Prof. Guilherme O. dos Santos

Crítica ao Ensaio sobre o ateísmo com base nas leis de conservação

   Formado em Filosofia (IESCO)

   Pós-Graduado em Filosofia Política (IESCO)

   Prof. de Filosofia do Colégio Militar D. Pedro II (Brasília-DF)

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Guilherme O. dos Santos

Texto escrito em 15.05.2009, 

publicado em 15.12.2010,

revisado em 01.09.2017.

      

Crítica ao Ensaio sobre o ateísmo com base nas Leis de Conservação

Primeiramente, façamos um diagnóstico com relação a algumas impropriedades que se pode identificar no Ensaio sobre o ateísmo. Em seguida, com base nas mesmas leis com que, no referido texto, pretendia-se reforçar o ateísmo, buscaremos bases que tendem muito mais a comprovar do que contestar a existência de Deus.

Analisando logicamente os argumentos do Ensaio, nota-se uma falha de raciocínio. Sendo o criador do universo ato puro, conforme a Primeira Via de S. Tomás de Aquino (citada após o segundo parágrafo do Ensaio), Deus não infringe a lei descoberta por Lavoisier, quando cria um universo onde “nada se cria e nada se perde, tudo se transforma”, como foi dito no texto citado. Apesar da aparente contradição, Deus é o criador do universo e tal lei passa a ter validade a partir de sua criação. Ora, se até nas leis humanas (falhas como são), somos capazes de entender que a lei, uma vez em vigor, não retroage, não é difícil entender que Deus não infringe lei alguma: afinal, antes de ser criada a Lei de Lavoisier, não havia nenhuma lei (se é que se pode falar em “antes” quando se trata da criação universal). Além disso, tendo Deus uma natureza bem diferente de tudo que há no universo, não pode ser submetido às mesmas leis que criou para a matéria. “Na natureza, nada se cria e nada se perde, tudo se transforma”, mas Deus está acima da natureza.

Outro ponto importante é que as leis de conservação descrevem apenas como a energia se “transfere” na natureza, não como ela foi “colocada” ali e posta em movimento segundo esta lei. O que sugere, mais uma vez, a necessidade de um criador de todas as coisas.

Vale ressaltar ainda que a Inteligência e a Coerência divinas (o “Lógos”) permanecem intactas mesmo a partir da criação das Leis de Conservação, pois, por serem científicas e, portanto, empíricas, tais leis do mundo físico são válidas apenas para o que é material. Logo, não podem valer como refutação a algo que, até aqui, entende-se como imaterial, metafísico, sem antes passar por uma análise quanto à sua validade em outro espaço ontológico, como o faremos a seguir para relacioná-la à existência de Deus.

Todavia, partindo do pressuposto de que a Lei de Lavoisier tenha sua validade sustentada pela observação, levemos em consideração que também é observável a diferença entre as coisas (inanimadas) e os seres vivos (animados). Esta diferença está no que chamamos consciência ou vontade.

Apesar desta consciência ou vontade não ser algo que se possa observar ou comprovar empiricamente, tal como a lei da gravitação universal, seus efeitos são observáveis. Não se pode observar a lei da gravidade em si, mas observamos seus efeitos no mundo, tal como observamos os efeitos da consciência nos seres a que chamamos vivos.

A mãe, quando dá a luz a um bebê, parece criar uma vida. Esta é a primeira intuição que se tem. Entretanto, pode-se dizer que a vida, neste caso, não teve início com o parto, mas já existia antes, na barriga da mãe. E antes de estar na barriga da mãe, já era vida quando tinha a forma de um espermatozóide separado do óvulo (no caso, duas vidas). Não se pode, porém, ignorar o fato de que duas vidas (o espermatozóide e o óvulo) dão origem a uma única vida (a do bebê), mais complexa, que se compõe de várias outras vidas mais simples (as células que o compõem), e que esta vida mais complexa tem uma individualidade que vai além da simples busca instintiva pela sobrevivência (conforme se observa na vida celular), chegando a adquirir a consciência de si e dos outros. Temos, então, que esta vida mais complexa vai além da soma das partes e, tendo uma individualidade, possui também suas especificidades.

