Luiz Gustavo Oliveira dos Santos

O tempo e as dimensões da realidade

Luiz Gustavo Oliveira dos Santos

O TEMPO

            A questão da natureza do tempo é uma das mais importantes de toda a história da filosofia e da ciência. Muitas teorias e tratados são elaborados para tentar explicar o que venha a ser o tempo e como funcionaria sua ação sobre a natureza.             O tempo pode ser explicado com base em vários pontos de vista. Os principais são o idealista e o realista ou racionalista. As concepções variam conforme a noção de cada indivíduo com relação ao tempo. 

 

O TEMPO IDEALISTA (SUBJETIVO)

            O tempo adotado pelo prisma idealista coloca-o como algo inexistente na natureza e presente apenas na mente humana. Seria uma condição subjetiva, empregada por nós como uma forma de organizar a vida cotidiana em seus eventos.

          Grandes filósofos como Immanuel Kant e Leibniz são adeptos desse pensamento. O tempo seria uma das categorias a priori da sensibilidade. A noção de tempo já estaria impregnada na mente das pessoas e estaria relacionada com uma simples observação da sucessão de eventos. Ou seja, o tempo não teria existência objetiva, não seria passível de experiência. Ele seria nada mais que uma intuição necessária para a vivência dos seres.

            O tempo poderia ser colocado como uma apreciação do desgaste dos corpos no universo. A noção de “tempo passado” resulta da diferença entre uma primeira observação de um corpo e uma observação posterior, percebendo o desgaste sofrido pelo corpo entre as duas observações. É, portanto, o tempo, uma percepção, ou seja, um processo puramente cerebral. Haja visto que, não existindo o homem para pensá-lo, o tempo deixaria de existir. Tudo faz parte de um ciclo no qual o homem tem que estar necessariamente inserido; ciclo este que representa a duração dos seres. Cada ser tem seu tempo e, quando ele deixa de existir, o tempo para para ele.

            O tempo só existe enquanto pensado. Se o homem vivencia o tempo, de maneira consciente, ele pode percebê-lo, pode notar e sentir psicologicamente sua passagem devido à sucessão dos eventos apreendidos pela experiência. Mas, se o homem morre, ou simplesmente dorme, ele não mais sente a ação do tempo. Isso porque, nessas situações, não há consciência no homem, e, estando inconsciente, ele não percebe o tempo; o tempo para e deixa de existir.

            Uma existência objetiva do tempo absoluto seria contestável, pois não se poderia explicar porque Deus teria criado o mundo num determinado momento (e num determinado espaço). Ele teria criado o mundo e, a partir disso, o tempo apareceria como ordem e relação entre as coisas. Os instantes não existiriam, portanto, fora das coisas, consistindo apenas em sua ordem de sucessão.

 

A História e o tempo 

A história da humanidade consiste no passado do ser humano. Tudo aquilo que já foi produzido pelo homem, seus feitos, fatos marcantes. Mas o passado, como parte integrante do tempo, não faz parte da existência, da realidade. Apenas o presente é vivenciado e está na realidade.

A história não passa de uma retrospecção psicológica que o homem faz, com base em dados colhidos, para montar uma sequência de acontecimentos da forma como deduzimos que tenham sido. A reconstituição dos fatos nunca é certa, são apenas estimativas, já que nenhum homem contemporâneo vivenciou os tempos remotos para descrevê-los com precisão. 

Outra observação é o fato de que qualquer remontagem histórica, mesmo as mais atuais e, portanto, precisas, ao serem relatadas pelos historiadores, acabam por ser distorcidas. A história não existe na realidade, somente na memória do homem. E, por estar somente na memória, é totalmente subjetiva e sujeita a interpretações pessoais. Ao serem descritos, os fatos podem tomar outro rumo devido à parcialidade do historiador ao remontar a história.

As únicas coisas concretas que se tem da história são os documentos e as realizações materiais da humanidade (como escritos ou textos e objetos ou construções). As atitudes são incertas e só podem ser deduzidas (a partir de seus efeitos observáveis).

A compilação histórica, portanto, nunca é certa e está sempre passível de modificação, à medida que os fatos ganham novos dados que permitam remontá-los da maneira mais precisa possível.

 

Acesso ao passado e ao futuro 

O homem é um ser essencialmente subjetivo. E o tempo, por estar intrinsecamente ligado à mente, também o seria. Se o tempo está no cérebro, ele também está sujeito a faculdades cerebrais como a memória e a dedução. Assim sendo, temos relativo acesso ao passado e ao futuro vivenciado.

O passado está registrado na memória de cada um. Tudo o que já se fez, pensou ou presenciou outros fazendo fica "gravado" no cérebro. Logo, bastando ativar a memória, temos acesso ao passado (o que não significa uma volta real ao passado, mas apenas uma retrospectiva dos fatos vividos, por se tratar de algo subjetivo).

Quanto ao futuro, o acesso existe, porém, com certo grau de incerteza. Ele pode ser alcançado também pelo processo cerebral da dedução. Para tanto, quanto mais distante o futuro analisado, mais incerta será a dedução; ao passo que, para eventos mais próximos, tem-se mais precisão. Com isso, pode-se dizer, por exemplo, que a previsão do que acontecerá daqui a 32 anos terá um grau de certeza praticamente nulo (um verdadeiro “chute”). Porém, prever que uma pedra lançada para cima atingirá o solo em 4 segundos é algo praticamente certo.

Deve-se lembrar, entretanto, que, por serem processos mentais e individuais, podem apresentar-se de maneira desvirtuada. Tanto a memória quanto a dedução não permitem uma reprodução fiel de passado nem de futuro; o que é perfeitamente aceitável, visto que só estão na mente e, portanto, sujeitos a interpretações das mais diversas, variando de indivíduo para indivíduo.

 

Mensuração do tempo 

Quando nos colocamos a contar o tempo, inventando unidades de medidas como o segundo, o minuto, o dia ou o ano, na verdade, queremos uma forma de organizar nossas vidas de acordo com eventos da natureza. A passagem do tempo nada mais é que uma série de movimentos cósmicos que se repetem sempre com a mesma frequência.

Um dia é tão somente a duração necessária para a Terra dar uma volta ao redor de si. O ano é uma medida de mesma natureza, mas utilizando-se o movimento de translação do planeta. As horas, minutos e segundos nada mais são que subdivisões dessas medidas.

Mas essas medidas não são imutáveis ou causas da existência do tempo. Ao contrário, elas são consequência e podem ser totalmente modificadas. Se não medíssemos o tempo a partir desses referenciais, o faríamos a partir de outros, sem que isso afete absolutamente nada na natureza. São apenas convenções humanas para proporcionar ordem na sequência de seus afazeres.

Assim, a mensuração do tempo pode ser apresentada como sendo uma forma adequada que o homem criou para adaptar sua vida de maneira sequencial e rítmica, permitindo uma organização estável dos eventos que possa ser facilmente assimilada por sua mente.

 

O TEMPO REALISTA (OBJETIVO)

            Para os realistas, como Aristóteles e Isaac Newton, o tempo é uma realidade objetiva. Ele não tem existência material, mas existe objetivamente na natureza. Suas características são tão perceptíveis quanto as do espaço, na Física.

            A concepção do tempo sob o aspecto realista é bastante mais complexa do que a abordada no subjetivismo. Primeiramente, o tempo tem que existir, assim como o espaço, porque disso dependem muitas formulações das Ciências exatas. É notável a importância desses conceitos nos cálculos da Mecânica. Não seria possível identificar a velocidade de um corpo sem conhecer a mudança do mesmo no espaço e no tempo.   

            O tempo, portanto, tendo uma existência real, poderia ser representado como o conjunto das três divisões temporais: passado, presente e futuro. Todos os eventos passam por esses três estágios, sendo que só o presente comporta toda a realidade. Tudo quanto existe está inserido nessa lâmina temporal chamada “presente”. “Só o presente é”, como afirmava Heráclito de Éfeso.

