Doutor Jivago


Doctor Zhivago (1965)

Dirigido por David Lean.

Roteiro de Robert Bolt. Adaptação do livro "Doctor Zhivago", de Boris Pasternak.

Elenco:
Omar Sharif .... Yuri Jivago
Julie Christie .... Lara Antipova
Rod Steiger .... Victor Komarovsky
Geraldine Chaplin .... Tonya
Alec Guiness .... general Yevgraf Jivago
Tom Courtenay .... Pasha Strelnikov
Ralph Richardson .... Alexander Gromeko
Siobhan McKena .... Ana

Música por Maurice Jarre
Diretor de Fotografia: Freddie Young
Editado por Norman Savage

Produção: Metro-Goldwyn-Mayer
Produção de Carlo Ponti e Sostar SA
Distribuído por Metro-Goldwyn-Mayer

Datas de filmagem: 28 de dezembro de 1964 - 7 de outubro de 1965
Data de lançamento: 22 de dezembro de 1965 (EUA)
Tempo de execução: 193 minutos (versão de 1965); 200 minutos (relançamento de 1992)
País: Reino Unido, Itália
Língua: Inglês, russo
Despesas: $ 11 milhões
Bilheteria: $ 111,7 milhões (EUA / Canadá); 248,2  milhões de ingressos (em todo o mundo)

Especificações técnicas:
Tempo de execução:
3 h 17 min (197 min)
3 h 13 min (193 min) (UK)
3 h 12 min (192 min) (relançamento de 1999) (UK)
3 h 20 min (200 min) (relançamento de 1992) (REINO UNIDO)
Mixagem de Som: Estéreo de 3 canais (sistema de gravação Westrex) (5.0) (LR)
Cor: Cor (Metrocolor)
Proporção da tela: 2,20: 1 (impressões de 70 mm); 2,35: 1
Câmera: Lentes Panavision
Laboratório: Metrocolor, Culver City (CA), EUA (cor)

Sinopse:
O filme conta sobre os anos que antecederam, durante e após a Revolução Russa de 1917 pela ótica de Yuri Zhivago (Omar Sharif), um médico e poeta. Yuri fica órfão ainda criança e vai para Moscou, onde é criado. Já adulto se casa com a aristocrática Tonya (Geraldine Chaplin), mas tem um envolvimento com Lara (Julie Christie), uma enfermeira que se torna a grande paixão da sua vida. Lara antes da revolução tinha sido estuprada por Victor Komarovsky (Rod Steiger), um político sem escrúpulos que já tinha se envolvido com a mãe de Lara, e se casou com Pasha Strelnikoff (Tom Courtenay), que se torna um vingativo revolucionário. A história é narrada em flashback por Yevgraf de Zhivago (Alec Guiness), o meio-irmão de Yuri que procura a sua sobrinha, que seria filha de Jivago com Lara.

Locais de filmagem:

Prêmios:
Prêmios da Academia, EUA 1966
Oscar (vencedor):

Oscar (indicações):

Globo de Ouro, EUA 1966
Globo de ouro (vencedor):

Indicado ao Globo de Ouro - Novato mais promissor: Geraldine Chaplin.

BAFTA Awards 1967 (indicado):
Melhor filme de qualquer fonte: David Lean
Melhor ator britânico: Ralph Richardson
Melhor atriz britânica: Julie Christie

Sociedade Britânica de Cinematographers 1966
Vencedor do prêmio de melhor fotografia: Freddie Young

Cannes Film Festival 1966
Nomeado (Palme d'Or): David Lean

Prêmio David di Donatello de 1967 (Vencedor):
Melhor Produção Estrangeira: Carlo Ponti
Melhor Diretor Estrangeiro: David Lean
Melhor atriz estrangeira: Julie Christie, empatada com Elizabeth Taylor por A Megera Domada (1967).