Contudo, alguns ateus afirmam que a vida humana não é algo que vai além da simples busca pela sobrevivência. Desse modo, o que se chama vida não passaria de um conglomerado de mecanismos orgânicos que movimentam o corpo de acordo com a forma como se dão as sinapses nervosas e de como algum tipo de “instinto coletivo” dos genes o orienta, como Richard Dawkins defende em seu O gene egoísta (1976), resgatando o pensamento de George C. Williams e  J. Maynard Smith, ao afirmar que o organismo é apenas uma “máquina de sobrevivência” do gene, cujo objetivo é a sua autorreplicação. A espécie na qual existimos é, para eles, a “máquina” mais adequada a essa perpetuação.

Tal teoria deve, contudo, esclarecer o controle que o homem adquire sobre este “instinto coletivo dos genes” ou sobre estas sinapses nervosas (quando imagina e pensa sobre o que nunca viu, quando sofre o efeito placebo ou quando opta pelo suicídio), o que sugere, mais uma vez, uma vida mais complexa e individual do que a simples soma das partes.

 Ao morrer um homem (ser complexo, dotado de uma vida específica e individual), algo no universo se perde, no caso, uma vida, o que parece violar as Leis de Conservação.

No entanto, poder-se-ia afirmar, ainda, que esta vida não se perde com a morte, mas se dilui em outras formas de vida (como a de fungos e bactérias que se alimentam do corpo que se degenera), fazendo o caminho contrário, ou seja, ela se formou a partir de formas mais simples de vida e se diluirá novamente, com a morte, em outras formas mais simples de vida com a deterioração do corpo. Tal teoria não possuiria uma fundamentação empírica, muito menos lógica: afinal, a vida se diluiria em que (ou quem)? Qual seria a relação de causa e efeito nessa sequência? Tal dissolução, mesmo que possível, não explicaria o destino da consciência que foi construída neste ser mais complexo e individual do que a simples soma das partes. É fácil explicar o que acontece com o corpo e com o cérebro depois de morto, pois estes podem ser consumidos e deteriorados, mas a questão aqui não é essa: é o que acontece com a vida e a mente.

Parece-nos, a princípio, que as Leis de Conservação não são capazes de explicar a perda de algo na natureza, no caso, a vida, pela morte. Todavia, se admitirmos que a vida não se perde com a morte, ou seja, que esta “energia” ou “consciência” permanece de alguma forma no universo, admitimos a possibilidade de as Leis de Conservação se sustentarem e, ao mesmo tempo, a possibilidade da existência de uma vida espiritual individual.

A busca pela origem desta forma de vida (espiritual, consciente, a que se chama de alma) abre-nos as portas para uma vida espiritual ainda mais inteligente, como a de Deus, uma vez que algo inteligente, como a consciência humana, não poderia ter sua causa em algo que não possui as qualidades de seu efeito (como a vida das células sexuais, por exemplo). Sendo assim, se a causa da consciência e da inteligência não pode estar nestas formas de vida mais primitivas, deve estar, logicamente, em uma forma de vida que tenha esta característica (consciência e inteligência) para passá-la aos outros seres. Eis a necessidade de Deus, inteligência máxima, seguindo o mesmo raciocínio da Quarta Via de S. Tomás de Aquino, na Suma Teológica, que diz:

Encontram-se, entre as coisas, algumas mais e menos boas, verdadeiras, nobres: e assim de outras semelhantemente. Porém, mais e menos se dizem de coisas diferentes conforme elas se aproximam diferentemente daquilo que é máximo: assim, mais quente é o que mais se aproxima do quente máximo. Existe, então, algo que é verdadeiríssimo, boníssimo, nobilíssimo e, por conseguinte, ente máximo: pois o que é máxima verdade é máxima existência, como mostrado [por Aristóteles] em Metafísica, II. Por outro lado, o dito máximo em algum gênero é causa de tudo que é desse gênero: assim, o fogo, que é quente máximo, é causa de todas as coisas aquecidas, como explicado no mesmo livro. Logo, existe algo que, para todos os entes, é causa de ser, de bondade e de toda a perfeição: e a este chamamos Deus. (Tomás de Aquino, Suma Teológica, parte 1, q. 2, art. 3.)

