MINAS DE LAMA
O “Minas de Lama:” é um programa de extensão da Universidade Federal de Juiz de Fora que busca diminuir a distância entre a universidade e a população atingida pelos desastres da mineração. Temos a intenção de trabalhar em uma troca, onde os atingidos tenham protagonismo e possam dar visibilidade as suas demandas, para que eles digam à Universidade o que ela pode fazer por eles.
Pessoas com modos de vida distorcidos, invisibilizadas em um jogo assimétrico de poder; paisagens mutiladas, destituídas de sua constituição sócio-histórica e de sua base natural, tratadas como cenário exemplar de um cruel greenwashing. Essa é tônica dos desastres mineração em Minas Gerais, que se perpetuam dia após dia no cotidiano dos atingidos e na epiderme da paisagem. Aproximando-se da população, a Universidade tem uma função social primordial, garantindo informações de qualidade, assessorando dúvidas e questionamentos e dando respaldo às iniciativas de compensação. Ouvindo as vozes dos atingidos, demandas sociais espontâneas surgem a cada momento, motivando a inserção da academia. Nesse sentido, articulou-se um programa de extensão que tem como intenção principal estreitar o vínculo e o diálogo entre a Universidade e os atingidos, promovendo um canal perene de troca de saberes e apoiando a tomada de decisão. Para tanto, congrega-se esforços de distintas áreas do conhecimento a partir da conformação de cinco projetos de extensão atrelados a esse programa, perfazendo a divulgação científica, a educação ambiental, a cartografia social, um atlas geoambiental, a assessoria técnica e a poluição atmosférica. Espera-se com esse esforço conjunto, interinstitucional e interdisciplinar, colaborar para minorar as injustiças promovidas no processo de reparação dos danos sofridos pelos atingidos.
Histórico
A relevância das ações acadêmicas voltadas à compreensão, interpretação e solução dos problemas socioambientais relacionados à mineração é reforçada a cada dia por meio da continuidade dos desastres promovidos pelos rompimentos das barragens do Fundão (Mariana-MG) e Córrego do Feijão (Brumadinho-MG). A perpetuação dos danos ambientais, a crescente insatisfação dos atingidos em relação à reparação e as fortes nuances de injustiça e racismo ambiental atentam constantemente para a reprodução dos desastres de forma contínua no tempo, nas mais diversas escalas espaciais.
Atendendo ao chamado da função social da Universidade, o Grupo TERRA tem-se inserido nesse debate, congregando projetos de pesquisa e extensão versando sobre as consequências socioambientais dos crimes da Samarco e da Vale. Tal inserção iniciou-se a partir de uma articulação emergencial com a Universidade Federal de Minas Gerais, dias após o rompimento da Barragem de Fundão, da Samarco Mineração S.A., em 05 de novembro de 2015. Ainda envoltos na problemática da bacia do Rio Doce, os esforços acadêmicos tiveram que ser repentinamente divididos com o rompimento da Barragem I do Complexo Minerário do Córrego do Feijão, da Vale S.A.
Dessa articulação inicial, derivou um intenso contato com pessoas, organizações, empresas e redes de comunicação que buscavam compreender o desastre. Com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Juiz de Fora e do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, foi organizada uma expedição ao longo do corredor hídrico afetado, percorrendo mais de 400km de estradas ao longo de 320km de rios afetados.
A partir dos dados coletados em campo, que indicaram que a geração de expectativas na população era um dos danos ambientais mais comumente reconhecidos por todo o corredor hídrico, postulou-se um projeto de extensão para conformar uma rede de divulgação científica e educação ambiental voltada ao esclarecimento dos questionamentos dos atingidos. Submetido ao Edital PROEX-UFJF 06/2019, o projeto intitulado “Minas de Lama: observatório dos desastres da mineração em Minas Gerais”, foi aprovado e no atual momento, encontra-se em pleno funcionamento.
Os esforços iniciais do observatório revelaram uma miríade de demandas advindas diretamente dos atingidos ainda não contempladas devidamente, além de diversas lacunas acadêmicas a serem preenchidas. Assim, seguiu-se o caminho natural do fazer extensionista e, na busca organizar as propostas de projetos de extensão advindas de diversos campos temáticos, propôs-se a criação de um programa de extensão.
O Programa Minas de Lama visa então colaborar para o cumprimento da função social da Universidade de dar respostas a população. Com o foco nos desastres da mineração, tem como objetivo articular e nuclear cinco projetos de extensão. A harmonização das propostas dá-se a partir do fio condutor da Geografia, enquanto ciência que busca compreender as relações entre a sociedade e a natureza em suas transformações no espaço, refletindo sobre dois eixos de análise que permeiam toda a discussão: os “invisibilizados”, pessoas ou grupos sociais que devido à exclusão social e injustiça ambiental não conseguem fazer suas demandas serem captadas pelo poder público, tampouco pelas empresas; a paisagem “mutilada”, amputada, assolada por danos irreversíveis no meio natural e sociocultural, o que reverbera em consequências para a qualidade de vida da população.
As linhas de ação do programa, então, coadunam com os projetos de extensão agregados por esse esforço nucleador, os quais são:
“Minas de Lama: observatório dos desastres da mineração em Minas Gerais”, projeto sediado no Grupo TERRA, que visa a divulgação científica e a educação ambiental;
“Observatório dos desastres da mineração: plataforma digital colaborativa para educação ambiental”, projeto sediado no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, para desenvolver uma ferramenta de denúncia e monitoramento popular dos desastres;
“Do local ao nacional: movimentos de contestação social à mineração”, projeto do Grupo PoEMAS, que antevê capacitação, assessoria técnica e produção de material para os movimentos sociais;
“Cartografia social em territórios atingidos pelo desastre da mineração no município de Brumadinho-MG”, sediado no NuGEA, que busca reconhecer o território de Brumadinho a partir do olhar dos atingidos;
“Atlas geoambiental”, sediado no GEOPED, que propõe a elaboração de um atlas geoambiental para as bacias do rio Doce e Paraobeba;
“Poluição atmosférica”, sediado no LCAA, sobre a qualidade do ar afetado pela poeira derivada do ressecamento dos rejeitos.