VISÃO DO ENFERMEIRO DIANTE DO ATENDIMENTO DE VITIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Data de postagem: Oct 28, 2016 6:16:45 PM

FACULDADES INTEGRADAS DO EXTREMO SUL BAHIA

LAISA ABADE DO NASCIMENTO

VISÃO DO ENFERMEIRO DIANTE DO ATENDIMENTO DE VITIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

EUNÁPOLIS, BA

2015

LAISA ABADE DO NASCIMENTO

VISÃO DO ENFERMEIRO DIANTE DO ATENDIMENTO DEVITIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Projeto de Pesquisa apresentado ao curso de graduação em Enfermagem das Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia, com requisito para elaboração do trabalho de conclusão de curso.

Orientação: Diego Leal.

EUNÁPOLIS, BA

2015

LAÍSA ABADE DO NASCIMENTO

VISÃO DO ENFERMEIRO DIANTE DO ATENDIMENTO DEVITIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Enfermagem das Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia como parte dos requisitos para a obtenção do Título de Bacharel em Enfermagem.

Professor Mse. Diego Rosa Leal ( Faculdade do Extremo Sul da Bahia)

Profº( Faculdade do Extremo Sul da Bahia)

______________________________________________________

Profº( Faculdade do Extremo Sul da Bahia)

______________________________________________________

Professora Maria Cristina Marques, Coordenadora do curso de Enfermagem Eunápolis–Ba

______________________________ DATA: ___/___/___

Dedico este trabalho primeiramente a Deus quem me deu força pra chegar até aqui

Aos meus pais, meu irmão, meus amigo e tias quecom muito carinho е apoio, me deram incentivos para que não fraquejassem no meio do caminho e não mediram esforços para que eu que eu alcançasse mais esse objetivo.

AGRADECIMENTOS

Quero agradecer a Deus, que com sua infinita bondade e misericórdia, tem me ajudado nessa trajetória árdua, porém doce. Agradeço a minha base, que são os meus pais, Zélia Abade, Jurandir Paraguassu e meu irmão Laionardo Abade, pois esse sonho foi sonhado e buscado por mim e por eles, que com os seus conselhos, puxões de orelha, amor incondicional e a vontade de ver a sua filha vencer, não mediram esforços para me ajudar na realização desse objetivo.

Por fim, deixo meu singelo obrigado aos meus amigos, familiares, companheiros de trabalho e colegas da faculdade, pois todos estes foram determinantes direta ou indiretamente na concretização exitosa dessa caminhada. Hoje declaro que minha vitória tem sabor especial e que se deve lutar para conquistar aquilo que se almeja, mesmo diante das adversidades apresentadas pela vida. Esse capítulo da história termina aqui, mas logo outro será escrito.

Aomeu professor orientador, Diego Rosa, pelos ensinamentos, dedicação para concretizar a monografia, pela paciência, incentivo, apoio, amizade e compreensão, e por uma empatia em relação ao tema proposto sempre estando disponível para qualquer dúvida e sempre auxiliando de forma clara e objetiva.

A todos os professores do curso, que foram tão importantes na minha vida acadêmica e no desenvolvimento desta monografia.

”Enfermagem é a arte de cuidar incondicionalmente, é cuidar de alguém que você nunca viu na vida, mas mesmo assim, ajudar e fazer o melhor por ela. Não se pode fazer isso apenas por dinheiro... Isso se faz por e com amor!”

Florence Nightingale

RESUMO

A violência doméstica significa uma agressão por sentimentos ou insatisfações por partes de companheiros com algum problema que venha a afetar o convívio intrafamiliare é um grande problema de saúde publica em nosso país. Tal pesquisa trata-se de verificar os sentimentos, ações e expressões que os profissionais da área de saúde, fazem ao receber uma paciente vitima de violência domestica. O estudo será desenvolvido no município de Eunápolis, sendo realizados em Unidades Básicas de Saúde, de bairros onde temos maiores números de casos de violência domestica nesse município. Na pesquisa será utilizado um roteiro baseado em uma entrevista realizada com os profissionais de saúde, contendo dez questões sendo objetivas e subjetivas, para melhor entendermos os sentimentos e ações achadas pelos enfermeiros no processo de sistematização de enfermagem, para este paciente. O presente estudo visa analisar o comportamento dos enfermeiros diante de vitimas de violência domestica, no município de Eunápolis e os seus comportamentos perante a eles.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO

2 METODOLOGIA

2.1 TIPO DE ESTUDO

2.2 LOCAL DO ESTUDO

2.3 INSTRUMENTO E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

2.4 ASPECTOS ÉTICOS

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

3.2 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA AS MULHERES E OS SEUS EFEITOS EMOCIONAIS

3.3.1 Fase 1: Evolução da tensão

3.3.2 Fase 2: Incidente de agressão

3.3.3 Fase 3: Comportamento Gentil e Amoroso

3.4 PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO DIANTE DE VITIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

3.5 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM PARA AS VITIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

3.5.1 Relato de Caso

3.5.2 Abordagem Terapêutica

3.5.3 Acolhimento e Consulta de Enfermagem

3.5.4 Diagnósticos de Enfermagem

3.5.5 Intervenções de enfermagem

4 DISCUSSÃO

5 CONCLUSÃO

6 REFENCIAL BIBLIOGRAFICO

ANEXOS I

1INTRODUÇÃO

A violência doméstica contra mulheres é um problema que atinge muitos lares, de maneira silenciosa. A agressão, muitas vezes, ocorre por companheiros de relacionamentos, e vem crescendo a cada dia, por medos ou anseios que as vítimas apresentam em procurarem o cuidado adequado e o suporte psicológico para enfrentarem essa situação.

Violência Doméstica, segundo alguns autores, é o resultado de agressão física ao companheiro ou companheira. Para outros o envolvimento de crianças também caracterizaria a Violência Doméstica. A vítima deste tipo de Violência, geralmente, tem pouca autoestima e se encontra atada na relação com quem agride, seja por dependência emocional ou material. O agressor geralmente acusa a vítima de ser responsável pela agressão, a qual acaba sofrendo uma grande culpa e vergonha. A vítima também se sente violada e traída, já que o agressor promete, depois do ato agressor, que nunca mais vai repetir este tipo de comportamento, para depois tornar a repeti-lo (GAUDERER;MORGADO, 1992).