Pelo raciocínio tomista acima, pode-se concluir que, se existem uma consciência, vida e inteligência que não encontram no mundo nem na matéria do homem a sua causa, então, deve existir um ser que seja esta causa. E, para ser a origem dessa energia que nos dá a vida, a consciência e a inteligência, deve ser no mínimo algo ou alguém com o grau máximo de inteligência, para ser a causa dos seres mais inteligentes imagináveis, de consciência e de vida, sendo, portanto, capaz de existir por si mesmo, ou seja, necessário.

A existência de Deus explicaria a origem deste movimento que precisa existir para explicar a sequência de causas e feitos no universo. Este ocorreria, agora, num campo espiritual, não sendo, destarte, “cancelado” pelas Leis de Conservação (conforme concluiu-se no Ensaio sobre o ateísmo), uma vez que a realidade de Deus sendo espiritual e eterna, não mais é entendida como criadora do universo, mas apenas “transformadora” da realidade espiritual divina em outros tipos de realidade (“alma” e matéria) dotadas de uma individualidade.

Logo, podemos concluir que Deus, por ser tão real e natural quanto a “alma” que anima os seres vivos, sempre existiu, não sendo, portanto, criado. Este, por sua vez, ao “criar” o universo, na verdade, transforma sua realidade Divina em uma realidade material e espiritual, conferindo-lhes uma individualidade ao colocar nas criaturas uma “semente” de sua realidade que se manifestará nos seres como uma parte separada e transformada de Sua vontade. Os seres, quando morrem, não perdem sua energia vital, apenas a transformam no que era antes de se unir ao corpo (uma “alma”), de modo que, no universo, “nada se cria e nada se perde, tudo se transforma”. As Leis de Conservação não são “uma característica da natureza”. Antes, são uma característica de Deus e do universo, e não haveria outra forma de admiti-las sem cair novamente no problema de se explicar o que acontece com a vida, depois da morte, e da origem do movimento e da consciência.

Como vimos, uma vez que a vida é espiritual e inerente à natureza tanto quanto todas as outras coisas materiais, esta é, portanto, uma alternativa que resolveria tanto o problema da validade das Leis de Conservação diante da morte, quanto o problema da origem do movimento no universo, uma vez que Deus permanece como o Primeiro Motor.

O universo até poderia ser eterno, mas não como afirma o autor do Ensaio sobre o ateísmo e alguns ateus por aí, pois sua eternidade não excluiria a necessidade de um motor para o universo. O que torna Deus necessário é a existência do movimento (conforme a 1ª via de S. Tomás de Aquino, na Suma Teológica). A infinitude (para o passado) da sequência de causas e efeitos no universo não explica a existência do movimento atual, dado que este, para existir, precisa sempre de uma causa anterior, que também teve uma causa, e assim sucessivamente. Se, no universo, nada se move sem ser movido, é lógico que, como hoje tudo se move, tudo foi movido. Este movimento (não importa quando) teve um início; do contrário, nada hoje se moveria. Por isso, uma sequência infinita de causas e efeitos seria impossível, ficando refutadas as possibilidades de um “universo (eternamente) oscilante”.

O problema de um universo eternamente em movimento não pode “ser atribuído igualmente à existência de Deus eterna, ou seja, sem uma origem”, como afirma o autor do Ensaio, pois o problema em questão nunca foi “a ausência (ou existência) de um início no tempo”, mas a existência do próprio movimento, o que torna necessária uma origem. Deus resolve o problema do movimento, não sendo apenas “um nome bonito (e cristão) para um problema que permanece sem solução”. Ele não tem uma origem porque é eterno, e é incriado porque, se fosse criado, não seria o Primeiro. Por mais que seja inimaginável (por ser nossa mente e imaginação efêmeras e finitas, não somos capazes de imaginar o infinito e o eterno), Deus é uma (e a única) solução lógica para o problema do movimento, de modo que, se não o admitimos, caímos no absurdo. 

