Insuficiência Cardíaca
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Tratamento
Insuficiência cardíaca é um distúrbio em que o coração não consegue suprir as necessidades do corpo, causando redução do fluxo sanguíneo, refluxo (congestão) de sangue nas veias e nos pulmões e/ou outras alterações que podem debilitar ou enrijecer ainda mais o coração.
A insuficiência cardíaca pode surgir em pessoas de qualquer idade, mesmo em crianças pequenas (sobretudo as nascidas com um defeito cardíaco). Entretanto, ela é bem mais comum entre pessoas idosas, pois elas têm mais chances de terem distúrbios que predispõem à insuficiência cardíaca (como doença arterial coronariana que danifica o músculo cardíaco) ou distúrbios das válvulas cardíacas. As alterações no coração relacionadas à idade também tendem a fazer com que o coração funcione com menos eficácia.
Os tipos de insuficiência cardíaca são classificados pela fração de ejeção (FE), que é a porcentagem de sangue bombeada para fora pelo coração a cada batimento e é uma medida de como o coração está bombeando. Um ventrículo esquerdo normal ejeta cerca de 55 a 60% do sangue de seu interior.
Na insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFER - às vezes chamada de insuficiência cardíaca sistólica):
O coração se contrai com menos força e bombeia para fora uma porcentagem menor do sangue do que retorna a ele. Como resultado, mais sangue permanece no coração. O sangue, então, acumula-se nos pulmões, veias ou ambos.
Na insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP - às vezes chamada de insuficiência cardíaca diastólica):
O coração torna-se enrijecido e não relaxa normalmente após sua contração, o que prejudica sua capacidade de se encher de sangue. O coração se contrai normalmente, então é capaz de bombear uma proporção normal de sangue para fora dos ventrículos, mas a quantidade total bombeada em cada contração pode ser menor. Algumas vezes, o coração rígido compensa seu preenchimento inadequado bombeando uma quantidade de sangue ainda maior do que normalmente faz. No entanto, por fim, como na insuficiência cardíaca sistólica, o sangue que retorna ao coração se acumula nos pulmões ou nas veias.
Insuficiência cardíaca com fração de ejeção (ICFE) é um conceito mais recente, que inclui as pessoas cuja fração de ejeção situa-se em algum ponto entre fração de ejeção preservada e reduzida.
Os distúrbios cardíacos que dão origem à insuficiência cardíaca podem afetar todo o coração ou apenas uma área. Em muitos casos, uma combinação de fatores resulta em insuficiência cardíaca.
Uma causa cardíaca comum de insuficiência cardíaca é
Doença arterial coronariana
A doença arterial coronariana pode afetar zonas extensas do músculo cardíaco, pois ela reduz o fluxo sanguíneo rico em oxigênio para o miocárdio, o qual necessita de oxigênio para poder se contrair normalmente. A obstrução de uma artéria coronária pode causar um infarto do miocárdio que destrói uma área do músculo cardíaco. Consequentemente, essa área perde a capacidade de se contrair normalmente.
Outras causas cardíacas de insuficiência cardíaca incluem
Miocardite (inflamação do músculo cardíaco)
Alguns medicamentos (por exemplo, alguns medicamentos para quimioterapia)
Algumas toxinas (por exemplo, álcool)
Valvulopatias
Uma conexão anormal entre as câmaras cardíacas (por exemplo, defeito do septo ventricular)
Distúrbios que afetam o sistema de condução elétrica do coração e causam um ritmo cardíaco anormal
Alguns distúrbios genéticos
Distúrbios que enrijecem o coração
A miocardite (inflamação do músculo cardíaco) causada por uma infecção bacteriana, viral ou de outro tipo pode lesionar o músculo cardíaco total ou parcialmente, diminuindo sua capacidade de bombear sangue.
Alguns medicamentos usados para tratar câncer e algumas toxinas (como o álcool) também podem danificar o músculo cardíaco.
As valvulopatias – estreitamento (estenose) de uma válvula, que impede o fluxo de sangue através do coração ou causar o refluxo do sangue através de uma válvula (regurgitação ou insuficiência) – podem causar insuficiência cardíaca. Tanto a estenose quanto a regurgitação de uma válvula podem submeter o coração a um grande esforço, de modo que, ao longo do tempo, o coração cresce e deixa de bombear corretamente.
