TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS MENORES E FATORES ASSOCIADOS EM CATADORES DE LIXO DO MUNICÍPIO DE EUNÁPOLIS-BA.

Data de postagem: Jun 18, 2015 4:53:10 PM

FACULDADES INTEGRADAS DO EXTREMO SUL DA BAHIA

KARLA STEFANI DOS SANTOS DIAS BERTO

TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS MENORES E FATORES ASSOCIADOS EM CATADORES DE LIXO DO MUNICÍPIO DE EUNÁPOLIS-BA.

EUNÁPOLIS, BA

2015

KARLA STEFANI DOS SANTOS DIAS BERTO

TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS MENORES E FATORES ASSOCIADOS EM CATADORES DE LIXO DO MUNICÍPIO DE EUNÁPOLIS-BA.

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Enfermagem das Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia como parte dos requisitos para obtenção de Título de Bacharel em Enfermagem.

Orientação: Prof.ª Gislaine Maria Rodrigues Silva.

EUNÁPOLIS, BA

2015

KARLA STEFANI DOS SANTOS DIAS BERTO

TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS MENORES E FATORES ASSOCIADOS EM CATADORES DE LIXO DO MUNICÍPIO DE EUNÁPOLIS-BA.

Trabalho de conclusão de curso aprovado como requisito parcial à obtenção do Título de Bacharel em Enfermagem das Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia, Eunápolis, BA, pela seguinte banca examinadora:

Prof.ª Gislaine Maria Rodrigues da Silva (Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia).

___________________________________________________________________

Prof. Msc. Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia).

___________________________________________________________________

Prof. Msc. (Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia).

___________________________________________________________________

Prof.ª Maria Cristina Marques

Coordenadora do Curso de Enfermagem

Eunápolis-BA.________________________________________________________

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiramente a Deus, que me sustentou até aqui e preparou pessoas em todo esse percurso para me auxiliar.

Ao meu pai Ananias Viana Dias “In memoriam”, que sempre lutou para criar a mim e meus irmãos e mesmo na simplicidade que tinha sempre nos incentivou a buscar uma boa formação. Se estivesse aqui estaria muito orgulhoso

A minha mãe Marialda Mota Santos, mulher simples, guerreira, esforçada, uma mãe única capaz de doar seu amor a quem menos o merecia. Te amo mãe.

Ao meu esposo Lucas Augusto Dias Berto, meu maior incentivador, amigo e companheiro nas horas difíceis que por muitas vezes virava noites comigo me ajudando a estudar. Muito obrigada por acreditar em mim.

As minhas irmãs Anerialda Dias Barreto, Aneriane dos Santos Dias, Francisca Romana dos Santos Dias, que são exemplos de mulheres guerreiras e que se esforçam ao máximo para alcançar seus sonhos.

Ao meu irmão José Laurencio Dias Neto, exemplo de homem que luta para alcançar seus objetivos e muitas vezes se esquece dele mesmo para ajudar os que estão a sua volta.

A todos os meus familiares, agradeço pelas orações e por estar sempre o meu lado.

Aos meus amigos mais próximos que sempre acreditaram em mim.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu Deus que traçou todo o meu caminho até aqui e por ter permitido que eu alcançasse esse sonho. Creio que até aqui Ele escreveu essa história, agora Ele tem novos lápis e papeis nas mãos e irá escrever o que quiser, pois Ele é Deus.

Aos meus pais, pela formação que me deram, pois possibilitou ser quem eu sou. Mas ainda estou em construção.

Ao meu esposo, que nunca mediu esforços para me auxiliar e em tudo sempre esteve à disposição.

À minha família pelo apoio constante e pelas orações.

À minha grande amiga Uanda, que sempre esteve presente em todos os momentos importantes da minha vida e agora não seria diferente.

A todos os meus colegas de turma, pelo companheirismo, aprendizado e experiências compartilhadas e em especial a Edlaine Tomazelli, Kiane Bonella Scaramussa e Jéssica Matos, amigas sempre presentes com as quais sempre pude contar.

A todo corpo docente do curso de Enfermagem pelo conhecimento compartilhado e por verdadeiramente desempenhar o papel de facilitadores do aprendizado, em especial ao casal de professores Raquel e Nilson Marques, ao Prof. Johan Paulo, à Prof.ª Janaína Frigerio Donadia, ao Prof. Diego Rosa Leal pelo seu modo único de ver as coisas e transmitir suas experiências sendo responsável por desperta em mim o interesse pelo estudo da mente, à Prof.ª Maria Cristina Marques pela sua dedicação e principalmente por sua simpatia inigualável e pelo seu modo doce, porém firme de nos corrigir quando necessário,

À minha orientadora Gislaine Maria Rodrigues Silva, por todo apoio, competência, sabedoria e pelas palavras por vezes duras, porém necessárias para minha formação.

A todos que de maneira direta ou indireta contribuíram para que eu chegasse até aqui, muito obrigada.

EPÍGRAFE

O que fazemos para nós mesmos morre conosco. O que fazemos pelos outros e pelo mundo permanece e é imortal.

Albert Pine

RESUMO

Introdução: A saúde mental constitui aspecto importante no que diz respeito à função cognitiva e emocional dos indivíduos e até os dias atuais não houve um consenso sobre sua definição, porém esta área da saúde tem estado em constante evidência, visto que o que mais se tem ouvido falar são nas doenças da mente. Outra vertente crescente com o decorrer dos anos é a geração de resíduos sólidos e líquidos, fazendo nascer uma nova classe de profissionais, os catadores de lixo. Estes, por sua vez, são pessoas com baixo nível de escolaridade e excluídos do mercado de trabalho que optaram pelo trabalho de catador para retirar do lixo seu sustento. Objetivo: é avaliar a existência de transtornos psiquiátricos menores e fatores associados em catadores de lixo do município de Eunápolis-BA, levando em consideração que esses transtornos acometem pessoas com nível socioeconômico baixo, mulheres, condições de vida precária, uso de álcool e drogas. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa observacional, transversal de cunho descritivo, realizada com catadores de materiais recicláveis no lixão do município de Eunápolis/BA, que de acordo com a acessibilidade e disponibilidade em colaborar com a pesquisa, colaboraram com informações socioeconômicas e referentes à saúde mental destes. Discussão: são apresentadas tabelas dos dados socioeconômicos e os dados referentes à existência de Transtornos Psiquiátricos Menores (TPM), onde através de uma divisão foram gerados quatro fatores que compunham dimensões específicas, identificadas como: fator I – comportamento ansioso e depressivo, fator II – sintomas somáticos, fator III – Decréscimo de energia vital e fator IV – pensamentos depressivos, para uma melhor compreensão dos dados obtidos através do SRQ-20. Conclusão: Está investigação nos mostra sucintamente a problemática vivida pelos trabalhadores que lidam com o lixo. O objetivo foi traçar um perfil hipotético de possibilidade de estar sofrendo ou não um TPM, para que dessa maneira possa-se contribuir para que uma maior atenção seja dispensada aos seres humanos que estão na condição de catadores de materiais recicláveis de, sem esquecer que tal atenção também deve surgir nos contextos vividos por tais trabalhadores.

Palavras-chave: Saúde mental, Transtornos Mentais, Catadores.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 10

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 11

2.1 UM BREVE RELATO SOBRE A SAÚDE MENTAL NO BRASIL 11

2.2 TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS MENORES 13

2.2.1 Depressão 13

2.2.2 Ansiedade 14

2.2.3 Queixas somáticas e Sintomas Somatomorfes 14

2.3 BREVE HISTÓRICO DO SURGIMENTO DAS PROFISSÕES 14

2.4 CATADOR DE LIXO: UMA NOVA CLASSE DE PROFISSIONAIS 16

2.5 O TRABALHO DE CATADOR E A SAÚDE MENTAL 16

2.6 A TRISTEZA E A ALEGRIA QUE O LIXO PODE REPRESENTAR 18

3 METODOLOGIA 19

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 20

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 39

6 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 41

ANEXO I 44

ANEXO II 46

ANEXO III 49

1 INTRODUÇÃO

A saúde mental é uma esfera importante para que o indivíduo possua qualidade de vida cognitiva e emocional visto que existe uma interação direta entre a mente e o corpo. O sofrimento mental por vezes é desvalorizado e isto se dá porque, o que se pode ver e tocar são mais justificáveis do que um sentimento de ansiedade, estresse, angústia ou qualquer outro que não seja visível.

O conceito de saúde mental é muito amplo, porém, podemos dizer que este é o equilíbrio emocional entre os sentimentos internos e as vivências externas e dentro dessas vivências lidamos com o ambiente em que trabalhamos, no qual deste provemos nosso sustento.

O ambiente de trabalho exerce influência significativa na saúde mental e nesse contexto destaca-se o surgimento de uma nova categoria profissional: os catadores de lixo. Estes são pessoas que na maioria dos casos se vem em frente ao desemprego, são carentes de estudo e oportunidades e por essa razão buscam outras fontes para tirarem o seu sustento. Segundo Gonçalves (2001), os catadores de materiais recicláveis, nome dado formalmente à profissão desde 2002 no Código Brasileiro de Ocupações (CBO), são pessoas que vivem e trabalham individualmente e/ou coletivamente, na atividade de coleta, triagem e comercialização de materiais recicláveis.

