1. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem.2008. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_atencao_homem.pdf.
2. Connell RW. e Messerschmidt JW. .Masculinidade hegemônica: repensando o conceito. Revista Estudos Feministas [online]. 2013, v. 21, n. 1, pp. 241-282. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ref/a/cPBKdXV63LVw75GrVvH39NC/?lang=pt#ModalArticles.
3. Dantas SMV e Couto MT. Sexualidade e reprodução na Política Nacional de Saúde do Homem: reflexões a partir da perspectiva de gênero. Sexualidad, Salud y Sociedad (Rio de Janeiro) [online]. 2018, n. 30. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sess/a/DDsmRXB8pSLSRc9k7rpfyFH/?lang=pt#ModalArticles.
4. Elias BK et al. Avaliação do acesso e acolhimento de homens na atenção básica: revisão de literatura. Brazilian Journal of Development, Curitiba,v.7,n.3,p.22582-22590,mar 2021. Disponível em: https://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/25845/20514.
5. Martins ERC et al. Vulnerabilidade de homens jovens e suas necessidades de saúde. Escola Anna Nery [online]. 2020, v. 24, n. 1. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ean/a/B3QR9yjcYdzNyNDMK9rssXN/?lang=pt#.
6. Modesto, Antônio Augusto Dall’Agnol et al. Um novembro não tão azul: debatendo rastreamento de câncer de próstata e saúde do homem. Interface - Comunicação, Saúde, Educação [online]. 2018, v. 22, n. 64. Disponível em: https://www.scielo.br/j/icse/a/TrYYNXDvDGM4zXbv5CwmX6D/?lang=pt#ModalArticles.
7. Santos, Dherik Fraga et al. Masculinidade em tempos de pandemia: onde o poder encolhe, a violência se instala. Saúde Soc. São Paulo, v.30, n.3, e200535, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sausoc/a/jd7SgTXGfGqmkDyB8K7jnCv/#.
8. Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. Cartilha de Saúde dos Homens. 2019. Disponível em: https://www.sbmfc.org.br/wp-content/uploads/2019/12/CARTILHA-DE-SAU%CC%81DE-DO-HOMEM. pdf.
9. Steffen RE et al. Rastreamento populacional para o câncer de próstata: mais riscos que benefícios. Physis: Revista de Saúde Coletiva [online]. 2018, v. 28, n. 02. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/physis/2018.v28n2/e280209/#ModalArticles.
Para saber mais:
Documentário The Mask You Live In legendado. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=d2B0ikOh7l4
QUESTÕES DE APRENDIZAGEM
1. Conceituar masculinidade hegemônica
2. Quais são os princípios e diretrizes da Política Nacional de saúde do homem.
3. Conhecer o perfil de morbimortalidade e doenças que mais acometem os homens
4. Identificar o impacto que a sensação de invulnerabilidade provoca na saúde dos homens.
5. Identificar na Atenção Básica as medidas de prevenção de doenças, os rastreamentos indicados na saúde do homem.
5.1. Os homens devem realizar rastreamento para o câncer de próstata? Explique.
6. Discutir os motivos que fazem o homem não procurar os serviços de saúde, especialmente da Atenção básica e o impacto na sua saúde. Quais estratégias para a ampliação do acesso dos homens aos serviços de saúde?
Síntese Individual:
1. Conceituar masculinidade hegemônica
O termo gramsciniano de "hegemonia" foi corrente, no período, em tentativas de compreender a estabilização das relações de classe. No contexto da teoria dos sistemas duais, a ideia foi facilmente transferida para o problema paralelo das relações de gênero. Essa transferência teve significativo risco de mal entendimento. Os escritos de Gramsci focam nas dinâmicas da mudança estrutural envolvendo a mobilização e a desmobilização de classes inteiras. Sem um foco claro nesse tópico da mudança histórica, a ideia de hegemonia teria sido reduzida a um modelo simples de controle cultural. E, em boa parte do debate sobre gênero, a mudança histórica em larga escala não está em foco. Aqui vemos uma das fontes das últimas dificuldades com o conceito de masculinidade hegemônica.
Mesmo antes do Movimento de Liberação das Mulheres, a literatura sobre o "papel sexual do homem" na psicologia social e na sociologia reconheceu a natureza social da masculinidade e as possibilidades de transformação da conduta dos homens. Ao longo dos anos 1970 houve uma explosão de escritos sobre o "papel masculino", nitidamente criticando as normas sobre papéis como origem do comportamento opressivo dos homens. A crítica à teoria dos papéis forneceu a base conceitual principal para o primeiro movimento de homens antissexistas. A debilidade da teoria dos papéis sexuais foi, entretanto, cada vez mais reconhecida.
A masculinidade hegemônica foi entendida como um padrão de práticas (i.e., coisas feitas, não apenas uma série de expectativas de papéis ou uma identidade) que possibilitou que a dominação dos homens sobre as mulheres continuasse.
A masculinidade hegemônica se distinguiu de outras masculinidades, especialmente das masculinidades subordinadas. A masculinidade hegemônica não se assumiu normal num sentido estatístico; apenas uma minoria dos homens talvez a adote. Mas certamente ela é normativa. Ela incorpora a forma mais honrada de ser um homem, ela exige que todos os outros homens se posicionem em relação a ela e legitima ideologicamente a subordinação global das mulheres aos homens.
Homens que receberam os benefícios do patriarcado sem adotar uma versão forte da dominação masculina podem ser vistos como aqueles que adotaram uma cumplicidade masculina. Foi em relação a esse grupo, e com a complacência dentre as mulheres heterossexuais, que o conceito de hegemonia foi mais eficaz. A hegemonia não significava violência, apesar de poder ser sustentada pela força; significava ascendência alcançada através da cultura, das instituições e da persuasão.
REFERÊNCIA:
https://www.scielo.br/j/ref/a/cPBKdXV63LVw75GrVvH39NC/?lang=pt#
2. Quais são os princípios e diretrizes da Política Nacional de saúde do homem.
Princípios
Para cumprir esses princípios de humanização e da qualidade da atenção integral devem-se considerar os seguintes elementos:
1. Acesso da população masculina aos serviços de saúde hierarquizados nos diferentes níveis de atenção e organizados em rede, possibilitando melhoria do grau de resolutividade dos problemas e acompanhamento do usuário pela equipe de saúde;
2. Articular-se com as diversas áreas do governo com o setor privado e a sociedade, compondo redes de compromisso e co-responsabilidade quanto à saúde e a qualidade de vida da população masculina;
3. Informações e orientação à população masculina, aos familiares e a comunidade sobre a promoção, prevenção e tratamento dos agravos e das enfermidades do homem;
4. Captação precoce da população masculina nas atividades de prevenção primária relativa às doenças cardiovasculares e cânceres, entre outros agravos recorrentes;
5. Capacitação técnica dos profissionais de saúde para o atendimento do homem;
6.Disponibilidade de insumos,equipamentos e materiais educativos;
7. Estabelecimento de mecanismos de monitoramento e avaliação continuada dos serviços e do desempenho dos profissionais de saúde, com participação dos usuários;
8. Elaboração e análise dos indicadores que permitam aos gestores monitorar as ações e serviços e avaliar seu impacto, redefinindo as estratégias e/ou atividades que se fizerem necessárias.
