No rastro da destruição

Com o rompimento da Barragem de Fundão, sérios danos foram causados tanto nas construções feitas pelo ser humano, quanto na vida animal e vegetal que ali havia. Pensando nesse ponto, um grupo de pesquisadores se uniu para analisar quais foram as mudanças mais significativas na cobertura da terra.

A mineração pode ser considerada como um dos tipos de atividade econômica que mais degrada o meio ambiente, podendo destruir rios, solos e todo o ecossistema, devido a sua característica extrativista e exploratória. Além disso, a atividade minerária promove riscos (sociais e ambientais) associados ao seu processo produtivo, que se manifestam, por exemplo, no rompimento de barragens. De acordo com o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), o desastre decorrente do rompimento da barragem de Fundão afetou seriamente a flora, fauna, atividades econômicas e a vida das populações que residiam no caminho de destruição que a lama deixou.

Animais selvagens e domésticos foram perdidos, a vegetação foi destruída, fragmentos de matas foram separados dos demais, deixando animais e plantas “ilhados”, e rios foram completamente assoreados e contaminados, impedindo a pesca e alterando o modo de vida das pessoas que dependiam das águas para seu sustento. Devido a essas consequências, localizar e quantificar as alterações na cobertura da terra promovida pelo rompimento da barragem de Fundão é essencial.

Imagem 1: A figura mostra o antes (lado esquerdo) e depois (lado direito) do rompimento. O verde é a vegetação, e, quanto mais escuro, maior a densidade de vegetação na área; NDVI e EVI são cálculos matemáticos que avaliam a vegetação da área estudada. Fonte: SILVA JUNIOR et al, 2018.

Um estudo da Universidade Federal do Mato Grosso, em parceria com diversas instituições nacionais e internacionais (Universidade Federal do Alagoas; Universidade Federal do Mato Grosso do Sul; Instituto de Tecnologia Espacial Islamabad Paquistão e Universidade Estadual do Oeste do Paraná), utilizou imagens de satélites e modelos de interpretação da cobertura da terra para poder analisar as alterações na vegetação e no solo ao redor da área diretamente impactada pelo rompimento da barragem.

Os pesquisadores usaram dois cálculos matemáticos para avaliar a vegetação da área estudada, chamados de NDVI e EVI. Esses índices mostraram que, depois do desastre, grandes mudanças na paisagem podem ser percebidas, como o aumento significativo da área de solo exposto perto da barragem e nas margens do rio Gualaxo do Norte, em Mariana. Como consequência, nessa área foi registrado uma redução na cobertura vegetal.

A vegetação foi mais afetada nas proximidades da barragem, pois lá os rejeitos passaram com mais força e intensidade, deixando a área totalmente exposta. Nesse local, antes do rompimento, as imagens de satélite mostravam uma grande quantidade de sombras geradas pelas florestas. Após o rompimento, grande parte dessas florestas foi removida, reduzindo as áreas sombreadas por árvores e, assim, aumentando a quantidade de luz solar recebida.

O artigo mostra que 1.289 hectares de vegetação foram perdidos e que houve um aumento de 2.199 hectares na área de solo exposto, fazendo com que um total de 5.060 hectares estejam, agora, sem vegetação. Grande parte dos rejeitos seguiram o percurso do Rio Doce e estão nele até os dias atuais, o que impacta a vida aquática e as comunidades que dependem dos rios para sobrevivência. O estudo ainda mostra que também houve uma perda significativa de vegetação no médio curso do rio.

Além desses impactos no solo e vegetação, também houve grande alteração na dinâmica do rio, devido ao aumento significativo da carga sedimentar (rejeitos). Antes o rio não possuía tanto sedimento. Após receber os rejeitos do rompimento, os rios estão constantemente turvos, e isso acaba prejudicando a fauna local e prejudicando todo o ecossistema no entorno.

Imagem 2: Rastro dos rejeitos após o rompimento da Barragem de Fundão. Nota-se que há diversos fragmentos de florestas separados, assim como há casas soterradas pela lama. Fonte: Hoje em dia.

Por fim, o estudo apresenta dados alarmantes sobre a realidade do território após o rompimento da barragem de Fundão, que devem ser usados para o acompanhamento futuro da área degradada e sua recuperação. Mostra também que as imagens de satélite podem ajudar a monitorar antes/depois de desastres, com bastante eficiência, auxiliando na detecção do desmatamento e das alterações na paisagem. Esse é um passo fundamental para compreender as proporções desse crime ambiental.

Esse é um texto de divulgação científica do PROGRAMA MINAS DE LAMA, da Universidade Federal de Juiz de Fora, elaborado com base no artigo:
SILVA JUNIOR, Carlos Antonio da; COUTINHO, Andressa Dias; OLIVEIRA-JUNIOR, José Francisco de; TEODORO, Paulo Eduardo; LIMA, Mendelson; SHAKIR, Muhammad; GOIS, Givanildo de; JOHANN, Jerry Adriani. Analysis of the impact on vegetation caused by abrupt deforestation via orbital sensor in the environmental disaster of Mariana, Brazil. Land Use Policy, [S.l.], v. 76, p. 10-20, jul. 2018. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.landusepol.2018.04.019.