            Podemos representar o tempo como uma linha. A linha do tempo seria como a linha dos números, na matemática. Ela conteria o passado (sendo os números negativos), o presente (representado pelo ponto zero) e o futuro (sendo os números positivos).

          Mas uma característica peculiar do tempo é que o presente não seria um ponto imóvel, pois se moveria em direção ao futuro, transformando, assim, o futuro em passado, constante e permanentemente.

            O que se deve perceber é que o tempo existe independentemente de o ser humano pensá-lo. Se o homem percebe, conta ou não o tempo, ele continua existindo. Se não houvesse mais nenhum ser humano, ou mesmo ser vivo, no Universo, os eventos continuariam ocorrendo e passando do futuro para o presente e do presente para o passado. Utilizemos como exemplo uma erupção vulcânica. Até o momento da erupção, é um evento futuro. Enquanto estiver acontecendo ela é presente e, findando a atividade vulcânica, ela fará parte do passado. E nisso tudo não havendo necessidade de um homem para presenciar. A ocorrência de todo o processo demonstra que foi necessário o fluxo do tempo, donde se deduz que, se o tempo parasse (ou seja, o ponto chamado “presente” não se movesse sobre a reta), o evento não teria se concluído, ou mesmo se iniciado. Qualquer movimento passa pelo futuro, presente e passado, pois, se assim não fosse, não seria um movimento. O lugar inicial ocupado pelo corpo estaria no passado, quando este atingir outro lugar. Se analisarmos um movimento ainda em andamento, não concluído, teremos que sua posição inicial já está no passado e a posição final está no futuro, até que o movimento se finde.

 

A duração do presente

            O presente é um ponto (no qual todos os eventos acontecem) que caminha na direção “passado para futuro”, como representado na linha do tempo. O presente se move de um ponto para outro incessantemente, transformando o futuro em passado. Um ponto do futuro que se torna passado permaneceu como presente apenas por um tempo ínfimo, com duração próxima a zero. Qual seria a duração do presente, ou seja, durante quanto tempo um ponto permaneceria como presente até se tornar passado?

            Cada ponto pode ser chamado de um “instante”. Um grande problema colocado na Antiguidade por Zenão de Eleia era o referente à corrida entre um homem (Aquiles) e uma tartaruga. Segundo o filósofo, se a tartaruga saísse com uma pequena vantagem, seria impossível que o homem a alcançasse. Isso porque, para alcançá-la, deveria primeiro alcançar a metade da distância entre ele e a tartaruga. E para alcançar a metade, deveria alcançar antes a metade dessa metade, e a metade da metade dessa metade... Enfim, o homem sequer sairia do lugar (pois para andar um centímetro, devia alcançar a metade disso e assim por diante). 

              Por isso, há sua famosa contradição de dizer que uma flecha em movimento também está em repouso. Isso se explica assim: se o movimento de uma flecha pudesse ser descrito "quadro a quadro", como se faz modernamente em desenhos animados, qual seria a velocidade da flecha em cada quadro? Imaginemos uma fotografia, entre milhares tiradas durante o movimento da flecha, como sendo um quadro desse movimento. A velocidade da flecha nesse quadro seria igual a zero, eis o que Zenão considera. Ora, em todos os quadros do movimento a velocidade é zero, mas como a soma das velocidades em cada quadro é 0 + 0 + 0 + 0... = 0, então a flecha, na verdade, não se move.

            O problema é o mesmo que acontece na matemática. Há uma impossibilidade de se passar do 1 para o 2, pois antes ter-se-ia que passar pelo 1,1, pelo 1,01, pelo 1,001, pelo 1,00000000001 e assim infinitamente, nunca chegando no 2 por causa da infinidade de casas decimais entre eles. Assim seria com o tempo em nossa reta. Ao sair do instante 1, nunca chegaria no instante 2.

            Mas, pela prática, fica claro que os instantes passam, sim, de um para outro, já que o movimento existe. Como se resolve o problema, então?

            Se conseguimos chegar de um instante para o outro, significa que não se passou por todas as casas decimais que estão entre eles. Os cientistas mais atuais estão concordando que deve haver um limite no número de casas decimais entre um instante e outro (ou seja, o tempo não é contínuo). Segundo cálculos com base na Teoria Quântica e na velocidade da luz no vácuo, chegou-se a uma resposta satisfatória, limitando o número de casas decimais em quarenta e duas. O tempo, então, seria "quantizado". Isto é, existe uma duração mínima para os eventos na natureza. Com isso, temos que a duração do presente ou de qualquer instante é igual a 10-43 segundo, que é o tempo estimado da expansão do Universo logo após o Big Bang.

 

Questão da infinitude do tempo 

“O tempo é infinito?” Essa é uma pergunta frequente no estudo do tempo. Quando se diz que o tempo é infinito, tem-se um apoio na linha do tempo para nos respaldar. A linha em si é infinita e, como representação do fluxo do tempo, pode-se basear nela para uma reflexão.

            Ao dizer que o tempo é infinito, ou a linha que o representa, podemos cair em uma falsa contradição: “Se o tempo é infinito, o passado e o futuro também são. Mas o presente os divide, e, se há uma divisão, há um limite; e, se há um limite, não é ilimitado, ou seja, não é infinito”.

            O que desfaz essa contradição é o fato de que o passado e o futuro são infinitos se observados a partir do presente. Do presente para trás, há um infinito (o passado) e do presente para frente outro infinito (o futuro). Cada um é infinito em sua direção.

            Mas um grande porém é que o presente caminha, transformando o futuro em passado incessantemente. Logo, teríamos que um é maior que o outro. A partir daí, pode-se deduzir: ou o passado é maior que o futuro (pois o presente não para de transformar futuro em passado); ou o futuro é maior que o passado, pois, em algum momento, se voltarmos para trás, o passado teria um fim (que é justamente a origem de tudo) e, portanto, seria finito, enquanto o futuro seria infinito. Contudo, um infinito não pode ser maior ou menor que outro infinito.

            Já dizer se o tempo é infinitamente divisível, isto é, procurar o menor espaço de tempo possível, mostra-se viável. Existiria algum evento com duração tão rápida que pudesse ser mais instantâneo que o próprio presente (por exemplo, uma pulsação de um objeto cósmico que, de tão rápido, repetiria seu movimento num espaço de tempo menor que o limite do instante, de modo que esse movimento não fosse "computado" pela realidade para ter existido)? De acordo com as teorias mais recentes não é possível: 10-43 segundo (chamado de Tempo Planck) é o menor espaço de tempo existente.

            Mas, devido a nossa razão impossibilitar a compreensão dessas grandezas, não é pertinente colocar como verdadeiras quaisquer suposições acerca dessa questão, sendo válidas, entretanto, as reflexões para satisfazer a curiosidade natural do ser humano.

 

Tempo absoluto e relativo (Teoria da Relatividade) 

O tempo pode ser analisado sob dois aspectos: o absoluto e o relativo.

O tempo absoluto é o que vem sendo tratado até agora. A conceituação do tempo como sendo absoluto é compartilhada por Newton. Esse filósofo cientista abordava o tempo como sendo único e imutável. Isso quer dizer que o fluxo do tempo era constante e o mesmo para qualquer corpo no Universo, independente do seu comportamento. Assim era, para ele, o espaço (as distâncias eram sempre as mesmas qualquer que fosse o referencial).

         Foi com Albert Einstein e sua famosa Teoria da Relatividade que esses conceitos passaram a ser considerados relativos. Essa teoria tem por base a relatividade do tempo e do espaço de acordo com o referencial que se tome.

          Primeiramente, existe um comportamento único para a luz, ou seja, sua velocidade é invariável ou constante na Termodinâmica e em fenômenos fotoelétricos. Ora, tendo a luz a mesma natureza, independentemente do ramo em que for estudada, ela deve ter, então, o mesmo comportamento também na Mecânica (isto é, uma velocidade constante para qualquer referencial que se tome).