DIRETRIZES
Como formulações que indicam as linhas de ação a serem seguidas pelo setor saúde, as seguintes diretrizes devem reger a elaboração dos planos, programas, projetos e atividades. Elas foram elaboradas tendo em vista a integralidade, factibilidade, coerência e viabilidade, sendo norteadas pela humanização e a qualidade da assistência, princípios que devem permear todas as ações.
A integralidade pode ser compreendida a partir de uma dupla perspectiva:
a. trânsito do usuário por todos os níveis da atenção, na perspectiva de uma linha de cuidado que estabeleça uma dinâmica de referência e de contrarreferência entre a atenção primária e as de média e alta complexidade, assegurando a continuidade no processo de atenção;
b. compreensão sobre os agravos e a complexidade dos modos de vida e situação social do indivíduo, a fim de promover intervenções sistêmicas que abranjam inclusive as determinações sociais sobre a saúde e a doença.
Em relação à factibilidade foram consideradas a disponibilidade de recursos, tecnologia, insumos técnico-científicos e estrutura administrativa e gerencial de modo a permitir em todo o país, na prática, a implantação das ações delas decorrentes.
No que tange a coerência, as diretrizes que serão propostas estão baseadas nos princípios anteriormente enunciados, estando compatível com os princípios do SUS.
A viabilidade da implementação desta Política estará diretamente relacionada aos três níveis de gestão e do controle social, a quem se condiciona o comprometimento e a possibilidade da execução das diretrizes.
Diretrizes:
1. Entender a Saúde do Homem como um conjunto de ações de promoção, prevenção, assistência e recuperação da saúde, executado nos diferentes níveis de atenção. Deve-se priorizar a atenção básica, com foco na Estratégia de Saúde da Família, porta de entrada do sistema de saúde integral, hierarquizado e regionalizado;
2. Reforçar a responsabilidade dos três níveis de gestão e do controle social, de acordo com as competências de cada um, garantindo condições para a execução da presente política;
3. Nortear a prática de saúde pela humanização e a qualidade da assistência a ser prestada, princípios que devem permear todas as ações;
4. Integrar a execução da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem às demais políticas, programas, estratégias e ações do Ministério da Saúde;
5. Promover a articulação interinstitucional, em especial com o setor Educação, como promotor de novas formas de pensar e agir;
6. Reorganizar as ações de saúde, através de uma proposta inclusiva, na qual os homens considerem os serviços de saúde também como espaços masculinos e, por sua vez, os serviços de saúde reconheçam os homens como sujeitos que necessitem de cuidados;
7. Integrar as entidades da sociedade organizada na co-responsabilidade das ações governamentais pela convicção de que a saúde não é só um dever do Estado, mas uma prerrogativa da cidadania;
8. Incluir na Educação Permanente dos trabalhadores do SUS temas ligados a Atenção Integral à Saúde do Homem;
9. Aperfeiçoar os sistemas de informação de maneira a possibilitar um melhor monitoramento que permita tomadas racionais de decisão; e
10. Realizar estudos e pesquisas que contribuam para a melhoria das ações da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem.
Para atingir o seu objetivo geral, que é ampliar e melhorar o acesso da população masculina adulta – 20 a 59 anos – do Brasil aos serviços de saúde, a Política Nacional de Saúde do Homem é desenvolvida a partir de cinco (05) eixos temáticos:
Acesso e Acolhimento: objetiva reorganizar as ações de saúde, através de uma proposta inclusiva, na qual os homens considerem os serviços de saúde também como espaços masculinos e, por sua vez, os serviços reconheçam os homens como sujeitos que necessitam de cuidados.
Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva: busca sensibilizar gestores(as), profissionais de saúde e a população em geral para reconhecer os homens como sujeitos de direitos sexuais e reprodutivos, os envolvendo nas ações voltadas a esse fim e implementando estratégias para aproximá-los desta temática.
Paternidade e Cuidado: objetiva sensibilizar gestores(as), profissionais de saúde e a população em geral sobre os benefícios do envolvimento ativo dos homens em todas as fases da gestação e nas ações de cuidado com seus(uas) filhos(as), destacando como esta participação pode trazer saúde, bem-estar e fortalecimento de vínculos saudáveis entre crianças, homens e suas(eus) parceiras(os).
Doenças prevalentes na população masculina: busca fortalecer a assistência básica no cuidado à saúde dos homens, facilitando e garantindo o acesso e a qualidade da atenção necessária ao enfrentamento dos fatores de risco das doenças e dos agravos à saúde.
Prevenção de Violências e Acidentes: visa propor e/ou desenvolver ações que chamem atenção para a grave e contundente relação entre a população masculina e as violências (em especial a violência urbana) e acidentes, sensibilizando a população em geral e os profissionais de saúde sobre o tema.
3. Conhecer o perfil de morbimortalidade e doenças que mais acometem os homens
Em 2015, foram realizadas 5,9 milhões de internações no Sistema Único de Saúde (SUS) na faixa de 20 a 59 anos no Brasil. Excluindo as internações por gravidez, parto e puerpério, o sexo masculino tem maior número de internações (51%). A maior proporção de internações entre os homens, ocorreu na faixa etária de 50 a 59 anos (30%).
Entre as internações por lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas, que em 2015 representou a principal causa de morbidade masculina*, destacam-se as internações por traumatismo intracraniano, com 60.033 hospitalizações.
82% dessas internações ocorreram em homens.
31% dessas internações, entre os homens, ocorreram na faixa etária de 20 a 29 anos.
Entre as internações por doenças do aparelho digestivo, que em 2015 representou a segunda causa de morbidade masculina*, destacam-se as internações por hérnia inguinal, com 65.200 hospitalizações.
86% dessas internações ocorreram em homens.
36% dessas internações entre os homens, ocorreram na faixa etária de 20 a 29 anos.
Entre as internações por doenças do aparelho circulatório, que em 2015 representou a terceira causa de morbidade masculina*, destacam-se as internações por infarto agudo do miocárdio (IAM), com 40.780 hospitalizações.
69% dessas internações ocorreram em homens.
