Artigo 3

FILM NOIR


Em 1997, como era previsto, a superprodução “Titanic”, de James Cameron, ganhou o Oscar de melhor filme e melhor diretor, vencendo seu maior rival: “Los Angeles - Cidade Proibida”, de Curtis Hanson. Contudo, se você aceita uma sugestão, eu ofereço uma: não seja influenciado pelo Oscar, assista “Los Angeles”, é um ótimo filme, que retomou um gênero de filme raríssimo nos últimos 40 anos: o “film noir”.

O termo foi inspirado em uma coleção de livros policiais — “Série Noire” — de autores como Dashiell Hammett e Raymond Chandler, e usado pela primeira vez pelo crítico Nino Frank em um artigo para o “L’Écran Français”. Mais precisamente, foram os críticos franceses do “Cahiers du Cinéma” (formado pelos diretores da “Nouvelle Vague”) que, seduzidos pelas qualidades artísticas e estéticas desses filmes norte-americanos, exaltaram o “film noir”.

O leitor mais curioso deve estar querendo saber o que é exatamente o filme “noir”. Bem, em essência, é uma trama policial, filmada em preto-e-branco, onde detetives, policiais e de outra profissão qualquer, acompanhados por mulheres inescrupulosas (algumas, como as esposas, insípidas; outras, as amantes, inteligentes, sensuais e perigosas), andam por ambientes sórdidos dos anos 1940 e 1950. O filme pode começar com um narrador que não aparece ou pelo protagonista que narra, em “flash-backs” (fatos passados que tem relação com a situação presente), toda a história. É importante ressaltar que uma trama com final feliz dificilmente poderá ser chamada de filme “noir”.

Não há um consenso entre os críticos de cinema sobre qual filme é ou não “noir’. O único acordo parece ser quanto ao início (1941) e o final (1958). Nesse período desfilaram pela tela grande artistas famosos e outros menos cotados trocando tiros, socos, beijos, insultos, tramando assassinatos, adultério, corrompendo e sendo corrompidos.

Particularmente, prefiro considerar “Relíquia Macabra”/1941 como o filme que inaugurou o cinema “noir”. Marcou a estréia do diretor John Huston e foi estrelado por Humphrey Bogart, aquele que pode ser considerado como o homem “noir” por excelência: pela sua fisionomia triste, amarga, desesperançada e personalidade implacável. Bogart fizera no mesmo ano “Seu Último Refúgio” e depois faria “À Beira do Abismo”/1946 e “Horas de Desespero”/1955 (clássico de Wílliam Wyler); neste último, Bogart faz um bandido que invade a casa de Fredric March.

John Huston voltou ao cinema “noir” com um filme muito superior àquele de 1941, trata-se de “O Segredo das Jóias”/1950, sempre lembrado pelo final triste e poético do personagem de Sterling Hayden.

Perfeito exemplar de narrativa em “flash-back” e do homem que pensava ser muito esperto mas que sucumbe diante da mulher fatal, “Pacto de Sangue”/ 1944, de Billy Wilder, com Fred MacMurray e Barbara Stanwyck, é uma fita marcante por trazer todos os ingredientes de um legítimo “film noir”.

Outros exemplares da época: “Ódio que Mata”/1944; “Concerto Macabro”/1945; “Os Assassinos”/1946 (com Burt Lancaster e Ava Gardner), foi refilmado em 1964, com Lee Marvin e Ronald Reagan); “O Destino Bate à Porta”/1946 (clássico com LanaTurner, refilmado em 1981, com Jack Nicholson e Jessica Lange — eu acho superior esta versão dirigida por Bob Rafelson); “Uma Vida Marcada”/1948; “Fuga do Passado”/1947 (com Robert Mitchum e Kirk Douglas); “A Dama de Xangai/1946 (com Orson Welles e Rita Hayworth); “Sombras do Mal”/1950 (com Richard Widmark e Gene Tierney); “Cinzas que Queimam”/1951; “Os Corruptos”/1953 (com Glenn Ford); “Anjo do Mal”/1953; “O Grande Golpe”/1956 e, fechando o ciclo, “A Marca da Maldade”/1958 (com Charlton Heston e Orson Welles).

Alguns filmes posteriores a 1958, apesar de coloridos, possuem todas as características do “fim noir”: “À Queima-Roupa”/1967 (com Lee Marvin e Angie Dickinson); “Chinatown”/1974 (com Jack Nicholson e Faye Dunaway) e “Corpos Ardentes”/1981 (com William Hurt, Kathleen Turner e Richard Crenna).

Escrito por Hildebrando Martins em 1998

e atualizado em 2003

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