       Para continuarmos, segue o exemplo: se estivermos no mar, em uma lancha, e formos rapidamente contra as ondas, nos chocaremos mais vezes com as ondas (maior frequência) do que se estivermos a favor delas (menor frequência). Isso ocorre com qualquer tipo de onda, mesmo a sonora (se estivermos em repouso e uma caixa de som vier em nossa direção, as ondas se encontrarão mais vezes com nosso tímpano, apresentando maior frequência (o que se manifesta em um som mais agudo), do que se a caixa se afastasse, apresentando menor frequência e manifestando-se como som mais grave). Esse efeito, chamado de Efeito Doppler, acontece com qualquer tipo de onda, mesmo a luz (na qual a maior frequência visível se manifesta na cor violeta e a menor frequência, na cor vermelha).

Mas a luz tem a propriedade de apresentar uma velocidade constante em qualquer referencial que se tome, de forma que, tanto se estivermos nos aproximando quanto nos afastando de uma fonte de luz, esta nos alcançará sempre na mesma velocidade. Ora, algo deveria variar, já que o comportamento não é o mesmo nos dois casos; e se não pode ser variada a velocidade com que a luz nos alcança, só poderão o tempo e o espaço variar. Segundo a Relatividade, a velocidade da luz é a única coisa absoluta (invariável) no Universo, e sempre deverá ser, mesmo relativa a diferentes referenciais, de 300.000km/s, nem mais, nem menos (esta constatação foi aceita primeiramente pelos resultados da experiência de Michelson-Morley sobre a velocidade da luz). Até mesmo o tempo e o espaço podem variar para adequar a velocidade da luz à sua condição de absoluta.

Como exemplo, vamos supor que dois corpos P e Q estejam cada um de um lado de uma lâmpada apagada. P está se aproximando da lâmpada e Q se afastando, ambos muito rápidos. Quando os dois estiverem à mesma distância da lâmpada, ela será acesa. Pergunta-se: ao acendermos a lâmpada, a luz atingirá qual corpo primeiro? Segundo o senso comum, entendemos que P será primeiramente iluminado, pois está indo em direção ao raio de luz, enquanto Q está fugindo e a luz demorará mais para alcançá-lo. Entretanto, como a luz tem uma velocidade única e invariável para percorrer uma dada distância, ela irá atingir os dois corpos simultaneamente! Sim, porque se P estiver à velocidade de 100.000km/s, a luz o atingiria a 400.000km/s (100.000 de P + 300.000 da luz), o que é impossível na Relatividade.  Do  mesmo modo, se Q estiver à mesma velocidade de P, a luz o atingiria a 200.000km/s (300.000 da luz – 100.000 de Q), o que também não pode ocorrer. A luz sempre alcança qualquer corpo a 300.000km/s, em quaisquer condições. A diferença que ocorreria devido à direção oposta dos corpos é desfeita fazendo-se o tempo e o espaço se contraírem e se dilatarem de modo que a luz alcance no mesmo tempo os dois corpos. Se P e Q fossem relógios, e na lâmpada também houvesse um relógio, todos perfeitamente sincronizados, poderíamos verificar que haveria uma diferença nos ponteiros entre eles, o tempo realmente passa diferentemente para todos. Em P os ponteiros correriam mais depressa e em Q mais lentamente, enquanto que o relógio da lâmpada continuaria no mesmo ritmo. Se colocássemos réguas marcando a distância entre a lâmpada e os corpos, verificaríamos também que a régua entre P e a lâmpada seria dilatada, enquanto a régua entre a lâmpada e Q seria contraída. Isso para que a luz alcançasse os dois corpos a exatos 300.000km/s, anulando a diferença causada pelo movimento dos mesmos. A experiência comprova que realmente a taxa de progressão do tempo e as distâncias são variadas dependendo da velocidade dos corpos. De fora, nós veríamos P em “câmera rápida” e sendo “afastado” da lâmpada, e Q em “câmera lenta” sendo “puxado” para perto da lâmpada, até que a luz os atingisse simultaneamente.

            Entretanto, isso é relativo. Se de fora nós veríamos isso, de dentro dos corpos não veríamos assim. Considere agora P e Q, em vez de relógios, astronaves. De dentro de P não sentiríamos diferença nenhuma nem estaríamos em “câmera rápida”, mas veríamos tudo lá fora em “câmera lenta”. Em Q também não sentiríamos nada, mas veríamos tudo lá fora em “câmera rápida”. Não sentiríamos diferença porque, na verdade, até a velocidade do nosso pensamento e metabolismo acompanharia essas variações do tempo. Não é que o tempo corra mais em P e menos em Q, mas o que ocorre é que cada segundo demora mais ou menos para passar. Cada instante fica mais contraído em P e mais dilatado em Q. Tal como acontece com as réguas. Não é que elas ganhem mais centímetros ou menos centímetros, mas, sim, que cada centímetro se dilata (em Q) ou se contrai (em P). Ao dizermos que P e Q foram puxados ou afastados da lâmpada, nós os consideramos como pontos, ocorrendo o efeito da Relatividade no espaço entre eles e a lâmpada. Mas considerando-os como corpos extensos, diríamos mais corretamente que P seria “contraído” em seu tamanho, enquanto Q seria “esticado”. Tais são as ideias revolucionárias de Einstein ao propor a sua teoria. Ela é chamada de Relatividade justamente porque esses efeitos serão mais ou menos acentuados conforme a velocidade de cada corpo esteja relativamente à velocidade da luz no vácuo. Quanto mais próximo da velocidade da luz um corpo esteja, mais acentuadas serão as variações do espaço e do tempo nele. Mas, em nossa vida cotidiana, cujas velocidades não ultrapassam 0,001% da velocidade da luz, esses efeitos são imperceptíveis e desconsideráveis.

Nós usualmente falamos que o tempo passa "mais lentamente" ou "mais rapidamente" porque tomamos o referencial de fora dos corpos, onde, de fato, temos esta impressão; e continuaremos utilizando estas expressões para nos referir a esses efeitos no restante do texto.

            O que se tem na Teoria da Relatividade, dessa forma, é um tempo que não passa igualmente para todos. E a diferença da “velocidade” do fluxo do tempo se deve justamente à velocidade do corpo no espaço. Einstein postulou que, à medida em que nos aproximamos da velocidade da luz, mais lentamente o tempo passará para nós. De forma que podemos pensar se, estando à velocidade da luz (300.000 km/s), o tempo para!...

            Sua teoria contém um exemplo com base nas formulações matemáticas e físicas por ele elaboradas: o paradoxo dos gêmeos. Esse paradoxo consiste, primeiramente, em dois irmãos gêmeos hipotéticos. Ao nascerem, um dos irmãos é colocado em uma nave espacial para orbitar a Terra em alta velocidade, enquanto o outro permanece na terra. Após 60 anos decorridos, os dois irmãos são colocados juntos. O irmão que ficou na Terra tinha, claro, 60 anos de idade, mas o que ficou em alta velocidade tinha, espantosamente, somente 26 anos de idade. O tempo, para este último, passou mais devagar do que para os que ficaram na Terra. Todas essas teorias não são meras especulações. Atualmente, elas já são comprovadas pela ciência.

            Segundo sua fórmula, se um corpo estiver a 80% da velocidade da luz, o relógio, para ele, correrá 6 vezes mais devagar. Se o corpo estiver a 99,99% da velocidade da luz, o relógio, então, correrá 70 vezes mais devagar do que para nós. Para se ter noção do que isso representa, o tempo que levaremos para chegar aos limites da Via Láctea (aproximadamente 100 anos-luz de distância) nessa velocidade (de 99,99% da velocidade da luz) é de 1,5 anos.

Eis que surge uma estranheza. Se a luz, na sua velocidade, leva 100 anos para percorrer tal distância, como podemos, a 99,99% de sua velocidade, levar apenas 1,5 anos? Estaríamos, então, mais rápidos que a luz? Segundo a teoria, nenhum corpo dotado de matéria pode sequer alcançar tal velocidade (ocorreria desintegração ou desmaterialização). Essa propriedade é dada apenas aos corpos sutis, ondas eletromagnéticas. A explicação supõe a já mencionada relatividade do espaço. À velocidade citada no exemplo, o espaço sofreria uma contração, havendo uma redução nas distâncias.

