OT2 - Ferramentas de cuidado em saúde mental
1.No que consiste a reinserção psicossocial e quais seus principais objetivos?
OT2 - Ferramentas de cuidado em saúde mental
1.No que consiste a reinserção psicossocial e quais seus principais objetivos?
2. Quais são as principais ferramentas de cuidado em saúde mental?
3. O que é um PTS? Quando ele é elaborado? Quais as etapas para o desenvolvimento do PTS?
A estratégia do PTS é inovadora na medida em que busca ampliar o trabalho já existente, aprimorando estratégias para produzir saúde, gerando melhora na relação entre a tríade: trabalhadores, usuários e gestão. Desta maneira, consegue-se potencializar a intervenção dos trabalhadores de saúde, pois para a construção do PTS
(...) todas as opiniões são importantes para ajudar a entender o sujeito doente e sua relação com a doença, para definição de propostas de ações.
O Projeto Terapêutico Singular possibilita refletir sobre cada caso, um a um. Permite pensar que não há algo que pode ser usado por todos, no mesmo momento, da mesma forma e que terá o mesmo resultado. É a busca pela criação de um espaço comum, de proximidade, de troca entre os diferentes saberes envolvidos no processo, buscando resoluções com e não para o outro.
Existem cinco momentos importantes que determinam o PTS.
O primeiro momento é diagnosticar, ou seja, realizar uma avaliação biopsicossocial, com o intuito de definir o momento e a situação vivenciada pelo sujeito.
Logo após é preciso traçar metas, definindo juntamente com o usuário o tempo necessário para que essas sejam cumpridas.
O terceiro momento corresponde à divisão de responsabilidades entre os profissionais, onde o coordenador será aquele que tiver melhor vínculo com o usuário.
Posteriormente é necessário negociar propostas, considerando as diferenças e peculiaridades do sujeito.
Num último momento, deve-se fazer uma reavaliação refletindo sobre o andamento do trabalho, evoluções e novas propostas.
Para a elaboração do PTS deve-se inicialmente, segundo Carvalho e Cunha (2006), escolher os casos de maior dificuldade e gravidade, aqueles que já foram submetidos a várias abordagens e não tiveram o prognóstico esperado.
Seguindo esta orientação, os critérios para a escolha do caso foram a situação de vulnerabilidade e a apresentação de sintomas referentes a um sofrimento psíquico, sendo esse o elo entre o trabalho das duas equipes.
Tal proposta parecia ser desafiante e era uma situação nova e desconhecida tanto para a equipe de referência (ESF – Estratégia de Saúde da Família) quanto para a equipe de apoio (CAPS – Centro de Atenção Psicossocial). A situação foi averiguada inicialmente pela ACS (Agente Comunitária de Saúde), através de uma visita domiciliar, momento em que se realizou o primeiro contato com a usuária. A ACS, percorrendo a sua nova micro-área (após um recente remapeamento territorial), sentiu-se instigada a averiguar o que se passava naquela casa que permanecia sempre fechada (portas e janelas cerradas), embora, segundo informações dos vizinhos, tivesse alguém em casa. Diante daquela realidade a ACS logo constatou que precisava buscar alternativas, pois a usuária vivia em condições de vulnerabilidade e requeria ajuda imediata.
A ACS trouxe até a equipe de referência sua preocupação com a usuária que se mantinha reclusa em casa há anos, tendo apenas saído para o velório de seu filho que havia sido assassinado há aproximadamente seis meses. Constatou-se que essa permanecia parada no tempo, sem ação, reação, isolada de tudo e de todos, apenas conectada ao mundo através da televisão, a qual parecia ser sua companheira inseparável, um refúgio para o seu sofrimento. Possuía um comportamento estranho, desconfiado, isolada do contato social, com aparência envelhecida, demonstrando idade superior a seus 44 anos. Relatava acontecimentos que ocorreram há muito tempo, como se fossem recentes. Mantinhase em casa desde seu casamento há 25 anos. Quanto a sua família, essa parecia omissa e a usuária matinha-se distante dela. Seu sofrimento havia se naturalizado no ambiente em que se encontrava.