A existência de uma comunicação anormal (por exemplo, defeito septal ventricular) entre as câmaras do coração pode permitir a recirculação de sangue dentro do coração, o que aumenta sua carga de trabalho e, portanto, pode causar insuficiência cardíaca.
Distúrbios que afetam o sistema de condução elétrica do coração (veja a figura Tracing the Heart's Electrical Pathway ) e causar alterações prolongadas nos ritmos cardíacos (especialmente se estes forem rápidos ou irregulares) que podem causar insuficiência cardíaca. Quando o coração bate de forma anormal, ele perde sua capacidade de bombear o sangue corretamente.
Alguns distúrbios genéticos podem afetar o coração e causar insuficiência cardíaca. Por exemplo, a distrofia muscular de Duchenne causa fraqueza do músculo cardíaco (assim como de muitos outros músculos). A síndrome de Down pode causar defeitos congênitos do coração.
A insuficiência cardíaca pode resultar de determinadas doenças que causam o enrijecimento das paredes cardíacas, como infiltrações e infecções. Por exemplo, na amiloidose, a amiloide, uma proteína anormal, penetra (se infiltra) em muitos tecidos do corpo. Se houver infiltração de amiloide nas paredes cardíacas, ocorre seu enrijecimento, o que causa insuficiência cardíaca. Em países tropicais, a infiltração de determinados parasitas no miocárdio (como na doença de Chagas) pode causar insuficiência cardíaca, mesmo em jovens.
No caso da pericardite constritiva, ocorre enrijecimento da membrana que envolve o coração (pericárdio), fazendo com que mesmo um coração saudável bombeie e receba sangue de maneira insuficiente.
A causa não cardíaca mais comum de insuficiência cardíaca é
O tratamento inadequado da hipertensão arterial
A hipertensão arterial submete o coração a maiores esforços, pois é exigida maior força do coração para bombear o sangue para as artérias contra uma pressão arterial maior. Com o tempo, as paredes cardíacas tornam-se mais espessas (hipertrofia) e/ou mais rígidas. O coração rígido é incapaz de se encher de sangue com o volume e rapidez adequados, então, a cada contração, o coração bombeia um volume menor de sangue do que o normal. O diabetes e a obesidade também causam alterações responsáveis pelo enrijecimento das paredes ventriculares.
Com o envelhecimento, as paredes cardíacas tendem ao enrijecimento. A combinação de hipertensão arterial, obesidade e diabetes, frequente entre idosos, e o enrijecimento do coração relacionado ao envelhecimento tornam a insuficiência cardíaca particularmente frequente entre idosos.
As causas não cardíacas menos comuns de insuficiência cardíaca incluem
Hipertensão arterial nas artérias dos pulmões (hipertensão pulmonar, às vezes causada por embolia pulmonar)
Anemia
Distúrbios da tireoide
Insuficiência renal
Alguns medicamentos
Alguns distúrbios pulmonares, como hipertensão pulmonar, podem alterar ou causar lesões nos vasos sanguíneos dos pulmões (artérias pulmonares). Em consequência, o lado direito do coração precisa trabalhar mais para bombear sangue para os pulmões. A pessoa pode então desenvolver cor pulmonale, um quadro clínico que provoca a dilatação do ventrículo direito e insuficiência cardíaca direita.
A obstrução súbita e grave de uma artéria pulmonar por um ou mais coágulos sanguíneos (embolia pulmonar) também dificulta o bombeamento do sangue para as artérias pulmonares e pode causar insuficiência cardíaca direita.
Anemia é uma deficiência grave de glóbulos vermelhos (número baixo de células sanguíneas). Os glóbulos vermelhos transportam oxigênio dos pulmões para os tecidos do corpo. A anemia diminui a quantidade de oxigênio que o sangue transporta, de modo que o coração precisa trabalhar mais para garantir a mesma quantidade de oxigênio aos tecidos. A anemia tem muitas causas, incluindo a insuficiência cardíaca em si.
A hiperatividade da glândula tireoide (hipertireoidismo) estimula o coração excessivamente, aumentando a velocidade dos batimentos cardíacos e impedindo que o coração se esvazie normalmente durante cada batimento. Quando a glândula tireoide está hipoativa (hipotireodismo), todos os músculos, incluindo o coração, tornam-se debilitados, pois os hormônios tireoidianos são essenciais para seu funcionamento normal.