Da mesma forma, se um corpo está em aceleração, é lógico concluir que o tempo, para ele, estará reduzindo sua marcha de progressão (ou seja, se dilatando). Ora, o comportamento de um corpo em movimento acelerado e o de um corpo que esteja sob a ação de um campo gravitacional é o mesmo (segundo Einstein, tomando-se duas caixas totalmente fechadas, cada uma com uma pessoa dentro, e submetendo uma caixa a uma aceleração uniforme e a outra a um campo gravitacional, ao perguntarmos o que estarão sentindo as pessoas nas caixas, elas descreverão a mesma sensação). Logo, sob a ação da gravidade (cujo fundamento se encontra na conhecida fórmula E = mc2, onde se demonstra que energia tem massa e que massa é energia condensada; nesse caso, E seria a energia potencial gravitacional), o tempo também se dilata; e esta é a base para explicação dos buracos-negros.

Estando, por fim, à velocidade da luz, nós nos encontraríamos no chamado “Absoluto” científico e filosófico. A essa velocidade, o tempo para e as distâncias deixam de existir. Não teria como irmos ao fim da Via Láctea, pois os seus limites se confundiriam com os limites da própria Terra. É como se todos os elementos do Universo estivessem localizados em um único ponto do espaço, permitindo estarmos em qualquer lugar instantaneamente. Tudo estaria reduzido a um inseparável Uno em um eterno presente.

 

Viabilidade da viagem no tempo 

Há muito tempo, o homem procura uma maneira de viajar no tempo. Geralmente, quando pratica um ato falho, o ser humano adquire a pretensão de voltar no tempo para evitar cometer aquele erro. Haveria possibilidade?

            O tempo poderia ser grosseiramente comparado com uma película, um filme sendo reproduzido. O fluxo do tempo seria, então, o filme sendo rodado em velocidade normal. Essa seria a “velocidade” que o presente caminha naturalmente em direção ao futuro e no qual o homem está inserido. Portanto, o presente pode ser representado como cada quadro que compõe o filme, que, ao ser rodado, proporciona o movimento (lembrando que cada quadro, então, teria duração de 10-43 segundo).

O que se pretende ao voltar no tempo é, de acordo com a comparação, voltar a fita para reviver o filme. Da mesma forma, ir para o futuro seria como acelerar rapidamente a fita para avançar o filme.

Uma possibilidade de realizar esse feito reside na Teoria da Relatividade de Einstein. Se, quanto maior a nossa velocidade, mais lento vai ficando o fluxo do tempo e, à velocidade da luz, o tempo para (fica igual a zero), podemos concluir que, se passarmos da velocidade da luz, o tempo se torna negativo (menor que zero), ou seja, seu fluxo inverte a direção, passando a ir do futuro para o passado (o tempo começa a voltar). Para tanto, teríamos que atingir um grau tal de tecnologia que permitisse a sutilização dos corpos grosseiros, materiais (pois estes não alcançam a velocidade da luz). Daí o porque disso ainda ser considerado ficção.

O que se deve atentar é que as leis da física permitem essa façanha. A única dificuldade é a compreensão de tal fato. Quem consegue imaginar as pessoas andando de trás para frente e se lembrando do futuro?

De qualquer forma, podemos avaliar os efeitos disso, o que isso representaria para a humanidade. Para tanto, devemos imaginar que estivéssemos numa época em que existisse uma máquina capaz de sutilizar, desmaterializar os corpos em energia (o que é previsto também pelas leis físicas), para que se pudesse alcançar  e ultrapassar a velocidade da luz. Esse contexto hipotético é importante para se perceber os efeitos desconcertantes de uma viagem no tempo.

Nessas condições, avaliemos agora o que ocorreria num exemplo de viagem ao passado. Voltando para o passado, até a Antiguidade, poderíamos presenciar grandes obras da humanidade, como a construção das Pirâmides do Egito. Mas de maneira nenhuma poderíamos interferir nesses eventos. Só o fato de um egípcio nos ver, se assustar e deixar a construção da Pirâmide poderia mudar todo o curso da História. Isso desencadearia uma sequência de fatos totalmente diferente do que teria sido sem nossa interferência. Uma mudança no passado poderia fazer com que nossos pais nunca tivessem se encontrado e nós simplesmente passaríamos a nunca ter existido!  Se houver a possibilidade de voltarmos ao passado, é necessário que nunca entremos em contato com nada que possa alterar o decurso dos eventos, senão poderemos nunca vir a existir, apesar de já existir e até ter voltado ao passado... (?!?!)

Uma viagem ao futuro não seria menos estranha. Por exemplo, poderíamos ir ao futuro para ver se um colega estará na faculdade amanhã. Depois de confirmar que não estava, retornamos ao hoje e avisamos a ele para que não falte. Quando chegar o amanhã efetivamente, lá estará o colega. De repente, nós aparecemos em sua frente e vemos que ele veio, o que faria com que, ao retornarmos ao passado, nunca avisássemos a ele para estar na faculdade. Mas aí ele poderia não ir, e como o teríamos visto no futuro?... Enfim, chega a ser perturbador.

            Afinal, uma certeza nós temos quanto a essa questão. Nunca se viu até hoje alguém surgindo de repente e dizendo que veio do futuro. O que permite duas conclusões: ou nunca chegaremos a inventar a máquina do tempo ou, se alguém já veio do futuro, não permitiu que fosse percebido – para não alterar o curso dos fatos.

 

O movimento 

Quando falamos em movimento, logo vem em mente um deslocamento. Porém, o deslocamento é apenas uma das formas de movimento. Na verdade, movimento é a passagem de potência (de uma qualidade ou perfeição x) para ato (da mesma qualidade ou perfeição x). 

M = Px → Ax

            Chama-se potência toda ou qualquer qualidade que o ser pode adquirir. Chama-se ato a qualidade que o ser já possui. Assim, uma chapa metálica cinza é azul em potência (pode ser azul, mas ainda não é). Quando a pintamos, ela se torna azul em ato (já é azul).

            O movimento, portanto, precisa de uma potência que anteceda um ato, e a passagem de um para o outro é que chamamos movimento. Logo, sem que ocorra nessa mesma ordem, não há que se falar em movimento.

            Mas um ser não adquire uma característica sozinho (a chapa não se torna azul por si só), mas precisa que um outro ser azul em ato – a tinta – lhe transfira essa qualidade.

            Ou um líquido que é quente em potência (i.e., que pode ser aquecido), só será quente em ato quando outro ser quente em ato – o fogo – lhe transferir essa característica.

            O mesmo acontece no deslocamento. Um corpo tem potência de estar em outro lugar; quando lá chegar, estará no lugar em ato. O movimento ocorre sempre justamente entre a potência e o ato, ou seja, durante a passagem. Enquanto o corpo vai de um lugar para outro, acontece o movimento. (Do mesmo jeito, enquanto a chapa era pintada é que havia movimento.) Ao adquirir o ato, o movimento cessa, ao menos na aquisição desta qualidade (pois prossegue incessantemente para adquirir outras). E também no deslocamento é necessária a atuação de um outro ser com movimento em ato para transferi-lo, já que um corpo não se move por si só senão por uma força externa (que pode ser qualquer uma, mesmo a gravidade).

            O que é essencial é que o movimento, qualquer que seja, exige tempo. Nada pode mudar sem que haja fluxo de tempo, se não, poder-se-ia estar em dois lugares ao mesmo tempo.

            Para se deslocar, é preciso que se parta de um lugar em certo momento e se chegue em outro lugar em outro momento.

 

O espaço-tempo ou contínuo quadridimensional 

            A matéria tem 3 dimensões: comprimento, largura e profundidade. O tempo, segundo Einstein e Minkowsky, é a quarta dimensão da matéria.

