Timoteo (José Roque Martins e Silva)

Problemas e contradições da democracia capitalista

Teocracismo, de Timóteo (1968)

Extraído de:

Teocracismo: a terceira ideia, de Timóteo

OS ATUAIS DOMINANTES

         Mas o que vemos?

Parece não importar a vida de muitos: importante é vender (...). O capitalismo, entre outros males que o vulgo não pode ver, leva em seu bojo a corrupção, a escravidão e a morte, no insaciável apetite de prevalecer. Seriam seus objetivos a Liberdade e a Fraternidade pregadas pela democracia?         

CAPITALISMO filho natural e consequente do aleijão imposto à democracia da Liberdade e da Fraternidade.

(...) A Revolução Francesa permitiu a humanidade sair do feudalismo para usufruir os benefícios de um regime de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” que poderia representar um regime democrático. Mas, deturpados que foram aqueles ideais, está grande parte da humanidade submetida a novo regime de exploração do homem pelo homem, do mais fraco pelo mais forte, do pobre pelo rico. E tal regime é o capitalismo. E sendo capital todo bem econômico ou riqueza capaz de ser aplicado à produção ou a dar renda, vem que o capitalismo é o regime em que predomina a influência do capital, do dinheiro. O homem vale pelo que tem e não pelo que é.

*     *     *

O capitalismo, longe de ser o que poderíamos esperar da democracia regime de liberdade e oportunidade para todos não passa de um mar muito grande, mas restrito a alguns vorazes tubarões. E a coisa está no fato de se acercarem do governo os detentores das grandes fortunas e em suas mãos apenas giram as riquezas.

Caso sejam contrariados em seus propósitos, de tudo são capazes: tanto excluem da possibilidade de enriquecimento aos mais fracos, como promovem uma guerra de extermínio; tanto determinam um bloqueio econômico, como mandam assassinar a quem se lhe anteponha.

A tal ação chamaram de “imperialismo” e,

para os países adiantados, ou melhor, para suas classes dominantes, o imperialismo significa a exploração livre dos recursos naturais e humanos dos atrasados; para estes últimos, significa não só a exploração por parte dos adiantados, mas a marcha num curso de desenvolvimento econômico e social que, se persistir, só poderá levar ao desastre completo (Paul M. Sweezy, Ensaios sobre o capitalismo e o socialismo).

E os tais dominantes, nesta ala, são os “burgueses insaciáveis” de hoje. Diferem dos antigos pelo fato de disporem dos inumeráveis recursos modernos que os levam aos requintes com que vivem e agem.

Constitui a tese do sociólogo Karl Mannhein:

... a industrialização que acaba por concentrar em apenas algumas mãos a faculdade de racionalismo substancial (a capacidade de escolha das ações a empreender) acabará inevitavelmente por destruir a democracia.

(...) A Revolução Industrial forneceu o fabuloso turbilhão de máquinas que distanciou cada vez mais o empresário do operário. O empresário, no exclusivo afã do enriquecimento desmedido, esqueceu que também o operário o ajuda a criar a sua fortuna. Foi gerado o desumano regime do Ocidente. 

Sem justiça social; 

Liberdade sem Igualdade: 

Eis o capitalismo!

(...) No capitalismo, embora [uma solução seja] viável, obstáculos inúmeros e quase intransponíveis ocorrem para desencorajar qualquer tentativa.

E, para sermos precisos, devemos dizer que, em termos de periculosidade, por destruir mesmo o patrimônio espiritual da pessoa humana, com um certo agravante, o capitalismo é incomparavelmente pior que o comunismo [soviético].

Pois, o comunismo, declaradamente materialista, levará pessoas que podem voluntariamente escolher ou deixar de escolher esse caminho. De seus prejuízos espirituais a ninguém poderão acusar tais pessoas que, sabendo do caráter do comunismo, por ele optaram.

O capitalismo, porém, é pior porque, aparentando virtude, não passa de velada forma do mais puro materialismo. É o publicano que, orando em praça pública, dizia não ser como o outro que também orava: um ladrão, um criminoso, etc. enquanto o outro assim se expressava: “meu Deus, perdoa-me porque sou um ladrão, um criminoso, um réprobo”. Este se justificou. O outro não passou de hipócrita. Conhecendo as leis de Deus, praticava, conscientemente, o contrário. Eis o agravante.

A ação do capitalismo, em certos fenômenos, assemelha-se à de certos germes: deixa-nos surpresos de como estruturas fortes, estáveis, surgem inopinadamente corroídas e podres. É o caso da democracia no Brasil, bem assim o das formas diversas com que exerce seu colonialismo de garantia de mercado.

(...) Incapaz de ajuda substancial ao mundo subdesenvolvido, tal o elevado grau de egoísmo e ganância a que chegaram certos países que o seguem cumpre a esse mundo subdesenvolvido procurar outro meio de crescimento.

O primeiro passo está aqui: alijar para bem longe e a qualquer esforço o fardo de exploração que lhes pesa sobre os ombros e que foi imposto com a voracidade estonteante de vampiros que se nutrem gostosamente do sangue alheio.

*    *    *

(...) Para a democracia, a sugestão, talvez, nada represente, dado que já a considera atingida por aquilo que é de sua natureza a liberdade total , já estando o cidadão, portanto, atendido quanto a isso.

Mas, esposando o capitalismo uma doutrina econômica que se diz imediatista, hedonista por excelência e amoral (fruto da escola inglesa) não vemos como seja solucionada aquela falha, porque se acomodaram, no capitalismo, questões essenciais, como as espirituais, pela forma antes indicada, com a liberdade total também, numa doutrina econômica de um hedonismo que leva às raias da amoralidade.

—  TIMÓTEO

“Os atuais dominantes”.

Teocracismo: a terceira ideia.