Os catadores de lixo frequentemente estão expostos a riscos à sua saúde física pelo contato direto com materiais orgânicos e inorgânicos desprezados de forma inadequada nas ruas ou em lixões a céu aberto. Dentre esses materiais encontram-se resíduos sólidos (vidro, plástico, papel, metais) e líquidos, que geram riscos à saúde principalmente física destes catadores. Porém, queremos ressaltar nesta pesquisa os riscos como estressores, angústia, exclusão social, desesperança, que geram impactos na saúde mental destes trabalhadores. Levando em questão à saúde mental destes, esta pesquisa busca avaliar a existência de transtornos psiquiátricos menores e os fatores associados tais como o perfil socioeconômico, os motivos que os levaram à condição de catadores de lixo e através dessas informações a possível identificação de como é a assistência à saúde destes e de que maneira seria possível conscientizá-los e inseri-los ao Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).

A organização do ambiente de vivências exerce, sobre o homem, uma ação especifica, cujo impacto é o aparelho psíquico (DEJOURS, 1998). O ambiente de trabalho exerce influência direta na saúde mental do indivíduo, uma vez que é nesse contexto que ele passa maior parte de seu tempo. As significações construídas a partir do ambiente e das condições de trabalho e de vida estão intrinsecamente ligadas ao sofrimento gerado pelo mesmo. O lixo e toda a significação que o envolve é um fardo muito pesado para o catador. O lixo é tudo aquilo que ninguém quer para si e trabalhar com ele é certamente a última alternativa encontrada por esses indivíduos. (FOSSÁ, 2006)

Os principais estressores psicossociais no trabalho dos catadores segundo Levi, (1984) são: sobrecarga quantitativa (muita coisa para fazer em pouco tempo), atividades pouco estimulantes ou monótonas, conflitos de papéis e responsabilidades, falta de controle sobre a sua própria situação, falta de apoio social e trabalho em turnos.

Como abordado anteriormente à profissão de catador já obteve seu reconhecimento e registro na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), porém essas pessoas fazem parte do mercado de trabalho informal o que faz com que estes não possuam o resguardo da lei regulando sua atuação, e como já dito, essas pessoas não possuem o reconhecimento social e público frente ao importante trabalho que realizam.

Essas pessoas acharam no lixo um meio de ganhar a vida e resgatar a própria dignidade e trilhar um caminho para longe da pobreza extrema e mesmo depois desse reconhecimento pela CBO e os diversos movimentos pelos direitos, estes continuam sendo discriminados, por diversos motivos, por causa de sua aparência suja, má vestida, por mexerem com o lixo.

O catador de lixo assim como nós, possui os mesmos direitos e deveres de cidadãos. Ele possui o direito integral à saúde, educação, moradia, trabalho, previdência social, proteção à maternidade e à infância, assistência aos desamparados, segurança, lazer, vestuário, alimentação e transporte e um dos deveres para com a sociedade que este realiza é a proteção ao meio ambiente através do auxílio na organização e diminuição da quantidade de lixo espalhado e minimização de impactos socioambientais, função que este muitas vezes cumpre sem nem se quer saber o importante papel que desempenha.

É necessária a realização de estratégias de educação em saúde com estes profissionais enfatizando o uso dos equipamentos individuais de proteção (EPI’s), ensinamentos de como manusear corretamente esse lixo, inserção efetiva nos programas existentes nos PSF’S, visto que essas pessoas vivem expostas a riscos de acidentes com cortes, perfurações, doenças de pele e mucosas, doenças parasitárias, intoxicações alimentares, aquisição de doenças como AIDS e hepatites virais.

E no que se refere à saúde mental desse trabalhador, verifica-se que o mesmo em seu ambiente de trabalho passa por situações de estresse e devido à grande carga psíquica gerada em torno da função de catador, esse indivíduo necessita ser integrado e encaminhado ao Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), mesmo aqueles que apresentarem transtornos simples como baixa auto-estima precisam ter acesso a esse serviço de saúde a fim de prevenir transtornos maiores.

O referencial teórico dessa pesquisa, a saber, divide-se em 6 capítulos, o primeiro em questão nos traz um breve relato da história da saúde mental no Brasil, salientando as conquistas que a rede de atenção à saúde mental alcançou no decorrer da história.

O conceito de transtornos psiquiátricos menores, quais transtornos compreendem essa classificação e o detalhamento de cada um destes transtornos é o que nos mostra o capítulo seguinte.

Trazemos no terceiro capítulo um breve histórico a respeito do surgimento das profissões em geral, onde no quarto capítulo é apresentado o surgimento da categoria profissional de catadores de lixo, onde os trabalhadores que desempenham essa função bem como suas vivencias, são o objeto de estudo da pesquisa.

No capítulo seguinte, é feita uma análise sobre como o trabalho que este desempenha como catador pode ou não influenciar no surgimento dos transtornos psiquiátricos menores, anteriormente abordados.

No sexto capítulo é abordada a visão que este profissional tem de seu ambiente de trabalho e quais são as alegrias e tristezas que essa experiência laboral lhe proporciona.

Seguimos com a abordagem metodológica e os resultados obtidos através da pesquisa bem como a discussão desses dados para ciência se as hipóteses geradas foram confirmadas ou não.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 UM BREVE RELATO SOBRE A SAÚDE MENTAL NO BRASIL

As questões relacionadas à mente desde a antiguidade sempre foram rodeadas de estigmas. Muitos acreditavam que o indivíduo com algum tipo de transtorno mental na verdade, tinha sua alma retirada do corpo e só poderia recobrar seu sentido perfeito quando esta retornasse ao corpo (TOWNSEND, 2000).

Com o passar dos anos esses conceitos foram sendo desmistificados, e no Brasil os chamados loucos passaram a sair das zonas rurais, colônias e asilos para integrar a população na zona urbana, e todo esse processo ocorreu com o final gradual da ditadura militar (MELO, 2012).

Um dos grandes marcos após a queda da ditadura militar foi a realização da VIII Conferência Nacional de Saúde em 1986, que colocaram sobre enfoque questões sanitaristas, a participação comunitária, a equidade dos atendimentos, a descentralização do sistema, a universalidade e a integralidade das ações (SOARES; MOTTA, 2004).

De acordo com Gaudenzi e Schramm, 2010:

[...] Precisava-se de uma nova Constituição para um novo Brasil. Assim, instalada a Assembleia Nacional Constituinte em 1987, amplos debates foram travados entre os representantes políticos e a sociedade civil, incluindo o Movimento Sanitário, culminando na Constituição de 1988, onde a saúde pública passou a ser entendida como direito do cidadão. Estava iniciada a história do Sistema Único de Saúde, prevista abertamente na carta magna [...].

Um pouco antes da constituição do SUS, em 1852 surgiu no Brasil o primeiro manicômio, o Hospício Dom Pedro II, e em 1964 já teve o início da luta antimanicomial tendo sua efetividade em 1970 com o começo da Reforma Psiquiátrica (BRASIL, 2005).

Em 1982, ocorreu um fato que foi um salto na busca pelos direitos dos que possuíam algum transtorno mental, foi à aprovação do Programa de Reorientação da Assistência Psiquiátrica Previdenciária, onde o modelo voltado para a internação hospitalar foi questionado e o estabelecimento de uma rede pública voltada aos cuidados dos portadores de transtornos mentais foi coloca em enfoque (COUTO, 2008).

Entretanto, em 1987 ocorreu o passo mais importante para a consolidação das políticas voltadas à saúde mental, a I Conferência Nacional de Saúde Mental, que ocorreu paralelamente ao II Encontro de Trabalhadores em Saúde Mental trouxe sérias denúncias sobre os atentados aos direitos humanos cometidos em manicômios. Um ano depois estavam lançadas as bases para a Reforma Psiquiátrica Brasileira (BRASIL, 2005).

Nesse percurso várias conquistas foram alcançadas e em 1992, foi realizada a II Conferência Nacional de Saúde Mental, dando novo impulso à reforma que já havia iniciado, e muitos estados da Federação, inspirados no Projeto Paulo Delgado começaram a sancionar leis que reduziram gradativamente as internações psiquiátricas o que impulsionou o ministério da saúde a emitir normas sobre o funcionamento dos primeiros CAPS, NAPS, Hospitais-dia, bem como estabelecer critérios rigorosos na fiscalização e autorização de funcionamento dos hospitais psiquiátricos (BRASIL, 2005).

No ano de 2001, na III Conferência Nacional de Saúde Mental o CAPS foi definido como serviço de atenção diária que funcione segundo a lógica do território, sendo subdivididos em CAPS I, CAPS II e CAPS III, assim definidos por porte, complexidade e abrangência populacional, passando a ser o articulador central das ações de saúde mental (BRASIL, 2005).

