A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA ABORDAGEM AO COMPORTAMENTO SUICIDA

Data de postagem: Oct 29, 2015 1:54:52 PM

FACULDADES INTEGRADAS DO EXTREMO SUL DA BAHIA CARLA SANTANA ANDRADE

A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA ABORDAGEM AO COMPORTAMENTO SUICIDA

EUNÁPOLIS, BA

2012

CARLA SANTANA ANDRADE

A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA ABORDAGEM AO COMPORTAMENTO SUICIDA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à disciplina TCC I do Curso de Enfermagem, das Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia como parte dos requisitos para a obtenção do Título de Bacharel em Enfermagem.

Orientador: Professor Diego Leal.

EUNÁPOLIS, BA

2012

CARLA SANTANA ANDRADE

A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA ABORDAGEM AO COMPORTAMENTO SUICIDA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à disciplina TCC I do Curso de Enfermagem, das Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia como parte dos requisitos para a obtenção do Título de Bacharel em Enfermagem.

Orientador: Professor Diego Leal.

Prof°.:

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Prof°.:

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Prof°.:

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Profª. Juliana Ali

Coordenador(a) do Curso de Enfermagem

Eunápolis-BA, ___________________________________________

DEDICATÓRIA

Dedico à Rosimêre B. Santana Souza.

AGRADECIMENTOS

Á Deus pela vida, pelas graças alcançadas e por ter me enviado para um lar repleto de luz e harmonia.

À minha mãe e ao meu pai, Tio Zeca, por acreditarem em meu potencial, mesmo que, em muitos momentos, eu não tenha sido merecedora.

Ao professor Diego da Rosa Leal, pois não teria alcançado esse objetivo sem a sua crença em mim.

Em especial, agradeço à Luisa Oliveira (fiel companheira), a minha melhor “aquisição” dos últimos tempos e à Jéssica Santana Miranda, prima amada.

EPÍGRAFE

“Não é que o suicídio seja sempre uma loucura. (...) Mas, em geral, não é num acesso de razão que nos matamos.”

Voltaire.

RESUMO

A palavra suicídio deriva do latim “auto-assassínio” e caso bem-sucedido, o suicídio representa a vontade do indivíduo de morrer. Este trabalho tem o objetivo principal mostrar como deve ser realizada a assistência de enfermagem em pacientes portadores do comportamento suicida, tendo como objetivos específicos, conceituar suicídio, apontar os principais fatores de risco para o comportamento suicida, descrever aspectos epidemiológicos do suicídio, traçar ações assistenciais de enfermagem diante do comportamento suicida. Este trabalho foi uma revisão sistemática de literatura para a compreensão do comportamento suicida e a atuação do enfermeiro no aspecto preventivo ao suicídio consumado, através de uma busca de livros de acervo particular e da biblioteca das Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia, artigos divulgados em jornais publicados, dissertações e teses localizadas no banco de dados Medline, Bireme, Scielo, Lilacs, Google Acadêmico empregando como palavras-chave: suicídio, comportamento suicida, suicídio adolescentes, suicídio idosos, suicídio depressão, suicídio álcool. Desse modo, os textos foram classificados no primeiro momento em artigos publicados em língua portuguesa, sem restrição do período de publicação e, em segundo momento pelas leituras rápidas dos artigos procurados, buscando comprovar se realmente os trabalhos abordavam o objetivo a ser explorado. O enfermeiro possui papel fundamental e relevante para o tratamento da pessoa com comportamento suicida e, sua forma de agir pode definir o caminho a ser tomado pelo paciente.

Palavras-Chave: Suicídio; Comportamento Suicida; Risco; Proteção; Sistematização da Assistência de Enfermagem.

SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 09

    2. METODOLOGIA ................................................................................................ 12

    3. CONCEITOS ...................................................................................................... 13

      1. SUICÍDIO ....................................................................................................... 13

        1. TEORIAS SOBRE O SUICÍDIO ..................................................................... 14

      2. COMPORTAMENTO SUICIDA ...................................................................... 16

      3. CRISE SUICIDA ............................................................................................ 18

    4. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E VULNERABILIDADE ............................. 19

      1. EPIDEMIOLOGIA .......................................................................................... 19

      2. VULNERABILIDADE ..................................................................................... 20

        1. IDOSOS ......................................................................................................... 24

        2. ADOLESCENTES .......................................................................................... 25

        3. PACIENTES HOSPITALIZADOS .................................................................. 26

4.3 CRONICIDADE: DEPRESSÃO E ALCOOLISMO ......................................... 27

4.3.1 DEPRESSÃO ................................................................................................. 27

4.3.2 ALCOOLISMO ............................................................................................... 28

    1. RISCO E PROTEÇÃO ....................................................................................... 30

      1. FATORES DE RISCO .................................................................................... 30

      2. FATORES DE PROTEÇÃO ........................................................................... 31

    2. SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM ........................... 32

6.1 PLANO DE CUIDADO EM CLIENTE COM COMPORTAMENTO SUICIDA ................................................................................................................................... 33

    1. DISCUSSÃO ...................................................................................................... 36

    2. CONCLUSÃO .................................................................................................... 39

    3. REFERÊNCIAS ................................................................................................. 41

    4. INTRODUÇÃO

O suicídio pode ser compreendido como o ato de tirar a própria vida de forma intencional e voluntária (THOMAS, 2000). A teoria sociológica de Durkheim, segundo Teixeira (2002), aborda essa temática a partir do âmbito social e classifica o suicida em três tipos: egoísta, altruísta e anômico.

Visto como um problema moral no século XVIII, a partir do século XIX, o suicídio passa a ser observado como “um crescente problema social a exigir explicação”, de acordo com as palavras de Lukes (1997).

Segundo Botega et al. (2006), apesar de o suicídio estar atrelado à fatores socioculturais, genéticos, psicodinâmicos, filosóficos existenciais e ambientais, em geral, o transtorno mental é um fator vulnerabilizador que necessita estar presente para que culmine no suicídio do indivíduo quando associado a outras determinantes. Vários estudos que utilizaram a técnica de reconstrução diagnóstica conhecida como autópsia psicológica têm indicado que o transtorno psiquiátrico é um dos maiores fatores de risco para o suicídio (BARRACLOUGH, 2001).

Aspectos como perdas recentes, perda de figuras parentais na infância, dinâmica familiar conturbada, certas situações clínicas, e personalidade com fortes traços de agressividade e compulsividade, além dos do acesso fácil a meios letais, constituem fatores de risco ao suicídio (WHO, 2003; Suominen et al., 2004).

Segundo Who (1998, apud BOTEGA, 2006), o suicídio não é apenas uma tragédia social, ele vem se tornando um grave problema de saúde pública. Segundo a OMS (2007), em relação à perspectiva mundial, o índice de suicídio aumentou 60% em 45 anos, e a mortalidade global por suicídio está migrando do tradicional grupo de idosos do sexo masculino, para o de indivíduos mais jovens de ambos os sexos.

O Brasil é considerado um país com baixos índices de suicídio, cerca de 3,9 a 4,5 a cada 100 mil habitantes (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Porém, por se tratar de uma nação populosa, está entre os 10 países com maiores números absolutos de suicídio (WERLANG; BOTEGA, 2009).

Turecki (1999) relata que na maioria dos países, o suicídio está entre as 10 primeiras causas de mortes entre todas as idades e entre as 3 primeiras causas de morte para indivíduos jovens (15 a 34 anos).

Alguns fatores sociodemográficos também constituem risco: pertencer ao sexo masculino, ter entre 15 e 35 anos, ou acima de 75 anos, extratos econômicos extremos, desempregados, residentes em áreas urbanas, ateus, solteiros, separados ou migrantes (WHO, 2003).