Links:
https://www.imdb.com/title/tt0059113/reference
https://en.wikipedia.org/wiki/Doctor_Zhivago_(film)
https://vimeo.com/78982369


É possível alugar o filme, legalmente, no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=XkgDy6jWrFs

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Resenha do filme (com spoiler):

"Doutor Jivago", sob a maestria de David Lean, desponta como uma obra cinematográfica imponente, imersa nos meandros de um romance histórico épico. Inspirado na genialidade literária de Boris Pasternak, o filme tece uma trama envolvente que transcende os limites temporais e geográficos, mergulhando o espectador em um turbilhão de emoções e reflexões.

No epicentro da narrativa, encontra-se a figura de Yuri Zhivago, um médico e poeta imerso nos tumultuados eventos da Revolução Russa. Sua jornada pessoal entrelaça-se com os acontecimentos históricos que moldaram a Rússia do início do século XX, enquanto ele luta para conciliar seus ideais, amores e deveres em meio ao caos político e social que assola sua pátria.

Através de uma cinematografia deslumbrante, David Lean transporta o público para os vastos cenários russos, onde as paisagens gélidas refletem a frieza dos corações e os momentos de calor humano são raros e preciosos. A trilha sonora envolvente, permeada por notas de melancolia e esperança, amplifica as emoções vividas pelos personagens, enquanto a direção de arte meticulosa recria com fidelidade os ambientes decadentes da Rússia revolucionária.

Em meio a esse cenário de tumulto e transformação, floresce uma história de amor proibido entre Yuri e Lara, entrelaçando destinos em uma teia de paixão e sacrifício. Seus encontros furtivos e juras de amor resistem às adversidades, desafiando as convenções sociais e políticas de uma era marcada pela opressão e a tirania.

"Doutor Jivago" é mais do que um mero filme; é uma jornada emocional e intelectual que nos convida a refletir sobre os dilemas universais da humanidade: amor versus dever, liberdade versus opressão, esperança versus desespero. Por meio de performances cativantes e diálogos profundos, o filme ressoa além das telas, ecoando na alma do espectador muito tempo após os créditos finais terem rolado.

"Doctor Zhivago" recebeu críticas mistas na época de seu lançamento. Alguns críticos contemporâneos questionaram sua longa duração, com mais de três horas, e afirmaram que o filme banalizou a história. No entanto, eles reconheceram a intensidade da história de amor retratada e o tratamento dos temas humanos. O filme recebeu cinco prêmios no 38º Oscar: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte e Melhor Figurino. Apesar disso, David Lean, injustamente, não recebeu o prêmio de Melhor Diretor, e Omar Sharif, com seus magníficos olhos lacrimejantes, merecia, no mínimo, uma indicação. Também seria justo o Oscar de Melhor Filme, entretanto deram preferência por um musical; foi uma das maiores injustiças da história do Oscar.

O filme recebeu críticas diversas na época de seu lançamento. Alguns críticos contemporâneos questionaram sua longa duração, ultrapassando as três horas, e argumentaram que o filme talvez tenha diluído a essência da história. No entanto, reconheceram a intensidade da trama amorosa retratada e a profundidade dos temas humanos explorados. Na cerimônia do 38º Oscar, o filme foi agraciado com cinco prêmios, incluindo Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte e Melhor Figurino. Todavia, é pertinente ressaltar que David Lean, injustamente, não recebeu o prêmio de Melhor Diretor, enquanto a performance de Omar Sharif, com seus olhos expressivos, merecia, no mínimo, uma indicação. Além disso, a exclusão de "Doutor Jivago" da categoria de Melhor Filme, em favor de um musical, pode ser considerada uma das mais notáveis injustiças na história do Oscar.

Franqueza é a alma da crítica, e não podemos deixar de notar a infelicidade na escolha da atriz Rita Tushingham para dar vida à jovem figura que permeia a abertura e o desfecho do filme, possivelmente a filha de Yuri e Lara. Tal escolha revela-se desafortunada, pois os traços do rosto de Rita não ecoam em harmonia com a marcante fisionomia de Omar Sharif e Julie Christie.

