O óxido de grafeno seria uma esperança para a recuperação do rio Paraopeba?

As pessoas poderão voltar a usar o rio Paraopeba? Pesquisadores testam o óxido de grafeno como uma possibilidade para a recuperação das águas contaminadas.

O rompimento da barragem B1 da Mina Córrego do Feijão, em Minas Gerais, depositou aproximadamente 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração de ferro no meio ambiente, causando a morte de 259 pessoas, das quais 11 ainda estão desaparecidas. Após o rompimento, as concentrações de zinco, ferro, alumínio, chumbo, cádmio e urânio nas águas do rio Paraopeba ficaram acima do que o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) preconiza para a segurança humana. O acúmulo de íons metálicos é danoso para nosso organismo, porque não somos capazes de metabolizar tais íons. Um exemplo são o cádmio e o chumbo, visto que ambos podem causar danos cerebrais, disfunções respiratórias e renais se estiverem em alta concentração no corpo humano.

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais e da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais buscou testar uma solução para a redução desses metais pesados nas águas do rio Paraopeba. A resposta para esse problema pode estar no óxido de grafeno. Essa substância é gerada quando o oxigênio entra em contato com o grafeno (uma das formas cristalinas do carbono) gerando uma reação de oxidação. O óxido formado por essa interação possui uma alta capacidade de adsorver (adesão de moléculas de um fluido a uma superfície sólida) metais pesados presentes nas águas. A taxa de retenção chega até 98% para alguns metais pesados.

Com a água coletada em um ponto próximo ao local do rompimento da barragem, o estudo foi realizado em laboratório para verificar se o óxido de grafeno era realmente capaz de retirar os contaminantes químicos das águas do Paraopeba. Após as análises feitas, o pH da água baixou para próximo da faixa ideal, e praticamente todos os metais tiveram uma redução considerável nas suas concentrações na água.

Houve uma redução de mais de 98% na concentração de manganês e ferro, que, antes do tratamento com óxido de grafeno, estavam muito acima do que era permitido pelo CONAMA. Outros resultados satisfatórios foram obtidos para alumínio e cobre, elementos que apresentaram uma taxa de remoção de 90,2%. Porém, ainda assim, a concentração de alumínio permaneceu elevada, tamanhos eram seus valores iniciais, apresentando risco para a população.

Imagem 1: ponto de coleta das águas para o estudo

Imagem 2: Passo a passo da produção do óxido de grafeno

Por fim, o estudo defende que o óxido de grafeno pode ser uma solução viável para a retirada de grande parte desses metais pesados nas águas do rio Paraopeba. A substância demonstrou conseguir adsorver grande parte dos metais reduzindo-os consideravelmente. Todavia, por si só, o tratamento não elimina os riscos à saúde humana, uma vez que as concentrações iniciais de determinados contaminantes eram tão altas, que, mesmo com taxas de retenção expressivas, valores seguros não foram atingidos. Assim, se, por um lado, essa nova tecnologia pode ser um alento, por outro, não podemos descuidar do monitoramento das águas, combinando diferentes tipos de tratamento para que a segurança hídrica da população atingida pelo crime da Vale seja restabelecida.