Esse estudo se justifica pelo interesse de estudar e compreender o comportamento suicida, buscando alternativas, medidas preventivas, para que as estatísticas que apontam números cada vez mais exorbitantes constituídos por essa prática sejam reduzidas.

Embora os registros oficiais sobre tentativas de suicídio sejam ainda mais escassos que os de suicídio, é necessário também considerar essa causa, pois além da presença do transtorno mental, o histórico de tentativa de suicídio constitui um dos maiores indicadores de risco.

Este trabalho tem como objetivo principal mostrar como deve ser realizada a assistência de enfermagem em pacientes portadores do comportamento suicida, tendo como objetivos específicos, conceituar suicídio, apontar os principais fatores de risco para o comportamento suicida, descrever aspectos epidemiológicos do suicídio, traçar ações assistenciais de enfermagem diante do comportamento suicida.

Trata-se de uma pesquisa de revisão sistemática de literatura, para compreender o comportamento suicida e a atuação do enfermeiro no aspecto preventivo.

O estudo monográfico está disposto em quatro capítulos. O primeiro capítulo refere-se aos conceitos de suicídio, comportamento suicida e crise suicida.

O segundo capítulo aborda os aspectos epidemiológicos e vulnerabilidade dos indivíduos mais propensos a desenvolver o comportamento suicida tais como idosos, adolescentes, pacientes hospitalizados e cronicidade: depressão e dependentes químicos.

No terceiro capítulo serão expostos os principais fatores de risco e proteção ao comportamento suicida. O quarto capítulo tratará da Sistematização da Assistência de Enfermagem ao indivíduo portador do Comportamento Suicida.

    1. METODOLOGIA

Este foi um estudo de revisão sistemática de literatura, ou seja, uma investigação detalhada, analítica e abrangente das pesquisas e estudos relacionados à compreensão do comportamento suicida e a atuação do enfermeiro no aspecto preventivo ao suicídio consumado, através de uma busca de livros de acervo particular e da biblioteca das Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia, artigos divulgados em jornais publicados, dissertações e teses localizadas no banco de dados Medline, BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), Scielo (Scientific Electronic Library Online - Biblioteca Científica Eletrônica Online), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Google Acadêmico empregando como palavras-chave: suicídio, comportamento suicida, suicídio idosos, suicídio adolescentes, suicídio álcool, suicídio depressão.

Em primeiro momento os textos foram filtrados em artigos publicados em língua portuguesa, com o tema “suicídio” sem restrição do período de publicação e, em segundo momento pelas leituras rápidas dos artigos procurados, buscando comprovar se realmente os trabalhos abordavam o objetivo a ser explorado. A coleta de dados e seleção do material foi iniciada no segundo semestre de 2012 e foi visada a credibilidade dos autores, bem como a contextualização com a proposta do tema.

    1. CONCEITOS

3.1 SUICÍDIO

Sadock e Sadock (2007) afirmam que se bem-sucedido, o suicídio é um ato fatal no qual o indivíduo expressa sua vontade de morrer, a palavra “suicídio” deriva do latim “auto-assassínio”. Segundo Werlang (2000), os atos autodestrutivos como o suicídio, estão relacionados com a incapacidade do indivíduo em encontrar diferentes alternativas para seus conflitos, fazendo-o optar pela morte. Ou seja, a resolução negativa da crise, que pode ocorrer pela falta de intercessão imediata na pessoa, pode levá-la a desenvolver um comportamento suicida com desfecho trágico. Ghosh & Victor (1994), tratam o suicídio como um comportamento e não de um diagnóstico ou distúrbio.

Partindo dessa definição, Pocinho e Serra (2001), afirmam que:

“O suicídio e as tentativas de suicídio não devem ser considerados uma doença. Devem ser tidos como um tipo de comportamento que é escolhido como opção quando uma pessoa com determinadas características da maneira de ser, por vezes sofrendo de um quadro clínico psiquiátrico, vive acontecimentos que são para si muito dolorosos e que se supõe não ter capacidade de modificar.”

A OMS (2007) relata que o suicídio pode ser considerado uma tragédia familiar e pessoal, que causa sofrimento a todos os entes próximos à vítima. Os motivos que explicariam o porquê da vontade de uma pessoa interromper a própria vida, enquanto outras na mesma situação não agiriam da mesma forma, são difíceis de entender.

Historicamente, segundo Sadock e Sadock (2007), a forma como o suicídio é visto na história, varia de acordo com a época e com a cultura em que ele foi registrado, com atitudes que variam de condenação a tolerância. Atualmente, na sociedade ocidental, o suicídio não é avaliado com um ato casual, que não tenha sentido, mas como a resolução de um problema que causa excessiva angústia.

Dessa forma, Cassorla (2004), diz que o suicídio deve ser analisado sob uma perspectiva que constitui um continuado de comportamentos que pode emanar de ideias de autodestruição, passando por ameaças, tentativas de suicídio e por fim, materializar o ato fatal. De acordo com Werlang & Botega (2009), pesquisar este evento que é consequência de uma multifacetada relação entre diversos elementos, acarreta conceber colaborações de várias áreas do conhecimento.

3.1.1 TEORIAS SOBRE O SUICÍDIO

Freud considerava o suicídio como uma resposta ao intenso ódio por si mesmo que o indivíduo possuía. A raiva teria origem em um objeto amado, mas acabava sendo destinada internamente para o eu. Freud considerava que o suicídio ocorria em consequência de um desejo reprimido anterior de matar um outro indivíduo. Ele compreendia o suicídio como uma atitude agressiva ao eu que era efetivamente dirigida a outros (SADOCK e SADOCK, 2007).

Ghosh & Victor (1994) constataram a desesperança como o elemento principal implícito na propensão ao suicídio. Beck et al (1990) encontraram uma elevada ligação entre desesperança e suicídio. Uma pessoa torna-se vulnerável se por acaso se sinta derrotado, com pouca perspectiva de evadir a um determinado evento adverso.

Conquanto, a circunstância apenas originará uma crise suicida, se o indivíduo não possuir suporte social e formar a certeza de que no futuro, não haverá mudanças (WILLIAMS e POLLOCK, 2000).

A desesperança presente nos tentadores de suicídio pode ser entendida como uma rigidez cognitiva, pois se trata de uma dificuldade em acreditar que existam opções não-suicidas para as adversidades do dia a dia (MARIS, 2002).

Hendin (1991) apontou o desespero como outro elemento significativo no suicídio. Com o desespero, a pessoa sente-se incapaz para realizar mudanças, porém acredita que a vida é irrealizável sem essas alterações. Culpa e autorrecriminação também compõem outras características do desespero (GHOSH & VICTOR, 2004).

Rich et al (1991) relacionaram o nível do desenvolvimento a certos fatores de estresse da vida ao suicídio. Os fatores de estresse de conflito, separação e rejeição, estão vinculados ao comportamento suicida na adolescência e início da fase adulta.

Pesquisas atuais apontam que o comportamento violento frequentemente tem associação ao comportamento suicida (GHOSH & VICTOR, 2004). Alguns estudos relacionaram o comportamento suicida em indivíduos violentos à fúria consciente, mencionado, dessarte, a fúria como um relevante aspecto psicológico oculto ao comportamento suicida (HENDIN, 1991).

Segundo Teixeira (2002), a Teoria Sociológica de Durkheim estudou a interação homem x sociedade e assegurava que quanto mais interação existisse entre ambos, menores eram as chances do indivíduo cometer suicídio.