Sabemos que, para acrescentarmos uma dimensão espacial a um corpo, devemos projetar a(s) já existente(s) em outra direção. Para demonstrar, imaginemos um segmento de reta (uma linha), que é unidimensional (1D), na horizontal. Bastando que projetemos toda a sua extensão (todos os pontos componentes do segmento) para a vertical (seria o mesmo que “arrastar” o segmento pelo espaço, marcando toda a área por onde ele passou), e teremos um plano, que é bidimensional (2D). E projetando esse plano (2D), em toda a sua área, para frente ou para trás, teremos um sólido (como denominado pela geometria espacial), que é tridimensional (3D).

Assim, temos que a linha só possui comprimento, o plano tem comprimento e largura e o sólido tem comprimento, largura e profundidade.

Na figura, as setas mostram para onde foram projetadas as dimensões já existentes em cada caso para formar uma nova dimensão. Projetou-se a linha para cima, no qual os pontos que formam o “caminho” marcado da reta correspondem a um plano e, em seguida, projetou-se o plano (todas as duas dimensões), formando um sólido ou volume.

Podemos perceber que a linha, que é unidimensional, poderia ser uma projeção de um ponto, que é adimensional (0D).

Outra análise que podemos fazer é quanto à maneira de medir essas dimensões. Para medir uma linha (1D), usamos apenas a unidade de comprimento, que é o metro (m). Para medirmos uma área (2D), usamos o metro ao quadrado (m2) e para medirmos um volume (3D), usamos metro ao cubo, ou cúbico (m3). O que se nota é que, a cada dimensão que acrescentamos, aumentamos o expoente da unidade de medida. Da mesma forma, ao retirarmos dimensões, devemos diminuir o expoente. Donde se infere que o expoente da medida de um ponto (0D) será um a menos que o da linha (que é m ou m1), ou seja m0, o que é igual somente a 1, ou seja, é a unicidade, a unidade de existência. Incluindo o tempo, mediríamos em metro cúbico-segundo (m3.s), o que poderia equivaler a m4, por ser a quarta dimensão, apenas para efetivar um raciocínio lógico.

Sendo as dimensões como essas “projeções”, para onde projetaríamos um objeto tridimensional (3D) para acrescentar-lhe uma quarta dimensão? Naturalmente que essa quarta dimensão não poderia ser espacial, pois o espaço não permite mais do que 3 projeções... por isso, a quarta dimensão é temporal; a saber, o próprio tempo.

Para tentar ilustrar a situação, devemos observar o seguinte: se quisermos projetar um cubo (3D) para outra direção (ou seja, aplicar-lhe mais uma dimensão, a quarta), devemos fazê-lo como foi feito até agora, pois a natureza das dimensões é a mesma, ou seja, imaginando o corpo sendo “arrastado” pelo espaço (em todas as suas dimensões, para uma direção que não seja a(s) mesma(s) daquelas para o qual o corpo já se estende), deixando marcado o caminho percorrido por ele. Esse “caminho marcado” (todos os pontos percorridos) forma a nova dimensão (tal como foi feito com o plano e o sólido). Dessa maneira, para projetarmos um corpo com três dimensões para uma direção sem que o “estiquemos” (pois isso manteria o corpo com três dimensões, apenas aumentando seu volume), devemos supor todo o corpo sendo “arrastado” ou projetado. Isso significa deslocar ou movimentar o corpo.

Mas, para sabermos que o corpo foi projetado por inteiro (ou seja, movimentado) é necessário se ter conhecimento do local inicial, de onde o corpo partiu. Como a nova dimensão em um corpo projetado é o conjunto de pontos que une a posição inicial do corpo com a final, e por já estarem presentes as 3 dimensões espaciais, o único elo restante e única forma de se demonstrar que houve movimento é o tempo decorrido entre as duas posições.

Assim, o unidimensional é dotado de comprimento, o bidimensional é dotado de área, o tridimensional é dotado de volume e o quadridimensional é dotado de movimento. O tempo é a dimensão do movimento.

A denominação de “contínuo” quadridimensional decorre do fato de que o tempo é inseparável do espaço. Não se pode conceber mais, sob o novo aspecto adotado pela ciência, um espaço independente ou um tempo independente, mas ambos são interdependentes, porquanto exista o movimento (que supõe tempo) de matéria (que supõe espaço).

Diferentemente do que postula a Teoria Quântica (que admite o "Tempo Planck" de 10-43 segundo como a menor fração de tempo possível), a Teoria da Relatividade aceita que o tempo seja contínuo, assim como o espaço. Isto é, não há uma limitação para dividi-los (o espaço-tempo é infinitamente divisível).

 

Representação do tempo 

Para representarmos no papel a quarta dimensão é necessário reduzirmos o espaço a duas dimensões. As duas dimensões espaciais caminham sobre o tempo. Cada plano representa o Universo em um instante. É como um desenho animado em que cada quadro comporta todo o Universo, como mostrado ao lado. Para explicar como ocorre o movimento nesse esquema, vamos observar a figura abaixo, onde foram estabelecidos dois instantes. O instante t2 é posterior ao instante t1. Um corpo que se movimente partindo do instante t1, não poderá seguir a trajetória A, pois estaria se deslocando instantaneamente (estaria em dois lugares no mesmo instante, ou seja, se moveria sem o tempo passar). É sabido que, para se deslocar, é necessário que se passe de um instante a outro.  Por isso, ele seguirá, sem dúvida, uma trajetória como a B, na qual ele parte de um lugar em um instante, chegando a outro lugar em outro instante.

              Esse esquema, porém, seria válido para um observador em repouso em relação a esse corpo. Contudo, para um observador que estivesse em alta velocidade em relação ao corpo, o esquema, segundo a complexa geometria espaço-temporal de Minkowski, seria representado como na figura abaixo, pois seriam levados em consideração todos os fatores de deformação do tempo.  

       Para este caso, está representado também um corpo em movimento (4D). Como já visto, a trajetória A não pode ser a correta, sendo adequada, portanto, a trajetória B. Mas, é notável que há uma variação no tempo entre uma trajetória de um referencial em repouso (como acima) e de um em movimento (como ao lado). Isso significa que o presente no ponto t1 do sistema em repouso, para nós, é diferente do presente no mesmo instante do sistema em movimento. Mas, deve-se ter em mente que, para o corpo, nós é que estamos em movimento. Logo, ele adota em seu referencial o sistema acima e nós estaríamos, para ele, no sistema ao lado, em movimento.

          Com isso, temos uma quantidade de “presentes” tão numerosa quantos forem os corpos em movimento. O que se tem, portanto, é um tempo no qual não existe um presente universal, mas cada corpo tem um “agora” próprio. Para o nosso sistema de referência (a Terra), que conjuga quase o mesmo presente para todos os seres nele inseridos, estamos no ano 2000 d.C., mas, para uma partícula que viaja próxima à velocidade da luz desde a explosão do Big Bang, o tempo passou muito lentamente, podendo elas estarem ainda em 500 milhões a.C. ou antes.

            Como consequência disso, o passado, presente e futuro só se distinguem dentro de um sistema de referência. Tomando-se todo o Universo de uma vez, não há que se falar em um passado, um presente e um futuro únicos. O espaço, em si e nos elementos que o compõem, possui todas essas divisões temporais “ao mesmo tempo”, que se traduzem numa infinidade de presentes distintos, porém, coexistentes (contemporâneos).    

Espaço e matéria, tempo e energia 

O espaço, como percebido pelo senso comum, é um receptáculo ilimitado, estático e tridimensional onde se encontra toda a matéria do Universo. Como nos diz Régis Jolivet, em seu livro Curso de Filosofia, o espaço é o lugar universal dos corpos, a relação das dimensões do conteúdo com as do continente. Isso implica que não existe espaço se não existirem corpos: o espaço é, pois, inseparável dos corpos, mas não se confunde com eles. A questão é que o espaço, embora seja aparentemente estático, apresenta deformações (contrações) da mesma maneira que o tempo apresenta dilatações, provocadas pelas massas dos corpos. Todo corpo tem campo gravitacional, e este é uma deformação no espaço (e no tempo). Se o espaço tem corpos, e estes têm gravidade, o movimento será consequente (pois a gravidade move os corpos). Logo, não é estático por natureza. E, possuindo movimento, possui tempo, que é sua dimensão intrínseca. Então, é mais pertinente a denominação de “espaço-tempo”.

