Gottfried W. Leibniz

Breve demonstração da existência de Deus e seus atributos

Gottfried W. Leibniz (1646-1716)

Extraído e adaptado de:

Teodiceia, de Leibniz.

BREVE DEMONSTRAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE DEUS

7. Deus é a primeira razão das coisas. Porque...

As coisas que são limitadas, como tudo o que vemos e experimentamos, são contingentes, e nada há nelas que torne necessária sua existência. É muito claro que o tempo, o espaço e a matéria, homogêneos e uniformes em si mesmos e indiferentes a tudo, podiam muito bem receber quaisquer outros movimentos e figuras, e numa ordem diferente.

Por conseguinte, é preciso buscar a razão da existência do mundo, que é o conjunto todo das coisas contingentes. E é necessário buscá-la na substância que tenha em si mesma a razão de sua própria existência. E esta é, por isso mesmo, necessária e eterna.

É preciso também que esta causa seja inteligente. Porque é contingente este mundo que existe; e são igualmente possíveis uma infinidade de outros mundos, também aspirantes à existência, como este. É, então, imprescindível que a causa do mundo tenha levado em conta ou consideração todos esses mundos possíveis, quando determinou um.

E essa consideração ou relação de uma substância existente para com as simples possibilidades não pode ser nada mais que o entendimento, no qual ocorrem as ideias de todas elas. E determinar a existência de uma não pode significar nada mais que o ato da vontade que escolhe. E o poder dessa substância é o que faz com que sua vontade seja eficaz. O poder se encaminha para o ser; a sabedoria ou o entendimento, para o verdadeiro; e a vontade, para o bem.

E esta causa inteligente deve ser infinita em todos os conceitos: absolutamente perfeita em poder, em sabedoria e em bondade, posto que alcança tudo o que é possível.

E, como tudo está ligado, não há lugar para admitir mais que uma. Seu entendimento é a fonte das essências, e sua vontade é a origem das existências.

Eis aqui, em poucas palavras, a prova de um Deus único, com suas perfeições. E, por seu meio, a origem das coisas.

—  Gottfried W. Leibniz

Teodiceia, II, 7.