Uma das dificuldades encontradas pelos profissionais de saúde que lidam com situações de violência é a falta de uma linguagem e de conceitos que reúnam o conhecimento médico ao de outras áreas, como a social e jurídica (GAUDERER;MORGADO, 1992).

Os profissionais de enfermagem vêm empreendendo esforço para melhor atender as vítimas de agressão doméstica que criam coragem de chegar até uma Unidade de Saúde, à procura de um atendimento e um acolhimento por parte dos profissionais. O enfermeiro, em certos casos, tem dificuldades de criar um plano de cuidados, por ficarem comovidos com os casos e se sentirem impotentes.

É preciso chamar atenção também para a violência que resulta na falta de informação adequada ou até por resistência das vítimas, falta de qualidade ou inadequação do atendimento prestado e ao suporte que lhe é prestado.

É de grande importância que o enfermeiro conheça a realidade vivida pelas mulheres em suas famílias, não só no sentido de combater a violência, mas de melhorar a qualidade de vida dessas mulheres, tornando-as mais encorajadas para aceitarem a situação que se encontram e verem que há uma possibilidade de mudança.

Portanto, através deste estudo buscou-se revelar as experiências e os sentimentos de enfermeiros que atuam na Unidade Básica de Saúde quanto ao atendimento as vitimas de violência doméstica e como eles prestam essa assistência juntamente com a equipe multidisciplinar.

O interesse de realizar este estudo foi motivado pela curiosidade relacionada aos sentimentos dos enfermeiros diante das mulheres que sofreram violência doméstica, visto que, existe uma real dificuldade em lidar com estes casos dentro de uma Unidade Básica de Saúde.

Nos últimos anos, os profissionais de enfermagem, tentam criar um plano de cuidado especifico para atender as vitimas de agressão, mas não conseguem por dificuldades que as próprias pacientes apresentam ao chegarem nas Unidade Básica de Saúde.

Por este motivo, visamos entender quais são os sentimentos e objetivos nos quais os enfermeiros baseiam-se pra realizar uma assistência de enfermagem adequada a estes pacientes, sendo assim, contribuindo para a capacitação dos profissionais que atuam com estas vítimas, sensibilizando para a realização de inclusão destes assuntosnas discussões de educação permanente e verificar ações que são realizadas para a resolução deste problema.

Pretende-se também citar os relatosdos comportamentos dos profissionais de enfermagem diante de pacientes que sofreram ou sofrem a violência doméstica, identificar os principais sentimentos que os profissionais despertam ao receberem casos de violência doméstica, verificar qual o significado para osprofissionais de enfermagem no cuidado às pacientes agredidas e relatar as principais dificuldades encontradas pelos profissionais para a realização da assistência de enfermagem.

2 METODOLOGIA

2.1 TIPO DE ESTUDO

A presente pesquisa trata-se de um Relato de Caso Revisão Literária sobre o a visão do enfermeiro na assistência a paciente vitimas de violência domestica. Adotou-se princípios de pesquisas artigos relacionados ao tema, manuais e sites do Ministério da Saúde, a Organização Mundial da Saúde.

2.2 LOCAL DO ESTUDO

O presente estudo foi desenvolvido na cidade de Eunápolis, localizada no interior do estado da Bahia, na Instituição de Ensino das Faculdades Integradas do extremo Sul da Bahia, que está localizada na BR- 367.

2.3 INSTRUMENTO E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

Foi realizada pesquisa bibliográfica da literatura, abrangendo relatos de casos, estudo de casos, artigos de revisão, artigos originais e livros, publicados nos últimos anos.

Foram utilizados artigos sobre violência doméstica, destacando-se em atuação do enfermeiro, os sentimentos que sentem as vítimas e o contexto em si do que é violência doméstica, sendo assim com ênfase em sites de pesquisas cientificas como Scielo, Biblioteca Virtual, entre outras.

De primeiro instante foi realizada uma leitura exploratória de todo o material selecionando era de interesse para o trabalho. Logo em seguida uma leitura mais aprofundada das partes que realmente interessa e assim registrando as informações extraídas das fontes de instrumentos.

A fim de restringir a busca, foram mantidos os artigos e publicações que obedeciam aos critérios de relevância e atualidade para melhor enfatizar a pesquisa.

2.4 ASPECTOS ÉTICOS

Houve um comprometimento em citar autores utilizados no estudo respeitando a norma brasileira regulamentadora 6023 que dispõe sobre os elementos a serem incluídos e orientar a complicação e produção de referências. Os dados coletados foram utilizados exclusivamente com a finalidade cientifica.

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Na atualidade, em razão de vários fatos ocorridos no Brasil, temos presenciado um sensacionalismo muito grande por parte dos meios de comunicação, principalmente pela mídia (BARROS,2009).

A violência doméstica é um problema que atinge milhares de crianças, adolescentes, e mulheres. Sendo um problema universal que abrangeinúmeras pessoas, e muitas vezes de forma silenciosa e dissimulada (BARROS, 2009).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define violência como o uso intencional de força ou de poder físico propriamente dito, ou como ameaça contra si mesmo, contra outra pessoa, grupo ou comunidade, que cause ou tenha muita probabilidade de causar lesões, morte, danos psicológicos, transtornos de desenvolvimento ou privações. Porém, esse é um fenômeno complexo, pois a noção do que são comportamentos aceitáveis e inaceitáveis, agressivos ou não, ou que constituem um dano, está influenciada pela cultura e encontra-se em um processo de contínua revisão na medida em que os valores e as normas sociais se modificam (OMS,2002).

[...] contexto familiar, apresenta-se como negligência, abuso sexual ou violência física contra crianças e adolescente, contra mulheres, idosos e pessoas com necessidades físicas e mentais, constituindo um importante impacto no bem-estar físico e emocional[...](SALCEDO-BARRIENTOS et. al,2011).