Supondo, no entanto, que o universo seja de fato eterno, isso também não exclui a necessidade de um motor imóvel para o universo. Aristóteles, em sua Metafísica, defende uma ideia que será reforçada por Santo Agostinho e também por São Tomás, pois Deus seria anterior ao universo num nível causal, não temporal. Para entender a anterioridade causal e temporal, é importante saber a diferença entre elas. Diferentemente da anterioridade temporal, onde entendemos como anteriores os eventos que precedem temporalmente a outros, na anterioridade causal, entende-se como anterior aquele que é causa do outro, mesmo que ambos sejam simultâneos no tempo. Por exemplo: uma estrela, quando nasce, explodindo numa supernova, é anterior à luz por ela produzida. Mas essa anterioridade da estrela em relação a sua luz é causal, pois temporalmente não há anterioridade, haja vista serem simultâneas. Os termos origem, início e Primeiro, em Primeiro Motor ou Causa Primeira também são tratado pelo autor no nível causal, não temporal. Não sendo material, Deus não pode ser colocado na linha do tempo, uma vez que, sendo o tempo a contagem do desgaste da matéria, este só conta para aquilo que é material. Assim, Deus pode sempre existir por ser imaterial, o que o torna atemporal.

Na concepção aristotélica, o universo é eterno e Deus também. Contudo, como nada que existe no universo é capaz de se mover por si, sendo capaz apenas de transferir movimento, este precisa ter se originado de um ser capaz de gerá-lo por si mesmo. Não havendo nada no universo capaz de se mover por si mesmo, tal força deve ser externa e diferente dele. Esta força, Aristóteles chama de Motor Imóvel, que é semelhante a Deus e é eterno, tal como o universo.

Ambos são eternos, mas um é anterior ao outro? Sim, pois a anterioridade de Deus em relação ao universo é causal, não temporal. Usemos um exemplo bastante elucidativo: imaginemos um sol eterno. Tal como ele próprio, a luz que é produzida por este sol também será eterna. No entanto, esta luz só existe enquanto tem o sol como sua causa ou fonte. Aqui, o sol é anterior (causal) à sua luz, apesar de existirem sempre, de forma simultânea. Assim, o universo, tal como a luz deste sol, por mais que seja eterno, só existe enquanto tem Deus como seu criador constante, que seria o sol eterno na analogia. Assim, pode-se entender que, na concepção aristotélica do universo, Deus é anterior ao universo, mesmo sendo ambos eternos. Então, por que é preciso se falar em Deus, se o universo pode ser eterno? Porque a duração do universo não explica sua dinâmica. Apesar da crítica feita no Ensaio, a analogia citada é válida: diante de um rio cujas águas fluem, dizer que sua extensão é infinita não explica o movimento das águas. Se as águas fluem, deve haver uma nascente, não importa o quão distante ela esteja nem como ela seja.

Sobre a teoria cosmológica do Big Rip, citada pelo ateu (a mais recente das teorias cosmológicas), pode-se dizer que ela tem mais a reforçar a necessidade de um criador do que refutá-la; pois, se o universo tende a “se romper”, como explicado, então não é oscilante. E se não haverá um Big Crunch, o que o fará “renascer”? O que o terá feito “renascer” no passado até agora? Se a energia que gerou este Big Bang é a mesma que gerou os outros supostos Big Bangs, levando em consideração as Leis de Conservação de Energia, não tem porque terem acontecido outros Big Bangs diferentes deste, como suposto. A teoria do “ovo cósmico eterno” não parece muito diferente da de um “Deus do ovo”. Esse, sim, é só um nome (pseudo) científico para uma causa primeira, que ainda se mostra necessária, seja ela criadora do “ovo”, seja ela a ignição da explosão inicial.

O Big Rip é o exemplo perfeito para reforçar o argumento da contingência, que o autor pretendia criticar ao fazer referência à Terceira Via de São Tomás de Aquino. Pois, se o Universo como um todo está fadado a “se romper”, então é contingente. Se esse universo “rompível” é o conjunto de tudo o que existe e nada nele é capaz de existir por si mesmo, sendo sempre seus integrantes dependentes de outros seres como causa de sua existência (tal como um filho depende da existência de seus pais e de toda a sua linhagem para existir), o universo como um todo não seria capaz de existir por si mesmo e nada que existe agora teria como estar aqui. Se tudo existe, mesmo sem ter a capacidade de existir por si mesmo, então deve haver algo mais, capaz de sustentar a existência de tudo, já que nada no universo é capaz de fazê-lo. Portanto, é necessário um ser que seja fonte da existência de todas as coisas.