Frente a este caso percebeu-se a pertinência de trabalhar com a estratégia do PTS. Tendo em vista o vínculo já construído entre a ACS e a usuária, definiu-se em reunião entre trabalhadores das duas equipes, que essa profissional seria a coordenadora do projeto. Esta decisão baseou-se na discussão do conceito de vínculo presente na obra de Gastão Campos.
https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/contextoesaude/article/view/1561
4. O que é matriciamento e como ele funciona no contexto da UBS? Quais profissionais estão envolvidos? Qual a metodologia utilizada nele?
O Ministério da Saúde propôs para a resolutividade do tema em questão o apoio matricial, que é um processo de integração e suporte de profissionais especialistas em saúde mental na Atenção Primária em Saúde (APS). O matriciamento, a partir disso surge como um novo modelo de produzir saúde, fazendo com que duas ou mais equipes desenvolvam uma proposta de intervenção pedagógico-terapêutica, num método de construção compartilhada. Ele pode ser realizado por profissionais de diversas áreas especializadas.
Benefícios e resultados do modelo matricial em saúde mental:
O matriciamento ou apoio matricial é uma construção de uma proposta de intervenção terapêutico-pedagógica, realizada de forma compartilhada, que envolve duas ou mais equipes. Visa realizar assistência especializada, promovendo vínculos profissionais e instituindo projetos coletivos terapêuticos, junto aos usuários e à comunidade (Vasconcelos &Barbosa, 2019).
A proposta de apoio matricial brasileira possui o compromisso com uma construção de relacionamentos democráticos a partir da cogestão e construção do cuidado de forma compartilhada. Prevê-se que haja comunicação e diálogo entre os profissionais de saúde e os usuários, para que estes sejam protagonistas na elaboração de seu plano de cuidados (Treichel et al, 2019).
Campos, Bezerra e Jorge (2018), verificaram em seu estudo, realizado em Fortaleza -CE, que enfermeiros citam o matriciamento em saúde como uma tecnologia de cuidado, e que por meio desta, ações da atenção primária à saúde passam a ser reflexivas, inventivas e embasadas nas necessidades do usuário.
A dinâmica e interação nos encontros propicia a troca de experiências entre profissionais, e favorece, através dos espaços de educação permanente a exposição de dificuldades à aproximação com pacientes de transtornos psíquicos em seu território (Silva et al, 2019).
Belotti e Lavrador (2016), constataram em seus estudos que as ações de saúde mental, realizadas pelas equipes de uma Estratégia de Saúde da Família, antes da implantação do matriciamento, eram restritas a encaminhamentos a serviços de saúde mental, sem acolhimento dos pacientes com transtornos mentais.
Silva et al, (2019), relatam que a inserção apoio matricial na organização do município de João Pessoa-PB no suporte às equipes das ESF, aperfeiçoou a comunicação entre os serviços especializados e a atenção básica, promovendo encontros de experiências, proporcionando, por sua vez, uma atenção mais integral, de forma menos fragmentada.
Gonçalves e Peres (2018) mencionam como os principais fatores que favorecem o matriciamento: a visão ampliada do processo saúde-doença, equipamentos intersetoriais no território, a realização de intervenções coletivas e pactuações de classificação de risco.
Fatores que interferem na implantação do matriciamento em saúde mental:
A fragmentação da rede de saúde com baixa integração, ou ainda, a burocratização dos serviços, torna-se uma dificuldade para os pressupostos da proposta matricial, o que perpetua o número de encaminhamentos, havendo, ainda, a descontinuidade das ações entre os níveis de atenção à saúde (Treichel et al, 2019).
