Esoterismo e Espiritismo

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Considerações Iniciais. 4. Esoterismo: Desde a Antiguidade: 4.1. O Par de Termos: Esotérico/Exotérico; 4.2. Das Sociedades Primitivas aos nossos Dias; 4.3. Distinguindo o Esoterismo do Ocultismo. 5. Esoterismo Moderno: 5.1. Magia; 5.2. Maçonaria; 5.3. Teosofia. 6. Esoterismo e Espiritismo: 6.1. Metáfora: Jesus era Esotérico; 6.2. O Espiritismo, como Doutrina, não é Esotérico; 6.3. O Lado Esotérico do Espiritismo. 7. Conclusão. 8. Bibliografia consultada.

1. INTRODUÇÃO

O termo “esoterismo” é usado para designar diversos significados. Pergunta-se: ele também se confunde com a Doutrina Espírita? Analisemos o tema, buscando o seu perfeito entendimento.  

2. CONCEITO

Esotérico. Do grego esotericos, “interior”, “secreto”. Termo empregado nas escolas antigas da Grécia e aplicado principalmente aos discípulos de Pitágoras. É o ensino reservado apenas para os alunos da escola que já possuíam elevada instrução, os completamente instruídos. (1)

Exotérico. Do grego exotericos, “externo”, “que pertence ao lado de fora”. Ensinamento que, nestas mesmas escolas, era transmitido ao público sem restrição, dado o interesse generalizado que suscitava e a forma acessível em que podia ser expresso, por se tratar de ensinamento dialético, provável, verossímil. (2)

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Os “ismos” devem ser sempre vistos sob os seus dois aspectos: positivo e negativo. Muitos “ismos” se distanciaram significantemente de sua origem, inclusive da sua etimológica. Podemos falar dos desvios do cristianismo, do marxismo, do cartesianismo, que tomaram outro rumo e não aquele proposto pelo seu criador.

Na antiguidade, o esoterismo tinha uma significação precisa, ou seja, esotérico era o ensinamento reservado aos alunos que, possuindo algum conhecimento anterior, já estavam preparados para receber novos ensinamentos. Aristóteles, de manhã, dava lições de Lógica, de Física e de Metafísica (sob a forma esotérica) aos mais íntimos da escola. As lições de Retórica, de Política e de Dialética, na parte da tarde, eram destinadas a um público mais numeroso e variado (teriam originado os escritos exotéricos).

Hoje, esoterismo é sinônimo de oculto e aplica-se à Cabala, à Magia, às ciências divinatórias etc. Usa-se, assim, esoterismo em vez de ocultismo.

Será que, em nossas palestras espíritas, não estamos usando esses ensinamentos esotéricos (da atualidade) como se fossem de competência da Doutrina Espírita? Pensemos a respeito.

4. ESOTERISMO: DESDE A ANTIGUIDADE

4.1. O PAR DE TERMOS: ESOTÉRICO/EXOTÉRICO

Este par de termos, “esotérico/exotérico”, corresponde à oposição entre interno-externo, secreto-público, reservado-profano etc. Dos dois termos, o esotérico é o mais significativo porque acentua o aspecto positivo da relação, ou seja, o âmbito propriamente reservado e secreto. (3)

4.2. DAS SOCIEDADES PRIMITIVAS AOS NOSSOS DIAS

Desde as sociedades primitivas até os nossos dias, a oposição esotérica/exotérica está presente no seio da sociedade. O clã, ao transformar-se em tribo, é o primeiro característico desta antítese. Na Grécia antiga, os mistérios elêusicos e órficos são fundamentais para a distinção entre o sagrado e o profano. A formação de várias sociedades secretas, tais como a cabala, a rosa-cruz, a maçonaria e a própria teosofia corroboram a tese do hermetismo e sua veiculação somente aos iniciados.  (3)

4.3. DISTINGUINDO O ESOTERISMO DO OCULTISMO

O esoterismo é fundamentalmente teórico e especulativo: nas escolas filosóficas, o esoterismo pretendia ser a salvaguarda da vida interior de cada escola perante os estranhos, o profanum vulgus. O ocultismo é prático e guarda sob o seu seio uma infinidade de seitas e ciências divinatórias. (1)

5. ESOTERISMO MODERNO

Dos vários tipos de esoterismo moderno, que se confundem com o ocultismo, escolhemos três, a título de exemplo.