A insuficiência renal submete o coração a maiores esforços, pois, quando os rins tornam-se incapazes de eliminar o excesso de líquido da corrente sanguínea, isso aumenta o volume de sangue a ser bombeado pelo coração. O coração pode ser incapaz de suportar o esforço extra, desenvolvendo insuficiência cardíaca.
Alguns medicamentos, como anti-inflamatórios não esteroides, podem causar retenção de líquido, o que aumenta a carga de trabalho do coração e pode levar à insuficiência cardíaca.
Diagnóstico:
Radiografia do tórax
Eletrocardiograma (ECG)
Ecocardiograma e, às vezes, outros exames de diagnóstico por imagem
Exames de sangue
O coração aumentado, a congestão dos vasos sanguíneos e acúmulo de líquido nos pulmões podem ser evidenciados por uma radiografia torácica.
Quase sempre é feito um eletrocardiograma (ECG) para determinar se o ritmo cardíaco está normal, se as paredes dos ventrículos estão mais espessas e se a pessoa sofreu um ataque cardíaco.
Um ecocardiograma, que usa ondas sonoras para produzir uma imagem do coração, é um dos melhores procedimentos para a avaliação da função cardíaca, incluindo a capacidade de bombeamento do coração e o funcionamento das válvulas cardíacas. O ecocardiograma pode indicar:
Se houve enrijecimento das paredes cardíacas e se essas são capazes de relaxar normalmente
Se as válvulas funcionam normalmente
Se as contrações ocorrem normalmente
Se há contração anormal em alguma área do coração
A ecocardiografia pode ajudar a determinar se a insuficiência cardíaca é devida à disfunção sistólica ou diastólica, pois permite que os médicos estimem a espessura e a rigidez das paredes do coração e sua fração de ejeção. A fração de ejeção, uma importante medida da função cardíaca, indica a porcentagem de sangue bombeada pelo coração a cada batimento. Um ventrículo esquerdo normal ejeta cerca de 55 a 60% do sangue de seu interior. Se a fração de ejeção for baixa (menos de 40%), a insuficiência cardíaca sistólica é confirmada. Se a fração de ejeção for normal ou alta em uma pessoa com sintomas de insuficiência cardíaca, a insuficiência cardíaca diastólica é mais provável.
Quase sempre são realizados exames de sangue. Os médicos frequentemente medem os peptídeos natriuréticos (PNs). PNs são substâncias que se acumulam no sangue na presença de insuficiência cardíaca, mas com menos frequência quando outros distúrbios que causam falta de ar estão presentes. Outros exames de sangue podem ser feitos para identificar distúrbios que podem estar causando insuficiência cardíaca.
Podem ser realizados outros procedimentos, como exame de imagem por radionuclídeos, ressonância magnética (RM), tomografia computadorizada, cateterismo cardíaco com angiografia e prova de esforço (estresse) para identificar a presença ou a causa da insuficiência cardíaca.
Tratamentos:
Dieta e mudanças no estilo de vida
Tratamento da causa da insuficiência cardíaca
Medicamentos
Às vezes, um cardioversor desfibrilador implantável, terapia de ressincronização cardíaca ou suporte mecânico circulatório
Às vezes, transplante cardíaco
O tratamento da insuficiência cardíaca exige diversas medidas gerais, além do tratamento dos distúrbios que possam causá-la, alterações no estilo de vida e o uso de medicamentos para insuficiência cardíaca.
Embora a insuficiência cardíaca seja uma doença crônica para a maioria das pessoas, muito pode ser feito para tornar a atividade física mais confortável, melhorar a qualidade de vida, minimizar o risco de piora repentina (insuficiência cardíaca aguda) e prolongar a vida. As pessoas afetadas e suas famílias devem conhecer o máximo possível sobre a doença, pois muitos cuidados devem ser realizados em casa. Em particular, eles devem saber como reconhecer os primeiros sintomas de alerta de agravamento da insuficiência cardíaca e devem estar cientes das ações que precisam tomar (por exemplo, reduzir a ingestão de sal, tomar uma dose extra de um diurético ou contatar seu médico).
