Experiências profissionais que incentivaram empenho neste projeto

Ainda na academia, em 1999, iniciei um projeto de pesquisa, englobando educação em cidadania que sugeria ações similares às da atual atuação dos técnicos de saúde, na educação preconizada pelo Programa Ministerial Saúde na Escola (PSE). O projeto foi interrompido e acabei me envolvendo por outras ideias em mente, mas a promoção da educação em saúde e cidadania, no entanto, é algo que até hoje me entusiasma, inspira e encanta. Recordando-me de alguns momentos chave de minha construção e exercício como educador, continuei a busca de compartilhar conhecimento no segundo semestre de 2001 em Miracatu/ SP, quando voluntariamente ministrei atividades educativas com foco na prevenção em saúde em uma escola e grupo em unidade básica de saúde, com ênfase na hipertensão e diabetes. Em 2002, ministrei em várias escolas e empresas de Santa Maria/ RS. Na época o objetivo maior estava no aconselhamento pré-teste do HIV e Sífilis, transmitindo importantes informações relacionadas à sexualidade. O mesmo aconteceu nas atividades do Centro de Testagem e Aconselhamento Itinerante (CTA) em 2004, quando fui o responsável técnico pela implantação desse serviço em Porto Seguro/ BA, com o importante acréscimo da coleta para testagem nos locais, da entrega do resultado com aconselhamento pós-teste e da administração do tratamento dos indivíduos em que foram identificados resultados positivos. Nestas ações eu sempre ficava com vontade de aumentar a atenção e ampliar a assistência prestada, no sentido de transmitir informação; "oferecer um pouco mais". Com a implantação do Programa Saúde na Escola (PSE) em vários municípios do país, porém, tornou-se possível não somente a realização dessas modalidades de ação, mas a extensão de muito do que se oferece nos Programas vigorantes nas Unidades da Estratégia Saúde da Família da Atenção Básica. Também tornou-se possível realizar testes de acuidade visual (verificando a eficácia da visão) e expandir as ações educativas dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps).

Essas triagens são muito, mas muito importantes na identificação e encaminhamento nos diversos casos existentes nas instituições escolares - apesar de que o foco, do público-alvo inicial da triagem estar nos jovens entre 13 a 15 anos.

Observei também uma oportunidade de cuidar dos educadores. Em minha experiência profissional em 2005/2006 na Saúde da Família de Farroupilha/RS, município da Serra Gaúcha que tem o Programa Saúde do Trabalhador implantado e em minhas atividades no Caps no extremo sul baiano, atendendo professores, sensibilizei-me ao visualizar a vulnerabilidade a que estão submetidos tanto os profissionais de saúde, quanto os educadores à patologias clínicas relacionadas ao estresse, ansiedade, Burnout, depressão, tabagismo, alcoolismo e outros problemas relacionados à atenção psicossocial que afetam a qualidade de vida, o desempenho ocupacional e o equilíbrio dos trabalhadores dessas áreas, como um todo.

Diante do exposto, visualizei uma oportunidade de dar suporte aos cuidadores e educadores - papéis que às vezes se confundem - através das várias ferramentas que se tem ao alcance.

As atividades dos profissionais de saúde no ambiente escolar e as ações itinerantes das equipes de atenção psicossocial são uma oportunidade de identificar professores, cuidadores e outros trabalhadores em processo de adoecimento, apresentando sinais e sintomas iniciais de grandes síndromes psiquiátricas e incluí-los em importantes intervenções como oficinas de relaxamento, tratamento do tabagismo (Programa "Deixando de Fumar sem Mistério") e consultas com comunicação terapêutica (que não pode ser confundida com a psicoterapia), onde é realizado um acompanhamento através de metas.

Com relação à prática cidadã, minhas atividades, primeiro como integrante do Movimento Escoteiro dos 12 aos 15 anos, em seguida em minhas atividades na Universidade Federal de Santa Maria/ UFSM como líder estudantil me conferiram experiências sobre a importância do patriotismo, da participação popular organizada, da preservação do patrimônio ecológico, da ordem social e segurança pública, que devem ser preservadas a qualquer custo. As temáticas da cidadania e da cultura da paz estão entre as que mais afetam as preocupações sociológicas, estão relacionados a problemas reais, atuais, que envolvem não somente a saúde pública, mas um contexto muito maior.

A questão da sustentabilidade das ações da saúde e educação também me incentivou a desenvolver este projeto, especialmente a parte virtual.

As conhecidas (e tão criticadas na mídia) fragilidades institucionais e políticas do poder executivo, os entraves jurídicos, favorecem a rotatividade dos profissionais, as perseguições institucionais aos que realizam críticas ao poder vigente e a não-continuidade de uma série de ações.

Historicamente, muitos projetos problematizadores e críticos tem certa tendência ou risco de não serem financiados e de sofrerem diversas retaliações e boicotes. Pensando nisso eu disponibilizei voluntariamente, desde 2012, parte de meu tempo, minhas contas na internet, meus dispositivos eletrônicos e minhas parcas habilidades para manuseá-los a fim de garantir a continuidade e sustentabilidade ao Projeto Participação Cidadã, pois assim não fico à mercê de gestores descomprometidos ou melindrados com a crítica presente no exercício cidadão democrático.

Para consumar e fortalecer essa sustentabilidade fundei e também me tornei o primeiro membro de um grupo de sociedade civil organizada, de puro voluntariado no extremo sul baiano, o "Comunidade Solidária". Fui seguido de outras pessoas benevolentes com seu tempo, conhecimentos, recursos e talentos que, dentro de suas possibilidades, contribuem com as atividades on-line do projeto e também com a doação de materiais e aptidões para as oficinas e eventos de reabilitação psicossocial do Caps1 de Santa Cruz Cabrália.

Também considero importante mencionar a aparente aceitação do Programa Saúde na Escola por parte dos adolescentes no Município de Santa Cruz Cabrália onde atuo como servidor público efetivo. Neste, o esquema virtual, existente na forma de blogs e participação nas redes sociais foi apresentado a diretores e professores. Na Escola Municipal Nair Sambrano, onde foi realizada a primeira sensibilização, foram respondidas perguntas dos alunos sobre saúde. Também foram escolhidos monitores para recolher novas perguntas escritas e foi divulgado o canal de comunicação com os jovens, através da interação on-line.