Garcia et al. (2017) observou, através de falas profissionais, que os serviços especializados que prestariam o apoio matricial não possuem ciência de suas funções inseridas na rede. Evidenciou-se também nos estudos de Silva et al. (2017) que as equipes das ESF não conhecem ou se aproximam dos serviços do CAPS e ambulatório de psiquiatria, não havendo clareza no entendimento das funções desempenhadas por estas instituições.
Associado a isso, sabe-se que o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) não possui a capacidade de atender toda a demanda em saúde mental. Sendo assim, a ausência de articulações entre este e a atenção básica, centraliza os serviços, fazendo com que os serviços especializados sejam menos inseridos na comunidade e no território (Garcia et al, 2017).
Sendo Almeida et al. (2020) é comum observar o sentimento de medo presente em profissionais ao lidar com pacientes de saúde mental, visto que há falta de conhecimento ou especializações na área, ou ainda, estes sentem-se ameaçados mediante a reação dos usuários. Não obstante, há ainda, a estigmatização e exclusão social (Iglesias & Avellar, 2017). Tais fatores mostram-se relevantes ao enfraquecer a política e modelo atuais.
Em um estudo realizado em área rural, realizado por Santos et al. (2018) verificou-se que há uma tendência da valorização do profissional da medicina e da medicalização, o que possui baixa eficácia se não associado às intervenções psicossociais. Além disso, outros profissionais da saúde são concebidos como atuantes secundários no cuidado, tornando, assim, a assistência desconectada e fragmentada.
Iglesias e Avellar (2016) acreditam que a efetivação do apoio matricial está estreitamente ligada ao entendimento dos profissionais acerca do matriciamento, assim como das demais profissões que compões a atenção básica, além da psicologia.
https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/14483/13377
Assim, o matriciamento se afirma como recurso de construção de novas práticas em saúde mental também junto às comunidades, no território onde as pessoas vivem e circulam, pela sua proposta de encontros produtivos, sistemáticos e interativos entre equipes da Atenção Básica e equipes de saúde mental.
Contudo, a efetivação desta prática enfrenta desafios importantes: mudanças nas relações de trabalho – historicamente hierarquizadas; mudança no modo fragmentado de se operar o cuidado em saúde; mudança na formação em saúde – centrada na perspectiva biomédica; mudança no modo de praticar saúde – que transcende o setor saúde.
Isto significa que a concretização do matriciamento em saúde mental em toda sua potencialidade depende do empenho, disponibilidade e mudanças por parte de todos os envolvidos. Implica negociação entre os diversos saberes presentes, para a construção de diretrizes sanitárias e estratégias de cuidado pertinentes a um determinado contexto6. Envolve parceria entre usuários, gestores dos serviços e demais instâncias, equipes responsáveis pelo cuidado longitudinal dos usuários em saúde (equipes de referência), equipes que se agregam às equipes de referência disponibilizando sua prática e conhecimento específico em uma determinada área (equipes matriciais), para a composição de um cuidado integral em saúde.
https://www.scielo.br/j/csc/a/jG6jHLkx8zpxQMB4wQz6V6j/?lang=pt
5. O que é a terapia comunitária e como ela funciona? Quem pode realizá-la?
6. O que é um grupo terapêutico? Como ele funciona?
7. O que é terapia interpessoal breve? Como ela é realizada? Ela é destinada ao tratamento de quais doenças?
8. O que é consultório de rua? Como ele atua? É composta por quais profissionais? Como é feito o compartilhamento do cuidado?
Os Consultórios de Rua são formados por equipes multiprofissionais da atenção básica e devem seguir os atributos desse ponto de atenção, como já citado anteriormente: ser porta de entrada preferencial, propiciar atenção integral e longitudinal e coordenar o cuidado, prestando atenção à saúde da população em situação de rua (PSR) in loco. Porém, quando necessário, deverá atuar em parceria com as equipes da Unidade Básica de Saúde responsável pelo território do campo de atuação onde for realizada a abordagem da equipe do consultório na rua, bem como com outros pontos de atenção da rede de saúde. Diante das especificidades dessa população, a estratégia de redução de danos deverá ser transversal a todas as ações de saúde realizadas pela equipe.