64% dessas internações entre os homens, ocorreram na faixa etária de 50 a 59 anos.
Entre as internações por doenças infecciosas e parasitárias, que em 2015 representou a quarta causa de morbidade masculina*, destacam-se as internações por doenças decorrente a infecção pelo vírus HIV, com 30.185 hospitalizações.
65% dessas internações ocorreram em homens.
35% dessas internações, entre os homens, ocorreram na faixa etária de 30 a 39 anos.
Entre as internações por doenças do aparelho respiratório, que em 2015 representou a quinta causa de morbidade masculina*, destacam-se as internações por pneumonia, com 125.420 hospitalizações.
54% dessas internações ocorreram em homens.
37% dessas internações entre os homens, ocorreram na faixa etária de 50 a 59 anos.
No Brasil, os homens vivem em média 7,1 anos menos do que as mulheres, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2016, a expectativa de vida da população masculina chegou a 72,2 anos enquanto a feminina atingiu 79,3.
• 76% das internações* por lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas são em homens.
• 68% das mortes de 20 e 59 anos são em homens.
• A cada 5 pessoas que morrem entre 20 e 30 anos, 4 são homens.
Principais causas de morbidade da população masculina:
• Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas.
• Doenças do aparelho digestivo.
• Doenças do aparelho circulatório.
• Algumas doenças infecciosas e parasitárias.
• Doenças do aparelho respiratório.
Principais causas de mortalidade da população masculina:
• Causas externas de morbidade e mortalidade.
• Doenças do aparelho circulatório.
• Neoplasias (tumores).
• Doenças do aparelho digestivo.
• Algumas doenças infecciosas e parasitárias.
Aparelho circulatório > causas externas > neoplasias > aparelho respiratório
file:///C:/Users/Usuario/Downloads/15248-Article-198048-1-10-20210515.pdf
4. Identificar o impacto que a sensação de invulnerabilidade provoca na saúde dos homens.
O reconhecimento de que os homens adentram o sistema de saúde por meio da atenção especializada tem como consequência o agravo da morbidade pelo retardamento na atenção e maior custo para o SUS. É necessário fortalecer e qualificar a atenção primária garantindo, assim, a promoção da saúde e a prevenção aos agravos evitáveis.
As pesquisas qualitativas apontam várias razões, mas, de um modo geral, podemos agrupar as causas da baixa adesão em dois grupos principais de determinantes, que se estruturam como barreiras entre o homem e os serviços e ações de saúde a saber: barreiras sócio- culturais e barreiras institucionais.
Grande parte da não-adesão às medidas de atenção integral, por parte do homem, decorre das variáveis culturais. Os estereótipos de gênero, enraizados há séculos em nossa cultura patriarcal, potencializam práticas baseadas em crenças e valores do que é ser masculino. A doença é considerada como um sinal de fragilidade que os homens não reconhecem como inerentes à sua própria condição biológica. O homem julga-se invulnerável, o que acaba por contribuir para que ele cuide menos de si mesmo e se exponha mais às situações de risco. A isto se acresce o fato de que o indivíduo tem medo que o médico descubra que algo vai mal com a sua saúde, o que põe em risco sua crença de invulnerabilidade. Os homens têm dificuldade em reconhecer suas necessidades, cultivando o pensamento mágico que rejeita a possibilidade de adoecer. Além disso, os serviços e as estratégias de comunicação privilegiam as ações de saúde para a criança, o adolescente, a mulher e o idoso.
Outro ponto igualmente assinalado é a dificuldade de acesso aos serviços assistenciais, alegando-se que, para marcação de consultas, há de se enfrentar filas intermináveis que, muitas vezes, causam a “perda” de um dia inteiro de trabalho, sem que necessariamente tenham suas demandas resolvidas em uma única consulta.
Ainda que o conceito de masculinidade venha sendo atualmente contestado e tenha perdido seu rigor original na dinâmica do processo cultural, a concepção ainda prevalente de uma masculinidade hegemônica é o eixo estruturante pela não procura aos serviços de saúde. Em nossa sociedade, o “cuidado” é papel considerado como sendo feminino e as mulheres são educadas, desde muito cedo, para desempenhar e se responsabilizar por este papel.
A compreensão das barreiras sócio-culturais e institucionais é importante para a proposição estratégica de medidas que venham a promover o acesso dos homens aos serviços de atenção primária, a fim de resguardar a prevenção e a promoção como eixos necessários e fundamentais de intervenção.
5. Identificar na Atenção Básica as medidas de prevenção de doenças, os rastreamentos indicados na saúde do homem.
A Política Nacional de Atenção Integral da Saúde do Homem (PNAISH) tem como diretriz promover ações de saúde que contribuam significativamente para a compreensão da realidade singular masculina nos seus diversos contextos socioculturais e político-econômicos, respeitando os diferentes níveis de desenvolvimento e organização dos sistemas locais de saúde e tipos de gestão de Estados e Municípios.
Para atingir o seu objetivo geral, que é ampliar e melhorar o acesso da população masculina adulta – 20 a 59 anos – do Brasil aos serviços de saúde, a Política Nacional de Saúde do Homem é desenvolvida a partir de cinco (05) eixos temáticos:
Acesso e Acolhimento: objetiva reorganizar as ações de saúde, através de uma proposta inclusiva, na qual os homens considerem os serviços de saúde também como espaços masculinos e, por sua vez, os serviços reconheçam os homens como sujeitos que necessitam de cuidados.
Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva: busca sensibilizar gestores(as), profissionais de saúde e a população em geral para reconhecer os homens como sujeitos de direitos sexuais e reprodutivos, os envolvendo nas ações voltadas a esse fim e implementando estratégias para aproximá-los desta temática.
Paternidade e Cuidado: objetiva sensibilizar gestores(as), profissionais de saúde e a população em geral sobre os benefícios do envolvimento ativo dos homens em todas as fases da gestação e nas ações de cuidado com seus(uas) filhos(as), destacando como esta participação pode trazer saúde, bem-estar e fortalecimento de vínculos saudáveis entre crianças, homens e suas(eus) parceiras(os).
Doenças prevalentes na população masculina: busca fortalecer a assistência básica no cuidado à saúde dos homens, facilitando e garantindo o acesso e a qualidade da atenção necessária ao enfrentamento dos fatores de risco das doenças e dos agravos à saúde.
Prevenção de Violências e Acidentes: visa propor e/ou desenvolver ações que chamem atenção para a grave e contundente relação entre a população masculina e as violências (em especial a violência urbana) e acidentes, sensibilizando a população em geral e os profissionais de saúde sobre o tema.
