Caso Clínico 01
Paciente do sexo feminino, 55 anos, parda, advogada, comparece a consulta com gastroenterologista com queixa de dor abdominal há 3 anos, do tipo em pontadas, localizada na porção inferior do abdômen, acompanhada de distensão abdominal e mal-estar geral, com a frequência média desses episódios de duas a três vezes por semana. Refere como fator de melhora para a dor e distensão a partir da evacuação e pela eliminação de flatos; como fator de piora, refere o estresse, ingestão de frituras, bebida alcoólica e consumir alimentos excessivamente condimentados.
Desde o início da dor há 3 anos atrás, também apresentou irregularidade intestinal com predomínio de diarreia, chegando a 5 evacuações por dia, sem sangue ou restos alimentares. Eventualmente apresenta períodos de constipação intestinal, com evacuações de 4 em 4 dias, com fezes endurecidas e fragmentadas. Relata também excesso de flatulências, sensação de evacuação incompleta, digestão lenta e empachamento pós-prandial. Nega perda de peso significativa nos durante esse tempo. Nega despertar a noite pela dor abdominal e necessidade de evacuar. Refere história familiar de câncer colorretal, seu pai, que faleceu aos 45 anos de câncer colorretal e que seus dois tios (irmãos da sua mãe) tem “colite”. Nega tabagismo, alergias, uso recorrente de medicamentos e outras comorbidades. Refere elitismo aos fins de semana (uma taça de vinho).
Ao exame físico, a paciente encontrava-se em bom estado geral, lúcida e orientada em tempo e espaço, vigil, sem linfadenomegalias, afebril (36,5oC), corada, hidratada, anictérica, acianótica, normopneica (18 irp), normocárdica (75 bpm) e normotensa (120x80 mmHg). Peso: 59 kg. IMC: 22 kg/m2 . Aparelho respiratório com sons respiratóriospreservados, expansibilidade preservada, FTV preservado, sem ruídos adventícios. No aparelho cardiovascular, apresenta ictus visível e palpável no 5o EIC na linha hemiclavicular esquerda, com bulhas rítmicas e normofonéticas, sem sopros. No exame abdominal, apresenta abdômen plano, doloroso a palpação em abdome inferior, porém sem viscceromegalias ou massas palpáveis, percussão e peristaltismo fisiológicos.
Para investigação diagnóstica, foi solicitado avaliação laboratorial incluindo hemograma, glicemia, PC Reativa, teste de tolerância a lactose, anticorpo de transglutaminase tecidual (tTG) para triagem de doença celíaca, provas inflamatórias, provas hepáticas e provas tireoidianas, além de exame parasitológico de fezes, marcador fecal de inflamação e pesquisa se sangue oculto nas fezes. De exames de imagem, solicitou-se colonoscopia com biopsia.
Após duas semanas, a paciente retornou ao consultório médico com os resultados dos exames, os quais ou se encontraram negativos, ou dentro do padrão de normalidade.
Então, teve-se como suspeita principal um distúrbio gastrointestinal de síndrome do intestino irritável, tendo como conduta a explicação sobre a síndrome para a paciente (mecanismos prováveis, evolução e tratamento), estímulo de mudança de hábitos de vida como o incentivo a prática de atividade física, evitar consumir alimentos que piorem o quadro e medicação sintomática a partir de antiespasmódico e antidepressivos em dose baixa.
Questões de Aprendizagem
1. Qual sua principal hipótese diagnóstica?
2. Quais são as principais indicações farmacoterapêuticas para tratamento da dor visceral?
3. Quais os mecanismos de ação dos fármacos usados para tratamento da dor visceral?