Segundo Morgado (2001), trata-se de um fenômeno antigo, presente em todas ascategorias de classes sociais e em todas as sociedades, desde as mais desenvolvidas até as mais vulneráveis economicamente. Trata-se de um problema que atinge ambos os sexos e não costuma obedecer a nenhum nível social, econômico, religioso ou cultural específico (MORGADO,2002).

Sua importância é relevante sob dois aspectos: primeiro, devido ao sofrimento indescritível que imputa ás suas vítimas, muitas vezes silenciosa; E em segundo, os motivos da violência doméstica incluem a Negligência Precoce e o Abuso Sexual, influenciando na manifestação de déficit sem detrimento de um bom desenvolvimento físico e mental da vítima (MOURA, 2008).

A violência baseada no gênero é aquela decorrente das relações entre mulheres e homens, e geralmente é praticada pelo homem contra a mulher, mas pode ser também da mulher contra mulher ou do homem contra o homem. (SCHRAIBER et. Al. 2005).

Sua característica fundamental está nas relações de gênero, onde o masculino e o feminino são culturalmente construídos e determinam a violência. (SILVA,2006).

A violência doméstica segundo alguns autores é o resultado de agressão física, ao companheiro ou a companheira. Para outros o envolvimento de crianças também caracteriza a Violência Doméstica. A vítima de violência, na maioria dos casos, manifesta baixa autoestima e se encontra atada na relação com quem agride, seja por dependência emocional ou material. O agressor, aquela acaba sofrendo uma grande culpa e vergonha (SCHRAIBER et. Al. 2005).

Como reflete alguns autores, a necessidade de atenção para os riscos, a situação preponderante, e os agressores em potencial, independente de onde se pode partir:

[...] ocorre no ambiente doméstico, nas relações entre pessoas da família eenvolve homens, mulheres, pais, mães e filhos, jovens, idosos e portadores de deficiência. A violência doméstica pode ser praticada por empregados, agregados, pessoas que conhecem as vítimas e que frequentam diariamente ou esporadicamente o domicílio. Diferencia-se da intrafamiliar porque a violência doméstica inclui como agressores outras pessoas conhecidas sem parentesco.(FERRAZ et al, 2009).

O perfil do agressor é caracterizado por autoritarismo, falta de paciência, irritabilidade, grosserias e xingamentos constantes, ou acompanhados de alcoolismo e uso de outras drogas (SILVA,2006).

A mulher se sente violada e traída, já que o agressor promete, depois do ato, que nunca mais vai repetir este tipo de comportamento, para novamente repeti-lo. A personalidade desestruturada para um convívio familiar do agressor, que não sabe como lidar com as pequenas frustrações eu essas relações causam no decorrer do cotidiano (D’OLIVEIRA, 2000).

É possível que uma das razões mais importantes disso, decorra nas idéias de Schraiber (2005) de uma experiência singular, singularidade esta que faz com que, mesmo nos dias atuais, apesar de apresentar-se a violência enquanto um grande problema social, a especificidade da violência contra mulheres não possui ainda, um lugar social e um campo de intervenção e de saberes que a reconheçam como objeto seu (SCHRAIBER et. Al. 2005).

De acordo com a Cartilha Combate a violência à mulher (2011), classifica alguns tipos de violência, que estão no contexto de violência domestica contra mulheres como:

1 - Violência psicológica: causar dano emocional, diminuir a autoestima, prejudicar e perturbar o pleno desenvolvimento pessoal, degradar ou controlar comportamentos, ações, crenças e decisões mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação e isolamento, tirando a liberdade de pensamento ou ação;

2 - Violência física: ofender a integridade ou a saúde corporal, bater, chutar, queimar, cortar, mutilar;

3 - Violência moral: ofender com calúnias, insultos ou difamação – lançar opiniões contra a reputação moral, críticas mentirosas e xingamentos;

4 - Violência patrimonial: reter, subtrair, destruir parcial ou totalmente objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos;

5 - Violência sexual: presenciar, manter ou obrigar a participar de relação sexual não desejada mediante intimidação, ameaça coação ou uso da força que induza a mulher a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade.

A violência contra a mulher refere-se a situações tão diversas como a violência física, sexual e psicológica, a prática de tradição nos relacionamentos amorosos em especial, a violência cometida por pessoas íntimas que envolvem também filhos, pais, sogros e outros parentes que vivem na mesma casa, o que chamaríamos de violência doméstica (D’OLIVEIRA, 2000).

3.2 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA AS MULHERES E OS SEUS EFEITOS EMOCIONAIS.

A violência não é doença, no entanto propicia e perpetua doenças emocionais, como estresse, baixa autoestima, depressão, ansiedades, disfunções sexuais, distúrbios alimentares e desordens de personalidade, que colocam a vida efetivamente em risco. Trata-se, pois de um problema de saúde coletiva e também da assistência á saúde das mulheres (TEIXEIRA, 2008).

Muitas mulheres vitimas de violência doméstica, se acostumam com as mais diversas formas de violência, passando a não se valorizar mais, não acreditam em seu potencial e não procuram ajuda.

No contexto dos atendimentos em saúde, é muito difícil que a violência doméstica apareça com clareza durante os atendimentos, e mais ainda que esse problema seja abordado pelo profissional, ou que seja registrado em prontuário e transformado em objeto de alguma conduta ou encaminhamento.

Quando as mulheres que estão sofrendo violência procuram os serviços de saúde, muitas vezes não revelam espontaneamente essa situação. Isso ocorre tanto porque é bastante difícil falar sobre a violência, quanto porque não tem sido experiências das mulheres o crédito e o acolhimento diante dessa revelação nesses espaços (SCHRAIBER et. Al. 2005).

Dessa forma surge uma imensa dificuldade por parte das mulheres, por não acreditarem ou não confiarem nos atendimentos prestados a elas, diante de delegacias ou até mesmo nas unidades básicas de saúde. É importante ter em mente que cuidar da mulher e do grupo familiar a que ela pertence inclui necessariamente com a violência doméstica, que é um contexto composto de sofrimento e doenças emocionais (SANTOS, 2008).

