Luiz Gustavo Oliveira dos Santos

Até onde vai o determinismo histórico dos modos de produção

Luiz Gustavo Oliveira dos Santos

Ensaio filosófico sobre:

Determinismo histórico

Hoje, deparamo-nos com uma realidade tal qual antes ocorreu entre os medievais. Esta comparação diz respeito à visão determinística que agora, como outrora, assola a mente dos pensadores. Em nossa atual sociedade, no que se refere ao aspecto econômico, somos levados a pensar que chegamos ao capitalismo de maneira natural, como se todos os elementos conspirassem para tal situação. Não faltaram esforços filosóficos que tentassem adaptar, ainda que forçadamente, o “modo de vida” capitalista a uma enfadonha caminhada evolutiva. Assim nos brindaram Malthus, Adam Smith e certos fisiocratas. Por menos simpática que pareça, essa vertente parece ter tomado conta das sociedades, pois vemos a naturalidade com que nossa condição é encarada, em geral.

Não podemos, entretanto, classificar como infelizes essas expressões filosóficas modernas, mesmo sendo em grande parte responsáveis por esse mundo confuso atual. Toda essa filosofia econômica dos modernos, se confrontada com os acontecimentos históricos, revela-nos que esses pensadores estavam justamente fincando as bases para derrotar o que podemos chamar de “determinismo feudal”. A comparação no início do texto foi feita para refletirmos sobre o quanto nos achamos presos, amarrados e contrariados e o quanto tal situação se afigurava muito maior na Idade Média. O sentimento de incapacidade que nos permitimos ter hoje era incomparavelmente mais forte na Idade Média, sob o regime feudal. Observem-se as diferenças abissais entre as classes, as restrições, leis e obrigações sobre-humanas, a sociedade estamental e tantas outras características que, apesar de não terem desaparecido, foram um tanto abrandadas até nosso tempo. Assim, qual não era a visão da liberdade que tinha a humanidade cercada pelo regime feudal?           

Sabemos que a Igreja Católica impunha sua crença à força. E o que não representava para os cristãos ver e viver aquela situação? Associação simples: Deus Onipotente que subjuga homens impotentes. Qual a força “supra-divina” que poderia impelir alguém à luta na tentativa de mudar o divino mundo feudal? Assim, devemos verificar que o sistema feudal representava, certamente, um determinismo muito mais palpável e real do que este determinismo abertamente humano e egoístico que encaramos em nossos dias. Sim, podemos dizer que o “determinismo” é proporcional à força que entendemos mover o mundo.        

Tal entendimento nos mostra, então, como devemos ver na linha do tempo as teses afoitas do mercantilismo e, depois, do capitalismo, uma refutando a outra, na tentativa de estabelecer uma configuração econômico-social revolucionária. Essas ideias da filosofia moderna em torno do capital procuravam firmar de vez os pés da humanidade nesse novo e alto degrau que se subiu depois do feudalismo. Pode-se entender, desse modo, que os princípios capitalistas marcaram a vitória do homem contra o “determinismo divino” no campo econômico, indicando ainda o que devemos pensar, hoje, sobre o menos robusto “determinismo” econômico egoístico. O determinismo desceu do nível Onipotente para o patamar relativo e contingente do interesse humano. E isso significa que a liberdade pode (e deve) ocupar o lugar que o determinismo deixou vago em nossas aspirações.

Todas essas afirmações nos levam a enxergar que os princípios econômicos e valores sociais vigentes atualmente não são permanentes e necessários, ou determinísticos, mas antes resultados históricos de uma efetiva vitória da liberdade. Livramo-nos de um modelo absolutamente rígido para entrarmos num modelo fundado em princípios menos sufocantes, não obstante, ainda imperfeito. E essa imperfeição deixa, com o tempo, o sistema mais vulnerável às reações, como ocorreu no feudalismo, abrindo espaço para novas classes começarem a surgir e agir no sentido de aperfeiçoá-lo. 

Segundo se apreende dos ensinamentos da história, esse processo culmina com uma explosão de ideias e ações revolucionárias que vencerão a força determinista do sistema, a força controladora da sociedade. Essa força, hoje mais esquadrinhada, afigura-se-nos potencialmente inferior àquela de antanho, por sua conhecida raiz humana, contingente e limitada. Dizer que a força determinística é humana significa dizer que a saída é vencermos a nós mesmos. A força reacionária, por isso, não precisa mais ser supra-divina, mas tão somente humana, até finalmente enxergarmos, daqui mais algumas revoluções, que não é necessária qualquer força, e sim, o entendimento de que nós mesmos, deliberadamente, é que viemos nos aprisionando. As forças determinísticas, nesse momento, ruirão junto com a pretensão humana. E então, como parece estar determinado, poderemos nos considerar livres. 

Prof. Luiz Gustavo Oliveira dos Santos

Professor de Filosofia (SEDF)

Formado em Filosofia (IESCO)

Pós-Graduado em Filosofia Política (IESCO)

Mestrando em Filosofia da Religião (UnB)

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