Os CAPS surgiram como uma proposta inovadora que interligava saberes, instituindo o trabalho em equipe com proposta de ação integral e articulada, como um mediador entre o usuário e a comunidade em que está inserido com visão da reabilitação psicossocial (YASUI, 2206).

Com base na Portaria 3.088/11, os CAPS atendem pessoas com transtornos mentais graves e indivíduos com problemas relacionados ao uso/abuso de álcool, do crack e outras drogas. A classificação dos CAPS se dá da seguinte maneira:

a)CAPS I: atende pessoas com transtornos mentais graves e persistentes e também com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas de todas as faixas etárias; indicado para municípios com população acima de 20.000 habitantes;

b) CAPS II: atende pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, podendo também atender pessoas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, conforme a organização da rede de saúde local; indicado para municípios com população acima de 70.000 habitantes.

c) CAPS III: atende pessoas com transtornos mentais graves e persistentes. Proporciona serviços de atenção contínua, com funcionamento 24 horas, incluindo feriados e finais de semana, ofertando retaguarda clínica e acolhimento noturno a outros serviços de saúde mental, inclusive CAPS Ad; indicado para municípios ou regiões com população acima de 200.000 habitantes.

d) CAPS AD: atende adultos ou crianças e adolescentes, considerando as normativas do Estatuto da Criança e do Adolescente, com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. Serviço de saúde mental aberto e de caráter comunitário, indicado para municípios ou regiões com população acima de 70.000 habitantes.

e) CAPS AD III: atende adultos ou crianças e adolescentes, considerando as normativas do Estatuto da Criança e do Adolescente, com necessidades de cuidados clínicos contínuos. Serviço com no máximo 12 leitos para observação e monitoramento, de funcionamento 24 horas, incluindo feriados e finais de semana; indicado para municípios ou regiões com população acima de 200.000 habitantes.

f) CAPS I: atende crianças e adolescentes com transtornos mentais graves e persistentes e os que fazem uso de crack, álcool e outras drogas. Serviço aberto e de caráter comunitário indicado para municípios ou regiões com população acima de 150.000 habitantes.

Dessa maneira, entendemos que o advento do CAPS não é o fim da Reforma Psiquiátrica, mas apenas o começo pela luta dos direitos e por um serviço de qualidade para aqueles que necessitam das intervenções relacionadas à saúde mental (YASUI, 2006).

2.2 TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS MENORES

No âmbito das vivencias diárias de cada indivíduo, o prazer deveria estar inserido nesse cotidiano. A partir de 1948 a saúde passou a ser definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade, ou seja, esse indivíduo para obter seu completo estado de saúde necessita ter suas necessidades biopsicossociais atendidas (LUDERMIR, 2002).

Na década de 1960, intensificaram-se pesquisas que passariam a incorporar fatores não biológicos como o meio ambiente, fatores sociodemográficos, condições de vida, etc., para entender os processos saúde/doença. Dessa maneira pode-se destacar que a saúde psíquica, tem alçado grande destaque na atualidade, nos remetendo a questões como depressão, alto índice de suicídio, entre outros fatores relacionados à saúde da mente (BRAGA, 2010).

A OMS estima que uma em cada quatro pessoas será afetada por um distúrbio mental no decorrer de sua vida. Problemas relacionados ao consumo de álcool e drogas atingem milhares de pessoas e ocasionam perca da funcionalidade, geram morbidade e alteram a qualidade de vida dessas pessoas (GONÇALVES, 2008).

Esse novo modo de perceber a saúde abrangendo aspectos individuais e coletivos, bem como questões ambientais e sociais tem estimulado algumas pesquisas para avaliar transtornos psíquicos leves (ansiedade, estresse e depressão) (GONÇALVES, 2008).

Os transtornos psiquiátricos comuns segundo Goldberg e Huxley (1993) são depressão não-psicótica, ansiedade, sintomas somatomorfes e queixas somáticas, bem como insônia, fadiga, esquecimento, irritabilidade e dificuldade de concentração.

2.2.1 Depressão

A depressão é um Transtorno Afetivo (ou do Humor), caracterizada por uma alteração psíquica e orgânica global, com consequentes alterações na maneira de valorizar a realidade e a vida. As síndromes depressivas têm como elementos mais salientes o humor triste e o desânimo (DEL PINO, 2003).

Elas caracterizam-se por uma multiplicidade de sintomas afetivos, instintivos e neurovegetativos, ideativos e cognitivos, relativos à auto valoração, à vontade e à psicomotricidade. Também podem estar presentes, em formas graves de depressão, sintomas psicóticos (delírios e/ou alucinações), marcante alteração psicomotora (geralmente lentificação ou estupor) e fenômenos biológicos (neuronais ou neuro-endócrinos) associados (DALGALARRONDO, 2008).

Esse transtorno pode gerar na pessoa sentimentos de insuficiência, incapacidade, desesperança, angústia, ideação negativa, humor deprimido, desânimo, fadiga, pessimismo, concentração prejudicada, pensamentos de morte ou suicídio, e a aplicação de diagnóstico dá-se com a persistência de pelo menos cinco desses sintomas por duas semanas (DALGALARRONDO, 2008).

2.2.2 Ansiedade

Os estados depressivos proporcionam grande sensação de insegurança o que origina a ansiedade na depressão. As síndromes ansiosas são ordenadas inicialmente em dois grandes grupos: quadros em que a ansiedade é constante e permanente (ansiedade generalizada, livre e flutuante) e quadros em que há crises de ansiedade abruptas e mais ou menos intensas. São chamadas crises de pânico, que podem configurar se ocorrerem de modo repetitivo, o transtorno de pânico (HOLLANDER; SIMEON, 2004).

2.2.3 Queixas somáticas e Sintomas Somatomorfes

Quadros somáticos são aqueles que se manifestam predominantemente com queixas físicas. Quando essas queixas, apesar de incômodas ao paciente, não são constatadas por exames médicos, fala-se em Transtornos Somatomorfos. Incluem-se aqui as queixas dolorosas, palpitações, falta de ar, tonturas, formigamentos, etc (DEL PINO, 2003).

Os sintomas sem explicação médica são frequentes e estão associados a sofrimento mental em vários contextos. Pode acontecer também da pessoa ter uma doença física fundamentada, mas com queixas exageradas que não justificam o problema que têm, esses casos são mais complicados para os médicos.

Observa-se também uma forte recusa por parte do paciente de admitir que seu problema seja psicológico, mesmo quando há um evento estressante na sua vida. Estes pacientes tendem a trocar de médico constantemente, possuem intermináveis listas de exames e medicações, suas histórias são tão longas quanto complicadas (DEL PINO, 2003).

Os sintomas somatomorfes ocorrem quando queixas físicas e incômodas, não são constatadas por exames médicos, como dito anteriormente. Esse tipo de transtorno mental acomete geralmente pessoas com baixo poder aquisitivo, idosos, baixo nível de escolaridade, condições de moradias precárias, baixa renda, mulheres e pessoas separadas e a exclusão do mercado de trabalho (LUDERMIR, 2002).

2.3 BREVE HISTÓRICO DO SURGIMENTO DAS PROFISSÕES

Desde que a humanidade existe, o trabalho a acompanha, seja através das atividades domésticas realizadas pelas mulheres como as atividades na agricultura, as que utilizam mais a força humana que geralmente eram designadas aos homens (ALBORNOZ, 2004).

Na Grécia antiga, o trabalho era escravagista e os que o realizavam eram desvalorizados e por vezes agredidos pela condição em que se encontravam. Já no judaísmo o trabalho era visto como um tipo de punição aos pecados cometidos. Este era visto com sofrimento e aqueles que o realizavam buscavam o perdão pelos pecados e a exaltação a Deus através do serviço realizado (ALBORNOZ, 2004).

No período do Renascimento cultural, entre os séculos XV e XVI, o trabalho passou a ser considerado como um estímulo ao desenvolvimento do homem socialmente e interiormente, trazendo uma visão de aprimoramento pessoal através das atividades realizadas (ALBORNOZ, 2004).

Já no século XVIII com o sistema capitalista, foi implantada a visão utilitarista do trabalho, sendo este mercadoria de troca, quanto mais lucro o empregado desse a empresa mais valor este teria pra a mesma (BORGES & YAMAMOTO, 2004).

Segundo Codo (1993):

[...] a palavra trabalho origina-se do latim, tripalium, trabicula que significava instrumento de tortura, apontando para a idéia de sofrimento ou de castigo. Já entre os gregos, a palavra ponos significava trabalho, e teria a mesma raiz da palavra latina poena, também uma referência ao sofrimento. No português, a palavra pena, tem em sua origem o duplo sentido de punição e sofrimento. Ainda hoje a palavra conserva o mesmo sentido: todo esforço que fatiga, diz-se que é penoso [...].