Sendo contingente, nada no universo é capaz de manter sua própria existência pela eternidade. O que sugere que é preciso, para garantir sua existência, sim, um ser necessário, capaz de, na eternidade do passado, ter “sobrevivido” a esta tendência à desintegração, sendo, portanto, causa de sua própria existência e de tudo que existe hoje. Sem esta causa, a que chamamos Deus, levando em consideração que o passado seria eterno, a probabilidade de chegarmos num “hoje”, tendo em vista um universo “rompível” em qualquer medida, tenderia ao zero, sendo, portanto, nula. Simplificando: tal como a luz precisa de uma fonte (um sol, por exemplo), pois não é capaz de existir por si mesma, tudo que existe no universo não é capaz de existir por si mesmo, precisando de uma fonte para a existência, que seria Deus. Deus é eternamente criador enquanto mantém sua criação (incapaz de existir por si) existindo, tal como o sol eterno é eternamente “criador” da luz enquanto a mantém, estando iluminado.

Sejam as leis da natureza “características do universo” ou criação de Deus, uma coisa é certa: há lei ou não há lei. Se há lei, isto é, um padrão nos eventos da natureza, há o que chamamos de ordem. Ora, a observação (e as próprias Leis de Conservação) nos mostra que há regularidade, isto é, um padrão, portanto, pode-se concluir que a lei existe. Logo, há ordem. Tal conclusão não é arbitrária, mas lógica. Uma pedra sempre cai quando não há algo que a sustente. Se não houvesse um padrão, ora a pedra cairia, ora ficaria parada no ar, ora subiria, ou seja, não haveria ordem, e sim caos. Se há ordem, deve haver, portanto, um ser inteligente, dotado de vontade para criar o mundo e com um objetivo, pois não há ordem se não há um objetivo que a prenuncie, e este implica uma inteligência para planejar. Daqui, podemos perceber que a Quinta Via de S. Tomás de Aquino, na Suma Teológica, última citação criticada no Ensaio, não só permanece inabalada, como reforça as ideias aqui apresentadas.

Tais teorias explicam, portanto, a ordem que se pode observar no mundo, sem ignorar ou colocar, por exemplo, a evolução das espécies, os avanços tecnológicos, as leis da natureza e a própria lógica que torna possível ambos os discursos acerca da origem (ou ausência dela) arbitrariamente como meras “características do universo”, por meio de falsas analogias, tal como se fez no Ensaio.

No texto referido, atribui-se também certa força ao argumento ateu pelo fato de serem científicas as Leis de Conservação. Vale ressaltar que a ciência segue um raciocínio indutivo, que parte da generalização para inferir suas leis, o que nos leva a perguntar: Devido ao fato de tudo que se observou na natureza até hoje ter se transformado, e por não se conhecer algo no universo que tenha sido criado ou “perdido”, pode-se concluir que “na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma”? Já observamos todos os eventos da natureza para chegarmos a uma conclusão tão categórica e necessária? A ciência mais recente não tem feito descobertas de substâncias ainda pouco conhecidas, como a matéria e a energia escuras, que têm reforçado muito mais a teoria do Big Rip do que a de um “universo oscilante”, bem como novas descobertas sobre dinâmicas quânticas que podem desestruturar as leis que conhecemos? Isso não seria novidade na ciência... Busquemos a força de nossos argumentos principalmente no encadeamento lógico das premissas para que não nos precipitemos com generalizações apressadas.

Chega-se, agora, a um ponto crucial: ou aceitamos que as Leis de Conservação se sustentam, admitindo uma realidade espiritual Divina que as garanta; ou acreditamos que essas não se sustentam, e o ateísmo não poderá buscar sua base de fundamentação nessas teorias. 

 

Prof. Guilherme Oliveira dos Santos