Considerando a definição das atribuições das categorias profissionais da atenção básica previstas na Política Nacional de Atenção Básica/Portaria nº 2.488,observamos a necessidade de ressaltar algumas atribuições específicas que são comuns aos diversos membros da equipe do Consultório na Rua para a atenção integral à saúde da PSR:
– Atendimento das demandas espontâneas ou identificadas pelo profissional/equipe;
– Ter boa capacidade de estabelecer contatos e vínculos;
– Visão sistêmica;
– Adequação da linguagem, utilizando discursos apropriados à realidade do usuário;
– Atuar sempre com disponibilidade para a escuta de forma ampliada e diferenciada;
– Articulação com as equipes das UBS referentes ao território de abordagem para encaminha mento e acompanhamento das demandas de saúde do usuário;
– Atuar de forma proativa, estimulando o usuário ao autocuidado;
– Articulação com a rede de saúde;
– Articulação com outras redes sociais;
– Desenvolver atividades de educação em saúde;
– Evitar julgamentos, críticas e/ou opiniões sobre a situação de vida do usuário;
– Observar o “comportamento” do usuário e do grupo, objetivando a garantia da sua segurança e da equipe;
– Observar o relato verbal e a comunicação não verbal do usuário;
– Registro com histórico do atendimento nos moldes da ESF;
– Atuar com estratégia de redução de danos;
– Fazer busca ativa de agravos prevalentes na rua, priorizando a tuberculose, DST, hepatites virais, dermatoses, uso abusivo de álcool e outras drogas, entre outros;
– Realizar atividades em grupo.
A atividade multiprofissional in loco requer a realização de procedimentos que não demandem maior privacidade. Sendo possível, nesse contexto, ações como entrevista inicial para anamnese, orientação e promoção de saúde, curativos de pequeno porte, atendimentos/avaliações clínicas não invasivas, atendimento em conjunto com os profissionais da equipe, com as equipes das UBS e com os NASFs.
Vale ressaltar que essas atividades possibilitam o cuidado à saúde e maior integração com os usuários, a construção de vínculos que estimulem a autonomia e a autoestima, favorecendo a abordagem específica e discussões de temas de interesse comum ao grupo e viabilizando, também, a busca de alternativas para as problemáticas vivenciadas no contexto da rua.
A equipe do Consultório na Rua deve organizar seu processo de trabalho prevendo momentos de reuniões de equipe da ECR e interequipes(NASF, CAPS etc.), realizar planejamentos, discussão de casos, elaboração e acompanhamento de projetos terapêuticos singulares, fundamentais para a atenção integral à saúde, a resolutividade das ações e a gestão do cuidado. Apesar da importância de todos os profissionais que compõem a equipe multiprofissional do Consultório na Rua, consideramos relevante citar as atribuições de duas novas categorias profissionais que se inserem nesse serviço, quais sejam o agente social e o técnico de saúde bucal(TSB).
Entende-se por agente social o profissional que desempenhe atividades que visam a garantir a atenção, a defesa e a proteção às pessoas em situação de risco pessoal e social, assim como aproximar as equipes dos valores, modos de vida e cultura das pessoas em situação de rua.
O técnico em saúde bucal (TSB) da equipe do Consultório na Rua deverá desenvolver suas ações em articulação com uma equipe de Saúde Bucal Modalidade I ou II, da Estratégia Saúde da Família ou outras estratégias de organização da atenção básica da área correspondente ao campo de atuação do Consultório na Rua, conforme definição do gestor local. A equipe de Saúde Bucal deverá se responsabilizar pelo atendimento da população e programar atividades em conjunto com o técnico em saúde bucal da equipe do Consultório na Rua. As atividades do TSB serão extraclínicas, com a supervisão indireta do cirurgião-dentista.
http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/manual_cuidado_populalcao_rua.pdf
9. O que é economia solidária? Quais suas potencialidades e como ela funciona?