B. Godoy Paiva

Poema sobre Deus e Inferno no juízo das almas

Extraído de:

Juízo Final. in Anuário Espírita de 1981. Citado por: ANDRADE, Jayme. O Espiritismo e as Igrejas Reformadas. 8 ed. Capivari: EME Editora, 2001.

JUÍZO FINAL 

Sentado o Padre Eterno em trono refulgente, 

Olhar severo envia a toda aquela gente! 

Enquanto anjos cantam, outros vão levando, 

ante a figura austera desse Venerando, 

as almas que da tumba emigram assustadas, 

vendo o tribunal solene, majestoso, 

em que vão ser julgadas. 

Dois grupos são formados, 

um de cada lado: 

o da direita, Céu; o da esquerda, Averno. 

E Satanás ao canto, o chifre fumegante, 

espera impaciente, impávido, arrogante, 

a “turma” para o inferno. 

Aconchegando o filho, a alma bem-amada, 

e que na Terra fora algo desassisada, 

uma mulher se chega e a sua prece faz, 

rogando ao Padre Eterno poupe do inferno 

o pobre rapaz. 

Cofia o Padre Eterno a longa barba branca 

e, os óculos ajustando à ponta do nariz, 

o olhar dirige, então, à pobre desgraçada 

e compassado diz: 

“Os anjos vão levar-te agora ao Paraíso 

e dar-te a recompensa: o teu descanso eterno. 

Ali desfrutarás felicidades mil, 

porém, teu filho mau irá para o inferno.” 

Um anjo toma o moço e o leva a Satanás; 

porém, a pobre mãe, ao ver partir o filho, 

aflita, corre atrás! 

E, ao incorporar-se às hostes infernais, 

eis que grita o Padre Eterno, em tom assustador: 

“Mulher, para onde vais?!!!” 

E o que passou-se, então, 

ninguém esquece mais: 

“Eu vou para o inferno, ao lado do meu filho, 

a repartir comigo a sua desventura! 

As lágrimas de mãe, as gotas do meu pranto 

acalmarão no Averno a sua queimadura. 

Eu deixo para ti esse teu Paraíso, 

essa mansão celeste onde o amor é surdo! 

Onde se goza a vida a contemplar tormento, 

onde a palavra amor represa um absurdo! 

Entrega esse teu Céu às mães malvadas, vis, 

que os filhos já mataram para os não criar, 

pois só essas megeras poderão, no Céu, 

ouvir gritar seus filhos sem se consternar! 

Desprezo esse teu Céu! O meu amor é grande! 

Imenso! Assaz sublime! E posso te afirmar 

que se não te comove o pranto lá do inferno, 

e os que no Averno estão são todos filhos teus, 

o meu amor excede o próprio amor de Deus!” 

E ante o estupefato olhar do Padre Eterno, 

a mãe beijou o filho 

... e foi para o inferno ...

 

—  Benedito Godoy Paiva