No século XIX o trabalho passou a ser visto como fonte de bem estar, realização pessoal e financeira, prazer, satisfação, enfim, uma maneira de obter sustento através do que se gosta de fazer. O trabalho na visão de Freud, concede ao homem um lugar na comunidade humana e fornece-lhe um lugar seguro na realidade (ANTUNES, 2003).

Segundo Enriquez(1991):

[...] o trabalho é gerador de felicidade e solidariedade. Independentemente das adversidades vividas, o trabalho é um meio cultural onde se transmite conhecimentos, habilidades; onde se experimenta um ofício, se formam amizades e cada um toma conhecimento de sua identidade pessoal e coletiva [...].

Nesse contexto podemos então definir o trabalho como uma forma de exercer cidadania, contribuir na dimensão econômica e social do nosso país. Uma maneira de conquistar autonomia e satisfação, quando a profissão está intimamente ligada à realização pessoal deste (ALBORNOZ, 2004).

No Brasil, o sistema trabalhista que prevaleceu durante décadas foi à escravidão, sendo nosso país destino para 40% dos africanos trazidos para o novo continente e forçados a trabalhar sem receber nada além de violência e miséria em troca. Em 1888 a Lei Áurea foi proclamada, porém apenas a igualdade civil foi promulgada, enquanto que a desigualdade econômica e política prevalecem até os dias atuais (FREIRE, 2005).

Após a abolição dos escravos, estes necessitavam de manter o sustento de suas famílias, nesse mesmo período acontecia o crescimento industrial e a necessidade de mão de obra nas fábricas e indústrias, com isso, estes mesmos que haviam alçado a liberdade voltavam a ser escravos de um sistema de trabalho extremamente exploratório, onde era comum que famílias inteiras trabalhassem em condições insalubres e com alta incidência de acidentes de trabalho (LUCA, 2001).

Na atualidade, muitos têm alcançado a realização profissional através da identificação com determinadas profissões e sua possível execução de maneira prazerosa. A exploração antes traduzida pelo trabalho escravo, sem remuneração, utilizando violência, hoje se traduz através de salários baixos e condições precárias de trabalho (LUCA, 2001).

Nesse contexto podemos concluir que a história do surgimento das profissões no mundo foi marcada pela exploração, violência, má remuneração, condições insalubres e exclusão social dos menos favorecidos, onde estes sem preparação para o mercado de trabalho são marginalizados e meio que obrigados a retirar o sustento familiar dos empregos tidos como última opção no mercado de trabalho, à exemplo catadores de materiais recicláveis (FREIRE, 2005).

Lessa (2003) identifica que:

[...] a cidade brasileira passou por intensas transformações econômicas sempre reproduzindo a difícil inserção do pobre na produção, consumo e na cidadania. A cidade agigantou-se e junto com ela cresceram a diversidade de inserções precárias. Na compreensão do autor, o pobre urbano aprendeu a sobreviver nas brechas da sociedade, caracterizando-se este como “um mestre no remendo e na reciclagem” [...].

2.4 CATADOR DE LIXO: UMA NOVA CLASSE DE PROFISSIONAIS

Desde os tempos primórdios existe a classe de trabalhadores, indivíduos que plantam, colhem, costuram, servem os outros, sendo esta uma ação essencial para estabelecer relações, e que conta com o benefício do assalariamento. Dessa maneira o trabalho é o meio de sobrevivência e necessita de um tempo de vida a ser-lhe dedicado (REZENDE, 2007).

Com o intuito de fugirem da pobreza e miséria e conseguir uma situação econômica mais favorável, muitas pessoas deixam suas casas, zonas rurais e se deslocam para as cidades em busca de emprego, porém é sabível que na maioria das vezes a quantidade de emprego existente não é suficiente para a quantidade de pessoas em busca dele (RIBEIRO, 2011).

Nesse contexto, algumas pessoas passaram a buscar maneiras autônomas para retirar seu sustento, dentre essas surgiram os catadores de lixo que utilizam esse método como fonte de sobrevivência onde na maioria das vezes não há um cuidado com relação aos impactos sociais e de saúde aos quais os mesmos estão expostos (PORTO, 2004).

A inclusão da ocupação catador na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) de 2002 nos diz que:

[...] os trabalhadores da coleta e seleção de material reciclável são responsáveis por coletar material reciclável e reaproveitável, vender material coletado, selecionar material coletado, preparar o material para expedição, realizar manutenção do ambiente e equipamentos de trabalho, divulgar o trabalho de reciclagem, administrar o trabalho e trabalhar com segurança [...].

Com essa inserção, muitos profissionais têm tido forças e incentivo para lutar por seus direitos como cidadãos reunindo-se em cooperativas e associações, porém nem todos que retiram seu sustento dos lixões têm acesso a essas informações, permanecendo em situações de dificuldade (PORTO, 2004).

Assim, muitas dessas pessoas que procuram a coleta de lixo como meio de sustento são indivíduos com escolaridade baixa, desempregados, com relacionamento familiar conturbado ou que entram nesse trabalho em busca de ajudar suas famílias, são pessoas com história de vida difícil e que encontram nesse trabalho pouco valorizado à sobrevivência (FOSSÁ, 2006).

A rotina de trabalho dessas pessoas é exaustiva e pouco rentável, visto que eles chegam a retirar em um dia de trabalho cerca de 2 à 5 reais dependendo do material e da quantidade que conseguem recolher (REZENDE, 2007).

Segundo Miura, (2004):

[...] o problema hoje não está em reconhecer legalmente o catador como um profissional, mas em reconhecer seu direito às condições dignas de trabalho e de vida, para além da perspectiva estrita da sobrevivência [...].

O trabalho desses profissionais é de grande relevância e utilidade social, visto que ajuda a minimizar um problema urbano particularmente intenso. Porém, conforme adverte Sousa (2007), a visão social da categoria é quase sempre estigmatizada devido à profissão estar historicamente ligada a pessoas socialmente desqualificadas ou marginalizadas (prisioneiros, condenados de guerra, escravos e prostitutas) e, também, devido à baixa escolaridade e às precárias condições econômicas e de trabalho arriscado e insalubre (REZENDE, 2007).

2.5 O TRABALHO DE CATADOR E A SAÚDE MENTAL

O ambiente de um lixão possui agentes contaminantes à saúde humana, e de maneira direta e indireta afetam a saúde ocupacional, alimentar e ambiental do catador através do contato com cargas físicas, químicas, orgânicas, fisiológicas, mecânicas e psíquicas (CAVALCANTE, 2007).

Nesse contexto, a carga física nada mais é do que a exposição a mudanças de temperaturas, calor e frio excessivo, chuva, o odor de animais putrificados e o próprio odor do lixo causam desconforto aqueles que se encontram em contato com esses produtos provenientes do lixão (VELLOSO, 1997).

No que se refere às cargas químicas, os resíduos sólidos possuem uma variedade muito grande desses agentes nocivos, dentre eles destacam-se pilhas e baterias, óleos e graxas, pesticidas, tintas e cosméticos (FERREIRA, 2001).

Kupchella, 1993 nos diz que:

[...] Uma significativa parcela destes resíduos é classificada como perigosa e pode ter efeitos deletérios à saúde humana e a ao meio ambiente. Metais pesados como chumbo, cádmio e mercúrio, incorporam-se a cadeia biológica, tem efeito cumulativo e podem provocar diversas doenças como saturnismo e distúrbios do sistema nervoso, entre outras. Pesticidas e herbicidas tem elevada solubilidade em gorduras que, combinada com a solubilidade química em meio aquoso, pode levar a magnificação biológica e provocar intoxicações agudas no ser humano, assim como efeitos crônicos [...].

As cargas orgânicas dizem respeito ao risco de contato direto e indireto com microorganismos patógenos presentes em seringas e agulhas descartáveis, absorventes, preservativos, resíduos hospitalares, laboratoriais que agem como agentes causais de doenças como HIV, doenças do trato intestinal, urinário, hepatites, entre outras enfermidades (FERREIRA, 1997).

Já as cargas fisiológicas correspondem a afecções musculo-esqueléticas e causa morbidade nos indivíduos que realizam esse trabalho, isso inclui dores no corpo, problemas de coluna, lombalgias, além da exaustão gerada pelo grande esforço físico (VELLOSO, 1997).

O uso dos equipamentos individuais de proteção (EPI’s) reduz e em parcela muito significativa os acidentes ocasionados pelas cargas mecânicas geradas por acidentes com perfuro-cortantes, vidros, objetos pontiagudos e, além disso, ainda existe o risco de atropelamentos e colisões (FERREIRA, 1997).

Convém apontar, que os catadores estão sujeitos a longas jornadas de trabalho, muitas vezes realizadas em horários inadequados, expostos a estressores e situações que nos fazem refletir sobre a carga psíquica que o trabalho de catador gera nesses indivíduos. A ocupação está ligada de maneira íntima com esse tipo de carga, e no que se refere à profissão catador, este está sendo diretamente afetado em sua saúde mental quando consideramos todo o peso que esse ofício pode trazer (MENDES, 1988).