Algumas mulheres vitimas de violência doméstica não conhecem os seus direitos diante situações vividas quase que diariamente. A violência doméstica é muito mais que um simples abuso físico entre casais, sendo uma grande exposição do poder entre a pessoa que aplica a violência e seu executado (RAMOS, 2003).

Na visão de Ramos (2003), seria de vital importância que as mulheres agredidas pudessem ou tivessemcoragem de enfrentar seus companheiros e tomassem finalmente a decisão de levá-lo a justiça para que a mesma tomasse as medidas cabíveis nessa situação.

A falta de informação, insegurança, a dependência financeira faz com que muitas mulheres, vítimas de violência doméstica, desistam de tentar ter uma vida menos conturbada. Seria necessário que essas mulheres fossem decididas para, quando chegassem o momento de sair de casa, não voltassem atrás. Infelizmente os relacionamentos que envolvem violência são destrutivos e muitas dessas mulheres permitem estar ou continuar nessa relação que só traz perdas, traumas, mágoas chegando a ponto de não mais diferenciarem o bom do ruim, ou seja, o que faz bem ou mal (RAMOS,2003)

Quando a mulher desvaloriza tudo que é e que pode realizar, é como se deixasse de ter a vida própria para viver somente de acordo com aquilo que o companheiro concorda como certo, e desta forma, as mulheres abrem mão de seus “eus”, e quando chegam a este estado de indiferença consigo mesmas, já não mais tem auto respeito e muito menos a capacidade de se amar primeiramente, e isso acontece não só porque a mulher permite que o outro não a respeite, mas sim, porque rompeu com os próprios desejos (PAPILA e OLDS, 2000).

A mulher agredida precisa reagir e ver que permanecer no contexto de violência domestica é uma escolha que a machuca, e que a faz se sentir ao fundo do poço, sem vontade de viver, porém pode ensinar a crescer, desde que esteja pronta a reconhecer os erros e reagir diante desta situação (D’OLIVEIRA, 2000).

3.3 CICLO DA VIOLÊNCIA

Conforme o Manual de Violência Intrafamiliar a definição do contexto ciclo da violência incorre como sendo, uma importâncianas demarcações dos propensos papéis hierárquicos onde confere na relação o poder de domínio, subalternismo, ou submissão dos envolvidos, e dentro desses parâmetros de significação, há elementos que interage junto aos acontecimentos podendo ser também retratados com gatilho para o comportamento agressivo.

O ciclo da violência é caracterizado pelo conjunto de reações que se atribui ao agressor versus vítima, onde abarca inúmeros fatores e respostas que podem ser apresentados por ambos responsáveis,no decorrer do cotidiano, mesmo na forma passiva como na maneira ativa da relação, em detrimento às agressões pela vítima sofrida como pela ação praticada pelo agressor, correlacionando às reações expostas, envolvendo aspectos físicos, e psicossociais, sendo, portanto,composto por três fases que identificam melhor o papel do agressor e da vitima.

3.3.1 Fase1: Evolução da tensão

Atitude do agressor: apresenta comportamento ameaçador e violento, com agressões verbais e destruição de objetos de casa.

Comportamento da vitima: passiva, paciente, sente- se responsável pelas explosões do agressor, sempre procurando justificativa para o comportamento violento (desemprego, cansaço, etc). Quando não encontra uma justificativa objetiva, atribui tal comportamento ao uso de bebida alcoólica, drogas e etc.

3.3.2 Fase 2: Incidente de agressão

Atitude do Agressor: tensão além do limite, comportamento descontrolado, agressões de grande intensidade e ausência de auxilio a vitima. A cada novo ciclo as agressões se tornam mais violentas.

Comportamento da vitima: sente-se fragilizada, e algumas situações, por não suportar mais a constante sensação de medo e ansiedade, acredita que não tem controle da situação.

3.3.3 Fase 3: Comportamento Gentil e Amoroso

Atitude do agressor: Arrependimento e medo de ser deixado pela vitima. Torna-se extremamente atencioso e carinhoso. Faz promessas de mudança e de uma vida feliz. A cada novo ciclo a duração dessa fase diminui.

Comportamento da Vitima: Iludida e enganada, acredita na mudança de comportamento do agressor, confiando que os episódios de violência não se repetirão. Aos poucos, o casal retorna á fase de tensão no relacionamento (a 1º fase).

Em relacionamentos abusivos, a repetição do ciclo de violência condiciona a mulher á Síndrome do Desamparo Aprendido, isto é, a mulher acredita que não importa o que faça, é incapaz de controlar o que acontece consigo, e se torna desmotivada a reagir e completamente passiva.

3.4 PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO DIANTE DE VITIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

A violência doméstica afeta a todos que, de alguma forma, se envolvem com ela, e os profissionais da saúde não são exceção. O contato com situações de sofrimento, medo e risco, a insegurança e os questionamentos que desperta, bem como a impotência e ao mesmo tempo de desespero em obter soluções imediatas, exigindo um tempo de auto dedicação para proteção e alivio de tensões que surgem no ato do atendimento. Por este motivo, é preciso criar oportunidades sistemáticas de discussão, sensibilização e capacitação que proporcionem um respaldo à equipe para expor e trabalhar seus sentimentos e reações (MINISTERIO DA SAÚDE, 2002).

O enfermeiro tem como o papel fundamental a arte do cuidar, sendo esse cuidar de forma não só a patologia, mas também aos aspectos que lhe vem sendo apresentando naquele determinado momento.

De acordo com Porto (2004) a atuação dos profissionais de enfermagem frente a mulheres vitimas de violência domestica, reforça o entendimento que essa situação deve ser encarada como um problema serio de saúde, e tratada pelos profissionais não como um espanto ao ouvir as queixas deste paciente, mais sim que assim como ela existem milhares de mulheres que passam por isso a cada dia.

O profissional de saúde é o que possui o primeiro contato com pacientesvitimas de violência domestica, por muitas das vezes elas procuram as unidades como forma de refugio desta situação. Diante o relato em que a paciente realiza para o profissional, ele em muitos dos casos se sentem de mãos atadas ou de impotência por não se conformarem que aquela mulher continue sofrendo este tipo de violência dentro do seu próprio lar.