Lei do acompanhante
A Lei Federal nº 11.108, de 07 de abril de 2005, mais conhecida como a Lei do Acompanhante, determina que os serviços de saúde do SUS, da rede própria ou conveniada, são obrigados a permitir à gestante o direito a acompanhante durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto. A Lei determina que este acompanhante será indicado pela gestante, podendo ser o pai do bebê, o parceiro atual, a mãe, um(a) amigo(a), ou outra pessoa que a gestante escolher.
A Lei do Acompanhante é válida para parto normal ou cesariana e a presença do(a) acompanhante (inclusive se este for adolescente) não pode ser impedida pelo hospital ou por qualquer membro da equipe de saúde, nem deve ser exigido que o(a) acompanhante tenha participado de alguma formação ou grupo.
Prevenção
Para proporcionar mais qualidade de vida à população masculina, o primeiro passo é a prevenção. A adoção de hábitos saudáveis, a prática de atividade física regular, a alimentação balanceada e o uso moderado de bebidas alcoólicas são cruciais para diminuir esses agravos evitáveis. Além disso, o acompanhamento de saúde preventivo é fundamental.
Um levantamento do Centro de Referência em Saúde do Homem de São Paulo mostrou que 70% das pessoas do sexo masculino procuram atendimento médico por cobrança dos familiares. Além disso, mais da metade desses pacientes adiam a ida ao médico e já chegam com doenças em estágio avançado.
A prevenção a partir de um acompanhamento médico rotineiro e a identificação precoce de doenças aumentam as chances de um tratamento eficaz. Para isso, alguns exames devem fazer parte do cotidiano masculino:
Aferir a pressão com frequência;
Acompanhar as taxas de colesterol;
Realizar a testagem para infecções sexualmente transmissíveis, como HIV, hepatite B (HBsAg) e hepatite C (anti-HCV).
Os homens que apresentam algum sinal de problemas na próstata, como dificuldade para urinar, jato urinário fraco ou sensação de esvaziamento incompleto da bexiga, devem ir ao serviço de saúde mais próximo para investigação. É possível que outras doenças, como uma infecção urinária, estejam causando os sintomas.
No entanto, esses sintomas também podem estar relacionados ao câncer de próstata. No Brasil, esse é o segundo tipo de câncer mais comum entre os homens, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. No geral, é o sexto tipo mais comum no mundo e o principal entre homens, representando cerca de 10% do total de cânceres.
Para aqueles com histórico familiar, é recomendada a consulta e o acompanhamento médico, pois somente ele pode orientar quanto aos riscos e benefícios da realização de exames.
RASTREAMENTOS:
CÂNCER DE PRÓSTATA
O Ministério da Saúde não recomenda o uso do rastreio para a detecção precoce, mas pode ser feito desde que sejam esclarecidos os riscos e benefícios ao paciente, sendo que esta decisão sempre é feita de maneira individualizada.
O toque retal e a dosagem do PSA sugerem o diagnóstico, mas não confirmam.
Apenas a biópsia é a responsável por dar o diagnóstico da doença, mas é um processo invasivo.
CÂNCER DE TESTÍCULO
Não há indicação de rastreio para população geral.
Não há evidência científica de que o rastreamento do câncer de testículo traga mais benefícios do que riscos e, portanto, até o momento, ele não é recomendado.
CÂNCER DE PÊNIS
Não há indicação de rastreio para população geral.
Não há evidência científica de que o rastreamento do câncer de pênis traga mais benefícios do que riscos e, portanto, até o momento, ele não é recomendado.
CÂNCER DE PRÓSTATA
De acordo com a mais recente estimativa mundial (2018), dentre os 18 milhões de casos novos de todos os tipos de câncer, o tumor de próstata ocupa o quarto lugar geral e é o segundo mais comum nos homens, com uma incidência de cerca de 1,3 milhão. Estima-se que em 2020 ocorram mais 65.840 novos casos (INCA). Em 2018, o Brasil registrou 15.576 mortes por câncer de próstata.
O câncer de testículo é o tumor sólido mais comum no homem!
O tumor de próstata é o tumor sólido mais comum no homem. Sua prevalência aumenta de acordo com o avanço da idade (principal fator de risco), principalmente após os 50 anos. Outros fatores de risco são: presença de câncer de próstata em um familiar (principalmente aqueles que tiveram diagnóstico de câncer de próstata antes dos 65 anos), fatores genéticos (alterações específicas no gene), etnia negra e exposição a produtos (aminas aromáticas, arsênio, produtos de petróleo, motor de escape de veículo, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, fuligem, dioxinas). O excesso de gordura corporal aumenta o risco de câncer de próstata em estágio avançado.
Você conhece alguém da sua família com câncer de próstata?
O risco aumenta se você tiver um parente de primeiro grau com diagnóstico antes dos 65 anos.
Frequentemente, o câncer de próstata apresenta evolução inicial silenciosa, não apresentando nenhum sintoma na grande maioria dos casos. Quando presentes, os sintomas costumam ser semelhantes àqueles causados por tumores benignos, sensação de urgência para urinar,aumento da frequência para urinar de dia ou à noite. Quando em estágios avançados, a doença pode causar dor óssea, sintomas urinários mais intensos e infecção generalizada.
Provavelmente você já deve ter ouvido falar sobre o exame do toque retal ou do exame de dosagem do PSA (antígeno prostático específico) no rastreio do câncer de próstata entre os 50 e 70 anos. Mas você sabia que o uso do rastreio para a detecção precoce de câncer de próstata é controverso e que não é recomendado pelo próprio Ministério da Saúde? Mas cuidado, isso não significa que o exame é contraindicado! Atualmente, não há indicação para o rastreio de todos os homens à procura do câncer de próstata em sua fase precoce, portanto deve-se sempre buscar orientação médica e compartilhar essa decisão.
Quando devo recomendar o rastreio para o câncer de próstata?
Idade entre 50 e 74 anos, sempre levando em conta os possíveis riscos e benefícios
Homens com menos de 50 anos ou mais de 75 anos, somente quando apresentarem alto risco.
O toque retal e a dosagem do PSA são recursos que aumentam a probabilidade de detecção da existência do câncer de próstata e, somente quando houver essa suspeita a biópsia (retirada de amostras do tecido da próstata para análise laboratorial) está indicada para a obtenção do diagnóstico preciso.
Por meio da biópsia realiza-se o estadiamento da doença para, então, definir o prosseguimento do cuidado. À depender do resultado obtido neste processo, o paciente pode ser apenas orientado a retornar para nova avaliação futuramente. Ou ser submetido aos tratamentos, como retirada da próstata, radioterapia, terapia hormonal ou quimioterapia.
