Sono do Cristão, O

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Endereço Evangélico: A Grande Tentação. 4. O Sono: 4.1. O Materialismo; 4.2. O Despertamento; 4.3. Horizontalidade e Verticalidade da Vida. 5. Letargia dos Cristãos; 5.1. Os Pensadores Religiosos e Não-Religiosos; 5.2. Algumas Frases; 5.3. O Anúncio do Comunismo. 6. Contribuição do Espiritismo: 6.1. Os Princípios Fundamentais; 6.2. Por que Dormis?; 6.3. Ir e Pregar. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O que se entende por sono dos cristãos? De onde vem este tema? Como nos despertarmos para a realidade do Espírito? Estamos realmente contribuindo para a expansão dos ensinamentos trazidos por Jesus Cristo?

2. CONCEITO

Cristão – etimologicamente, a palavra cristão significa adepto, discípulo de Jesus Cristo. O termo cristão não foi inventado pelos judeus, pois não reconheciam Jesus como o Cristo, nem pelos próprios cristãos que se chamavam a si mesmos de discípulos, irmãos, santos, chamados ou fiéis. A sua origem deu-se em Antioquia, no ano 43, quando Paulo e Barnabé pregaram o Evangelho do Cristo e converteram milhares de gentios. A partir daí começaram a chamar de cristãos aos novos discípulos de Cristo. (GEPB)

3. ENDEREÇO EVANGÉLICO: A GRANDE TENTAÇÃO

Eles chegaram a um lugar chamado Getsêmani. Então Jesus disse aos discípulos: "Sentem-se aqui, enquanto eu vou rezar." Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João, e começou a ficar com medo e angústia. Então disse a eles: "Minha alma está numa tristeza de morte. Fiquem aqui e vigiem". Jesus foi um pouco mais adiante, prostrou-se por terra e pedia que, se fosse possível, aquela hora se afastasse dele. Ele rezava: "Abba! Pai! Tudo é possível para ti! Afasta de mim este cálice! Contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres".

Depois Jesus voltou, encontrou os três discípulos dormindo, e disse a Pedro: "Simão, você está dormindo? Você não pôde vigiar nem sequer uma hora? Vigiem e rezem, para não cair na tentação! Porque o espírito está pronto para resistir, mas a carne é fraca". Jesus se afastou de novo e rezou, repetindo as mesmas palavras. Voltou novamente, e encontrou os discípulos dormindo, porque seus olhos estavam pesados de sono. E eles não sabiam o que dizer a Jesus. Então Jesus voltou pela terceira vez, e disse: "Agora vocês podem dormir e descansar. Basta! Chegou a hora! Eis que o Filho do Homem vai ser entregue ao poder dos pecadores. Levantem-se! Vamos! Aquele que vai me trair já está chegando". (Marcos 14, 32-45)

4. O SONO

4.1. O MATERIALISMO

O apego aos bens materiais é um dos fatores da letargia espiritual. Allan Kardec já nos dizia que a riqueza é uma prova bem mais difícil que a da pobreza, porque incita o ser humano aos maiores desregramentos, caso não tenha percebido que o homem é apenas usufrutuário dos bens emprestados por Deus. O amor às riquezas leva-nos a um sono profundo porque, dando-nos a ilusão do êxito, do sucesso, tira-nos o poder de criticarmos a nós mesmos.

4.2. O DESPERTAMENTO

Na primeira metade do século XX, um cientista russo de nome Ouspensky deslocou-se, com sacrifícios pessoais, da Rússia até Paris em busca de um sábio sufi de nome Gurdjeff. Com este último desejava fazer uma formação filosófica e psicológica. Uma vez tendo localizado e contatado Gurdjeff, encontraram-se ambos no apartamento habitado pelo mestre.

Tendo, o ainda jovem cientista revelado a sua intenção, pediu-lhe mestre Gurdjeff que ficasse por três dias ali em seu apartamento. Gurdjeff iria para a casa de um amigo para deixar inteiramente só o seu novo discípulo. Recomendou a este: "Deixe cerradas as cortinas e não atenda se baterem à porta; também não atenda ao telefone, pois, sendo recém-chegado a Paris, a chamada não será para você". O mestre explicou que aqueles seriam três dias de isolamento, inteiramente na presença de si mesmo.

Passado o tempo proposto, Gurdjeff voltou ao seu apartamento e, após breves palavras, convidou seu discípulo para dar uma caminhada pelas ruas de Paris.

Saíram para caminhar. Após certo tempo caminhando praticamente em silêncio no meio da agitação, Ouspensky segurou o mestre fortemente pelo braço, dizendo-lhe: "Senhor, tenho a estranha impressão de que estão todos dormindo, só nós dois caminhamos acordados!" O mestre observou que sua impressão era correta. Ambos transitavam entre seres sonambúlicos, ora andando apressados para nada, ora buscando agitadamente ninharias, ora em pesadelos de real sofrimento, mas estavam dormindo. Disse Gurdjeff: "Você é um excelente aluno. Observe que este estado de sonambulismo é de toda, ou quase de toda a humanidade. O trabalho a que nos propomos deve ser exatamente o de provocar o despertamento dos nossos irmãos".