Entretanto, percebe-se que existe uma necessidade de se discutir com os enfermeiros, em seu ambiente de trabalho e em suas práticas cotidianas, sobre o receio que os mesmos apresentam em lidar com o tema da violência, o que pode ser justificado pela falta de estrutura e organização dos setores de saúde, no que tange aos serviços preventivos e curativos, levando o profissional a afastar-se ou apresentar um sentimento de negação, o que fica evidenciado pela baixa qualidade dos atendimentos nos serviços de saúde (PAIVA et al. 2014)

É inegável que os enfermeiros caracterizam suas ações com uma impotência paralisante, evidenciada pela falta de preparo para a atuação nos processos de trabalho, baseados nos valores existentes na sociedade atual, e de não deixarem se envolver e expor os seus sentimentos diante da situação apresentada.

Conforme Paiva (2004), observa-se que o profissional enfermeiro deve estar capacitado para deparar-se com tais situações, por muitas vezes chocantes e deletérias ao ser humano e que, por vezes, o enfermeiro também depara-se com a impossibilidade de auxílio e a falta de recursos para prestar a assistência, cabendo portanto ressaltar que, mesmo diante de tantos obstáculos e desafios, o enfermeiro deve colocar-se em posição de apoio as vitimas de violência domestica.

3.5 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM PARA AS VITIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

A Sistematização de Assistência em Enfermagem é uma das ferramentas de domínio do enfermeiro. O processo de enfermagem constitui o arcabouço sistematizado de prestação de cuidados tratando de ações dinâmicas e continuas. Dentro desse processo, o enfermeiro percorre seis passos com o objetivo de conhecer o cliente de forma holística (TOWNSEND, 2000).

E dentre as necessidades previstas alguns autores propõe que os profissionais estejam preparados efetivamente para que a assistência seja feita por completo, aproveitando o momento mais propício:

“Os profissionais de saúde devem estar atentos às mulheres que procuram os serviços com manifestações clínicas de violência, agudas ou crônicas, físicas, mentais ou por problemas sociais.” (FERRAZ et. al, 2009)

3.5.1Relato de Caso

“Roberta é uma mulher de 29 anos, com dois filhos (07 e de 04 anos). Vive com Marcos, seu companheiro há 11 anos. Procurou a unidade de saúde muito angustiada e abatida.”

“As mulheres que procuram a ajuda dos serviços e saúde em decorrência de palpitações, ansiedade, nervosismo, insônia ou desconfortos digestivos que podem ser sintomas devido à violência sofrida em seu cotidiano ou da tensão.”

“Um ciclo repetitivo da violência domestica indica a importância da detecção precoce e prevenção de problemas futuros dela decorrentes. É importante orientar as pacientes sobre a natureza e o curso da violência doméstica, fornecendo informações sobre os recursos existentes na comunidade, grupos de autoajuda e como prevenir novos episódios(MINISTERIO DA SAÚDE, 2011).”

[...] é necessário que os profissionais de saúde saibam agir em situações de violência doméstica conta a mulher, oferecendo apoio e compreensão, respeitando o sigilo, reservando as discussões que forem feitas, aumentando assim a confiança da paciente, ouvi-lá com atenção, respeitando a autonomia em relações as decisões que a mesma tomar, ajudando a planejar sua proteção futura, protegendo-se da violência doméstica e promovendo o acesso aos serviços comunitários[...]Pinheiro (2012)

“Na infância, Roberta presenciou situações de violência do pai contra a mãe, o qual apresentava problemas relacionados ao uso abusivo de álcool. Foi vitima de tentativa de abuso sexual por parte do pai. No entanto, sua mãe, negando-se acreditar, não tomou nenhuma providência. Sem o apoio da mãe, fugiu de casa aos 10 anos, sendo recolhida pelo Juizado da Infância e da Juventude e encaminhada á Fundação para o Bem-Estar do Menor (FEBEM), onde permaneceu até os 15 anos.”

Fonseca (2012) retrata que o histórico familiar tem um papel em particular evolutivo no quadro de processos agressivos e comportamento violento nos gêneros masculinos e femininos demonstrando desigualdade nos gêneros e/ou o estabelecimento de poder e domínio efetivo, quando há experiência de violência precedente sofrida pela vitima, ou quando esta tenha presenciado outras situações decorrentes no meio familiar.

“Após deixar a FEBEM, Roberta foi morar com uma irmã. Contudo, devido às precárias condições financeiras e de espaço na moradia, empregou-se como doméstica, aos 16 anos. Pouco tempo depois conheceu Marcos, 21 anos, por quem se apaixonou e depositou expectativas de uma vida melhor. Foram morar juntos e ela, aos 18 anos, engravidou.”

SALCEDO-BARRIENTOS (2011),considera que uma das causas para a desagregação familiar ou a causas perniciosas que refletem a violência tem sido as situações socioeconômicas, repercutindo na estruturação dessas famílias junto a suas incapacidades de administração correta de suas finanças ou condições financeiras ou a decadência delas.

“Embora Marcos bebesse continuamente, no inicio a relação parecia boa. Roberta passou a fazer faxinas como opção de trabalho. Após o nascimento da criança, o companheiro começou a demonstrar ciúmes excessivos, controlava suas roupas e a impedia de ter amigas.”

“O jogo de poder masculino advém dessas crenças de o homem possuir certos direitos e privilégios a mais do que as mulheres. Os ciúmes podem estar relacionados à possessividade: muitos homens tratam as mulheres como objeto de sua propriedade.” (FONSECA, 2012).

Com o tempo, agravou-se o uso de bebidas alcoólicas e começaram as agressões físicas. Roberta manteve-se na reação, engravidando do seu segundo filho e acreditando que isto iria melhorar a situação. Porém, as agressões continuaram e após o nascimento do segundo filho, Marcos a proibiu de trabalhar. Quando Bebia, agredia também as crianças. Roberta raramente saia de casa e, ao retornar, era acusada de ter se encontrado com outro homem. Algumas vezes, Roberta saia de casa, permanecendo na casa de amigos ou tias. No entanto, Marcos a procurava, prometendo mudar, e ela acompanhava por acreditar na possibilidade de mudança e também por não conseguir imaginar- se sozinha. Algum tempo depois, Marcos comprou um revólver e passou a ameaçá-la.