5.1. MAGIA

Magia é o modo pelo qual o homem, servindo-se dos anjos, espíritos, gênios e demônios, pretende obter efeitos maravilhosos e extraordinários, tanto na prática do bem como do mal. Quando a magia se exerce para o Bem, temos Teurgia ou Magia Branca; quando para o Mal, a Goécia, ou Magia Negra. Esses efeitos são obtidos por diversos processos: invocações, conjurações, pactos, feitiços etc. Apela-se, também, para as preces e repetição em voz alta de uma mesma palavra, usando sonoridade especial. (2)

5.2. MAÇONARIA

Além do caráter religioso, a maçonaria reúne as elites intelectuais, às quais atribui uma grande missão moral de guia da humanidade e de intervenção na orientação da vida pública: é o iluminismo esotérico. Em termos religiosos, é uma orientação que foge às várias confissões existentes. Seu motivo secreto (esotérico) baseia-se na aposta que faz em homens que são capazes de elevar-se acima dos preconceitos das estruturas institucionais comuns. (3)

5.3. TEOSOFIA

O objeto da teosofia é, em ultima análise, Deus. Não se aproxima dele, porém, através de determinadas revelações ou considerações religiosas. As várias revelações históricas são fundidas numa perspectiva unitária, ou seja, tendem a unir a inspiração religiosa e a cultura científica – naturalista numa dimensão cosmológica única. A teosofia reúne cosmologia, revelação e espírito soteriológico, tudo isso culminando num conhecimento secreto superior onde a iniciativa reveladora de Deus se encontra com o esforço de elevação e de purificação do homem. É assim que Deus, o universo e o homem são postos num círculo de unidade e evolução. (3)

6. ESOTERISMO E ESPIRITISMO

6.1. METÁFORA: JESUS ERA ESOTÉRICO

Metaforicamente, esotérico é todo o ensinamento reservado a um círculo restrito de ouvintes. Nesse caso, todos nos somos esotéricos. Jesus não fugiu à regra. Observe o seguinte: Jesus expunha exotericamente as suas parábolas. Depois, a sós com os seus discípulos, dava explicações mais detalhadas. E, mesmo entre eles, não dizia tudo, porque os discípulos não estavam preparados para os ensinamentos mais profundos.

6.2. O ESPIRITISMO, COMO DOUTRINA, NÃO É ESOTÉRICO

Allan Kardec, ao codificar a Doutrina dos Espíritos, preocupou-se em tornar universal a unidade de seus princípios. Para isso, valeu-se de médiuns espalhados pelo mundo todo. Cuidou, essencialmente, de apresentar metodicamente o conteúdo doutrinário, a fim de eliminar quaisquer dúvidas de interpretação, como aquelas ocorridas com os ensinos orais de Cristo. Deixou claro que o Espiritismo, avançando com o progresso, jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem que está em erro acerca de um ponto, ele se modificará nesse ponto.

6.3. O LADO ESOTÉRICO DO ESPIRITISMO

A divulgação espírita, para atender aos objetivos da universalidade, deve ser exotérica. Não resta dúvida que na sua propagação existem muitos pontos esotéricos, pois a pedagogia evangélica ensina que não se deve dar pérolas aos porcos, ou seja, a transmissão do conhecimento deve ser proporcional à compreensão do ouvinte. Contudo, essa forma de entender o Espiritismo é completamente diferente daquela usada pelas sociedades secretas, que expõe o conhecimento, somente aos iniciados, reservadamente.

7. CONCLUSÃO

Em vista dessas distinções, saibamos combater os possíveis desvios dos fundamentos básicos do Espiritismo. Lembremo-nos do provérbio: “É de pequenino que se torce o pepino”. Ou seja, o erro deve ser combatido no seu nascedouro para que não progrida como se fosse verdade.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

(1) LOGOS – ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA DE FILOSOFIA. Rio de Janeiro: Verbo, 1990.

(2) GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.].

(3) GIL, F. (Editor). Enciclopedia Einaudi. Lisboa, Imprensa Nacional, 1985-1991.

São Paulo, maio de 2011.