O equilíbrio emocional pode ser facilmente rompido e algumas pessoas são mais suscetíveis que outras. De acordo com Mendes, (1988) a ocupação pode contribuir como fator precipitador de distúrbios mentais, através de alguns eventos ou experiências que venham ocorrer.

O estresse, condições de moradia, a luta pela sobrevivência, déficits nutricionais, baixa auto-estima também contribuem para o surgimento de transtornos psiquiátricos (DEJOURS, 1994). Muitas vezes o sentimento que o catador tem é que nem ele nem seu trabalho possuem valor pela sociedade, e o preconceito que existe acaba ocupando um espaço significativo no pensamento desse indivíduo (FOSSÁ, 2006).

Fossá, 2006 disse que:

[...] A vergonha de ser inútil, estar sujo, de não ocupar um espaço na sociedade, de não ter inteligência para desempenhar uma atividade mais interessante. E do contato de certa forma, forçado com uma atividade desinteressante que esta imagem de indignidade é produzida pelos catadores [...].

De acordo com Fossá, (2006) esses indivíduos encontram algumas maneiras de lidar com o sofrimento psíquico, dentre eles estão à negação do próprio sofrimento, uso excessivo de bebidas alcoólicas e drogas quando este já não está em uso contínuo, em alguns casos a violência e, por fim, a loucura (FOSSÁ, 2006).

2.6 A TRISTEZA E A ALEGRIA QUE O LIXO PODE REPRESENTAR

O trabalho desses profissionais não é uma tarefa fácil, pois lidam com os restos, as sobras, ou seja, coisas que são descartadas no dia a dia pela população. Na visão de diversos pesquisadores existem dois tipos de lixo, o triste e o rico (SAWAIA, 2004).

O lixo triste é aquele que traz o sentimento de tristeza, desencanto e sofrimento. Podemos citar exemplos de catadores que se deparam com situações de auto contaminação, exposição a corpos em decomposição, calor, mau-cheiro, insetos, restos de frutas, todos esses fatores geram sentimentos de desesperança, inferioridade, baixa auto-estima, e até mesmo tentativas de esconder o próprio sofrimento, através da negação de sentir-se inferiorizado pelo trabalho que realiza (SAWAIA, 2004).

No lixo rico são encontradas coisas das quais eles podem dar de presente aos seus familiares e amigos. Muitos desses trabalhadores são mulheres, que na maioria das vezes não conseguiram terminar os estudos, ou se viram sozinhas no mundo e tiveram que buscar seu próprio sustento. Muitas por não conhecerem métodos de prevenção acabam engravidando e tendo seus filhos em meio a este cenário, e estas passam a retirar do lixo o sustento não só para si mesma, mas para os filhos que possuem. Muitas dessas mães retiram do lixo brinquedos, bicicletas velhas, bolas surradas, esmaltes, calçados e transformam o lixo em alegria em uma trajetória de vida tão sofrida (SAWAIA, 2004).

O que surge com esse conflito não é a doença mental descompensada, mas a normalidade com um equilíbrio extremamente instável entre o sofrimento psíquico e as defesas contra o sofrimento. O que ocorre na verdade, é um mascaramento de um sofrimento atroz, um equilíbrio precário entre forças desestabilizadoras destes sujeitos. Como forma de driblar o sofrimento do convívio com o lixo desenvolve-se um mecanismo de compensação e inicia-se um processo de encontrar vantagens do trabalho realizado. (DEJOURS, 1991).

Dejours, 1991 diz que:

[...]O sofrimento decorrente do contato com o sujo, com o mau cheiro suscita ideologias defensivas, o que resulta uma percepção irrealista da realidade. Isso faz com que os trabalhadores busquem ‘’ coisas boas ‘’ na triagem, principalmente a possibilidade de adquirir coisas úteis, que são consideradas descartáveis [...].

3 METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa observacional, transversal de cunho descritivo. Nesse tipo de estudo, o pesquisador não deve exercer influências, este, se propõe apenas a ilustrar a distribuição de patologias ou condições voltadas à saúde, como, saúde pública, saúde ambiental, saúde mental levando em consideração quem adoece, onde adoece e quando adoece (LIMA; COSTA, 2009).

O campo de estudo está localizado no município de Eunápolis/BA fundado em 12 de maio de 1988, que segundo dados do IBGE (2013), possui cerca de 110.803 habitantes.

Figura 1. Localização de Eunápolis no mapa do Brasil e no mapa da Bahia. Fonte: Wikipedia

A escolha desse município como campo de estudo deu-se em função das irregularidades observadas na área destinada à disposição dos resíduos gerados no município e à problemática relacionada às condições sociais e de qualidade de vida dos catadores de lixo que no lixão do município trabalham diariamente. O lixão encontra-se a céu aberto

Situado a 12 km da cidade, a legislação ambiental determina a distância mínima de 25 km , o lixão está em situação irregular desde sua criação há 16 anos. De acordo com informações da prefeitura, lá são depositadas 180 toneladas de resíduos diariamente.

Figura 2. Visão geral do lixão do município de Eunápolis, BA.

A Lei Federal 12.305/10, que cria a Política Nacional de Resíduos Sólidos, determina que até 2014 todo município brasileiro tenha um aterro, mas o de Eunápolis não tem sequer projeto (JORNAL A TARDE, 2013).

Entre os problemas apontados pelo Centro de Apoio Operacional às Promotorias do Meio Ambiente (Ceama) está à alta declividade, que dificulta a conformação da massa do lixo e o acesso às células para depósito em período chuvoso, o que favorece o escoamento do chorume (líquido produzido pelo lixo), trazendo risco de contaminação, via lençol freático, da lagoa situada a 500 metros. Contrariando a legislação, o lixão está em Área de Preservação Ambiental (APP) onde os focos de incêndio são constantes (JORNAL A TARDE, 2013).

Figura 3. Foco de incêndio registrado no dia da entrevista.

A população elegida foram os catadores presentes no lixão no momento da coleta de dados, que são cerca de 30 trabalhadores. A escolha desses indivíduos foi feita de forma aleatória, tendo como objeção apenas os menores de idade.

Para compor a amostra, recorremos a um tipo de estratégia acidental, definida por Sarriá, Guardiã e Freixa (1999) como um processo de amostragem casual em que os participantes são incluídos de acordo com a acessibilidade e disponibilidade em colaborar com a pesquisa. Com base nesse procedimento foi possível obter a participação de 12 catadores que estavam exercendo a função, 5 não quiseram participar e 7 haviam acabado seu expediente.

Para obter as informações socioeconômicas, foi utilizado um questionário individual semi-estruturado composto por 38 questões (ANEXO I) e para avaliação da existência de transtornos mentais menores foi aplicado o Self-Report Questionnaire 20 (SRQ-20) elaborado por Goldberg em 1972. O SRQ-20 é a versão brasileira contendo 20 itens do SRQ-30 para rastreamento de transtornos mentais não-psicóticos. As respostas são do tipo sim/não. Cada resposta afirmativa pontua com o valor 1 para compor o escore final por meio do somatório destes valores. Os escores obtidos estão relacionados com a probabilidade de presença de transtorno não-psicótico, variando de 0 (nenhuma probabilidade) a 20 (extrema probabilidade).

As informações contidas nos questionários foram analisadas através do programa Excel versão 2007, onde foram geradas tabelas e gráficos para melhor compreensão dos dados obtidos.

É importante ressaltar que este estudo foi desenvolvido de acordo com o preconizado pela resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, considerando a observância da beneficência, não maleficência, com garantia do anonimato aos sujeitos do estudo.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os catadores de materiais recicláveis ingressam nessa atividade sem nenhum treinamento ou qualquer forma de preparo para as condições insalubres da atividade.

Foi possível observar a maioria deles trabalhando sem utilizar sequer uma luva. Mergulhados nas montanhas de lixo, os mesmos referiram não possuir nenhum auxilio da prefeitura municipal com o fornecimento de alguns medicamentos para prestação de primeiros socorros no local, em caso de acidentes leves e vacinação preventiva destes.

A pesquisa abordou a coleta de dados pessoais, de moradia e econômicos.

Tabela 1 – Estatística descritiva dos dados pessoais dos 12 catadores de materiais recicláveis presentes no lixão do município de Eunápolis/BA.

Fonte: Autor próprio.

De acordo com os dados gerados e visualizados na tabela 1, foi possível observar que a maioria dos trabalhadores é do sexo masculino, sendo as mulheres minoria, porém durante a coleta dos dados verificou-se que estas estavam realizando a coleta enquanto alguns dos homens estavam sentados descansando, pois já tinham recolhido a quantidade suficiente para aquele horário.

A coleta é realizada por todos na medida em que o lixo é depositado na área, porém cada catador separa seu material e os reúne em zonas já delimitadas por eles mesmos, aguardando os compradores que em horários combinados vão até lá para retirar o material.

Figura 3. Material já selecionado para venda.