Um equívoco evidente, que poderia ter sido facilmente evitado, foi a escolha do talentoso Alec Guinness como o irmão mais velho de Yuri. Embora sua idade avançada possa ter sido adequada na abertura e na conclusão do filme, ao longo da narrativa, sua maturidade se torna evidente demais. Nem a maquiagem no rosto do ator conseguiu camuflar algo tão evidente. Quanto a Julie Christie, no papel de Lara, destaca-se o descompasso entre sua idade durante as filmagens - aproximadamente 24 anos - e a idade da personagem no início da trama, que dificilmente ultrapassaria os 19 anos. Este contraste resulta na percepção de um semblante maduro no início do filme, especialmente evidente durante a cena em que ela tenta assassinar Komarovsky. No entanto, ao final da história, ocorre o oposto: Julie aparenta ser jovem demais, sem qualquer maquiagem que acentue a passagem dos anos no rosto de Lara.

O filme é primoroso na fusão de cenas. Ou seja, quando uma cena se sobrepõe a outra aos poucos. Por exemplo, logo no início vemos o rosto do garoto Yuri se fundindo com aquilo que o Yuri adulto observa através do microscópio. Ou então, no meio do filme, o close up de uma flor amarela se funde com o rosto iluminado de Lara que observa a chegada de Yuri à biblioteca.

O talento de David Lean está evidente em cada cena do filme. Uma delas ocorre quando a cavalaria mata várias pessoas durante um protesto na rua, e o rosto em close up de Yuri Jivago aterrorizado observa toda a violência.  Já no tempo de metragem 1:16:12 (na versão em que aparece a música de abertura) vemos uma cena de batalha e, de repente, um óculos cai no solo sobre a neve. O efeito é fabuloso. Poucos diretores possuem talento para isso, enquanto que David Lean tinha de sobra e provou isso em vários filmes. Outra cena marcante: após Yuri se despedir da enfermeira Lara, ele, entristecido, se afasta no ambiente que está penumbra, e em primeiro plano, um vaso de flores amarelas deixa cair diversas pétalas. E mais: Jivago e sua família chegam à estação de Varykino e vemos o trem, em perspectiva, se afastando. Ou, pouco depois, a família na carruagem se aproximando da casa lacrada em Varykino. Temos também, próximo do final, a tela escura é iluminada pela cena da garotinha em primeiro plano brincando com um cavalo de madeira grande, e ao fundo vemos Yuri e Lara sentados, obervando a filha dela.

Uma das cenas mais marcantes da história do cinema ocorre durante a madrugada na casa congelada: Jivago acorda, levanta-se e começa a escrever poesias para sua amada. Enquanto o poeta apaixonado escreve, ele ouve os uivos dos lobos do lado de fora. O cinéfilo que não ficar tocado por essa cena noturna inesquecível deve ser muito insensível ou não entender nada de cinema.

Algumas sequências de inverno, principalmente cenas de paisagem e a fuga de Yuri dos guerrilheiros, foram filmadas na Finlândia. Já as cenas de inverno da família viajando de trem para Yuriatin foram filmadas no Canadá.

A trilha sonora do filme, composta por Maurice Jarre, é inesquecível. Destaca-se especialmente o "Tema de Lara", uma melodia romântica e cativante que se tornou um dos temas musicais mais icônicos do cinema. A música de Jarre intensifica as emoções e complementa perfeitamente a narrativa romântica do filme.

"Doutor Jivago" é um filme que dividiu opiniões na época de seu lançamento, mas conquistou reconhecimento ao longo dos anos. Com sua narrativa romântica e épica, bem como sua impressionante produção e cinematografia, o filme continua a ser apreciado como um marco do cinema. Sem dúvida, é um dos melhores filmes do cineasta David Lean. Não deixe de ver!