E nesse contexto de violência doméstica, continuamente a vítima vive em estado de alerta e em um verdadeiro meio de romantismo enganoso como cita o autor:

[...] os agressores utilizam artifícios como chantagens emocionais, depois de atos violentos, tentando mascará-los, presenteando as mulheres e fazendo promessas românticas, de que o incidente não irá ocorrer novamente, manipulando-as para que correspondam as suas vontades. E também matem um clima de ameaça constante, sob o romantismo velado, tendo em vista que caso a mulher não o obedeça, poderá retornar a violentá-la, impedindo-as de reagir e tomar medidas cabíveis.(JANUÁRIO, 2010).

Por ocasião do último episódio de violência, amedrontada e sem apoio de dos amigos e parentes, que não mais acreditavam no seu desejo de mudança, sendo assim fugindo de casa. Acompanhada dos dois filhos, foi procurar ajuda na unidade de saúde, onde costumava obter atendimento de saúde para você e seus filhos (MINISTERIO DA SAÚDE, 2011).

Sendo, portanto, de extremo valor o preparo constante do profissional enfermeiro e sua equipe na assistência primária e de suporte para essas vítimas, necessitando das intervenções e políticas de atenção que possa orientar o desmembramento do problema, desvendando as circunstâncias de riscos, articulando com a intersetorialidade, dando possíveis formas de quebra desse ciclo violento que provoca a fragmentação dessas famílias ou submete pessoas a situações de humilhação, medo e impotência (LEAL, 2011).

3.5.2Abordagem Terapêutica

O Histórico de enfermagem é o primeiro passo, onde o enfermeiro irá levantar dados através de um roteiro sistematizado que possibilita identificar os problemas do cliente. Essas informações os levam ao segundo passo, o diagnóstico de enfermagem, onde identifica as necessidades do cliente que busca o atendimento. Uma vez identificadas às necessidades, passe-se ao terceiro passo, o plano assistencial que visa determinar o tipo assistência de enfermagem que o cliente deverá receber diante do diagnóstico. O plano de cuidado fornece dados para a evolução de enfermagem, ao passo, onde o enfermeiro faz relato diário das mudanças sucessivas que ocorrem com o cliente a partir dos cuidados. No sexto e último passo o enfermeiro executa o prognóstico de enfermagem, onde estima a capacidade do ser humano em atender as suas necessidades após implementação do plano assistencial (HORTA, 1979).

Segundo Potter e Perry (2005), a enfermagem contemporânea exige que o enfermeiro exerça conhecimentos científicos e habilidades para exercer vários papéis. De acordo com estes autores, o enfermeiro atua como cuidador, educador, gerente, defensor, comunicador, tanto para cliente como para a equipe de trabalho.

Dentre as necessidades expostas, o objetivo maior classifica-se na melhor condição de assistência, a identificação da multifatorialidade desses sintomas apresentados pelo cliente a ser examinado, numa visão ampla não restritiva, devendo, portanto, que o enfermeiro, esteja capacitado para que esse processo de atendimento seja o mais precoce possível:

[...] para que no processo de trabalho do enfermeiro este seja capaz de identificar e intervir nos casos de violência que se manifestam em graus variáveis e não apenas em atos extremos de homicídios, necessitase que este profissional de saúde, bem como o processo de trabalho em saúde, seja instrumentalizado para que possa compreendê-lo nas suas múltiplas formas de manifestação.(SALCEDO-BARRIENTOS et. al, 2011).

Master (2007) cita consequências comuns que ocorrem dentro do grupo familiar que podem ser identificados pelo enfermeiro como problemas através do histórico de enfermagem. Entre os mencionados destacam-se falta de credibilidade com a vitima de violência, medo, culpa, vergonha, ansiedade e mágoa. Afirma ainda que a negação e a dificuldade de pedir ajuda,corroem a estrutura familiar.

3.5.3 Acolhimento e Consulta de Enfermagem

Segundo o Protocolo de Atenção à mulher em situação de Violência, acerca da forma de acolhimento, solidarizando as ações práticas, dentro dos princípios propostos por este protocolo, viabilizando uma atenção mais familiarizada com as necessidades expostas pelo cliente em situações vigentes, de maneira segura, correlacionando o respeito e a dignidade da pessoa humana com a ética profissional e a eficácia da atenção interdisciplinar.

Ainda segundo o mesmo protocolo acima citado, observando as várias fases da atenção, priorizar a cliente em processo de risco e/ou situação emergencial, não dificultando o acesso deste à Unidade de saúde. Devendo a equipe estabelecer um relacionamento de apoio, confiança, avaliando a historicidade e os aspectos de riscos no momento da consulta.

“A equipe de saúde pode apoiar as mulheres no reconhecimento do problema da violência, propiciando espaços de escuta individual e coletiva nas unidades de saúde, com o objetivo de identificar situações de risco e traçar medidas preventivas.” (BRASIL, 2001).

Pinheiro(2012) que em relação a percepção avaliativa da história o próprio declara as situações de agressão, a condição de resiliência, os limites encontrados e probabilidades em âmbitos pessoais, as determinações a que se refere para que se tenha uma atitude efetiva de apoio e reconhecimento de sua sociabilidade e as condutas familiares. Contudo, não se esquecendo de fornecer suporte emocional e encaminhando posteriormente, para atendimento, na ocorrência de prosseguimento da relação conjugale/ou terapia de casal ou familiar.

A Lei 10.778 decorre o estabelecimento da uma notificação compulsória, no espaço nacional, para o caso de ocorrência de violência conta à mulher que houver sido procedido atendimento a esta no Serviço Público ou particular de atenção a Saúde, portanto, reconhecendo a necessidade de encaminhamento, segue ainda o processo de acolhimento e cuidado da equipe, incluindo os serviços jurídicos na Defensoria Pública, e através do Centro de Referência relacionado e Atendimento à Mulher em Situação de Violência, levando em conta a sincera motivação pessoal da mesma em proceder no processo de desarticulação marital (SALCEDO-BARRIENTOS, 2011).