Durkheim põe em evidência que os tipos sociais que propõe, correspondem aproximadamente a tipos psicológicos, caracterizando três esferas sociais do suicídio: o suicídio egoísta corresponde à apatia e secundariamente melancolia, dessa forma, o indivíduo não se sente parte de nenhum grupo coeso, família ou igreja, por exemplo; ao altruísta, energia passional ou voluntária e sentimento do dever, é o oposto do suicídio egoísta, sendo excessivamente integrado ao grupo e governado por laços culturais, religiosos, políticos, tornando-se capaz de dar a sua vida pelo grupo; ao anômico, que corresponde à irritação, desgosto e como variedade secundária, o descontentamento à vida, e é uma resposta a mudanças na vida de um indivíduo (divórcio, perda do emprego, por exemplo). Há, ainda, a eventualidade de tipos mistos combinando os três tipos elementares (SADOCK e SADOCK, 2007).

Segundo Ghosh & Victor (2004), a teoria biológica argumenta que estudos realizados com gêmeos monozigóticos manifestaram uma concordância muito maior que nos dizigóticos, demonstrando uma presumível predisposição genética ao comportamento suicida. Segundo Kaplan e Sadock (1998), alguns estudos revelaram uma carência de serotonina em clientes deprimidos, comprovando a teoria de que fatores neuroquímicos teriam influência sobre o suicídio.

Keller e Werlang (2005) relatam que estudos modernos tem citado fatores biológicos como justificativa para o comportamento suicida, sendo investigados os responsáveis pela função inibidora do comportamento agressivo, que são as atividades executivas do lobo frontal e as funções serotoninérgicas.

3.2 COMPORTAMENTO SUICIDA

O comportamento suicida pode ser classificado em três categorias e trata desde as ideias ao suicídio consumado, sugerindo um gradiente de severidade e heterogeneidade: A ideação suicida são os planos e ações suicidas que possuem poucas chances de levar à morte e se posicionaria em um dos extremos e em outro o suicídio (BORGES, 2004).

Sobre a tentativa, diz-se a fase em que a pessoa está dando sinais de pensamentos de morte. As tentativas de suicídio são atitudes suicidas que possuem real intenção de morte, porém não atingem o seu propósito.

Alguns tentam cometer suicídio, no entanto, são descobertas a tempo e salvas ou possuem sentimentos contraditórios em relação à morte e a tentativa pode falhar, pois, por vezes, trata-se de um pedido de socorro aliado a uma forte vontade de viver. Estima-se, ainda, que o número de tentativas de suicídio supere o número de suicídios em pelo menos 10 vezes (CASSORLA, 1987).

Com base em dados da Organização Mundial da Saúde, Botega et al (2006) revelam um dado importante: 15 a 25% das pessoas que tentam o suicídio, tentarão novamente se matar no ano seguinte, e 10% das pessoas que tentam o suicídio, conseguem efetivamente matar-se nos próximos dez anos.

Enquanto o suicídio consumado tem como resultado a morte, o comportamento autodestrutivo pode ser indireto ou direto. O comportamento indireto se diz a participação, geralmente de modo repetido, em atividades perigosas sem que exista uma intenção consciente de morrer.

Exemplos de comportamento autodestrutivo indireto incluem o abuso do álcool e das drogas, o abuso do tabaco, o comer em excesso, o descuido com a própria saúde, a automutilação, a condução de um veículo de modo temerário e o comportamento criminoso. Os gestos, as tentativas e o suicídio consumado são formas de comportamento autodestrutivo direto. (SADOCK; SADOCK, 2007).

Segundo Werlang & Botega (2009), das múltiplas visões proporcionadas por diferentes abordagens sobre o comportamento suicida, surgem componentes que constituem histórias de sofrimento.

O paciente que apresenta comportamento suicida apresenta três características: a ambivalência, trata-se de uma atitude interna, na qual o paciente, demonstra ao mesmo tempo o desejo de morrer e viver, nesse caso, a vontade de viver sobreposta à ânsia de morrer, pode ser considerada uma prevenção, sendo necessário assim, o apoio emocional a esse indivíduo.

A impulsividade, pois o suicídio pode ser um ato impulsivo e como qualquer outro ímpeto, o desejo de suicidar-se pode ser breve, durar apenas algumas horas ou minutos. Pode ser desencadeada por algum estresse do cotidiano. Deve-se tentar acalmar esse indivíduo e ganhar tempo para a redução do risco de suicídio.

E a rigidez ou constrição, no qual, os atos e consciência da pessoa passam para um estado dicotômico, tudo ou nada. Seus pensamentos são rígidos e drásticos e enxerga apenas o suicídio como “solução” para seus problemas, expressões como “quero morrer” ou “não sirvo para nada” são frequentemente utilizadas. Os indivíduos que possuem ideais suicidas comunicam esse desejo de morrer, esses sinais não devem ser descartados (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).

3.3 CRISE SUICIDA

Lillibridge e Klukken (1978 apud Wainrib & Bloch, 1998) referem que desde o ponto de vista objetivo, a crise pode ser entendida como uma alteração no equilíbrio do indivíduo, quando a resolução fracassa e ele se vê incapaz de contornar os conflitos circundantes. Segundo Caplan (1964 apud Wainrib & Bloch, 1998), a crise se caracteriza por ser uma condição de reação do indivíduo frente a uma situação que ameace sua integridade.

Seguindo o raciocínio de conceituação de crise, Slaikeu (2000) diferencia as crises vitais de desenvolvimento, das crises circunstanciais. As primeiras são caracterizadas por ocorrerem nos momentos de passagem de uma fase de crescimento à outra inerente ao desenvolvimento, no caso de que haja uma interferência na relação satisfatória dessa passagem.

Quantos às crises circunstanciais, Gilliland e James (1993 apud Wainrib & Bloch, 1998), afirmam que estas surgem com a ocorrência de eventos raros e extraordinários, que um indivíduo não tem como prever ou controlar. O ponto para diferenciar uma crise circunstancial de outras, é que esta é imprevista, intensa, comovente e catastrófica.

Baptista (2004 apud Aguilera, 1993), descreve crise psicológica como a inabilidade individual de resolver os problemas, aliada a uma condição de desequilíbrio emocional, frequentemente relacionado a grandes mudanças, que podem ser até mesmo positivas. Dessa forma, o sujeito se depara com uma situação que considera improvável de resolver, e, mesmo utilizando métodos de enfrentamento já utilizados anteriormente, que foram capazes de solucionar outras situações, não conseguem resolver a atual circunstância.

    1. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E VULNERABILIDADE

4.1 EPIDEMIOLOGIA

Segundo Who (1998 apud BOTEGA, 2006), numa óptica mundial, as mortes causadas por suicídio aumentaram cerca de 60% nas últimas décadas. Nesse intervalo de tempo, os maiores níveis de suicídio deslocaram da faixa mais idosa da população para as mais jovens (35-45 anos, e mesmo 15-25 anos, em alguns locais). O mesmo autor diz que, conforme dados da Organização Mundial da Saúde, 900.000 pessoas praticaram suicídio em 2003, o que corresponde a uma morte a cada 35 segundos.

Segundo Bertolote e Fleischmam (2002), estimando indivíduos de todas as idades, o suicídio fica entre as dez primeiras causas de morte do mundo e na segunda ou terceira causa entre jovens de 15 a 34 anos.