            O espaço-tempo é uma relação das dimensões (que são quatro) do conteúdo com as do continente. Relaciona-se, portanto, as dimensões espaciais (tamanho) e a dimensão temporal (estado de movimento) do corpo com as do espaço não ocupado em sua volta,  possibilitando à matéria as propriedades da extensão e do movimento.

Espaço-tempo não é apenas um espaço físico, inerte, mas um espaço de eventos. Um ponto no espaço-tempo deve ter um mínimo de quatro números (“coordenadas”) para ser localizado: três espaciais e um temporal (deve-se localizar um evento tanto no espaço como no tempo). Daí porque geralmente relacionamos que, quando o tempo para, a matéria também para. Isso ocorre porque, eliminando-se o tempo, cessa o movimento (e vice-versa).

O contínuo do espaço-tempo reside principalmente na existência de movimento (que supõe tempo) de matéria (que supõe espaço), não podendo haver limites nisso, sendo essa relação ou ligação necessária e ilimitada, ou seja, contínua.

A famosa fórmula de A. Einstein, E = mc2, nos diz que, além da energia ter massa, a energia e a matéria são a mesma coisa! Como Pietro Ubaldi coloca: “Matéria é energia condensada”. Com a fórmula, podemos saber quanta energia é necessário condensar para se obter certa massa de matéria, ou, quanta energia está condensada numa massa em forma de matéria. Os valores de energia são sempre altíssimos perto dos de massa (visto que, para determiná-los, deve-se tomar a massa e multiplicar pelo quadrado da velocidade da luz, o “c” da fórmula). Isso se demonstra na bomba atômica, na qual uma pequena quantidade de material radioativo se converte ou desintegra em exorbitantes níveis de energia. Portanto, matéria pode se converter em energia e vice-versa. Mesmo as novas concepções do átomo consideram os elétrons não como partículas, mas como ondas de frequências distintas, cuja perda ou acréscimo significa alteração na energia da estrutura.

Temos, então, a matéria como sendo ondas aprisionadas, estáticas, “congeladas”, e a energia como ondas livres, assim colocado por James Jean e Pietro Ubaldi, a cujas obras se remetem as reflexões seguintes. Essas considerações acima expostas são de grande importância para compreensão dos raciocínios que seguem.

O sentido evolutivo na aquisição de novas dimensões parte do ponto, passando à linha, superfície (ou plano) e volume. Assim, se esgota um primeiro sistema composto de três dimensões (o espaço). A partir daí, devemos iniciar um novo sistema de três dimensões. Dimensões estas que já não são mais espaciais (pois estas se esgotaram), sendo, portanto, as seguintes, temporais.

Pietro Ubaldi esclarece: “Em nosso universo, a matéria se nos apresenta como volume, ou seja, na sua terceira dimensão de espaço (linha, plano, volume) completa. A matéria representa a evolução do ponto à linha, à superfície, ao volume. Mas, se nela o desenvolvimento da dimensão espacial é completo, o da sucessiva e evolutivamente contígua dimensão é nulo, isto é, equivale àquilo que no espaço é o ponto. Aqui nasce a quarta dimensão einsteniana, o tempo, concebido porém como o primeiro termo de um novo sistema tridimensional, porque este é o esquema do Universo”. E complementa: “Se o tempo é antes dimensão linear deste segundo sistema tridimensional que evolutivamente sucede ao sistema tridimensional espacial, a matéria com o seu espaço a três dimensões representa, diante desse novo sistema (...), o ponto, um puro germe”.

Mais adiante, essas análises dimensionais serão explicadas detalhadamente. O objetivo agora é demonstrar que as dimensões espaciais (comprimento, largura e profundidade) são específicas da matéria. Só matéria apresenta essas dimensões, quer dizer, a dimensão espacial é limitada à matéria, que é (juntamente com o campo) elemento irredutível do Universo. O espaço existe enquanto há matéria, que estabelece os pontos de referência. P. Ubaldi continua: “Sem matéria e, portanto, sem esses pontos [de referência], um espaço vazio e infinito se confunde com o nada; é, como realidade objetiva, um não-existir.”

O sentido evolutivo é da matéria para a energia. Logo, o involutivo é da energia para a matéria, e isto significa justamente o “congelamento”, o aprisionamento da energia em forma de matéria. O tempo, como visto, é dimensão intrínseca do movimento, e só existe com ele. Ora, se movimento é energia (cinética ou qualquer outra), pode-se concluir que o tempo precisa necessariamente de energia para existir. Vale dizer, por conseguinte, que o espaço é dimensão própria da matéria e tempo é dimensão própria da energia.

O que forma o espaço é a involução do tempo em sua dimensão inferior por aprisionamento ou congelamento de energia; ao contrário, o que forma o tempo é a evolução do espaço na sua dimensão superior pelo livramento cinético (movimento) da forma matéria. Pelo que, superada a fase-matéria na de energia, o espaço como espaço não existe mais. Visto que ondas viajando num espaço sem matéria não nos fornece pontos de referência, e, sem eles, “o espaço nos escapa no indeterminável e se anula”, como diz P. Ubaldi, que completa: “Não haveria mais ponto de partida e de chegada. É o espaço que funciona como ponto ao longo da linha do tempo, que o torna mensurável, onde a simples radiação não daria senão um indeterminável tempo sem medida, eternamente fluente”.

Todas as colocações acima implicam em inúmeras conclusões que estão de pleno acordo com as teorias científicas. As principais implicações residem no fato de isso corroborar as reflexões einstenianas, dando-lhes sustentação filosófica e buscando a base do ser nas teorias da relatividade. Encontra-se concordância plena entre as vertentes científica e filosófica dos postulados acima, entre outros casos, no Big Bang. Diz a teoria científica que toda a matéria estava concentrada num miolo infinitamente denso, e que não existiam espaço nem tempo.  Na verdade, havia o espaço (pois havia matéria), mas ele não estava expandido, já que não existiam distâncias, curvando-se, dessa forma, absolutamente sobre si mesmo. Além disso, estando toda a matéria num ponto, a gravidade lá deveria ser infinita. Como vimos, o tempo passa mais lentamente quão maior for a gravidade, do que se deduz: gravidade infinita, tempo nulo. E, se até a explosão não há tempo, não há que se falar em um “antes” do Big Bang. O espaço estava reduzido ao bloco absoluto de matéria, não existindo, assim, ao redor dele (o espaço contornava precisamente o bloco de matéria). Como, para haver tempo, é necessário antes haver espaço, ou, em outras palavras, para haver energia é necessário antes haver matéria, toda a energia se concentrava também em meio à matéria, ou o tempo só passava dentro dessa massa material. Apenas após a explosão passaram a existir distâncias e, consequentemente, fluxo de tempo.

Essa situação seria comparável à singularidade dos buracos-negros. Mas, se assim fosse, ao invés de explodir e gerar expansão do Universo, teria se contraído indefinidamente sob a própria gravidade e nada existiria. Mesmo quando afirmamos ser o tempo e o espaço existentes apenas dentro do bloco de matéria, gera-se uma contradição, pois a gravidade infinita teria implodido o espaço e anulado o tempo. São essas manifestações estranhas e diferentes das leis naturais no princípio de tudo que nos levam a supor um transcendente, mesmo que atuante apenas no momento do impulso inicial. A questão do transcendente (Deus) será abordada mais à frente.