A comunicação regular com os profissionais de saúde e exames médicos são fundamentais, pois a insuficiência cardíaca pode piorar repentinamente. Por exemplo, os enfermeiros podem telefonar regularmente para pessoas que têm insuficiência cardíaca para perguntar sobre mudanças no peso e nos sintomas. Dessa forma, elas podem avaliar a necessidade de uma consulta médica.
As pessoas também podem ir a clínicas especializadas em insuficiência cardíaca. Essas clínicas possuem médicos especialistas em insuficiência cardíaca que trabalham em conjunto com enfermeiras e outros profissionais de saúde, como farmacêuticos, nutricionistas e assistentes sociais, capacitados para ensinar cuidados médicos pessoais aos pacientes e seus cuidadores. Essas clínicas também podem ajudar a reduzir os sintomas e a necessidade de hospitalizações, bem como melhorar a expectativa de vida das pessoas, garantindo que elas recebam os tratamentos mais eficazes e ensinando-as a participar integralmente de seus cuidados. Esses cuidados complementam os que seriam fornecidos por clínicos gerais, porém não os substituem.
Pessoas com insuficiência cardíaca devem sempre consultar seu médico antes de usarem qualquer medicamento, mesmo os de venda livre. Alguns medicamentos (incluindo muitos dos utilizados no tratamento de artrite) podem provocar retenção de sal e líquido. Outros medicamentos podem fazer com que o coração funcione de forma menos eficiente. Esquecer-se de tomar os medicamentos necessários é um motivo comum para o agravamento dos sintomas e as pessoas devem ser informadas de estratégias para se lembrarem de tomar seus medicamentos.
Como a gripe pode causar um súbito agravamento da insuficiência cardíaca de uma pessoa, os médicos recomendam uma vacinação contra a gripe anualmente para pessoas com insuficiência cardíaca. A vacinação contra a COVID-19 também é recomendada.
O tratamento medicamentoso de insuficiência cardíaca envolve
Medicamentos para ajudar a aliviar os sintomas: diuréticos, nitratos ou digoxina
Medicamentos para ajudar a melhorar a sobrevida: inibidores da enzima de conversão da angiotensina (ECA), betabloqueadores, antagonistas da aldosterona, bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRAs), inibidores da neprilisina e dos receptores da angiotensina (INRAs), inibidores do cotransportador de sódio-glicose tipo 2 (SGLT2s), inibidores do nó sinusal
Pessoas com edema pulmonar precisam receber oxigênio, que é administrado por meio de uma máscara especial em alguns casos. Ocasionalmente, um tubo pode ser inserido na via aérea para a instalação de um ventilador mecânico para auxiliar a função respiratória.
Às vezes, os médicos implantam um pequeno dispositivo de monitoramento no tórax das pessoas com insuficiência cardíaca grave. O monitor mede continuamente a pressão em seus pulmões, o que pode ajudar o médico a fazer ajustes em seus medicamentos. O dispositivo é especialmente útil em pessoas com episódios recorrentes de insuficiência cardíaca e coexistência de insuficiência renal.
O transplante de coração pode ser uma alternativa para pessoas que sofrem de insuficiência cardíaca muito grave com agravamento progressivo e que não responderam ao tratamento medicamentoso.
Dispositivos mecânicos que ajudam a bombear sangue são usados em certas pessoas com insuficiência cardíaca grave que não respondem ao tratamento medicamentoso. Os tipos de dispositivos incluem
Bomba de balão intra-aórtica de contrapulsação (IABP, às vezes também chamada de bomba de balão): um balão em formato de salsicha na ponta de um cateter é colocado na aorta. Uma máquina monitora os batimentos cardíacos e insufla o balão quando o coração relaxa e esvazia quando o coração se contrai, o que facilita o bombeamento de sangue pelo coração.
Dispositivos de assistência ventricular: diferentes bombas mecânicas podem ser implantadas dentro ou próximas ao ventrículo direito ou esquerdo para ajudar o coração a bombear o sangue.
Dispositivos de assistência intravascular: pequenas bombas podem ser implantadas dentro de vasos de grande porte, como a aorta, para ajudar a bombear o sangue.
Oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO): um dispositivo semelhante a uma máquina de ponte cardiopulmonar retira o sangue de uma artéria de grande porte, bombeia‑o através de uma membrana que permite a passagem do oxigênio para o sangue e depois bombeia-o de volta para uma veia de grande porte.