Dados apontam que nos Estados Unidos da América, cerca de 30.000 pessoas dão fim à própria vida a cada ano. Esses números mostram o suicídio como a nona causa de morte entre adultos (Ghosh e Victor, 1994) e terceira causa de morte entre adolescentes (KESTENBAUN & TRAUTMAN, 1992). Ocorrem mais tentativas de suicídio que suicídios com êxito, e vários outros casos de indivíduos que pensam nessa hipótese, mas não o tentam. O suicídio tornou-se um grave problema de saúde nos EUA.

No Brasil, são escassos os estudos sobre a epidemiologia do suicídio. Na investigação sobre os números de suicídio registrados entre 1980 e 2000, Mello-Santos, Bertolote e Wang constataram que, neste período, a taxa cresceu cerca de 21% (aumento de 3,1 para 4,0 a cada 100.000 habitantes).

Segundo Barros, Oliveira e Marin-León (2006) no País, o coeficiente de suicídio é de 6,6 pessoas a cada 100.000 habitantes (Barros, Oliveira e Marin-León, 2006) e é considerada relativamente baixa quando comparada aos números de outras nações. O País ocupa a 67ª posição no ranking mundial, contudo, em números absolutos está entre os 10 países com mais suicídios (OMS, 2006).

Segundo Lovisi et al (2006), registrando uma média de 9,3 mortes a cada 100.000 habitantes, o Sul do País demonstrou os números de suicídio mais altos durante o período de 1980 a 2006, prosseguida pelo Centro-Oeste, que apresentou uma média de 6,1 mortes por 100.000 habitantes. As menores taxas de suicídio foram encontradas na região Nordeste, com 2,7 mortes por 100.000 habitantes, e no Norte, com 3,4 mortes a cada 100.000 habitantes.

No entanto, os maiores aumentos puderam registrados na região Nordeste, no qual pode ser observado um acréscimo de 130%, e na região Centro-Oeste, com um incremento de 68% entre 1980 a 2006. As capitais que indicaram as médias mais elevadas no decorrer de todo o período de estudo, foram Boa Vista com 7,6 mortes por 100.000 habitantes, Porto Alegre apresentando 7,3 mortes a cada 100.000 habitantes e Florianópolis com cerca de 6,5 por 100.000 habitantes. As capitais com os percentuais médios mais baixos foram Salvador, indicando 1,2 mortes por 100.000 habitantes e Rio de Janeiro, com 2,4 mortes a cada 100.000 habitantes.

4.2 VULNERABILIDADE

Segundo a OMS (2006), em uma perspectiva mundial, os números de suicídio são maiores entre pessoas de mais idade que indivíduos mais jovens. No entanto, desde a década de 90 esse panorama vem sendo alterado em escala mundial e se tornou a 4ª maior causa de óbitos entre os 15 e 44 anos, tanto em países em desenvolvimento, como em países desenvolvidos.

No Brasil, entre 1980 e 2006, no momento em que as taxas de óbito por suicídio são analisadas de acordo com a faixa etária, observa-se a predominância de pessoas com idade superior a 70 anos, representando uma média de 7,8 mortes a cada 100.000 habitantes, acompanhada por indivíduos com idade entre 50 e 59 anos e entre 60 e 69 anos de idade, apresentando uma média de 6,8 e 6,7 mortes por 100.000 habitantes, respectivamente. O grupo de indivíduos com idades entre 40 a 49 anos apresentou o mais alto aumento, cerca de 43%, num período de 26 anos.

O sexo feminino está três vezes mais predisposto a tentar o suicídio se comparado ao sexo masculino. No entanto, os homens estão três vezes mais propensos a serem bem sucedidos em suas tentativas. O motivo para essa diferença ainda não está bem definido, porém se aceita o fato de que isso ocorra pelas mulheres estarem mais predispostas a padecerem de depressão que os homens, admitindo-se, dessa forma, o relevante papel desempenhado por essa doença frente aos atos suicidas (LOVISI et al 2009).

Outra hipótese, que também é destacada para esclarecer essa diferença entre os sexos feminino e masculino diz que os homens utilizam formas mais brutais, como o uso armas de fogo ou branca ou jogar-se de altura, em contrapartida, as mulheres se utilizam de meios menos letais, como uma overdose de medicamentos ou corte dos pulsos, aumentando, desse modo, a probabilidade das tentativas entre os homens serem bem-sucedidas (HOLMES, 2001).

O risco de suicídio e a idade correlacionam-se positivamente. Isto é particularmente válido para os homens. Enquanto a frequência nas mulheres permanece razoavelmente constante durante toda a vida, a frequência nos homens tem maior correlação com a idade. Ela aumenta agudamente durante a adolescência, tem um pico máximo entre os 30 e 40 anos e estabiliza-se até os 65 anos, quando novamente se eleva pelos anos remanescentes (MURPHY, 1994).

Segundo Murray & Zentner (1997), o suicídio foi descrito como a terceira maior causa de óbito (depois dos acidentes com veículos a motor e os homicídios) na faixa etária que corresponde dos 15 aos 24 anos de idade. A frequência de suicídios em adolescentes aumentou por volta de três vezes nos últimas 3 décadas (MURPHY, 1994).

De acordo com Ghosh & Victor (1994), um dos principais motivos que colaboram para esta ocorrência é o crescimento das patologias depressivas entre os jovens. Podem também ser associados ao suicídio em adolescentes, a religião (menores chances no caso de católicos e judeus), ser filho de portadores de patologias psiquiátricas, especialmente quando há o uso excessivo de drogas ou etilismo, histórico suicida na família, desemprego paterno e ausência da figura materna ou paterna.

Os indivíduos nas classes mais altas e mais baixas tem frequência de suicídio maior que aqueles de classe média, assim como os portadores de distúrbios afetivos (transtorno bipolar e depressão) tem muito maior probabilidade de cometer suicídio que aqueles em qualquer outro grupo de risco psiquiátrico ou clínico (KAPLAN & SADOCK, 1998).

Pois, de acordo com Dalgalarrondo (2008),

“A vida afetiva é a dimensão psíquica que dá cor, brilho e calor a todas as vivências humanas. Sem afetividade, a vida mental torna-se vazia, sem sabor. Afetividade é um termo genérico, que compreende várias modalidades de vivências afetivas, como o humor, as emoções e os sentimentos.”

Segundo Vieira & Coutinho (2008), embora não exista nenhum evento ou circunstância que possa antever o suicídio, existem certas vulnerabilidades que tornam algumas pessoas mais predispostas a cometer esse ato que outras. Dentre essas fragilidades, podem ser destacados os transtornos mentais, especialmente a depressão, apontada pela Organização Mundial de Saúde (2000) como agente causador de cerca de 30% dos casos de suicídio descritos em todo o mundo.

Kaplan e Sadock (1998) declaram que grande parte das pessoas que tentam o suicídio tem uma doença mental diagnosticada. Os distúrbios depressivos estão entre os responsáveis por grande parte dessas ocorrências. O início de uma terapia medicamentosa de antidepressivos pode aumentar consideravelmente o risco de suicídio, pois o regresso da energia traz maior capacidade ao indivíduo de efetivar desejos de autodestruição.

Outros distúrbios psiquiátricos que podem acarretar um comportamento suicida incluem distúrbios de uso abusivo de substâncias psicoativas, esquizofrenia, distúrbios cerebrais orgânicos, distúrbios de personalidade e doença do pânico (MURPHY, 1994).

Wunderlich et al. (1998), expuseram que os indivíduos que possuíam duas patologias psiquiátricas tinham um risco de tentar o suicídio cerca de 3,5 vezes mais alto que aquelas pessoas que não apresentavam nenhum transtorno. Conquanto as patologias mentais estejam associadas a mais de 90% dos casos de suicídio, ele ainda pode estar relacionado a diversos fatores culturais e sociais bastante complexos. O suicídio possui maiores chances de acontecer nos períodos de crises familiares, socioeconômicas ou individuais, como no caso do fim de um relacionamento afetivo.