A faixa etária varia entre 17 e 60 anos, porém os dados foram coletados apenas com aqueles maiores de idade. Alguns deles relataram terem iniciado o trabalho com a coleta de lixo desde os 13 anos de idade. Foi possível observar os reflexos do trabalho em sua fisionomia, pois a maioria deles aparentava ter idade superior à informada. Também foi possível notar a presença de pessoas com idade mais avançada, realizando o serviço.

A maioria dos catadores possuía 1º grau incompleto, e apenas 1 dos 12 entrevistados conseguiu completar o 2º grau, porém mencionou que não tem interesse em continuar estudando. O mesmo desinteresse pelos estudos foi notado nos demais, inclusive nos mais novos.

Na situação conjugal, 9 são casados e 3 solteiros. Os casados citaram ter a ajuda de suas esposas em determinados momentos para realizar a coleta. Inclusive um destes trabalha diariamente com a esposa.

Tabela 2 – Dados referentes à moradia dos catadores de materiais recicláveis do lixão do município de Eunápolis/BA.

Fonte: Autor próprio.

A tabela 2 nos traz os dados referentes às condições de moradia. A maioria dos entrevistados mora em bairros próximos ao lixão, desses catadores 10 moram em casa construída de tijolo e apenas 2 em barraca construída com taipa. A maioria das casas não possui água encanada. A água utilizada é retirada de poços artesianos de forma manual.

Segundo as informações colhidas, todos possuem banheiro em casa. Porém, 7 deles informaram possuir banheiro com descarga, mesmo com a informação antes passada de não possuir água encanada, 2 disseram não possuir descarga no banheiro e 3 fazem uso de foça cavada na terra onde os dejetos são depositados.

Referente ao abastecimento de energia elétrica, 9 possuem energia em suas casa e 3 deles não. Apenas 2 deles informaram não possuir eletrodomésticos. Dos 10 que possuem aparelhos eletrodomésticos em casa, os mais observados são geladeira, televisão, rádio e raramente micro-ondas.

Tabela 3 – Dados referentes à situação trabalhista dos catadores de materiais recicláveis do lixão do município de Eunápolis/BA.

Fonte: Autor próprio.

Segundo Kolenda (2014):

[...] a complacência é uma praga que esgota as energias, entorpece as atitudes, e provoca um esvaziamento do cérebro. O primeiro sintoma é a satisfação com as coisas como elas são. O segundo é a rejeição das coisas tal como elas deveriam ser. ‘Bom o suficiente’ torna-se a palavra de ordem para hoje e o padrão de amanhã [...].

O que se observou no quesito profissional, é que todos se mostraram aparentemente satisfeitos com a profissão exercida, mesmo tendo uma carga horária de trabalho maior que 8 horas diárias, salário inferior ao mínimo, condições insalubres de trabalho, sem nenhuma perspectiva de ascensão profissional. A respeito de tudo que foi abordado, estes conseguem manter-se de forma incerta com a renda adquirida através da venda do material coletado no lixão.

No que diz respeito a outras formas de retirar seu sustento, apenas 1 dos entrevistados informou renda extra através de trabalhos artesanais realizados com materiais retirados do próprio lixão (garrafas pet e latinhas).

Tabela 4 – Dados referentes à saúde física dos catadores de materiais recicláveis do lixão do município de Eunápolis/BA.

Fonte: Autor próprio.

Ao conversar com os catadores, obtivemos a informação de que não há nenhum grupo de ajuda, nenhuma ação por parte do poder público e nenhum programa de assistência médica voltada a esses trabalhadores. A maioria em casos de necessidade apenas comparece ao PSF ou vão direto ao hospital. Os problemas de saúde diagnosticados encontrados foram o aparecimento de hérnias umbilicais, diabetes, hipertensão e gastrite.

Para obter dados referentes à situação da saúde mental desses catadores, utilizamos o já citado Self-Report Questionnaire 20 (SRQ-20), composto por 20 questões, sendo que o resultado maior ou igual a sete respostas sim, mostra a comprovação de sofrimento mental, mesmo que leve.

O SRQ destina-se à detecção de sintomas, ou seja, sugere nível de suspeição (presença/ ausência) de algum transtorno mental, mas não discrimina um diagnóstico específico; assim, avalia se há algum transtorno, mas não oferece diagnóstico do tipo de transtorno existente. Por este caráter de triagem, é bastante adequado para estudos de populações, sendo muito útil para uma primeira classificação de possíveis casos e não casos.

Para entender melhor como o SRQ-20 funciona, é necessário especificar como as questões têm relação com a possível existência de TPM. A análise do SRQ-20 é divida em quatro fatores que compõe dimensões específicas, identificadas como: fator I – comportamento ansioso e depressivo, fator II – sintomas somáticos, fator III – Decréscimo de energia vital e fator IV – pensamentos depressivos.

As questões relacionadas ao fator I referentes a humor depressivo-ansioso que como visto anteriormente caracteriza-se pela presença de humor disfórico persistente ou recorrente com duração mínima de 1 mês, ou seja, ocorrem alterações do humor acompanhada de uma sensação subjetiva desagradável, com irritabilidade, amargura, desgosto, ansiedade e inquietação (DALGALLARONDO, 2008).

Nesse fator estiveram em destaque as questões “Sente-se nervoso (a), tenso (a) ou preocupado (a)?” com 83,33% para positividade e “Tem se sentido triste ultimamente?”, com 58,33%.

Quatro questões se agruparam para a formação do fator II, denominado como sintomas somáticos que são caracterizados por diversos sintomas vagos como, por exemplo, dores não localizadas, s sintomas existem, mas não corresponde a nenhuma síndrome ou patologia específica. Nesse fator foram identificadas maiores cargas na questão “Você tem dores de cabeça frequentes?” com 75%.

O fator III apresentou cargas maiores nas questões “Você se cansa com facilidade?” com 58,33%, “Tem dificuldades no serviço (seu trabalho é penoso, lhe causa sofrimento?)” com 75% e “Sente-se cansado (a) o tempo todo?” com 83,33%, todas relacionadas à diminuição da energia vital, mostrando o desgaste físico gerado pela profissão.

O fator IV apresentou o agrupamento de seis questões que descrevem sintomas característicos de pensamentos depressivos, como a dificuldade de tomar decisão, falta de interesse, sensação de inutilidade, dificuldade de sentir satisfação, dificuldade de pensar claramente e ideias de acabar com a vida. Nesse fator não foi obtido nenhum valor maior ou igual a sete respostas sim, o maior valor encontrado foi 33,33% para a questão “Você se sente uma pessoa inútil e sem préstimo?”.

Tabela 5- Self Report Questionnaire 20 (SQR-20).

Fonte: Autor próprio

Entre os catadores, os fatores referentes ao “decréscimo de energia” e “sintomas somáticos” apresentaram itens com altos valores de carga, revelando que estes sintomas são os mais adequadamente mensurados no grupo ocupacional pesquisado.

Nos fatores I e IV, não foi possível identificar claramente as manifestações dos sintomas de acordo com as respostas obtidas, pois, os entrevistados mostraram-se indiferentes a algumas perguntas contidas nesses fatores, tais como, “É incapaz de desempenhar um papel útil em sua vida?” e “Tem chorado mais do que de costume?”.

Porém, avaliando detalhadamente pode-se perceber uma diferença muito grande entre a avaliação das respostas dos membros do sexo feminino e masculino. Seguem abaixo as tabelas com esses dados respeitando o critério de anonimato, sendo assim utilizadas apenas as iniciais dos nomes dos entrevistados.

Tabela 6- Self Report Questionnaire 20 (SQR-20) – Resultado dos entrevistados do sexo feminino.

Fonte: Autor próprio.

De acordo com as respostas dos entrevistados do sexo feminino, todas se encaixam no perfil de possível sofrimento metal.

A presença de TPM aumenta com a idade, com tendência linear estatisticamente significativa. As pessoas, a partir dos 45 anos, apresentaram cerca de 30% mais TPM que os jovens, nesse caso das mulheres entrevistadas apenas duas tinham idade inferior a 30 anos.

Segundo informações colhidas, apenas uma dessas mulheres era solteira e as casadas ingressaram na profissão de catadoras de materiais recicláveis para ajudar a complementar a renda mensal da residência, também porque alegaram não ter tido oportunidade para estudar e conseguir um bom emprego e porque era o serviço que tinha para ser realizado perto do local onde moram.

Uma situação interessante nessas entrevistas e que vale ser ressaltada foi o depoimento de uma das entrevistadas, a mesma possui apenas 35 anos e de todos os trabalhadores ali foi à única que conseguiu terminar o ensino médio. Quando questionada a respeito de ingressar em um curso superior e trabalhar em outro local, a mesma respondeu da seguinte maneira:

[...] meu lugar é aqui, minha mãe trabalha aqui, então tenho que ajudar ela. E ninguém quis me dar emprego, só porque moro nessa distância toda do centro [...].

Foi observada nas mulheres uma sensibilidade maior a situação em que realizam seu trabalho. Todas apresentaram resistência no inicio da entrevista, mas com transcorrer das perguntas foram se abrindo e compartilhando as informações necessárias ao questionário e experiências pessoais.