Outra implicação diz respeito ao conceito de Absoluto científico e filosófico. Esse conceito já foi explanado sinteticamente no tópico sobre a relatividade do tempo. Como vimos, estando à velocidade limite que o Universo permite (a velocidade da luz), nós nos encontraríamos no chamado Absoluto científico e filosófico em virtude da anulação do tempo (que para nessa velocidade extrema) e contração espacial total (todo o Universo num único ponto... que não possui dimensões), mas somente relativamente a outro referencial. Utilizando os gráficos de representação do tempo já mostrados, nós observaríamos que não mais haveria sucessão de um instante a outro fora do seu referencial, o que significaria que qualquer movimento feito aconteceria sempre no mesmo instante e, nesse caso, possibilitaria o movimento instantâneo (estar ao mesmo tempo em todos os lugares, ou seja, aceitar a trajetória A nos esquemas de representação). E só se pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo se o espaço não possuir dimensões a percorrer, ou seja, for um ponto. E é essa propriedade que se expôs acima: sendo total e inteiramente energia, não mais existirá o espaço, que se torna indeterminável, logo, nulo. E, não havendo mais espaço, a linha do tempo perde o ponto “presente” que caminha sobre ela, já que esse ponto é justamente o espaço (observando o esquema de representação, fica claro que é o espaço, apresentado ali como bidimensional apenas para visualização, que está caminhando para cima na reta do tempo). Por fim, vemos que o espaço se esvai junto com suas dimensões e o tempo se torna eternidade (ou seja, deixa de existir, pois tempo é vir-a-ser, eternidade é não vir-a-ser).

 

Análise dimensional do tempo 

Nesse momento, podemos fazer um paralelo entre as dimensões espaciais e as temporais.

Observe que o ponto é adimensional (0D, sem dimensão). A partir dele, projetando-se qualquer direção, teremos a linha (1D), prosseguindo no mesmo processo acharemos a superfície (2D) e, em seguida, o volume (3D). Após esse processo, findamos a busca pelas dimensões espaciais. Não é possível encontrarmos outra direção perpendicular às demais para inserirmos nova dimensão. Esgota-se, portanto, o espaço... ele se limita a 3 dimensões, formando um sistema tridimensional. Continuando a busca por novas dimensões, iniciamos um novo sistema (pois o espacial se completou), agora temporal.

Todos os sistemas tridimensionais apresentam-se na mesma cadeia evolutiva que a observada no sistema espacial, ou seja, partem de um ponto a uma linha, uma superfície e um volume, aí se completando.

Ora, o tempo é linear, comporta-se perfeitamente como uma reta sobre a qual caminha um ponto. Sendo, portanto, uma linha (1D), então ele corresponde à primeira dimensão desse novo sistema.

Como toda linha (1D), ele precisa de pontos (0D) anteriores que o formem. O ponto é precisamente o que caminha sobre ele, ou seja, o presente. Entretanto, nos esquemas de representação do tempo, observamos que aquele ponto (0D) que caminha sobre a linha do tempo é, na verdade, o espaço (ou melhor, o sistema espacial, com as 3 dimensões completas). Como já foi dito, devemos projetar todas as três dimensões para encontrarmos o tempo. Mas essas três dimensões são exatamente o sistema espacial, então, vemos que o ponto (0D) que se move na linha (1D) do tempo é o espaço inteiro (o presente “carrega” todo o espaço).

 Vamos supor o seguinte: seguimos evolutivamente um sistema tridimensional, do ponto (0D) até chegarmos ao volume (3D). Então, por ter se completado esse sistema tridimensional, partiremos para o próximo, no qual o sistema anterior completo corresponde ao ponto (0D) no novo sistema! É justamente o que se viu no tempo: o sistema espacial completo (3D espacial) corresponde ao ponto no novo sistema temporal (0D temporal).

O tempo, sendo uma linha (1D temporal), corresponde à primeira dimensão do sistema temporal.

O objeto central desse trabalho é o tempo. E este corresponde à primeira dimensão do sistema temporal. Porém, seria interessante imaginar como poderia ser a segunda dimensão desse sistema temporal (tenhamos em mente que o tempo é a 1ª dimensão de um sistema, mas é a 4ª do Universo, pois vem depois da profundidade, que é a 3ª. Da mesma forma, a 2ª dimensão do sistema temporal é a 5ª do Universo, a 3ª do sistema temporal é a 6ª do Universo e assim por diante).

O espaço tridimensional corresponde ao ponto do sistema temporal. O tempo corresponde à linha. E o que seria uma “superfície (2D) temporal”?

Como já observamos, o tempo não apresenta um presente único, mas infinitos, que estão inseridos nas mais diversas épocas e coexistem entre si (como demonstrado, existem partículas com alta velocidade que, se medido seu tempo, marcaria hoje a data de 500000000 a.C. e, ao mesmo tempo, existimos nós, que nos movemos em baixa velocidade e cuja medição do tempo marca 2000 d.C. Somos, apesar da diferença entre os “agoras” de cada um, contemporâneos, pois estamos existindo nesse exato momento juntamente com as partículas velozes.

         Para se adicionar uma nova dimensão ao tempo, devemos lembrar que uma nova dimensão adicionada deve abarcar, conter as dimensões anteriores quando projetada. Assim, podemos "projetar" o tempo, "movimentá-lo", o que significa alterar a taxa de seu fluxo (dilatação/contração do tempo). E isso nada mais é do que o que se tem estudado na Relatividade: a mudança do fluxo do tempo de acordo com a velocidade do corpo. Uma dimensão além do tempo (a quinta) é justamente a aceleração/desaceleração (contração/dilatação) do fluxo do tempo. Tudo consequências lógicas e palpáveis dos eventos naturais.

A verificação desses efeitos é prevista não somente pela fórmula de Einstein E = m.c2, como também pela fórmula clássica da aceleração que estabelece ser a = vt, ou, substituindo v por ΔSt, temos a = ΔSt2, em que aparece o tempo elevado ao quadrado, ou a 2ª dimensão do tempo. Para se ter uma noção de como se comporta essa 5ª dimensão (ou 2ª temporal), basta buscarmos o significado de t2 (2ª dimensão temporal). Arrumando a equação, encontraremos que Δt2 = ΔS/a. Assim, percebemos que, para obtermos o efeito de a variação da distância (ΔS) ser a mesma em cada período de tempo numa aceleração (a), a variação do tempo (Δt2) deve se dilatar. Essa dilatação/contração do tempo é uma concepção do que seria a 2ª dimensão do sistema temporal (ou a 5ª do Universo). Fica a questão de como seria o “volume temporal” (3ª do sistema temporal ou 6ª do Universo).  

Em seguida, podemos avançar nisso indefinidamente em busca de novos sistemas tridimensionais posteriores ao do espaço e do tempo. O método para busca de dimensões é o mesmo.

 

O tempo e o transcendente (Deus) 

Podemos retirar dessa questão (tempo) a Divindade, pois esta se traduz num transcendente ilimitado e eterno, cujas provas de existência foram colocadas por Tomás de Aquino em sua Suma Teológica e que implica a maior parte dos ramos da filosofia chamados Teodiceia e Metafísica. O tempo supõe movimento, e movimento, mais do que um simples deslocamento, abrange todo processo de passagem de potência (de uma qualidade ou perfeição) para ato (da mesma qualidade ou perfeição), como já visto.

Podemos voltar toda a sequência de ato-potência para trás para procurarmos uma primeira causa de tudo. A duas conclusões chegaríamos: ou a sequência se prolonga infinitamente para o passado (o que faria inexistir uma causa primeira) ou chegaríamos, sim, a esse ser primeiro. Porém, na primeira conclusão, um ato nunca precederia as potências, porquanto elas seriam infinitas, o que faria o movimento não existir. Ora, mas o movimento existe, logo, temos como mais certa a segunda conclusão. A esse ser primeiro (transcendental) chamamos Deus, que não pode ter sido criado (pois isso estenderia infinitamente a sequência).

Se é responsável pela existência do Cosmo, Deus é onipotente. Sendo todos os seres passíveis de não mais existir, então são todos contingentes. E, assim sendo, houve tempo em que não existiam. Pode-se tomar, então, um momento em que ainda nada existia. Ora, olhando em volta, vemos que tudo existe. Logo, houve necessidade de algo que pudesse “mover” o Universo, no sentido de poder passar do nada (que é a potência do ser) para tudo o que se vê (em ato). O único ser que poderia transferir ao nada, ato suficiente para que tudo exista, é um ser que tenha tudo em ato, ou seja, um ser que seja puro ato. Tal Ser (em maiúsculo por se tratar da pura entidade) só pode possuir a totalidade das qualidades ou perfeições. Assim sendo, é perfeito (e único, pois, sendo perfeito, é ilimitado, e não podem haver dois ilimitados, já que um limitaria o outro).