A correlação entre depressão e suicídio é estreita, ao ponto do suicídio ser, considerado por muitos, um sintoma ou uma conseqüência exclusiva da depressão. A importância da associação entre um e outro é um dos dados mais conhecidos e replicados na literatura psiquiátrica.

Além disso, o comportamento suicida é frequentemente estimado como um dos sintomas característicos ou até mesmo, específico da depressão, até nos amplos sistemas nosográficos de classificação, como o CID 10, ou em escalas e inventários mundialmente conhecidos para avaliação dos sintomas depressivos (CORRÊA E BARRERO, 2006).

Ballone (2003) destaca que os sintomas depressivos mais relacionados ao suicídio estão associados ao severo prejuízo da autoestima, à desesperança e à inabilidade para resolver e enfrentar problemas do cotidiano. Esses sintomas podem não estar ausentes no início do quadro, porém conforme a depressão se torna mais grave, a baixa autoestima aumenta, e começam a surgir os sentimentos de inutilidade e, gradativamente, o indivíduo se torna mais desesperado.

Uma insônia grave se associa a um maior risco de suicídio, mesmo na ausência de depressão. O uso de álcool, e especialmente uma combinação de álcool e barbitúricos, aumenta o risco de suicídio. Psicoses, especialmente com alucinações imperativas, acarretam um risco maior que o normal. Os indivíduos de orientação predominantemente homossexual têm maior risco de suicídio, principalmente quando deprimidos, idosos ou alcoólatras (SLABY, LIEB & TANCREDI, 1986).


4.2.1 IDOSOS

Segundo Kaplan et al (2000), a maturidade ou a terceira idade é a época da vida humana que tem início por volta dos 60 anos de idade e designa, na atualidade, como o grupo etário de maior crescimento mundial.

Conforme Veras (2000),

“Socialmente, a terceira idade pode ser marcada a partir da aposentadoria, que contribui para o fortalecimento da visão de inutilidade social desse período de vida, considerando decadente devido a desmotivações, falta de objetivos, diminuição do padrão econômico de vida, falta de objetivos, ausência de reconhecimento social, além das limitações físicas típicas do processo de envelhecimento.”

Merlin et al (2004) denota que o distanciamento do mercado de trabalho propicia uma sequência de transformações na vida diária, requerendo ajustamento e adaptação do indivíduo. Além disso, com o passar do tempo, as alterações físicas vão surgindo, como a mudança da cor dos cabelos, a textura da pele e as rugas, a postura e a quantidade de gordura corpórea. Para alguns, essas mudanças não possuem significado negativo, para outros, no entanto, têm efeitos psicológicos consideráveis, como alterações na autoestima, isolamento e insatisfação.

Guerrero-Berroa e Phillips (2001), dizem que, a conjugação desses, entre outros fatores como o efeito colateral de medicamentos, situações de estresse, abuso de substâncias psicoativas, diminuição do contato social e o adoecimento podem ser causas da depressão na terceira idade, constituindo assim, fatores de risco para o suicídio em idosos.

Além disso, em relação à idade, as taxas de suicídio crescem com o decorrer dos anos, sendo para homens aos 45 anos de idade e para as mulheres após os 55, de modo que, em ambos os sexos essas taxas de prevalência continuam crescendo após sua fase crítica (PINTO, 1998). Dessa forma, os idosos demonstram altas taxas de suicídio, que nem sempre são superiores às taxas da população adulta, visto que se trata de um aspecto que sofre influência sociocultural, no entanto, os idosos obtem mais êxito em suas tentativas. (GLIATTO E RAI, 2000).

Conforme Minayo et al (2012) foi observado que mortes por suicídio entre idosos tiveram significativo aumento: 5.953 suicídios de idosos no Brasil (média de 595,3 óbitos/ano) na década de 1980; 8.547 (média de 854,7 mortes/ano) na década de 1990 e 7.994 de 2000 a 2006, equivalendo, em média, a 1.142 mortes anuais.

4.2.2 ADOLESCENTES

Segundo Avanci (2004), a adolescência foi relatada de acordo com o conceito médico, como uma fase do desenvolvimento humano de mudança entre a infância e a vida adulta, reconhecida principalmente pelas mudanças biológicas e relacionadas à maturidade biopsicossocial. Essas transformações são expressas como essenciais na vida do indivíduo, o que denota o fato da adolescência ser tratada como um período crítico, norteados de momentos de identificação profissional, de valores, sexual e sujeito à crises que, por muitas vezes podem ser tratadas como patológicas.

Destarte, Souza et al (2010), explica que a adolescência, por sua vez, é o grupo etário que mais mobiliza preocupações com comportamentos de risco à saúde.

Carvalho et al (2011) declara que, no mundo, cerca de 20% das crianças e adolescentes padeçam de algum tipo de transtorno mental incapacitante, no qual a depressão, a ansiedade e outros distúrbios de humor estão entre os mais frequentes. Existem indícios que parte desses casos que se apresentam no decorrer da vida, inicia-se na adolescência e, consequentemente, esses indivíduos tornam-se mais expostos ao uso de drogas, incluindo-se o álcool, ao baixo desempenho escolar, à atitudes criminosas e violentas e à idealização e pensamento suicida.

Baptista et al (2004) aborda que, conforme dados de prevalência de suicídio em pesquisas brasileiras, o adolescente e o adulto jovem são faixas etárias demasiadamente afetadas pelo suicídio e por suas tentativas.

Brent et al (2002), aponta os principais motivadores do suicídio entre os jovens, destacando o estresse, a percepção negativa, o suporte social deficitário, a violência familiar, a falta de convivência com os pais, a baixa escolaridade, o uso de álcool e drogas, as condições de saúde desfavoráveis, problemas financeiros e legais, ter tido contato com suicídio e a baixa autoestima.

Baggio (2009) continua relatando que relações familiares adversas, o pequeno número de amigos, contato agressivo com colegas e sintomas depressivos aumentam a prevalência do planejamento suicida, assim como o fim de relacionamentos amorosos intensos ou a oposição familiar a algum relacionamento amoroso, ter sofrido abuso sexual ou não possuir o locus de controle externo, ou seja, o senso de controle das situações.

Capitão (2004) esclarece que durante a adolescência, ocorrem inquietudes típicas, que pode ser compreendida na abordagem psicanalítica, como um período de desenvolvimento durante o qual, o indivíduo estabelece a identidade adulta, sendo assim, um momento marcante que conclui todo um processo de maturidade.

4.2.3 PACIENTES HOSPITALIZADOS

Sadock e Sadock (2007) defendem que a associação entre o suicídio e a doença é significativa e relata que é possível o indivíduo cometer suicídio mesmo dentro do ambiente hospitalar.

Segundo Stefanello e Furlanetto (2012), os pacientes que possuem patologias físicas demonstram taxas mais elevadas de ideação suicida. E, no momento em que esses pacientes são hospitalizados por causa dessas doenças, a predominância é ainda maior. Embora o fato da ideação suicida ser considerada um marcador para padecimento psíquico e do efeito avassalador que o suicídio de um paciente hospitalizado exerce sobre membros da equipe de saúde e familiares, ainda existem poucas pesquisas sobre o suicídio dentro do contexto de pacientes clínicos internados.

Gonçalves et al (2006) afirma que o predomínio de comorbidade psiquiátrica em pacientes com doenças físicas é alta e é um considerável fator de risco para o comportamento suicida, no entanto, pouco investigada nos pacientes clínicos internados. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado dos transtornos mentais, integrados à avaliação do risco de suicídio, são fundamentais para a prevenção do comportamento suicida.