Elas não defendem a ideia de que a coleta é um ótimo trabalho, já que ele não elimina a distinção e o desprezo sofrido, porém, essa tarefa as retira da miséria absoluta e lhes dão uma possibilidade de se inserirem socialmente, retirarem seu sustento e não passarem fome. Anteriormente à atividade no lixão, essas desenvolviam atividades como lavradoras.

De acordo com as respostas dos entrevistados do sexo masculino, apenas 2 se encaixam no perfil de possível sofrimento metal como visto na tabela a seguir:

Tabela 7 - Self Report Questionnaire 20 (SQR-20) – Resultado dos entrevistados do sexo masculino.

Fonte: Autor próprio.

Este indicador de pequena quantidade de homens e grande de mulheres se encaixarem no perfil pode significar tanto falta de sinceridade por parte dos homens nas respostas por sentirem-se constrangidos ou também menor resistência das mulheres à situação que está provocando nelas o sofrimento metal.

A partir dos escombros da sociedade, um novo setor econômico é criado, permitindo a sobrevivência de milhares de pessoas (JUNCÁ, 2004). Isso é o que pôde ser observado através do depoimento de vários dos homens entrevistados. Eles agem de maneira verdadeira durante sua escala de trabalho como se fosse uma empresa. Existem os horários corretos para cada ação e os mesmos não se deixam abater pelas dificuldades encontradas, mas realizam seu serviço de maneira eficaz.

Os homens citaram os benefícios do trabalho de catador, criam seus próprios horários, não precisam de chefe para ficar mandando neles. Também falaram a respeito da discriminação sofrida, muitos catadores sentem vergonha em catar nas montanhas de lixo o material para reciclagem.

Tornar catador é suportar o peso do olhar do outro, principalmente do outro conhecido, da rejeição, discriminação daquele que o conhecia e que passa a fingir que não o conhece mais pelo fato de se ter tornado um catador. É preciso ter coragem, pois coragem diz respeito à superação do medo da rejeição e discriminação do outro.

Segundo Heller (1985):

[...] vergonha é a interiorização do olhar do outro e também da culpa. O olhar do outro sobre mim, vigiando meu comportamento, é vergonha. Culpa não precisa do olhar do outro, eu mesmo já faço o papel de censura[...].

Entender e classificar esse sofisticado processo envolvendo mente e corpo através dos quais o sofrimento humano se manifesta, de forma a que as melhores alternativas de cuidado possam ser implementadas, ainda é uma tarefa a ser realizada.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Está investigação nos mostra sucintamente a problemática vivida pelos trabalhadores que lidam com o lixo. O objetivo foi traçar um perfil hipotético de possibilidade ou não de estarem sofrendo um TPM, através da divisão em quatro fatores, sendo que o fator I está ligado aos sintomas de humor-depressivo ansioso, fator II sintomas somáticos, decréscimo da energia vital no fator III e pensamentos depressivos no fator IV.

Existe um movimento inconsciente de negação da situação, assim a dificuldade em lidar com restos de animais mortos, fezes, mau cheiro, insetos, é transformada em satisfação diante da possibilidade de ter um rendimento bom naquele dia, e assim eles vivem um dia de cada vez.

A complacência faz com que as pessoas temam o desconhecido, desconfiem do que não experimentaram e abominem o novo. Como a água, as pessoas complacentes seguem o caminho mais fácil – morro abaixo (KOLENDA, 2014).

O trabalho realizado passa como invisível, pois a população conhece a situação, mas prefere não se envolver. A luta pela sobrevivência faz com que haja um elo muito forte entre os catadores. Ter aquele local como sua fonte geradora de renda significa ter dignidade.

O trabalhador está em contato direto não só com o material que ele recolhe para reciclagem, mas também com o lixo, o que foi desprezado. As montanhas de lixo é o local onde esse contato se dá de forma mais intensa e para suportar esse contato muitos utilizam a complacência abordada anteriormente como escape.

O sofrimento psíquico assume diversas formas, como a negação do risco de trabalhar sem o uso de EPI’s, maus hábitos de higiene, a negação da dificuldade de estar nesse meio, busca de vantagens ao realizar a coleta.

O que ocorre na verdade é uma dopalização de sentimentos. Dopar alguém significa administrar (medicamentos) com efeito terapêutico, tranquilizante, causar, por efeito de droga, estado mental confuso em alguém ou si mesmo (AULETE).

Os sentimentos se processam nas mentes, gerando imagens e emoções através do que se vivencia, nesse caso há um mascaramento da realidade para que esses sentimentos não tragam ideias de recompensa e punição, impulsos e motivações e não sejam geradores maiores de sofrimentos. A regulação da vida, em nível pessoal e social, requer os sentimentos.

Nós nascemos completamente indefesos contra as adversidades do mundo exterior. Não só os humanos, mas os outros mamíferos e as aves são evoluídos suficientemente para cuidarem, por meses ou anos, de seus filhotes até atingirem a maturidade necessária para enfrentarem o mundo que os rodeia. A agressividade e até o medo, em forma de defesa, são importantes nessa luta pela sobrevivência e também fazem parte da rede emaranhada de reações químicas no nosso cérebro. Com isso podemos entender em que consiste a dopalização dos sentimentos ruins.

De maneira geral pode-se afirmar que todos obtiveram de algum jeito grandes ganhos e muitos sofrimentos. Os ganhos às vezes falam mais alto, pois eles escolheram visualizar dessa forma. Por essa razão, esse trabalho com o lixo se mostrou como potencialização. Mesmo com todos os aspectos negativos que ele provoca, os benefícios parecem mais importantes, sendo o trabalho resignificado, valorizado e dignificado por eles mesmos.

Os participantes da pesquisa ao relatarem o processo que os fizeram tornarem-se catadores demonstraram que é o lixo que lhes proporciona uma condição de vida mais “digna” em comparação à que viviam anteriormente; é do lixo que conseguem sobreviver, comendo dele, pagando suas despesas com o dinheiro que obtêm com ele. Muitas falas destes catadores nos levam a refletir sobre o valor que os mesmo são a função que realizam.

Nenhum deles parece se importar com sua saúde física e mental no quesito preventivo, políticas de inclusão social precisam ser criadas com o objetivo de buscar, identificar, reconhecer e organizar esses indivíduos, visto que os mesmo só procuram algum auxílio médico quando a situação já está agravada.

Os catadores que participaram do estudo demonstraram uma saúde mental preservada até certo ponto, visto que o humor-depressivo ansioso e os sintomas de decréscimo da energia vital foram às áreas mais afetadas. É preciso pensar em ações concretas e políticas de saúde voltadas para essa classe de profissionais, para intervenções nas condições de trabalho, fortalecimento da profissão perante a sociedade, eliminar estigmas, acesso à PSF, USF, CAPS e o reconhecimento dos trabalhadores como agentes de transformação.

A Atenção Primária surge como principal modelo de reorientação do modelo assistencial à saúde, como porta de entrada aos usuários, os problemas relacionados à saúde mental podem ser identificados através do comprometimento e profissionais qualificados para formulação de políticas públicas, planejamento de programas de prevenção e de tratamento.

Desta forma, a Saúde ocuparia um lugar mais relevante quando se trata de Saúde Coletiva, já que ela atua através dos Centros de Apoio Psicossocial (CAPS) e Estratégia Saúde da Família (ESFs), como um dos principais dispositivos de promoção da saúde.

No domínio das políticas públicas em saúde, tem-se refletido sobre novos conceitos no que se diz respeito à interação entre Saúde Coletiva e Saúde Mental, apostando na aproximação dessas duas áreas para a construção de um campo interdisciplinar. Nasce então à necessidade de se criar uma rede de cuidados em Saúde Mental que se estruture a partir da Atenção Primária. Essa integralidade torna-se imprescindível, visto que equipes da Atenção Primária se deparam cotidianamente com questões de saúde mental, lembrando-se que toda questão de saúde, também envolve saúde mental (ONOCKO-CAMPOS, 2010).

Porém, na prática, a saúde mental muitas vezes não é valorizada por uma série de motivos. Trata-se de um tema em que há muitos preconceitos, descriminalização, rejeição, infantilização, etc. Além disso, as Equipes de Saúde da Família sentem-se despreparadas, ao não saber identificar, acolher ou orientar tais pacientes com transtornos mentais (ONOCKO-CAMPOS, 2010).

Há um grande desafio em implantar saúde mental na Atenção Primária. Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família têm por objetivos o apoio matricial, em que tais profissionais como psicólogos, fisioterapeutas, educadores físicos, assistentes sociais, farmacêuticos, entre outros, apoiam as Equipes de Saúde da Família a identificar os casos, e então, prepará-las para acolher, cuidar, ter uma escuta ativa e ampliada, e encaminhar para os serviços de apoio na rede de cuidados, quando necessário (CAMPOS, 2007).

