na profundeza [Announ*]; o estado de ordem autônoma (liberdade) na humanidade; o estado de amor ou de beatitude [Gwynfyd] (felicidade) nos céus.

 

14. Três necessidades de toda existência na vida: o começo na profundeza*, a travessia da transmigração**, a plenitude no céu ou círculo da beatitude***, e sem essas três necessidades, ninguém pode ser, exceto Deus.

 

15. Três tipos de necessidades na transmigração*: o mínimo de todas as vidas, e aí o começo; a substância de todas as coisas, e aí o crescimento, o qual não é possível num outro estado; formar todas as coisas da morte, e aí a debilidade da vida.

 

16. Três coisas que não podem ser em toda vida senão pela justiça de Deus: tudo sofrer na transmigração, porque sem isso não se poderia ter ciência completa de nada; obter uma parte no amor de Deus; chegar pelo poder de Deus a fazer o que é justo e misericordioso.

 

17. Três causas da necessidade na transmigração: recolher a substância de cada estado de vida; recolher o conhecimento de todas as coisas; recolher a força de coração para triunfar sobre toda hostilidade, para dominar o princípio de destruição, e para se despojar do mal. Sem isso, na travessia de cada estado de vida, não haveria nem vivente nem forma que pudesse atingir a plenitude.

 

18. Três calamidades primitivas da transmigração: a necessidade, o esquecimento, a morte.

 

19. Três necessidades primeiras antes de atingir a plenitude da ciência: atravessar a transmigração; atravessar a beatitude* e a lembrança de todas as coisas até na profundeza**.

 

20. Três ligações necessárias com a transmigração: transgredir a regra, porque aí não pode ser de outro modo; libertar-se, pela morte, do mal e da corrupção; acrescentar vida e bondade em se despojando do mal na libertação da morte, e isso pelo amor de Deus que conserva todas as coisas.

 

21. Três meios de Deus na transmigração para triunfar sobre o mal e sobre o princípio de destruição, evadindo-se deles para a beatitude: a necessidade, o esquecimento, a morte.

 

22. Três acontecimentos primitivos e simultâneos: o homem, a liberdade (ordem autônoma), a luz.

 

23. Três necessidades para o homem: sofrer, renovar-se, escolher, e pelo poder da escolha não se pode conhecer as outras duas antes que esta seja feita.

 

24. Três alternativas para o homem: transmigração e beatitude, necessidade e liberdade (ordem autônoma), mal e bem. Tudo estando em equilíbrio, o homem tem o poder de se ligar a uma ou a outra, segundo sua vontade.

 

25. De três coisas cai sobre o homem a necessidade da transmigração: falta de esforço em direção à ciência, falta de apego ao bem, apego ao mal. Por aí ele cai ao lado de seus semelhantes na transmigração, e, graças à travessia desta, ele retorna em direção à sua condição anterior.

 

26. Três coisas fazem cair por necessidade na transmigração, embora se esteja, por outro lado, ligado ao que é bem: o orgulho ao longo da profundeza, a mentira ao longo do mérito, a crueldade ao longo da animalidade, e retorna-se à humanidade como antes.

 

27. Três causas primitivas do estado do homem: adquirir primeiro a ciência, o amor e a força moral, antes que sobrevenha a morte. E isso não é possível antes do estado de humanidade, mas apenas entre a liberdade e a escolha. Essas três coisas são chamadas as três vitórias.

 

28. Três vitórias sobre o mal e o princípio de destruição: ciência, amor, poder. Porque a verdade (ou o direito), a vontade e o poder realizam, depois da união de sua força, tudo o que desejam. É na condição humana que elas começam, para durar, em seguida, para sempre (através da eternidade).

 

29. Três privilégios no estado de humanidade: equilíbrio do mal e do bem, daí a comparação; liberdade de escolha, daí julgamento e preferência; começo de poder segundo o julgamento e a escolha; eles são indispensáveis antes de realizar o que quer que seja.

 

30. Três diferenças necessárias entre o homem, toda outra criatura, e Deus: o limite do homem, e isso não poderia se encontrar em Deus; o começo do homem, e isso não pode se encontrar em Deus; a renovação necessária da condição humana no círculo da beatitude, isso porque o homem não pode suportar o infinito (a eternidade, o vazio) [Ceugant], que só Deus é apto a suportar com felicidade.