BRASIL (2001) determina que os atendimentos oferecidos pelos profissionais de enfermagem e equipe abranjam os aspectos psicológicos e seus processos familiares e individuais.

No atendimento geral ofertado pelo profissional enfermeiro ao paciente, independente de gênero, faz-se necessário uma cobertura completa dos aspectos de atenção, onde inclui o exame físico geral, para determinar melhor o seu diagnóstico, podendo este dentro da consulta de acolhimento desvendar situações mais complexas da investigação no processo de trabalho desse profissional (Protocolo de Atenção a Mulher, 2008)

Cabe também ao profissional identificar e avaliar o determinante socioeconômico orientando ao paciente/cliente acerca da importância de registrar a ocorrência de violência na Delegacia da Mulher e a tomada das devidas providências protetivas quanto a sua pessoa em particular, seus familiares ou agregados( MINISTÉRIO DA SAÚDE,2002)

3.5.4Diagnósticos de Enfermagem

Diante do contexto e das problemáticas citadas por Master (2007) e Isaacs (1998), o enfermeiro pode estar realizando o diagnostico que acomete a vitima violência doméstica e sua família. Segundo Townsed (2000), os diagnósticosde enfermagem são julgamentos clínicos sobre resposta do individuo, seus familiares ou comunidade e a problemas de saúde.

Baseados nas pesquisas da literatura nacional foram identificados problemas de enfermagem dentro do contexto de violência, que nortearam o Diagnóstico de Enfermagem aos quais levaram aos seguintes diagnósticos, baseado no (DE, 2009).

Ansiedade;

Enfrentamento familiar comprometido;

Medo;

Tristeza Crônica;

Padrão de sexualidade ineficaz;

3.5.5Intervenções de enfermagem

As intervenções de enfermagem são baseadas no Diagnóstico de Enfermagem (DE, 2009). Foram identificadas como prioridades de enfermagem diante dos diagnósticos levantados, segundo Doenges; Moorhouse; Murr, (2009) as seguintes intervenções de enfermagem.

Identificar a percepção da vitima quanto á ameaça representada pela situação; Observar comportamentos que possam definir o nível de ansiedade da vitima: Inquietação, irritável, atenta, queixas de insônia; Conversar sobre as percepções da família acerca da situação;Fornecer informações á família e/ou as pessoas sobre a doença ou a condição do ambiente;Atentar para os sinais de negação ou depressão;Conversar sobre as percepções e os sentimentos de medo do cliente. Ouvir atentamente as preocupações expressas pelo cliente;Reconhecer a realidade dos sentimentos de culpa ou vergonha;Obter a história sexual detalhada e realizar um exame físico completo;Estimular a discussão da situação do cliente, com oportunidades para expressões dos sentimentos sem julgamento;Caso necessário, encaminhar ao atendimento clínico na própria unidade ou para serviço de referência, conforme a gravidade e especificidade de danos e lesões;Conforme a motivação da mulher para dar andamento ao processo de separação,encaminhá-la aos serviços jurídicos-Defensoria Pública, Fórum local ou ONGs de apoio jurídico;Sugerir encaminhamento para atendimento de casal ou família, no caso dacontinuidade da relação, ou quando houver filhos e portanto a necessidade de preservar os vínculos parentais; Sugerir encaminhamento para atendimento psicológico individual, de acordo com a avaliação do caso;Manter visitas domiciliares periódicas, para fins de acompanhamento do caso.

4DISCUSSÃO

À medida que se estuda a violência doméstica, percebe-se a dificuldade que os profissionais de saúde tende a detectar este problema em pacientes que vão até a Unidade de Saúde.

O relato de caso apresentado permitiu conhecer os fatores que influencia na visão do enfermeiro e as dificuldades e sentimentos que acabam se deixando levar para o difícil plano assistencial objetivo e claro.

De acordo com Barros (2009) violência doméstica é um problema que atinge milhares de crianças, adolescentes, e mulheres. A violência doméstica é um problema universal que atinge milhares de pessoas, em grande número de vezes de forma silenciosa e dissimulada.

Conforme OMS (2002) violência domestica define-se violência como uso intencional de força ou de poder físico propriamente dito, ou como ameaça contra si mesmo, contra pessoa, grupo ou comunidade, que cause ou tenha muita probabilidade de causar lesões, morte, danos psicológicos, transtornos de desenvolvimento ou privações. Segundo Morgado (2001) violência trata-se de um fenômeno antigo, presente em todas as classes sociais em todas as sociedades, desde a mais desenvolvida até as mais vulneráveis economicamente.

A violência domestica para alguns autores, é o resultado de agressão acometida pelo ente mais querido ou próximo da vitima. Para Schraiber (2005) a vitima de violência, na maioria dos casos, manifesta baixa autoestima e se encontra atada na relação com quem a agride.

Para a mulher agredida conforme vai sofrendo as agressões, ela vai perdendo, aquela vontade de viver deixando se levar por sentimentos de impotência em relação à situação que se encontra. Sendo que na maioria dos casos elas se tornem dependentes dos seus parceiros, por proibirem as mesmas até mesmo de trabalharem e se tornarem objeto exclusivo e único do agressor.

Os sentimentos que as vitimas adquirem após cada episódio de violência doméstica podem ser medo, ansiedade, tristeza crônica, depressão, dificuldade de um relacionamento agradável em seu próprio lar, disfunção sexual, distúrbios alimentares e desordens de personalidade.

De acordo com D’Oliveira, Papila e Olds (2002) a mulher agredida ela precisa reagir e ver que permanecer no contexto de violência é uma escolha que machia, que a faz se sentir ao findo do poço, sem vontade de viver mais, abrindo mão de seus “eus” sendo indiferente até consigo mesmo, propiciando ao agressor que não a respeite mais, e perdendo a sua própria identidade como mulher.

Na percepção da equipe de saúde é muito difícil que a violência doméstica seja diagnosticada de primeiro instante, pois só com acompanhamento freqüente a unidade de saúde que ela passa a adquirir certa confiança com o profissional da área, onde assim, começa a relatar sobre o que se passa em seu cotidiano. Para os profissionais é ainda mais difícil não se deixar envolver com a situação exposta pela vitima, tendo como principal sentimento de indignação, casos em que as vitimas não aceitam a ajuda devida e continuam vivendo episódios de sofrimentos e torturas.