Furlanetto e Brasil (2006) declaram que no período de internação do paciente em enfermarias clínicas, o mesmo, além de tolerar o peso da própria doença, sofre pelo fato de ter que suportar o afastamento de suas atividades rotineiras e da sua rede de apoio social. Esses elementos, em conjunto ao desconforto gerado pelas transformações impostas pelas normas hospitalares, tratamentos com efeitos desagradáveis rotinas de exames, contribuem para um estado no qual o paciente pode sentir-se com diminuição da sua capacidade de reação e perda do moral.

4.3 CRONICIDADE: DEPRESSÃO E ALCOOLISMO

4.3.1 DEPRESSÃO

Segundo a Organização Mundial da Saúde (2006), a depressão é evidenciada por um período contínuo e demorado de humor deprimido, com perda de prazer e entusiasmo em quase tudo. São frequentes sinais de fadiga, baixa autoestima, autoconfiança e irritabilidade, idéias de culpa e desvalia, visões sombrias e pessimistas do futuro e de auto-agressão e suicídio.

Dalgalarrondo (2008) defende que, analisando psicopatologicamente os distúrbios depressivos, esses possuem como elementos mais relevantes o humor triste e o desânimo.

Baptista (2004) argumenta que, enquanto transtorno mental, a depressão ocupa a principal causa de incapacitação, respondendo por 12% do total de afastamentos de atividades profissionais e educacionais, provocando um forte impacto econômico na sociedade. Além da questão econômica, a depressão causa no ser humano sofrimento e infelicidade, o que por si só, desperta a necessidade de diagnóstico e tratamento.

A depressão está intensamente associada à possibilidade de ocorrência do comportamento suicida. Estudos apontam que o indivíduo com quadro depressivo com comportamento suicida é desprovido, cognitiva e emocionalmente, de estratégias de enfrentamento de uma situação problemática na sua vida. A correlação entre depressão e ineficiência na resolução de problemas, indica que a presença de qualquer uma serve para aumentar a probabilidade de que a outra também ocorra (KELLER 2005).

Segundo Botega et al (2006) também afirma que a relação entre depressão e suicídio é inequívoca. O risco de suicídio aumenta mais de 20 vezes em pessoas com episódio depressivo maior, e é ainda maior em sujeitos com comorbidade com outras patologias psiquiátricas ou doenças. Dados de autópsia psicológica apontam que cerca de metade das pessoas que foram a óbito por suicídio, sofria de depressão.

Segundo Santos et al (2009), é necessário salientar que a depressão e a esquizofrenia são os dois principais transtornos mentais que mais contribuem para o aumento de risco de suicídio nos indivíduos adultos.

Silva et al (2006) relatam que pesquisas de risco atribuível na população observam que, se toda a depressão pudesse ser prevenida ou adequadamente tratada, 40 a 50% do comportamento suicida e da ideação suicida poderiam ser eliminados. Esta associação entre quadros depressivos e ideação suicida afasta uma tendência de determinados autores a normalizar a ideação suicida, colocando a questão como algo peculiar ao ser humano, refletir sobre a existência e na alternativa de voluntariamente pôr um fim a ela.

4.3.2 ALCOOLISMO

O alcoolismo é descrito por Edwards et al (2003) como um conjugado de problemas associados ao consumo exagerado e prolongado do álcool; é compreendido como a ausência de controle na ingestão inadequada e regular de bebidas alcoólicas e todas as consequências prejudiciais decorrentes.

Ponce et al (2008) relatam que pesquisas demonstram que juntamente com a intoxicação alcoólica, as tentativas de suicídios de alcoólatras deprimidos apresentam impulsividade e aumento de consumo de álcool na véspera. Descobriram uma correlação dose-resposta, na qual, quanto maior o consumo de álcool, maior a prevalência de comportamentos suicidas.

Além do abuso de álcool, o alcoolismo crônico está intrinsecamente associado ao comportamento suicida. Alcoólatras tem 60 a 120 vezes mais chances de apresentar comportamento suicida do que a população abstêmia. A redução do ingesta de álcool em alguns países está relacionada com o declínio no número de suicídios, enquanto outros, com alto consumo per capita de álcool, têm taxas altas de suicídios (SHER, 2006).

King (2006) alerta que quando a depressão ocorre simultaneamente ao alcoolismo, ocasiona um quadro grave, elevando o risco de suicídio. O abuso de álcool e a depressão tem sido associados ao aumento do risco de comportamento suicida tanto em adolescentes como em adultos. Alcoolistas que não estão sofrendo de depressão podem cometer suicídio, mas o risco certamente aumentará se a depressão estiver presente.

    1. RISCO E PROTEÇÃO

5.1 FATORES DE RISCO

Baptista et al (2004), conforme pode ser entendido através do estudo da literatura científica referente ao suicídio, este é um ponto complexo e de causas variadas. Os fatores de risco são vários interrelacionados, como o isolamento social, a transtornos psiquiátricos, problemas econômicos, decepção amorosa entre outros.

Segundo Sadock e Sadock (2007) vários são os fatores de riscos que podem levar uma pessoa ao suicídio, podendo aumentar quando este também é considerado vulnerável. Estes fatores de risco descritos por eles são:

    • Sexo: o número de homens que se suicidam é quatro vezes maior que o número de mulheres, porém, a probabilidade da mulher em tentá-lo é quatro vezes maior.

    • Idade: a taxa de suicídio tende a aumentar de acordo com o envelhecimento, principalmente na crise de meia-idade. No homem o pico é aos 45 anos, enquanto nas mulheres é após os 55. Pessoas mais jovens tentam se suicidar com mais freqüência, no entanto são menos efetivados quando comparado aos suicídios de indivíduos de mais idade. O suicídio a 3° maior causa na faixa etária de 15 a 24 anos.

    • Raça: o número de suicídios em homens brancos é maior que em homens negros, porém a taxa de suicídio entre negros está crescendo, podendo ser questionado esse dado.

    • Religião: de acordo com a história a taxa de suicídio entre a população, protestantes e judeus possuem maiores taxas de suicídio, quando comparados a população católica. Silva (2006), no entanto, não encontrou associação entre a religião (filiação religiosa) e a incidência do suicídio.

    • Estado civil: o casamento com filhos parece diminuir o risco de suicídios. Sadock e Sadock (2007) acrescentam ainda que, a taxa de suicídio é de 11 por 100 mil para pessoas casadas; as solteiras, que nunca contraíram matrimônio, registram uma taxa global até duas vezes maior. Indivíduos casados anteriormente, entretanto, apresentam taxas bem mais altas do que aquelas que nunca se casaram: 24 em cada 100 mil entre pessoas viúva, e 40 por 100 mil entre aquelas divorciadas, com homens divorciados registrando 69 por 100 mil, comparados com 18 por 100 mil para mulheres divorciadas.

    • Saúde Física: é relevante a correlação entre a saúde física e o suicídio, autópsias realizadas em vítimas de suicídio que em cerca de 25 a 75% dos casos, a doença física estava presente. O câncer e doenças do sistema nervoso central estão entre as mais frequentes.

    • Saúde Mental: transtornos psiquiátricos estão altamente relacionados com a presença do comportamento suicida. Pode-se apontar a depressão, a esquizofrenia, a dependência do álcool e outras substâncias, os transtornos de personalidade e de ansiedade, além do comportamento suicida anterior como principais agentes causadores.