CÂNCER DE TESTÍCULO
Bem menos frequente que o câncer de próstata, o tumor de testículo corresponde a 5% do total dos casos de câncer no homem, mas esse percentual deve ser interpretado com muita cautela. O câncer de testículo é o tumor sólido mais frequente no homem em idade produtiva (entre 15 e 50 anos), com ocorrência rara antes dos 13 anos (0,5 a 2 para cada 100.000 homens).
O câncer de testículo é o tumor sólido mais frequente no homem jovem!
A boa notícia sobre é que, em geral, apresenta um bom prognóstico, ou seja, seu provável desenvolvimento futuro é favorável, sendo curado quando detectado precocemente. Mas não se engane, esse câncer também pode ser letal, com número de mortes em 395, segundo o Atlas de Mortalidade por Câncer de 2018.
Entre os principais fatores de risco para a ocorrência desse câncer, estão a criptorquidia (ausência de um ou dois testículos na bolsa escrotal, condição geralmente identificada durante uma consulta pediátrica na infância), histórico de lesões e traumas na bolsa escrotal, infertilidade ou subfertilidade, síndrome de Klinefelter, histórico familiar de câncer de testículo e a exposição a agrotóxicos.
Você conhece alguém da sua família com câncer de testículo?
Caso você tenha um pai com esse câncer, suas chances aumentam cerca de 4 vezes.
Caso você tenha um irmão com esse câncer, suas chances aumentam cerca de 8 vezes.
A maior parte dos casos de câncer de testículo é sintomática, ou seja, ela pode ser mais facilmente percebida pelo paciente ou parceiro sexual e, com isso, melhor informada ao médico. O relato consiste na presença de um nódulo ou inchaço no testículo, de consistência pétrea e geralmente indolor. A dor testicular é incomum, presente em apenas 10% dos casos. Sendo assim, destaca-se que o autoexame dos testículos é um hábito importante para o diagnóstico desse tipo de câncer.
Quando não percebida pelo paciente ou relatada ao médico (preferencialmente um urologista), ocorre como um achado inesperado em um exame físico durante a consulta ou de imagem (frequentemente em exames da região baixa do abdome e pelve). Ou então, quando em estágios mais avançados da doença, pelo acometimento à distância desse tumor, pela sua disseminação no organismo (metástases), comprometendo principalmente os pulmões, fígado, cérebro, ossos e rins.
O suspeita diagnóstica ocorre pela história clínica (relato e investigação) e pelo exame físico do paciente. Contudo, sua confirmação só ocorre por meio da ultrassonografia dos testículos e por exames laboratoriais que detectam os marcadores tumorais no sangue.
Diferentemente do câncer de próstata, a biópsia não é necessária para a confirmação diagnóstica do câncer de testículo.
O estadiamento da doença é fator determinante do acompanhamento do paciente, sendo o tratamento inicial sempre cirúrgico (75% a 85% de chance de cura). Comumente, a conduta é a retirada completa do testículo afetado. A quimioterapia ou radioterapia são reservadas aos casos de estágio avançado da doença, na presença de metástase.
Vale ressaltar que a função sexual ou reprodutiva do paciente submetido à cirurgia de retirada de testículo não é afetada, desde que um dos testículos não esteja afetado pelo tumor. Sendo assim, nos casos em que houver a retirada de ambos os testículos, a criopreservação de sêmen é uma boa opção a ser oferecida ao paciente.
CÂNCER DE PÊNIS
Pouco menos frequente que o câncer de testículo, o câncer de pênis também é um tumor raro. Responsável por 454 mortes em 2018 (Atlas de Mortalidade por Câncer), este tipo de câncer possui uma prevalência de cerca de 2% dentre todos os tipos de câncer que atingem o homem, no Brasil. Também apresenta predomínio em idades avançadas, na faixa etária entre 40 e 69 anos.
Diferentemente dos cânceres de próstata e de testículo, o que chama mais a atenção aqui é a estreita relação com o fator socioeconômico. Países ou regiões menos favorecidas, como o norte e nordeste do Brasil apresentam maior incidência de câncer de testículo. Relacionam-se à esta condição os demais fatores de risco, como a baixa escolaridade, má instrução de higiene íntima inadequada, associação com doenças sexualmente transmissíveis (principalmente o HPV - papiloma vírus humano). Outros fatores são: fimose (estreitamento do prepúcio) e tabagismo. Consequentemente, as medidas preventivas apresentam ligação direta com os fatores de risco, ou seja, uma boa higiene da região genital (principalmente após as relações sexuais e a masturbação), a correção da fimose e a utilização de preservativos durante as relações sexuais são imprescindíveis para reduzir as chances de desenvolver a doença.
A boa higienização e o autoexame são essenciais na prevenção do câncer de pênis. Além de evitar o surgimento da doença também evitam procedimentos traumáticos como a cirurgia parcial ou até mesmo a amputação do pênis.
Os principais sinais que indicam forte suspeita do câncer de pênis são as feridas ou úlceras persistentes, bem como a presença de tumoração (aumento anormal de tecido) localizada na glande, prepúcio ou corpo do pênis. Concomitantemente, podem ser observados os sinais de má higiene, como a presença de secreção branca (esmegma) e mau cheiro. O surgimento de gânglios inguinais (ínguas na virilha) podem estar presentes, sendo estas um sinal de progressão da doença (metástase), sendo muito rara a ocorrência de metástases à distância. Sendo assim, é recomendado fortemente que os pacientes façam o autoexame e a higienização diariamente.
O diagnóstico é dado por exames clínicos, laboratoriais, radiológicos e por meio da biópsia. Quando realizado de forma precoce o tratamento, apresenta alto potencial de cura, contudo a maioria dos diagnósticos são dados em sua forma tardia, o que pode alterar o desfecho da doença. O tratamento depende da extensão local do tumor e acometimento ou não de linfonodos regionais. Os procedimentos podem variar desde terapias tópicas (pomadas, cremes) até tratamentos cirúrgicos, acompanhados por braquiterapia (radioterapia interna) e quimioterapia. O diagnóstico tardio e a baixa procura por tratamento especializado fazem com que os desfechos sejam menos favoráveis, muitas vezes com necessidade de cirurgias mutiladoras que impactam fortemente na questão física, psicológica, na reabilitação funcional e na reintegração social desses indivíduos.
5.1. Os homens devem realizar rastreamento para o câncer de próstata? Explique.
Alguns especialistas são contra de se fazer exames de rotina em homens sem sintomas, pois pode trazer tanto benefícios quanto riscos à saúde. Outros, no entanto, são a favor.
Benefícios: realizar o exame pode ajudar a identificar o câncer de próstata logo no início da doença, aumentando assim a chance de sucesso no tratamento. Tratar o câncer de próstata na fase inicial pode evitar que se desenvolva e chegue a uma fase mais avançada.