Ferramentas como o acolhimento, intervenções breves nas crises, criação de projetos terapêuticos singulares, responsabilização do sujeito como ser ativo do cuidado, uso racional de medicação e atividades grupais, são instrumentos de alto potencial para o cuidado da saúde mental na Atenção Primária (CAMPOS, 2007).

Como este espaço está em construção, faz-se necessário refletir sobre o encontro entre profissionais e usuários para observar as dificuldades e potencialidades deste processo, para que assim, haja uma evolução quanto ao atendimento e o funcionamento dos fluxos na rede de cuidados em Saúde Mental (CAMPOS, 2007).

Nesse sentido, esperamos com esse trabalho contribuir para que uma maior atenção seja dispensada aos seres humanos que estão na condição de catadores de materiais recicláveis de Eunápolis/BA, sem esquecer que tal atenção também deve surgir nos contextos vividos por tais trabalhadores.

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YASUI, S. Rupturas e encontros: desafios da reforma psiquiátrica brasileira. 2006. Tese de Doutorado. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca.

ANEXO I

FACULDADES INTEGRADAS DO EXTREMO SUL DA BAHIA-

UNIÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA -

BR 367, KM 14, 14 - ZONA RURAL - CEP:45825000 / EUNÁPOLIS-BA

FONE / FAX: 73 32814342

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

RESOLUÇÃO Nº 466, DE 12 DE DEZEMBRO DE 2012.

Convidamos o (a) senhor (a), a participar da pesquisa a ser desenvolvida por mim Karla Stefani dos Santos Dias Berto juntamente com Gislaine Maria Rodrigues Silva, intitulada: “Transtornos psiquiátricos menores e fatores associados em catadores de lixo do município de Eunápolis-Ba”. Esta pesquisa tem como principal objetivo identificar se os moradores do lixão de Eunápolis, BA apresentam transtornos psiquiátricos menores relacionados aos fatores associados abordados Caso o (a) senhor (a) aceite a participar do estudo precisará responder a uma entrevista simples e rápida composta por algumas questões, que não irá levar muito tempo para responder.

A sua participação no estudo será voluntária, anônima e confidencial, suas respostas não produzirão prejuízo pessoal, pois não será identificado o seu nome nos questionários. No estudo pode ocorrer certo desconforto durante a resposta das questões por se tratar de algo particular, por isso nós pesquisadores nos comprometemos a realizar a entrevista da maneira mais individualizada possível e da forma que o (a) senhor (a) se sentir mais à vontade. O (a) senhor (a) pode interromper ou finalizar a entrevista quando quiser, nós te daremos toda a ajuda necessária para diminuir qualquer desconforto. Deixamos claro que os danos aqui expostos são muito pequenos quando comparados aos resultados que esta pesquisa pode trazer, pois pretendemos contribuir para o conhecimento com relação à exposição a possíveis causadores de doenças mentais presentes no lixão.

O (a) senhor (a) está livre para recusar a participar do estudo ou para desistir a qualquer momento, sem que isto lhe traga qualquer prejuízo pessoal. Não haverá remuneração e, portanto, sua participação é voluntária. A sua decisão em participar ou não, desta pesquisa, não ocasionará em nenhuma discriminação ou mal estar por parte dos pesquisadores. A qualquer momento o (a) senhor (a) poderá pedir esclarecimentos a respeito da pesquisa, no que será prontamente atendida, mesmo que a resposta afete sua vontade de continuar participando do estudo. Caso aceite participar da pesquisa, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido precisará ser assinado em duas vias, sendo que uma das vias ficará com o (a) senhor (a) e a outra será arquivada pelos pesquisadores por cinco anos.

Consentimento para participação: Eu estou de acordo com a participação no estudo descrito acima. Eu fui devidamente esclarecido (a) quanto os objetivos da pesquisa, aos procedimentos aos quais serei submetido (a) e os possíveis riscos envolvidos na minha participação. O pesquisador me garantiu disponibilizar qualquer esclarecimento adicional que eu venha solicitar durante o curso da pesquisa e o direito de desistir da participação em qualquer momento, sem que a minha desistência implique em qualquer prejuízo à minha pessoa ou à minha família, sendo garantido anonimato e o sigilo dos dados referentes a minha identificação, bem como de que a minha participação neste estudo não me trará nenhum benefício econômico.

Eu, ______________________________________________________________, aceito livremente participar do estudo intitulado “Transtornos psiquiátricos menores e fatores associados em catadores de lixo do município de Eunápolis-BA” desenvolvido pela acadêmica Karla Stefani dos Santos Dias Berto, sob a responsabilidade da Professora orientadora Gislaine Maria Rodrigues Silva das Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia.

Nome da Participante_________________________________________

COMPROMISSO DO PESQUISADOR

As questões acima apresentadas, foram discutidas com cada participante do estudo. É minha opinião que cada indivíduo entenda os riscos, benefícios e obrigações relacionadas a esta pesquisa.

________________________________________Eunápolis, Data: __/__/__ Assinatura do Pesquisador

Para maiores informações, pode entrar em contato com:

Gislaine Maria Rodrigues Silva. Fone: (73) 9950-5950 Rua Outeiro da Glória, Quadra 28, lote 05, Cidade Alta. Porto Seguro-BA. E-mail: gislaine@unece.br

Karla Stefani dos Santos Dias Berto. Fone: (73) 8157-8860. Rua das Acácias, 75, Centauro. Eunápolis-BA. E-mail: karla.ssdb@gmail.com

Comitê de Ética em Pesquisa. Fone: (73)3528-9727. Avenida José Moreira Sobrinho, s/n, Jequiezinho. Jequié-BA. E-mail: cepuesb.jq@gmail.com

ANEXO II

Questionário que será aplicado no lixão do município de Eunápolis/BA com os catadores de lixo para obtenção dos dados socioeconômicos.

Entrevistador: ___________________________ Data da entrevista:___________

DADOS PESSOAIS

1-Nome do entrevistado: _________________________________________________________________

2-Idade:_____________3- Sexo: ( ) Fem. ( ) Masc.

3-Cor da pele: ( ) Branco ( ) Não branco

4-Situação conjugal: ( ) casado ( ) solteiro ( ) viúvo ( ) separado ( ) outros

5-Escolaridade (até que série estudou):_________________________________

6-Sabe ler e escrever: ( ) Sim ( ) Não ( ) Só assina.

7-Está estudando: ( ) Sim ( ) Não

8-Renda familiar dos últimos 3 meses:___________________________________

9-Possui alguma outra fonte de renda: ( ) Sim ( ) Não.

Qual:_____________________________________________________________

10-Com que idade começou a trabalhar:_________________________________

11-Quantas horas trabalha por dia: ( ) 6hrs ( ) 8hrs ( ) > 8hrs

12-Recebe algum benefício: ( ) Sim ( ) Não. Qual:__________________________

13-Está realizando esse trabalho por ter ficado desempregado: ( ) Sim ( ) Não

14-Há quanto tempo está desempregado:________________________________

15-Com que idade começou a atividade de catador:________________________

15-Por que começou a realizar esse serviço:

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS

16-Endereço:_______________________________________________________

17-Número:________________ 18-Complemento: _________________________

19-Telefone:_______________________________________________________

20-Tipo de moradia: ( ) casa ( ) apartamento ( ) barraca ( ) rua ( ) outros ________

21-Tipo de material que a casa é feita: ( ) tijolo ( ) taipa ( ) mista (tijolo e taipa) ( ) palha ( ) papelão ( ) outro_____________________________________________

22-Possui água encanada: ( ) Sim, no quintal ( ) Sim, dentro de casa ( ) Não

23-Possui luz elétrica em casa: ( ) Sim ( ) Não

24-Possui algum eletrodoméstico: ( ) Sim ( ) Não.

Quais? ___________________________________________________________

25-Possui banheiro em casa: ( ) Sim ( ) Não

26-Como é o banheiro da casa: ( ) com descarga ( ) sem descarga ( ) casinha

27-Quantas pessoas moram com você:__________________________________

28-Na última semana alguém da tua família te ajudou durante a coleta?

( ) Sim ( ) Não Quem? _______________________________________________

DADOS SOBRE A SAÚDE

29-Faz uso de tabaco: ( ) Sim ( )Não Há quanto tempo:__________________

31-Faz uso de bebida alcoólica: ( ) Sim ( ) Não Há quanto tempo:_____________

32-Você sente alguma dor: ( ) Sim ( )Não

Onde? ___________________________________________________________

34-Tem algum problema de saúde diagnosticado: ( ) Sim ( )Não

Qual:_____________________________________________________________

35-Com que frequência você vai ao médico: ______________________________

36-Quando você sente alguma coisa procura qual serviço de saúde: _________________________________________________________________

37- Existe algum grupo de ajuda que faz trabalho com vocês aqui no lixão:

( ) Sim ( )Não Qual? ________________________________________________

38- Alguma vez algum profissional de saúde já veio aqui:

( ) Sim ( )Não Qual: _________________________________________________

ANEXO III

Questionário Self-Report 20 (SRQ-20) para obtenção dos dados referentes a saúde ,mental e existência de transtornos psiquiátricos