5.2 FATORES DE PROTEÇÃO

Baptista (2004) aponta diversos fatores protetivos para o comportamento suicida, como por exemplo, ser mulher, estar em ambientes seguros, onde não estejam objetos que estimulem o pensamento suicida, não possuir patologias psiquiátricas, ter acesso a tratamento de saúde, realizar atividades físicas, ter sono restaurador e ter filhos, reduzem as possibilidades do indivíduo cometer suicídio. Afirma ainda que indivíduos que possuem vida social satisfatória, integração social e boas relações familiares, no qual estão emocionalmente envolvidos com seus membros, fazem parte desse grupo.

Sadock e Sadock (2007) relatam que ter alguma ocupação também reduz o risco de suicídio. Botega et al (2006) afirma que indivíduos com maior envolvimento religioso, num aspecto geral, possuem menores taxas de suicídio, além disso, uma visão mais otimista da vida, como contraponto ao sentimento de desesperança, protege o indivíduo do suicídio. O apego aos filhos e o sentimento de importância na vida de outras pessoas e, no sexo feminino, a gravidez e a maternidade parecem auxiliar para que as mulheres tenham menores taxas de suicídio.

    1. SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM (SAE)

A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é um método científico que está sendo amplamente difundido na atividade assistencial dos profissionais de enfermagem, pois garante ao paciente a melhoria do atendimento, enriquecendo assim, a condição da assistência prestada e delegando maior autonomia ao enfermeiro (TANNUERE E PINHEIRO, 2008).

O enfermeiro sente-se preparado para desenvolver suas habilidades técnico-científicas no acolhimento aos pacientes. A SAE proporciona respaldo científico, garantia e direcionamento para as atividades concretizadas, colaborando para uma maior competência, capacidade e visibilidade da enfermagem e, em efeito, para maior autonomia e contentamento profissional (TANNUERE E PINHEIRO, 2008).

A prática da assistência de enfermagem vai muito além da assistência médica, sendo esta fundamentada e instrumentalizada por um referencial favorável, mencionado e estabelecido pelos profissionais enfermeiros, o qual aprova a adesão da teoria à prática (PAIM, 2005).

Dessa forma, a implementação da SAE é essencial por colaborar para a melhora na condição da assistência, para a diferenciação da informação da profissão e por apresentar efeitos positivos para o paciente e a equipe de enfermagem (TANNUERE E PINHEIRO, 2008).

O Histórico de Enfermagem é empregado na coleta de dados para definir a condição do paciente relacionado a saúde e adaptar-se a qualquer dificuldade atual ou potencial de saúde, além de preparar, avaliar os dados colhidos (NARDI, 2004).

A coleta de dados pode ser direta ou indireta, a coleta de dados direta são aquele colhido direto do paciente, através da anamnese e do exame físico. A coleta de dados indireta são aqueles alcançados por intermediários, como por exemplo, familiares, amigos, prontuários de saúde, registro de outros profissionais de saúde, resultados de exames laboratoriais (TANNUERE E PINHEIRO, 2008).

A identificação de diagnósticos específicos é essencial, sendo que a partir desta, poderá esquematizar um cuidado para uma intervenção mais concisa. Desta forma, a finalidade do plano de assistência é manter um direcionamento para o tratamento e, desta maneira, atender melhor às necessidades dos pacientes, colaborando para a construção do saber e engrandecimento da enfermagem. A NANDA tem contribuído para a ampliação e aprimoramento dos diagnósticos de enfermagem e de um sistema para qualificar em uma taxonomia (ROCHA, 2006).

Os diagnósticos de enfermagem fornecem o apoio para opção das prescrições de enfermagem, para chegar aos resultados do cuidado (ZUSE, BRIGO E SILVA, 2010).

De acordo com Zuse, Brigo e Silva (2010), a Prescrição de enfermagem é que comprova os atos ou atividades do cuidado de enfermagem. Percebe-se que, quando o enfermeiro projeta ações deliberadas para obter uma meta ou objetivo com o seu paciente, esta capacidade intelectual é concebida em uma prescrição de enfermagem. A prescrição de enfermagem é um passo que norteia os cuidados a serem oferecidos de uma forma direcionada.

É válido lembrar que os enfermeiros não tratam as condições médicas e sim prescrevem cuidados para as respostas humanas das condições clínicas. As prescrições planejadas devem ser éticas e apropriadas à cultura, idade, sexo do paciente. (CARPENITO, 2002; TANNURE, 2008).

Assim, os enfermeiros dispõem das atividades daqueles envolvidos no processo de implementação, de modo que a agenda de atividades promova a melhora do paciente, aliado ao diagnóstico de enfermagem (SMELTZER, 2006).

6.1 PLANO DE CUIDADO EM CLIENTE COM COMPORTAMENTO SUICIDA

Tendo como principais diagnósticos em clientes com comportamento suicida, segundo Araguaia (2010), o Risco de violência: autodirigida, esta relacionada ao humor deprimido, onde o paciente tem um sentimento de menos valia raiva voltada internamente para o eu e interpretações errôneas da realidade.

Risco de automutilação, onde é definida como qualquer comportamento que seja de intenção envolvendo agressão direta ao próprio corpo sem intenção consciente de suicídio. Os atos geralmente têm como intenção o alívio de dores emocionais (SOUZA, MARTINO E LOPES, 2007).

Ajuste Individual Ineficaz, de acordo com Souza, Martino e Lopes (2007), onde a influência mútua é danificada devido ao afastamento das atividades diárias tendo como, por exemplo, o ato de fazer compras, participar de grupos ou eventos sociais, exercerem trabalhos profissionais, que se reflete no papel, que alteram devido ao distanciamento dos compromissos e dos direitos acompanhados à posição ocupada.

O enfermeiro deverá estabelecer metas realistas para o paciente, fazer como que o mesmo concorde com um contrato de não se ferir; ajudar o paciente a relatar à equipe na hora oportuna sentimentos relacionados ao desejo de se ferir, fazendo com que o paciente verbalize seus sentimentos diretamente durante o tratamento, e assim expressando de maneiras concretas de resolver problemas em áreas de interesse na situação vital do momento. Desta forma, o paciente vai relatar mais sentimentos de esperança no futuro juntamente relatando maior sentimento de controle sobre sua situação de vida no momento e assim conseguindo identificar sistemas de apoio antes da alta (ISAAC, 1998).


A sensibilidade e o cuidado do enfermeiro e sua equipe, mantém uma atitude de aceitação, evitando um comportamento crítico; estar ciente dos vieses pessoais que vão afetar o tratamento, estabelecer uma relação de apoio e confiança, e não se colocar em confronto com o cliente relativamente aos seus mecanismos de defesa, transmitindo calma, segurança e encorajando o paciente a dedicar-se a atividades físicas (ISAACS, 1998).

O enfermeiro deve estar atento para avaliar o grau de risco de suicídio do cliente, notando sinais de aviso, intenção de se ferir, natureza concreta do plano e recursos disponíveis. Identificar quaisquer fatores de risco, determinar o grau dos recursos e sistemas de apoio do paciente (ISAACS, 1998).

Desta maneira, levar a sério os sinais de aviso, sempre que possível, remover materiais ou objetos perigosos e potencialmente letais. Colocar o cliente num ambiente seguro e protegido e monitorá-lo atenta e consistentemente. Mobilizar apoio, se necessário estabelecer uma relação firme, mas de apoio, encorajar o cliente a falar a respeito de estressores, sentimentos de dor, raiva, angústia e planos de suicídio (ISAACS, 1998).