Com essas dificuldades encontradas pelos profissionais de saúde, propiciam um diagnóstico e um plano terapêutico difícil de ser planejado pela equipe, onde os profissionais de saúde não se conformam com aquela situação, deixando de certo modo por se envolver, e criando certo espanto quando ouve da vitima que sofre agressões dentro do seu próprio lar.

5CONCLUSÃO

Esta pesquisa teve o intuito de estudar até aonde o enfermeiro pode ajudar ou se envolver nos casos de violência doméstica, vendo quais são as dificuldades que as vitimas tem de procurarem o serviço de saúde e quais os efeitos que elas sofrem dentro dos seus lares pelos agressores, interferindo até no seu contexto social e respectivamente levantando as intervenções de enfermagem para apoiar e orientar a vitima.

Estudos citados contribuem para o entendimento de como os profissionais da área de saúde tem papel fundamental na ajudar e orientação.Em alguns casos,apenas uma consulta, realizada na unidade de saúde incentiva as vitima de violência doméstica a saírem desta situação e não admitiremmais viverem neste contexto.

A violência doméstica começou a ser vista com outros olhos desde quando uma mulher que sofria constantes episódios de violência pelo seu companheiro, resolveu mudar esta situação criando junto com as autoridades a necessidade de uma lei que respaldasse a vitima de qualquer violência cometida contra ela.

Os grandes problemas que existem em nosso país, têm sido os muitos relatos de casos de pessoas que sofrem a violência e o primeiro apoio que elas encontram são nas unidades de saúde da Estratégia de Saúde da Família onde depois de algum tempo passam a ser o único refugio delas, para encontrarem ajuda já visto que os seus companheiros a proíbem de sair ou de ter pessoas próximas que não seja o mesmo.

Cabendo enfatizar, uma realidade que ainda não mudou. A questão do medo que as vitimas de violência doméstica expressam em denunciar os próprios companheiros, devido às ameaças constantes que elas vivem por parte deles, de que se alguém mais souber do que se passa dentro do seu lar, ela será a responsável maior levando até mesmo ao óbito das mesmas através das grandes agressões.

Pode se perceber que os profissionais de saúde se sensibilizam a cada dia por relatos de violência doméstica, por pacientes que fazem acompanhamento nas unidades de saúde, no qual os profissionais trabalham e atendem a população daquela área. O meio em que as vitimas vive desde a infância influenciam e muito para que ela também sofra os mesmo problemas enfrentados depois da vida adulta em seus lares, afetando a relação do companheiro com os filhos e consigo.

Para a enfermagem, há grandes possibilidades para contribuições desde que os mesmo sejam capacitados para ter um diagnóstico. Por outro lado o enfermeiro pode utilizar estratégias que as vitimas de violência doméstica adquira grande confiança neles e no tratamento que eles tende a oferecer com as visitas constantes a unidade de saúde. Porém, percebe-se também a falha muitas das vezes da equipe de saúde por não estarem atentos aos sinais e sintomas que as vitimas apresentam ou relatam.

É importante que o enfermeiro, ao lidar com essa situação não se deixe transparecer nenhum sentimento, que intimide a vitima ou que ele próprio se deixe envolver além da conta, e sim proporcionar a ela um acolhimento e aconselhamento sobre o que ela está vivenciando.

Diante deste contexto, espera-se que esse estudo não se esgote nessa pesquisa, e sim que ela tenha continuidade ou que colabore para outros trabalhos em buscar o aprofundamento tendo atingir que os profissionais de saúde se capacitem a cada dia mais, com transparência e cautela no atendimento a essas vitimas.

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ANEXOS I

Cartilha de Violência Doméstica

O que é violência?

Violência são todas as ações que machucam as pessoas de alguma forma, sendo com palavras, agressões e injustiças da sociedade. Todo tem direito sermos livres de qualquer tipo de violência, porém ainda existem pessoas que sofrem com isso.

O que é violência doméstica?

A violência doméstica e familiar contra a mulher está presente em todos os níveis da sociedade, não está fazendo qualquer diferença a posição social e econômica ou grau de instrução dos agressores e das agredidas.

O que é a Lei Maria da Penha?

A Lei Maria da Penha define a violência doméstica e familiar contra a mulher, relacionando- a ao gênero feminino de maneira ampla, superando as diferenças culturais e sociais entre os sexos, incluindo, todas as formas de relacionamento, desde um simples olhar, até as relações sexuais passando pela linguagem e comunicação entre homens e mulheres.

“Toda mulher, independente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes á pessoa humana (art. 2º da Lei Maria da Penha).

Por que as mulheres aguentam tanto tempo a violência domestica?

Medo de romper o relacionamento, vergonha de procurar ajuda e ser criticada, esperança de que o parceiro mude o comportamento, por sentir-se sozinha e não contar com pessoas que a apoiem,medo de não ser aceita na sociedade, medo de não ser aceita na sociedade como uma mulher sem marido, dependência econômica dos parceiros para o sustento da família e nem todas estão preparadas para viver um processo de separação.

O que deve fazer uma mulher vítima de violência doméstica?

A mulher vítima de violência doméstica deverá, para sua proteção e de seus familiares, comparecer a uma Delegacia comum ou à Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher (DEAM) mais próxima de sua residência e relatar a ocorrência dos fatos para efetuar o registro do Boletim de Ocorrência (BO) contra seu agressor. Ela poderá ir sozinha ou acompanhada de pessoas de sua confiança. Poderá ainda entrar em contato com a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, que funciona 24 horas, todos os dias da semana, e recebe relatos, acolhe, informa e orienta mulheres em situação de violência.

O que equipe de saúde pode fazer pra orientar as mulheres vitima de violência domestica?

Ao primeiro momento a equipe de saúde deve acolher essa paciente, realizar todos os cuidados que forem precisos para sua recuperação, oferecer apoio psicológico, orientar quais os procedimentos ela deve seguir e encaminha-las aos outros órgãos competentes para dar um suporte maior a essas vitima.