A importância do tratamento psicossocial do SUS para os atingidos do rompimento da barragem da Mina I córrego do Feijão

Por: Rebeka Girardi Knop - 02/11/2021Orientação: Miguel Fernandes Felippe

Após o rompimento da barragem I da Mina córrego do Feijão, a população passa pelo luto. A ampliação do atendimento à saúde mental foi um grande desafio para o SUS.

O rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, ocasionou a morte de 270 pessoas, deixando centenas de desabrigados, o que potencializou a instabilidade emocional da população, deixando ainda mais complexo o processo de luto das famílias que ainda esperam por uma resposta e solução para a situação.

Um estudo coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz relatou a implementação da estratégia de atenção psicossocial e à saúde mental no programa do SUS (Sistema Único de Saúde), após o rompimento da barragem I da mina Córrego do Feijão. A pesquisa acompanhou desde as primeiras horas do desastre até o final dos primeiros seis meses. Os dados mostraram que, após o rompimento, o setor de saúde precisou ser devidamente ampliado para atender às novas demandas.

A rede de saúde do município de Brumadinho tinha, no momento do rompimento, 17 equipes da Assistência e Estratégia Saúde e da Família (ESF), em 14 Unidades Básicas de Atendimento (UBS), tendo uma cobertura territorial primária de 100%. Mesmo a cobertura sendo ampla, a extensão do município dificultava o acesso de parte dos usuários do SUS; por isso, a rede contava com 22 pontos de apoio para as equipes do ESF. Para ajudar a completar o trabalho das equipes das UBS, havia duas equipes do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf) compostas por psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas e etc. A Rede de Atendimento Psicossocial (Raps) contava com o centro de atenção psicossocial (CAPS II) e um centro de atenção psicossocial infanto-juvenil.

Devido às drásticas mudanças na cidade, os atingidos se sentiram muito desconfortáveis em razão das alterações da estrutura sócio-afetiva, as pessoas sentiam como um “luto pela cidade perdida”. Houve, também, o aumento de pessoas vindas de fora para a reparação da tragédia, ampliando a complexidade das relações sociais. Além disso, exacerbaram-se os conflitos relacionados ao recebimento das indenizações e acordos com a empresa.

Fonte: Exame - Reprodução

Logo após o desastre, o trauma gerado na população fez com que aumentasse a busca por atendimentos psicossociais, por isso as equipes de saúde estavam sobrecarregadas pelo acúmulo de serviços. Em função desses aumentos de demandas no setor da saúde, a atenção necessária aos atingidos após o desastre não foi suficiente. Por isso foi necessário a ampliação da equipe de profissionais de saúde, para que se conseguisse proporcionar um melhor atendimento para a população atingida.

Em situações de desastres, reações psicossociais até o fim do primeiro trimestre são esperadas. Devido ao impacto psicossocial do desastre, o Ministério da Saúde em conjunto com a Secretaria Estadual de Saúde definiram que haveria uma ampliação da rede de atenção à saúde. Um dos recursos implementados na estratégia foi o ambulatório de saúde mental, com o objetivo de assistir pacientes em situações estáveis, mas que ainda necessitavam de acompanhamento profissional, evitando assim, a sobrecarga das equipes de atenção primária.

Por fim, é esperado que, após um grande desastre, o quadro clínico na saúde mental das pessoas apresente piora, pois o corpo tende a adoecer mais devido ao estado emocional. Questões psíquicas vão sobrecarregando os corpos já adoecidos, transformando a dor em vazio e desesperança. Por esse motivo, o tratamento primário, de cuidado na saúde mental dos atingidos, é de suma importância para evitar o adoecimento de grande parte da população.

Esse é um texto de divulgação científica do PROGRAMA MINAS DE LAMA, da Universidade Federal de Juiz de Fora, elaborado com base no artigo:
NOAL, Débora da Silva; BRAGA, Vanuse Maria Resende; LEAL, Mariana Bertol; VARGAS, Angela Ribeiro; ELIAZAR, Paula. Desastre da Vale: o desafio do cuidado em saúde mental e atenção psicossocial no SUS. Saúde Debate, Rio de Janeiro, v. 44, n. especial 2, p. 353 – 363, julho, 2020.