Tales de Mileto

Primeiras reflexões sobre o princípio de todas as coisas

Tales de Mileto (c. 625-557 a.C.)

Extraído e adaptado de:

Vários autores, citados por Evaldo Pauli, 

Enciclopédia Simpózio: <http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/Megahist-filos/Prim-fil/0335y185.html#BM0335y205>

 

A água como princípio de todas as coisas

Outros dizem que a terra repousa sobre a água. Esta é a mais antiga teoria que nos foi transmitida e que foi atribuída a Tales de Mileto: a terra se mantém porque flutua como um pedaço de madeira ou de outra coisa similar. (ARISTÓTELES, Sobre o Céu, II, 13. 294a 28-30)

Ele expõe a opinião de Tales de Mileto, o qual disse que a terra flutua sobre a água. (SIMPLÍCIO, Sobre o Céu, 522, 14) 

É que Tales disse que o mundo das terras é sustentado pela água e se desloca como um barco, e que, quando se diz que ela “treme”, efetivamente ela balança devido ao movimento da água. (SÊNECA, Problemas Naturais, III 14)   

Diz-se que Tales de Mileto, um dos sete sábios, foi o primeiro que estudou a natureza. Ele disse que a água é o começo e o fim de tudo. Dela, por composição, fazem-se todos os seres, e, inversamente, quando eles se desfazem, todos voltam a ela. (HIPÓLITO, Refutações, I 1,1) 

Alguns, na suposição de que o elemento seja apenas um, disseram que ele é infinito em grandeza, como é a água para Tales. (SIMPLÍCIO, Física, 458, 23-25) 

Dos primeiros filósofos, a maioria considerava como únicos princípios de todas as coisas somente princípios de natureza material. Pois a fonte original de todas as coisas que existem; aquela a partir da qual uma coisa é primeiro originada e na qual por fim é destruída; a substância que persiste, mas se modifica nas suas qualidades: essa, afirmam eles, é o elemento e o primeiro princípio [arché] das coisas existentes. E, por essa razão, consideram que não há geração ou morte absolutas, com base no fato de uma tal natureza ser sempre preservada (...), pois deve haver alguma substância natural, uma ou mais de uma, de que provêm as outras coisas, enquanto ela é preservada. Sobre o número e a forma desses princípios, nem todos têm a mesma opinião. Tales, que deu início a semelhante filosofia, afirma que o princípio é a água ― por isso, ele declarava que a Terra flutua na água ―, tendo talvez formulado esta suposição por ver que o alimento de todas as coisas é úmido, e que o próprio calor dele provém e vive graças a ele (aquilo de que provêm é o princípio de todas as coisas). Formulou a hipótese não só a partir disso, como ainda do fato de as sementes de todas as coisas terem uma natureza úmida, sendo a água o princípio natural das coisas úmidas. (ARISTÓTELES, Metafísica, I, 3, 983b, 6-26) 

Entre os que afirmam que existe só um princípio em movimento, ele [Aristóteles] os denomina acertadamente físicos [naturalistas]. Um o considera finito, como Tales de Mileto, filho de Exâmio, e Hípon. Induzidos pelas aparências sensíveis, asseveram que a água é o princípio. Pois o calor vive da umidade, as coisas mortas secam. Todos os germes são úmidos e os alimentos estão repletos de suco; e é natural que todas as coisas se alimentem do mesmo [elemento] de que provêm. Mas a água é o princípio da umidade e o sustento de tudo. Por isso, concluíram que a água é o princípio e declararam que a Terra assenta na água. (SIMPLÍCIO, Física, 23, 21-29) 

Tales advertiu sobre o aspecto generativo, nutritivo, congregante, vivificante da água. (SIMPLÍCIO, Física, 36, 10-11) 

É que a substância natural úmida, uma vez que facilmente se transforma em cada uma das diferentes coisas, está acostumada a passar por variadíssimas modificações: a parte dela que se exala transforma-se em ar, e a parte mais sutil inflama-se de ar em éter, ao passo que a água, quando se torna compacta e se transforma em lodo, converte-se em terra. Por isso, Tales declarou que, dos quatro elementos, a água era, por assim dizer, o mais ativo enquanto causa. (HERÁCLITO HOMÉRICO, Questões Homéricas, 22)      

 

Tudo está cheio de deuses (alma)

Aristóteles e Hípias afirmam que Tales partilhou a alma até pelos objetos inanimados [lit.: sem alma], servindo-se do ímã (magneto) e do âmbar [eléktron] como indícios desse conceito. (...) Ele assevera mais: que o mundo é vivo e está cheio de deuses. (DIÓGENES LAÉRCIO, Vidas, I, 24, 7)  

E alguns afirmam que alma está misturada em todo o universo: foi, talvez, por essa razão que Tales também pensou que tudo está cheio de deuses. (ARISTÓTELES, Sobre a Alma I, 5, 411a 8) 

Parece também que Tales, segundo o que se comenta, opinou que a alma é algo de cinético, se é que ele disse que o ímã tem alma porque desloca o ferro. (ARISTÓTELES, Sobre a Alma, I, 2, 405a 20) 

Tales foi o primeiro que disse que a alma é uma natureza sempre em movimento, ou que se move por si mesma. (AÉCIO, Livro IV, 2, 1) 

Diz-se também que Tales foi o primeiro que asseverou a imortalidade da alma. (DIÓGENES LAÉRCIO, Vidas, I, 24)

Tales disse que deus é a Mente do mundo, e que a totalidade das coisas é dotada de alma e está povoada de espíritos [dáimons]; é precisamente através da umidade elementar que nele penetra um poder divino que o move. (AÉCIO, Livro I, 7, 11 — provável reinterpretação estoica)