Assim, as táticas do cuidado enfatizam as maneiras para que o paciente possa comunicar sua presença e seu desejo de impedir o cliente de se ferir, estar ciente de que o risco de suicídio aumenta quando a depressão começa a melhorar (o cliente passa a dispor de novas energias para executar seu intento); Reforçar o desejo do cliente de resolver os problemas e viver, ajudar o cliente na resolução de problemas; decompor o problema em partes mais acessíveis; instruir os familiares quanto aos sinais de aviso e encorajá-los a dar apoio e em certos casos encaminhar o cliente a tratamento ambulatorial (ISAACS, 1998).

    1. DISCUSSÃO

Émile Durkheim no século XIX, em sua teoria sociológica, procura explicar o suicídio através de uma perspectiva social, dividindo os suicidas em três grupos: os egoístas, os altruístas e os anômicos. Todos esses três motivos estariam relacionados à interação do indivíduo com o meio em que vive (TEIXEIRA, 2002).

Freud acreditava que o suicídio representava um intenso ódio que o indivíduo possuía por si mesmo. A raiva teria origem em um objeto de amor, porém acabava sendo destinada internamente para o eu e considerava que o suicídio ocorria em consequência de um desejo reprimido anterior de matar um outro indivíduo. Ele compreendia que não poderia haver suicídio, se não houvesse essa vontade anterior de assassinar alguém (SADOCK e SADOCK, 2007).

Botega et al (2006) afirma que o suicídio além de representar uma tragédia no contexto pessoal e social, configura também um sério problema de saúde pública. Ele alerta quanto à necessidade de se estudar e compreender esse tema, pois o comportamento suicida, independente do ponto de vista pelo qual é analisado, está completamente relacionado ao sofrimento.

Turecki (1999) declara em seu estudo que o suicídio é um sério problema de saúde pública e se encontra entre as primeiras 10 causas de óbito em grande parte dos países em pessoas de todas as faixas etárias e entre indivíduos mais jovens configura entre as três primeiras causas de morte.

Keller e Werlang (2005) apontam que segundo dados da Organização Mundial de Saúde, no ano 2000, cerca de 815 mil pessoas cometeram suicídio, representando assim, uma morte a cada 40 segundos e que em 2001, o suicídio representou 1,4% do volume mundial de doenças, com projeção para 2020 de 2,4%. Reafirma que o suicídio se posiciona entre as 10 primeiras causas de óbito no mundo e está entre as primeiras três causas entre os jovens.

Baptista (2004) em seu livro publica que vários podem ser os fatores de risco que podem levar um paciente a cometer suicídio e considera essa uma temática amplamente discutível. Entre eles, correlaciona o isolamento social, a depressão, o abandono, o estresse, o uso abusivo de álcool e outras drogas, crises familiares e financeiras, decepções amorosos, histórico de doença psiquiátrica e transtornos de ansiedade e a dor física como fatores que podem desencadear o comportamento suicida.

Sadock e Sadock (2007) acrescentam que as variáveis sexo, idade, raça, religião, estado civil, a ocupação, a saúde física e mental, a dependência do álcool, o comportamento suicida anterior, pacientes psiquiátricos, principalmente depressivos e esquizofrênicos e portadores de transtorno de humor e ansiedade, bem como fatores biológicos e o comportamento parassuicida (indivíduos que praticam automutilação), estão mais propensos a cometer o suicídio.

Quanto aos fatores de proteção, Baptista (2004) relata que indivíduos que possuem boas relações familiares, boa saúde física, vida social satisfatória, ser mulher, estar em ambientes seguros sem objetos que despertem a ideação suicida, ter um bom sono, não ter transtornos psiquiátricos, realizar atividades físicas ou ter filhos, podem reduzir o risco de comportamento suicida.

Botega et al (2006) defende que pessoas com envolvimento religioso, ter bons vínculos afetivos, ter a sensação de estar ligado a alguma comunidade ou grupo, ter filhos pequenos, ter companheiro fixo ou estar casado, desenvolvem na pessoa a capacidade de se proteger das intenções suicidas, afirma também que os fatores protetivos são técnicas de prevenção ao suicídio.

Dalgalarrondo (2008) defende que a entrevista inicial é o ponto determinante para o diagnóstico e o tratamento do transtorno mental, pois se bem conduzida, essa abordagem pode gerar no paciente a sensação de confiança e de esperança, trazendo alívio para o sofrimento. Explica também que, nas primeiras entrevistas, deve-se evitar pausas ou silêncios longos, pois isso acarretaria num maior nível ansiedade por parte do paciente, tornando a entrevista tensa e improdutiva.

Townsend (2002) afirma que a atividade do enfermeiro da Saúde Mental deve ser elaborada com os seguintes propósitos: planejar, programar, avaliar a assistência de enfermagem, a cada paciente, de forma individual ou coletivamente, elaborar e cultivar um ambiente terapêutico agradável voltado para a concretização das várias atividades, atuando junto ao cliente, à família e à equipe no atendimento de suas necessidades básicas para obtenção de uma saúde, física e mental. Observa que devem ser evitadas longas e insistentes discussões sobre o pensamento irracional do paciente, pois esse tipo de abordagem pode dificultar a construção de uma relação de confiança entre o enfermeiro e o paciente.

    1. CONCLUSÃO

No decorrer da realização deste trabalho, pode-se observar que, em grande parte da literatura relacionada ao suicídio, os índices, numa perspectiva mundial, são elevados, demonstrando que esta prática tem se tornado algo cada vez mais comum na sociedade.

O Brasil, infelizmente, segue o contexto mundial, com números considerados alarmantes. Com esses parâmetros sendo descritos após o suicídio consumado e, com raras pesquisas relevando dados sobre tentativas e ideias suicidas, torna-se mais complexa a prevenção do suicídio.

Trabalhar o tema “morte” em si, já é algo demasiadamente complicado, abordar a problemática suicídio então, visto que esse é um que envolve vários fatores, pois diversos são os moldes hipotéticos e estatísticos que fazem um indivíduo a pensar em cometer o suicídio, transforma-se aí, numa questão inquietante para os profissionais da saúde: como abordar um paciente com comportamento suicida?

De acordo com o que foi visto, não minimizar os sinais que são dados pelo paciente, como frases, gestos, por si só, já são bastante úteis para se evitar o suicídio consumado, pois o paciente com características suicidas, parte rapidamente das ideias às tentativas e das tentativas para o ato consumado.

Dessa forma, abordar o paciente requer um grau de sensibilidade maior do enfermeiro, ofertando ao usuário a oportunidade de falar sobre suas ideias ou mesmo tentativas, tratando-o com empatia e assegurando-lhe sigilo para que aquele se sinta à vontade em estabelecer um diálogo.

Na abordagem a esse paciente, deve-se priorizar o acolhimento, realizando uma escuta de qualidade, encaminhando-o a um ambiente calmo, seguro e confortável, extrair o máximo de informações sobre suas ideias ou tentativas, avaliando-o por meio da entrevista, e, a partir daí, trabalhar os sentimentos que afligem esse paciente.

É importante identificar os fatores de risco e proteção à que estão submetidos o paciente que apresenta comportamento suicida, pois estes podem propiciar o esclarecimento do que tais elementos produzem no indivíduo, pois estes aumentam ou reduzem a probabilidade de que ele possa cometer a tentativa.

O enfermeiro possui papel fundamental e relevante para o tratamento da pessoa com comportamento suicida e, a forma com que age pode definir o caminho a ser tomado pelo paciente. Necessário se faz assim, que seja utilizada de forma correta a estratégia de comunicação terapêutica, demonstrando ao paciente que há outras saídas para seus problemas que não seja o suicídio.

    1. REFERÊNCIAS

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