Riscos: ter um resultado que indica câncer, mesmo não sendo, gera ansiedade e estresse, além da necessidade de novos exames, como a biópsia. Diagnosticar e tratar um câncer que não evoluiria e nem ameaçaria a vida. O tratamento pode causar impotência sexual e incontinência urinária. Os riscos desses exames estão relacionados às consequências dos seus resultados e não à sua realização.
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) não recomenda o rastreamento do câncer de próstata, pois não há evidência científica que isto traga mais benefícios do que riscos.
”Em consonância com as evidências científicas disponíveis e as recomendações da OMS, a organização de ações de rastreamento para o câncer da próstata não é recomendada. Homens que demandem espontaneamente a realização do exame de rastreamento devem ser informados por seus médicos sobre os riscos e benefícios associados a essa prática e posteriormente definirem em conjunto com a equipe de saúde pela realização ou não do rastreamento.”
Em relação a homens com idade superior a 75 anos e assintomáticos a recomendação é da não adoção do rastreamento de câncer da próstata, pois existe nível adequado de evidência mostrando que essa estratégia não é eficaz e que os danos podem superar os benefícios.
Durante as consultas, os homens que não desejam realizar o rastreamento não devem ser induzidos a fazer. Caso os homens busquem atendimento para realizar os exames de rastreamento é muito importante que eles sejam esclarecidos sobre os riscos envolvidos nessa prática. A decisão de realizar ou não deve ser sempre compartilhada entre paciente e médico.
Além disso, é essencial abordar nas consultas outros temas variados relacionados à saúde do homem. Não deixe de abordar temas como mudança de estilo de vida, cessação de tabagismo, redução do consumo de açúcar e alimentos industrializados, estímulo à perda de peso no combate à obesidade/sobrepeso, prática de exercícios físicos.
O Ministério da Saúde, assim como a Organização Mundial da Saúde (OMS), não recomenda que se realize o rastreamento do câncer de próstata, ou seja, não é indicado que homens sem sinais ou sintomas façam exames. Procure conhecer os riscos e os benefícios que envolvem a realização desses exames de rotina e converse com um profissional de saúde da sua confiança para decidir se deseja ou não realizá-los.
6. Discutir os motivos que fazem o homem não procurar os serviços de saúde, especialmente da Atenção básica e o impacto na sua saúde. Quais estratégias para a ampliação do acesso dos homens aos serviços de saúde?
Fonte: Martins ERC et al. Vulnerabilidade de homens jovens e suas necessidades de saúde. Escola Anna Nery [online]. 2020, v. 24, n. 1. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ean/a/B3QR9yjcYdzNyNDMK9rssXN/?lang=pt#
INTRODUÇÃO
Por outro lado, culturalmente, o homem não tem hábito de se cuidar, visto que a presença em serviços de saúde é pouco visível, até os dias atuais. Buscou-se compreender as justificativas dos homens para esse fenômeno e a primeira delas foi associar o ato de cuidar à natureza feminina e não masculina. Associado a isso, encontram as dificuldades dos homens em verbalizarem o que sentem, podendo demonstrar fraqueza, outra característica dita como feminina e também justificativas em relação ao trabalho se apresentaram como causa central.
RESULTADOS
Percepção dos homens jovens sobre o cuidar da saúde e suas vulnerabilidades
Os participantes da pesquisa trazem a percepção do cuidar de sua saúde, no que refere a promoção a saúde e prevenção de agravos como um papel feminino, já que o homem culturalmente cresce com uma visão de figura forte, que não pode chorar e nem sentir dor e que muitas vezes tem o papel de alicerce de suas famílias e por isso não devem demostrar fraquezas.
[...] não estou cuidando muito bem da minha saúde. A mulher se cuida mais [...] (E.16)
[...] os homens se expressam menos, com certeza, a gente tem muito de não querer chorar em público ou sozinho, isso demonstra fraqueza. [...] (E.15)
A centralidade da mulher enquanto representante aos cuidados mantem-se presente e sustenta-se até hoje, o que, pode ser analisado na fala trazida por um dos participantes, pois o mesmo não trouxe a forma preventiva do acompanhamento de exames como uma prática natural aos homens e sim a mulher e, por conta disso, ele acaba se considerando feminino.
[...] faço exame de rotina de 6 em 6 meses normalmente. Eu sou 60% mulher e 40% homem [...] (E.1).
Cabe ressaltar a importância de uma desconstrução social e cultural sobre a visão do cuidar que vai além de demonstrar fraquezas, pois remete a um modo de ser, atitudes e entender suas necessidades e pensamentos.
DISCUSSÃO
Os discursos que os homens jovens universitários trazem sobre suas necessidades de saúde, refletem a questão gênero em relação ao cuidado, desde os primórdios sempre houve uma divisão de trabalhos onde coube ao homem a caça para trazer o sustento para a sua família o que reforça ainda mais a ideia de que o homem não foi “ criado” para se cuidar, e a mulher, o trabalho era mais restrito ao lar, proteção da família e cuidar dos filhos, onde manteve-se até a atualidade essa forma de pensamento, assumindo uma naturalidade entre a relação mulher-cuidado.
Socialmente e culturalmente existem barreiras impostas, onde ser homem é, não demonstrar sinais de fraqueza e insegurança o que acaba atrapalhando a sua procura pelos serviços de saúde e faz com que o homem não tenha um hábito de recorrer a especialistas e se tiver que fazer isso terá que quebrar uma barreira imposta.
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem é um grande avanço, visto sobre uma perspectiva onde o homem tem ganho um espaço nas políticas públicas e garantido a ele direitos sobre o cuidado de sua saúde, sendo um dos principais objetivos dessa política promover ações de saúde que contribuam significativamente para a compreensão da realidade singular masculina nos seus diversos contextos socioculturais.
Diante aos discursos e a literatura, é perceptível que existem muitos desafios a serem vencidos como: a visão do homem sobre o cuidar da saúde como forma preventiva, aos serviços de saúde para que se adequem as necessidades dessa população, tanto em relação aos programas como também em treinamentos de funcionários para o acolhimento e o horário de funcionamento dessas unidades. Pois, promover saúde é algo que deve ser implementado e construído de forma comunitária e em conjunto para que não avance para doenças mais graves que necessitam de cuidados mais invasivos.
No entanto, se faz necessário a implementação de mudanças nos serviços de saúde, principalmente no sentido de ampliar a equidade integralidade das ações prestadas ao homem e isso só se torna eficaz se as suas necessidades forem compreendidas e entendidas.