4.3. HORIZONTALIDADE E VERTICALIDADE DA VIDA

Se não prestarmos atenção, chafurdar-nos-emos na horizontalidade da vida. A horizontalidade e a verticalidade podem ser observadas nos diversos atos do nosso dia-a-dia. Quando pensamos em termos horizontais, estamos na superfície do problema, da questão, da discussão. Não conseguimos abrir a noz e verificar o que tem lá dentro. Descrevemos o fato, fazemos contas e raciocinamos, mas não temos capacidade de interligar o presente com o passado e com o futuro. A verticalidade, porém, é um transcender do Espírito, um desdobrar-se, um conhecer-se a si mesmo em que os valores éticos têm maior importância do que os valores materiais.

5. LETARGIA DOS CRISTÃOS

5.1. PENSADORES RELIGIOSOS E NÃO-RELIGIOSOS

Em A Funesta Letargia dos Cristãos, Rubem Vieira toma como suas as palavras de diversos pensadores religiosos e não-religiosos. Entre eles estão o papa João 23, o papa Pio XII, Lebret. Jacques Maritain e Santo Agostinho. A sua intenção é anotar os pensamentos que dizem respeito ao despertamento do cristão do sono profundo. Muitos deles vão além, pois sugerem que depois de ter sido acordado, deve também acordar os que dormem, os que estão em estado letárgico e pensam que estão acordados. Muitos deles clamam pela justiça social, pois sem esta a sociedade se esvai. (1963)

5.2. ALGUMAS FRASES

"O que é preciso, desde já, é que falem os que estão calados, ajam os que hesitam e voltem à realidade os que se ausentaram". (Rubem Vieira)

"A tarefa primordial do servidor inspirado do povo é despertar o povo para alguma coisa melhor". (Jacques Maritain)

"A verdadeira paz, a paz autêntica, só pode ser obtida pelo despertar de um profundo sentimento de fraternidade entre os homens". (Paulo VI)

"Para que não suceda que, vindo de repente, vos ache dormindo". (Marcos, 13, 36)

"Não importa o que sejamos; não somos o que deveríamos ser". (Santo Agostinho)

5.3. O ANÚNCIO DO COMUNISMO

O desprendimento da riqueza é uma forma de nos despertarmos para a vida futura. O comunismo – posse comum dos bens – é bastante ilustrativo. Ele foi praticado por muitas freiras e padres. E deu certo, porque eles tinham em mente o desapego, no sentido de viver uma vida em comum, onde os objetos são de todos. Não carregaram o sentimento de posse. Lenine tentou implantá-lo na Rússia, mas não foi feliz. É que ele tentou converter a Rússia num grande mosteiro sem a caridade. Queria a propriedade comum, mas sem o sentimento do amor.

6. CONTRIBUIÇÃO DO ESPIRITISMO

6.1. OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Os princípios fundamentais da Doutrina Espírita têm grande serventia, ou seja, a de criar condições para que o homem possa mudar a direção do vetor materialista (sono) para a do vetor espiritualista (despertamento). Allan Kardec, na pergunta 798 de O Livro dos Espíritos, informa-nos que o Espiritismo será o grande despertador da Humanidade, porque se tornará uma crença comum. Diz-nos, também, que haverá lutas, porque as idéias só se transformam com o tempo e não subitamente; elas se enfraquecem de geração em geração e acabam por desaparecer com os que as professavam e que são substituídos por outros indivíduos imbuídos de novos princípios.

6.2. POR QUE DORMIS?

"E Disse-lhes: Por que estais dormindo? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação". - Lucas, 22, 46.

O Espírito Emmanuel comenta esta frase nos seguintes termos:

Diz-nos que é imperioso evitar as situações acomodatícias, em detrimento das atividades do bem. Para ele, o "Aprendiz figurará o mundo como sendo o campo de trabalho do Reino, onde se esforçará, operoso e vigilante, compreendendo que o Cristo prossegue em serviço redentor para o resgate total das criaturas". Acrescenta que "Inúmeras comunidades de alicerces cristãos permanecem dormindo nas convivências pessoais, nos mesquinhos interesses, nas vaidades efêmeras. Falam do Cristo, referem-se à sua imperecível exemplificação, como se fossem sonâmbulos, inconscientes do que dizem e do que fazem, para despertarem tão-só no instante da morte corporal, em soluços tardios". Por fim, conclama: "Levanta-te e esforça-te, porque é no sono da alma que se encontram as mais perigosas tentações, através de pesadelos ou fantasias". (Xavier, 1973, cap. 87)

6.3. IR E PREGAR

Os Espíritos superiores ensinam-nos a "Dar de graça o que de graça recebermos". Exortam-nos a sair de nós mesmos para pregar a boa nova, tal qual faziam os apóstolos na época de Jesus. E que nada devíamos temer, porque as línguas de fogo falarão por nós. Orientam-nos, contudo, a fazer tudo pelo interesse geral. Nós, como pessoas, somos insignificantes no processo todo. Se não fizermos, outro fará, de modo que a obra pertence ao Cristo e não a nós. Por isso, a semente é que é importante e não o semeador. Quando invertemos a ordem, corremos sérios riscos de nos desviarmos do verdadeiro caminho da pregação.

7. CONCLUSÃO

Quem dorme não pode meditar. A meditação torna-nos conscientes do que temos de fazer. O sono pode nos levar aos sonhos tumultuados e aos pesadelos.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.]

VIEIRA, Rubem J. B. A Funesta Letargia dos Cristãos: Ante as Injustiças Sociais e as Reformas de Base. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1963.

XAVIER, F. C. Caminho, Verdade e Vida, pelo Espírito Emmanuel. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1973.

São Paulo, outubro de 2008.