 

31. Três estados da beatitude: sem mal, sem carência, sem fim.

 

32. Três restituições do círculo da beatitude: o gênio primitivo, o amor primitivo, a memória primitiva, porque não pode haver beatitude (felicidade) sem isso.

 

33. Três diferenças entre todo vivo e os outros vivos: o gênio, a memória, o destino, isto é, todos os três estão completos em cada um e não lhes podem ser comuns com outro vivo, cada um tem sua medida e não pode haver duas plenitudes do que quer que seja.

 

34. Três dádivas que faz Deus a todo vivo: a plenitude de sua raça (genitura), a consciência de si, a distinção de seu gênio primitivo em relação a todo outro, e assim cada um difere dos outros.

 

35. Pela compreensão de três coisas se diminuem o mal e a morte e se triunfa sobre eles: a da sua natureza, a da sua causa, a da sua ação, e isso é encontrado na beatitude.

 

36. Três fundamentos da ciência: ter acabado a travessia de cada estado de vida, recordar-se da travessia de cada estado de vida com seus incidentes, o poder de atravessar cada estado de vida à vontade, para experiência e julgamento, e isso se encontra no círculo da beatitude.

 

37. Três preeminências de todo vivo no círculo da beatitude: a vocação, o privilégio, o gênio, e dois vivos não podem ser primitivamente semelhantes em nada, porque cada um é repleto naquilo que o distingue, e não há nada repleto sem que haja nele medida inteira.

 

38. Três coisas impossíveis, exceto a Deus: suportar a eternidade do vazio*, participar de todo estado sem se renovar, melhorar e renovar todas as coisas sem o fazer com perda.

 

39. Três coisas que nunca se poderá aniquilar por causa da necessidade de seu poder: a forma do ser, a substância do ser, o valor do ser, porque, pela libertação do mal, elas serão durante a eternidade, seja vivas, seja mortas, nos diversos estados do belo e do bem no círculo da beatitude.  

 

40. Três renovações da condição humana na beatitude: a instrução, a beleza, o repouso, por sua inaptidão para suportar o vazio e sua eternidade.

 

41. Três coisas estão em crescimento: a força ou a luz, a consciência ou a verdade, a alma ou a vida, elas prevalecerão sobre todas as coisas, daí o fim da transmigração.

 

42. Três coisas vão em declínio (em via de desvanecimento): as trevas, a mentira e a morte.

 

43. Três coisas vão se reforçando a cada dia, porque o máximo de esforços vai para elas: o amor, a ciência, toda a justiça (a retidão).

 

44. Três coisas vão se enfraquecendo a cada dia, porque a maior soma de esforços vai contra elas: o ódio, a deslealdade, a ignorância.

 

45. Três plenitudes da beatitude: participar de cada estado de vida e ter a plenitude de um, co-gestação de cada gênio com a superioridade em um, amar todo vivo e toda vida e amar alguém acima de tudo, isto é, Deus. E nessas três coisas reside a plenitude do céu e da beatitude.

 

46. Três necessidades de Deus: infinito por si mesmo, limitado em relação ao que é limitado, unificado com cada estado de vida no círculo da beatitude.

—  As Tríades Gaulesas

*Ceugant = "certeza".

**Abred = ab, "filho"; red, "necessidade".

***Gwynfyd = "mundo branco", de gwyn, "branco".

*Announ = an doun, "o profundo", "o abismo".

*Announ.

**Abred.

***Gwynfyd.

*Abred. Todas as vezes, a partir de agora, que aparecer "transmigração", a indicação no galês é ao Abred

*Gwynfyd. Todas as vezes, a partir de agora, que aparecer "beatitude" ou "felicidade, a indicação no galês é ao Gwynfyd.

**Announ. Todas as vezes, a partir de agora, que aparecer "profundeza", a indicação no galês é ao Announ.

*Ceugant. Todas as vezes, a partir de agora, que aparecer "vazio", a indicação no galês é ao Ceugant.