Fonte: Elias BK et al. Avaliação do acesso e acolhimento de homens na atenção básica: revisão de literatura. Brazilian Journal of Development, Curitiba,v.7,n.3,p.22582-22590,mar 2021. Disponível em: https://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/25845/20514.
INTRODUÇÃO
A saúde do homem é algo relativamente novo, inserido pela portaria Nº 1944, no âmbito de Sistema Único de Saúde (BRASIL,1988), em 2009 em que foi o ano de criação da PNAISH (BRASIL,2009), a qual possui decisões de qualificar o atendimento à saúde, garantindo a promoção, prevenção e a reabilitação de agravos. No entanto, os objetivos da política, encontram desafios desfavoráveis pertinentes a síntese sociocultural, histórica e temporal incutidos na sociedade, as quais estabelecem ao homem, a não recognição do essencial cuidado com a própria saúde, fator este que participa do modelo de masculinidade vigente contribuinte para que a população masculina sejam as principais vítimas e autores das mais diversas expressões de violência social, e fundamentalmente da autoviolência letal, tais padrões estimulam a solução de conflitos de forma agressiva, pelo urso de armas de fogo, além de exibir risco de autoagressão e sofrimento psíquico, gerando e influenciando diretamente seu processo saúde-doença, o que provoca consequências graves como complicações de patologias e o aumento da morbimortalidade (BRASIL, 2009). Mesmo com as estratégias e planejamento da política a grande maioria dos homens ainda não reconhece os serviços de saúde como um espaço masculino e não se sentem à vontade para frequentá-los, uma vez que o atendimento é mais voltado as mulheres e crianças. É legítimo que assistir e incluir os homens na atenção básica é um desafio público que pode ser solucionado através da obtenção de informações que permitirão o planejamento e a implementação de estratégias que têm por objetivo facilitar o acesso dessa população. O objetivo desse trabalho foi identificar artigos científicos que avaliem o acesso e o acolhimento dos homens nas unidades básicas de saúde (UBS) no Brasil, como forma de atendimento integral ao cuidado masculino
tabela com 10 artigos no link.
Alguns artigos citam que o homem procura menos a prevenção em saúde do que as mulheres, e evidenciam o contexto histórico, cultural e temporal como fatores que mostram o autocuidado em saúde como diminuidor da masculinidade, além de mostrar que as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) não estão preparadas para atender este público, transformando o assunto até hoje em um tabu, que precisa com urgência ser mudado, como exemplificado nas próprias definição retiradas dos artigos: “Não há assistência integrada tendo entre as causas: a insuficiência estrutural da rede, representada pela ausência da atenção básica e pela precariedade nos hospitais de referência. Não há produção e utilização de informações e o SAMU não cumpre a função de observatório de saúde” (O'DWYER, MATTOS; 2013).
” Os homens morrem mais do que as mulheres pelas principais causas de morte; determinados modelos de masculinidade podem trazer comprometimentos para a saúde dos homens; os homens são os principais atores na violência cometida contra mulheres, crianças, outros homens e contra eles mesmos; o desemprego compromete o bem-estar masculino e pode se relacionar a suicídios de jovens” (BATISTA, SALDANHA; 2017). “Com base nessa perspectiva, destacam-se as seguintes premissas acerca dos homens: Eles têm maior dificuldade em construir sua identidade do que as mulheres, 5 encontram-se em situação de saúde desfavorável, 14 costumam-se ser percebidos como sexualmente infectantes, poucos envolvidos na saúde reprodutiva e agentes da violência contra as mulheres” (SCHWARZ, ET AL; 2012). Por estar sempre em constante transformação e aperfeiçoamento, a saúde pode sofrer intercorrências por qualquer comprometimento externo ou interno que ocorra na vida de uma pessoa, por isso, homens que não procuram de forma regular uma unidade básica, apresentam dificuldades de sentirem apoiados e não se sentem à vontade para frequentar esses ambientes já que as campanhas de atrativos a esse público raramente são feitas e o acolhimento é mais voltado para mulheres e crianças.
Torna-se necessário que os Sistemas de Saúde ordenados pela APS, tenham um melhor reconhecimento dos problemas de saúde; Maior precisão nos diagnósticos; Maior adesão aos tratamentos; Maiores chances de reduzir a desigualdades sociais; Diminuições das internações sensíveis à atenção ambulatorial; Menor mortalidade por doenças cardiovasculares; Melhor expectativa de vida e impreterivelmente ser o nível atenção que possui uma escuta qualificada com a abordagem centrada na pessoa de modo holístico
Quais estratégias para a ampliação do acesso dos homens aos serviços de saúde?
Fonte: Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. Cartilha de Saúde dos Homens. 2019.
https://www.sbmfc.org.br/wp-content/uploads/2019/12/CARTILHA-DE-SAU%CC%81DE-DO-HOMEM.pdf
O que pode ser feito para melhorar a saúde dos homens?