            Um ser perfeito (por conceito, Deus) não pode se mover ou mudar, pois isso significaria adquirir um ato que não possui. Como Deus possui tudo em ato, ele não tem movimento. O movimento é só para os seres imperfeitos. Logo, Deus, não tendo movimento, não se apresenta no tempo. Ele está fora do tempo. Quando se refere a Deus, não se pode usar o verbo “ser” no passado (“Deus foi...”), pois Ele teria se movido em algum momento; nem no futuro (“Deus será...”), porque significaria adquirir um ato que não tivesse. Só se pode usar o verbo no presente: Deus é. Se, em qualquer tempo, Deus é, deduzir-se-ia que Ele sempre é. Se não há um movimento e Ele se situa fora do tempo, então cabe a Ele a eternidade. Deus, portanto, é atemporal, ou eterno, existindo de agora para sempre e preenchendo todo o passado mesmo anterior ao Universo. O tempo relaciona-se com uma sucessão, um vir-a-ser (o que vai a favor da corrente de Heráclito), enquanto na eternidade, sendo uma posse total do Ser, não existe sucessão nem vir-a-ser (o que é defendido pela ideia do ser imóvel/imutável de Parmênides de Eleia). 

 

Imagens do passado X viagem ao passado 

Existe uma possibilidade de termos acesso a imagens reais e originais de qualquer instante do passado. Sabe-se que a luz, após encontrar qualquer corpo, se reflete em todas as direções, indo grande parte para o Cosmo.

            A luz emitida pelo Sol leva 8 minutos para chegar na Terra. Da mesma forma, a luz emitida por uma estrela a 40.000 anos-luz de distância só chegará a nós daqui a 40.000 anos (se essa estrela explodir agora, só veremos a explosão após todo esse tempo).

Assim, a imagem de Cristo, por exemplo, está vagando pelo espaço até hoje. A luz refletida por ele estaria, hoje, a uma distância de 2.000 anos-luz daqui. Com uma tecnologia adequada, bastaria captar essas imagens e teríamos um registro visual de nossa História.

            Isso não quer dizer que possamos afetar o que foi feito. Não se pode dizer, portanto, que se trate de uma viagem ao passado, pois não poderemos vivenciar aqueles momentos. Apenas teremos a oportunidade de apreciar como realmente foram.

 

Simultaneidade 

Com a relatividade, a classificação de dois eventos como sendo simultâneos (ocorrendo ao mesmo tempo) fica bem mais delicada. Usualmente, durante uma chuva por exemplo, dois raios que caiam ao mesmo tempo são considerados eventos simultâneos. O local onde nós estamos enquanto os raios caem não afeta a sua simultaneidade.

Entretanto, a relatividade considera a velocidade da luz. E como só podemos considerar os raios como simultâneos se pudermos vê-los (o que exige a luz), então estaremos sujeitos aos efeitos relativísticos para afirmarmos a simultaneidade. Bem, se estivermos num local à mesma distância dos dois raios, a luz de ambos nos alcançará no mesmo instante e poderemos dizer que foram simultâneos. Mas se estivermos mais perto de um do que do outro, a luz deles não nos alcançará ao mesmo tempo e não os veremos cair simultaneamente. Além do mais, se estivermos em movimento, os efeitos de dilatação temporal poderão afetar a medição do instante em que caírem. Se, em meu referencial móvel, eu tiver um relógio, e também puser relógios no lugar em que os raios vão cair, dependendo das minhas condições de movimento os relógios irão marcar instantes diferentes, o que me fará perder o controle da medição dos eventos simultâneos. A simultaneidade, portanto, passa a ser ainda menos detectável por exigir condições específicas e pouco previsíveis nos eventos do dia-a-dia. Esse aspecto da simultaneidade é um tanto rigoroso quando tratado sob a ótica científica. No cotidiano, porém, essas mínimas dessincronias passas despercebidas e aceitamos a simultaneidade até onde os nossos sentidos permitirem.

           

Acesso ao futuro 

O acesso ao futuro estaria ligado às teorizações de Sir Isaac Newton. Segundo seu pensamento, todos os eventos futuros dependem exclusivamente do que está acontecendo agora. Ou seja, se levarmos em consideração todas as forças que agem em determinado sistema, poderemos dizer com precisão tudo o que acontecerá em qualquer momento do futuro. Ele diz que, calculando todos os agentes de um meio, chegaremos à conseqüência de suas ações por meio de cálculos puramente matemáticos. Por exemplo, para saber onde uma determinada pedra vai estar daqui a 1 milhão de anos, basta calcular todas as forças que estão agindo agora, em todo ou qualquer lugar, e que terão influência sobre essa pedra. Assim, chega-se à resposta.

O que derrubaria essa teoria é o aspecto subjetivo do homem. Independente das forças que atuam sobre ele, basta a presença da vontade para que tudo se modifique. O homem não é um ser exato, calculável. Sua vontade foge ao campo da razão e pode trazer imprevistos que uma equação sequer se aproximaria.

Dessa forma, a teoria de Newton não serve para prever o comportamento dos seres vivos, pois estes são movidos por forças irracionais, não matematizáveis.

Já utilizando as formulações da Relatividade, as fronteiras são muito mais amplas, se bem que ainda um tanto distantes da nossa realidade para serem discutidas agora.

 

Mensuração do tempo 

As medições do tempo são, como explicado no subjetivismo, convenções humanas. Meros referenciais de que o homem se utiliza para organizar sua vida. Mas elas fornecem uma base importante na aferição do tempo. O movimento de um relógio demonstra que há um fluxo de tempo, visto que, se não houvesse, nada se moveria.

Todas as medições estão apoiadas na teoria de eventos simultâneos elaborada por Einstein. Isto é, tudo está ligado a uma coincidência de eventos.

Quando dizemos que o trem vai chegar às 7 horas, estamos dizendo nada mais do que o fato do trem chegar coincide com o ponteiro do relógio apontar para o 7. São eventos coincidentes e, portanto, simultâneos que permitem ao ser humano adotar um sistema numérico de medida do tempo. 

 

CONCLUSÃO

            O tempo, portanto, assume em nosso cotidiano diversas formas de interpretação. Em nossas frases pronunciadas diariamente, colocamos o tempo com inúmeras acepções. O tempo é usado frequentemente sob o aspecto subjetivo, objetivo, absoluto ou relativo. Apesar das colocações de vários filósofos e cientistas, mesmo com suas formulações físicas precisas, não temos como dizer definitivamente, apesar da aproximação incrível a que hoje se chega, o que venha a ser o tempo.

            O que podemos é perceber sua ação na natureza. Além do mais, as noções são diferenciadas para cada ponto de vista abordado.

Talvez o mais adequado seja dizer que o tempo é efêmero, pois, quanto a isso, ninguém discorda. O tempo é a própria efemeridade, a própria passagem. Nosso cérebro é uma caverna que não permite acesso à verdade plena. Por isso, haverá sempre a busca pela explicação mais satisfatória, sem, porém, a pretensão de alcançar algo tão sublime como a verdade absoluta sobre a natureza das coisas, inclusive do tempo. E esse é o papel da filosofia e da ciência, evoluindo o pensamento e a razão humana através dos tempos para buscar a explicação mais aproximada da realidade que cerca o Universo em que vivemos.

Luiz Gustavo Oliveira dos Santos

Professor de Filosofia

Pós-Graduado em Filosofia Política (IESCO)

Formado em Filosofia (IESCO)

Brasília, 1999.

Referências bibliográficas

DAVIES, Paul. O enigma do tempo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000.

EINSTEIN, Albert. A teoria da relatividade especial e geral. Rio de Janeiro: Contraponto, 1999.

HAWKING, Stephen. Uma breve história do tempo. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

JOLIVET, Régis. Curso de filosofia. Rio de Janeiro: Agir, 1986.

UBALDI, Pietro. A grande síntese. 16 ed. Campos-RJ: Fundápu, 1988.