1. Dar visibilidade aos homens como merecedores de cuidado; como cuidadores de si e de terceiros; e como alvo de políticas nacionais e locais;
2. Fomentar discussões de gênero e sexualidade na saúde dos homens dentro da equipe, e posteriormente com os homens no seu território, visando transformar percepções esteriotipadas, binárias, hegemônicas ou heteronormativas;
3. Pensar em estratégias de promoção, prevenção e autocuidado voltadas para os homens da comunidade nas várias fases do ciclo de vida;
4. Considerar as particularidades das diferentes populações masculinas, como homens negros, gays, trans, rurais etc;
5. Entre homens rurais, atentar à epidemiologia das doenças infecciosas desse contexto, como febre maculosa, paracoccidioidomicose, hantavírus, leptospirose, malária etc, além dos acidentes e intoxicações;
6. Evitar agendas divididas por populações ou condições de saúde, que acabam incluindo apenas homens mais velhos com Hipertensão Arterial Sistêmica ou Diabete Melito;
7. Legitimar a demanda espontânea dos homens, facilitar o acesso a esse tipo de atendimento e usá-lo como oportunidade para ações preventivas;
8. Considerar os homens como participantes possíveis no pré-natal, realizar o pré-natal do parceiro, e fomentar a responsabilidade pelo no cuidado dos filhos e cuidado de doentes crônicos;
9. Estimular a participação e captar os homens em momentos oportunos, como comparecimentos na unidade por qualquer questão, em visitas domiciliares, em reuniões de bairro;
10. Promover a autonomia e responsabilidade do homem pela saúde reprodutiva, orientando sobre métodos anticoncepcionais, acesso a vasectomia e diretos reprodutivos e orientando especificidades sobre direitos reprodutivos dos casais homoafetivos e homens trans;
11.Trabalhar a questão da paternidade consciente, desmistificando o procedimento de vasectomia e propondo como uma possibilidade no planejamento familiar;
12. Promover reflexão entre os homens sobre qual seu papel no combate ao machismo, a misoginia e a LGBTfobia;
13. Considerar ações de grupo para homens perpetradores de violência doméstica;
14. Buscar grupos ou Organizações Não Governamentais (ONGs) que já trabalham com o tema da Saúde dos Homens, para se instrumentalizar de forma presencial ou à distância – como o PROMUNDO e o Instituto PAPAI;
15. Resgatar a campanha “Não importa o tipo de homem que você é”, do Ministério da Saúde, e acessar outras que, mesmo verticais, façam sentido no contexto do serviço;
16. Realizar atividades de grupo com homens de forma longitudinal, e não apenas durante o mês de novembro;
17. Realizar a prevenção quaternária, especialmente em relação a prevenção do câncer de próstata;
18. Levar ações de saúde a locais comumente frequentados por homens, como bares, oficinas mecânicas, salões de barbearia, canteiros de obra, fábricas, lavouras, sítios, fazendas etc;
19. Entender, em consultas, reuniões e através de informantes-chave (incluindo homens e mulheres) quais são as principais necessidades de saúde e demandas dos homens na comunidade;
20. Atentar para demandas ocultas em consulta, ganhando em resolutividade e poupando homens de intervenções desnecessárias;
21. Lembrar sempre de questionar a respeito do uso de cigarro, álcool e outras drogas e, quando presente o uso, buscar sinais de sofrimento mental;
22. Questionar a raça/cor que o homem se identifica e preencher os formulários com essa informação, fomentando a produção de dados a respeito de racismo institucional;
23. Trabalhar dentro da equipe a temática do racismo institucional, levando a equipe a refletir sobre sua atuação frente aos homens negros, por exemplo;
24. Atentar para a ambiência da sala de espera e dos consultórios, de forma que seja agradável, convidativa e acolhedora à diversidade dos homens; incluindo o direito ao uso do banheiro para homens trans;
25. Trabalhar em equipe temas relacionados aos homens trans, como o direito e o respeito ao nome social (pactuando formas de identificá-lo de forma fácil, evitando constrangimentos) e questões de promoção da saúde e prevenção de doenças específicas dessa população;
26. Promover a saúde sexual, realizando uma anamnese ampliada e que afirme a diversidade das práticas sexuais, das orientações sexuais e das identidades de gênero;
27. Orientar métodos de prevenção de IST/HIV adequados a cada prática sexual, considerando, além do uso do preservativo, o uso de outras estratégias de prevenção combinadas e de gestão de risco;
28. Combater a sorofobia e promover cuidados aos homens que vivem com HIV, reconhecendo que essa é uma situação de alta prevalência entre homens gays e transexuais;
29. Promover ações educativas e de prevenção dos agravos relacionados a causas externas como acidentes, violência e suicídio;
30. Promover ações que garantam a saúde bucal;
31. Promover educação em saúde e intervenção em tempo oportuno para as doenças mais prevalentes nos homens negros, considerando que essa população representa a maioria da população brasileira;
32. Promover a Cultura da Paz entre homens em geral e particularmente entre jovens negros em seus diferentes espaços de convivências, incluindo ambientes escolares e espaços privados de liberdade – nos quais a população negra é ainda mais majoritária que na população em geral;
33. Realizar o acompanhamento e cuidados relacionados ao uso de testosterona dos homens trans e estrogênio/progesterona por mulheres trans.
fonte: BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. 2008. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_atencao_homem.pdf
8. OBJETIVOS
8.1. Objetivo Geral
Promover a melhoria das condições de saúde da população masculina do Brasil, contribuindo, de modo efetivo, para a redução da morbidade e mortalidade dessa população, através do enfrentamento racional dos fatores de risco e mediante a facilitação ao acesso, às ações e aos serviços de assistência integral à saúde.
8.2. Objetivos Específicos
8.2.1. Organizar, implantar, qualificar e humanizar, em todo território brasileiro, à atenção integral a saúde do homem, dentro dos princípios que regem o Sistema Único de Saúde:
- Implantar e/ou estimular nos serviços de saúde, públicos e privados, uma rede de atenção à saúde do homem que garanta linhas de cuidado, na perspectiva da integralidade;
- fortalecer a assistência básica no cuidado com o homem, facilitando e garantindo o acesso e a qualidade da atenção necessária ao enfrentamento dos fatores de risco das doenças e dos agravos à saúde;
- formar e qualificar os profissionais da rede básica para o correto atendimento à saúde do homem; e
- promover ações integradas com outras áreas governamentais.
8.2.2. Estimular a implantação e implementação da assistência em saúde sexual e reprodutiva, no âmbito da atenção integral à saúde.
- ampliar e qualificar a atenção ao planejamento reprodutivo masculino, inclusive a assistência à infertilidade;
- estimular a participação e inclusão do homem nas ações de planejamento de sua vida sexual e reprodutiva, enfocando inclusive a paternidade responsável;
- garantir a oferta da contracepção cirúrgica voluntária masculina nos termos da legislação específica;
- promover na população masculina, conjuntamente com o Programa Nacional de DST/AIDS, a prevenção e o controle das doenças sexualmente transmissíveis e da infecção pelo HIV;
- incentivar o uso de preservativo como medida de dupla proteção da gravidez inoportuna e das DST/AIDS;
- estimular, implantar, implementar e qualificar pessoal para a atenção às disfunções sexuais masculinas;
- garantir o acesso aos serviços especializados de atenção secundária e terciária para os casos identificados como merecedores destes cuidados;
- promover a atenção integral à saúde do homem nas populações indígenas, negras, quilombolas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, trabalhadores rurais, homens com deficiência, em situação de risco, em situação carcerária, entre outros, desenvolvendo estratégias voltadas para a promoção da equidade para distintos grupos sociais;
- associar as ações governamentais com as da sociedade civil organizada para efetivar a atenção integral à saúde do homem com protagonismo social na enunciação das reais condições de saúde da população masculina.
8.2.3. Ampliar, através da educação, o acesso dos homens às informações sobre as medidas preventivas contra os agravos e enfermidades que atingem a população masculina:
- incluir o enfoque de gênero, orientação sexual, identidade de gênero e condição étnico-racial nas ações educativas;
- estimular, na população masculina, através da informação, educação e comunicação, o auto-cuidado com sua própria saúde;
- promover a parceria com os movimentos sociais e populares, e outras entidades organizadas para divulgação ampla das medidas preventivas; e
- manter atenção cuidadosa e permanente com as demais áreas governamentais no sentido de efetuar, de preferência, ações conjuntas, evitando a dispersão desnecessária de recursos.