Educação e Espiritismo

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito: 2.1. Natureza da Educação; 2.2. Definição: 2.2.1. Algumas Definições. 3. Histórico: 3.1. Da Antigüidade à Idade Média; 3.2. Educação Moderna: 3.2.1. Jean Jacques Rousseau; 3.2.2. Pestalozzi; 3.2.3. Allan Kardec. 4. Preconceito, Superstição e Verdade: 4.1. Preconceito; 4.2. Superstição; 4.3. Verdade. 5. O Problema da Educação: 5.1. Educação Formal; 5.2. Educação sob a Ótica Espírita. 6. Conclusão. 7. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é mostrar que o Espiritismo pode fornecer subsídios valiosos para o constante aperfeiçoamento da personalidade humana. Assim sendo, analisaremos o conceito de educação, a educação na história, o preconceito e a verdade, a educação formal e ótica espírita da educação.

2. CONCEITO

Examinando as definições antigas e modernas da educação, verificamos que todas colocam o desenvolvimento ou o aperfeiçoamento do homem como objetivos essenciais da educação. Desenvolvimento e perfeição variam com a idéia que o educador possui da natureza e do destino do homem. Donde a necessidade de se conhecer a filosofia de vida do Educador para se poder penetrar na essência do seu conceito de educação. (Santos, 1963, p. 51)

2.1. NATUREZA DA EDUCAÇÃO

Os animais não precisam aprender; quando muito são adestrados. O homem por sua "natureza" e como "ser social" necessita de conhecimento. Por essa razão, na lei de sociedade, os mais aptos ensinam os menos aptos. (Santos, 1963, p. 51 a 53)

2.2. DEFINIÇÃO

Há dificuldade em se definir o termo educação, pois sua conceituação depende de idéias filosóficas e religiosas. Nos Estados Unidos, por exemplo, predomina o Pragmatismo.

Uma das dificuldades concerne à sua etimologia, pois há duas raízes:

1ª) educare - criar, alimentar;

2ª) educere - direção para fora (mais antigo).

Daí surgem dois conceitos diversos e opostos de educação, ou seja, um de fora para dentro (Magister Dixit) - ensino autoritário; outro de dentro para fora - liberalismo.

Todavia, como observa Sanchez Buchon, "Essas duas significações etimológicas unem-se e completam-se para dizer-nos que a educação se acha constituída por dois movimentos: um, de dentro para fora — o desenvolvimento — que é essencial ao processo, mas que necessita, para realizar-se, de outro movimento de fora para dentro". (Santos, 1963, p. 56 a 58)

2.2.1. ALGUMAS DEFINIÇÕES

Platão afirmava que a boa educação "consistia em dar ao corpo e à alma toda a beleza e perfeição de que são capazes".

Frank Knight dizia que educar é "desensinar com o intuito de eliminar preconceitos e falácias".

A Encyclopaedia Britannica diz que educação pode ser vista como a "transmissão de valores e conhecimento acumulado de uma sociedade".

Herbert Spencer defendia que a educação era um processo cujo objetivo é "a formação do caráter".

3. HISTÓRICO

3.1. DA ANTIGÜIDADE À IDADE MÉDIA

Nas sociedades primitivas o termo educação tem a finalidade de moldar a criança a fim de que ela se torne um bom membro de sua tribo ou bando. Os conhecimentos são do tipo folk, isto é, transmitidos de pais para filhos sem a documentação escrita. Numa epidemia podem se perder. Na China, por exemplo, a educação formal já tinha uma proposta de caráter moral.

Somente na Grécia com Sócrates, Platão e Aristóteles — Berço da Civilização Ocidental — é que a educação toma o caráter reflexivo, com todas as suas conseqüências. A filosofia de Sócrates e Platão dão-nos bem esse "modus operandi": o diálogo, a maiêutica, a dialética.

Roma distingue-se pelo caráter repetitivo de seus ensinamentos.

Na Idade Média, a Escolástica é a grande divulgadora dos conhecimentos. Caracterizou-se pelo estudo filosófico inseparável do teológico, com o problema fundamental dos universais. Quer dizer, a educação estava sob o guante da Igreja ou dos pensadores religiosos.

3.2. EDUCAÇÃO MODERNA

Nesta trajetória histórica lembramos os nomes de Lutero, Montaigne, John Locke, considerados como grandes educadores da humanidade. Porém, para fins específicos de nosso estudo, deter-nos-emos rapidamente nas figuras de Jean Jacques Rousseau, Pestalozzi e Allan Kardec.

3.2.1. JEAN JACQUES ROUSSEAU

Famoso pelo seu livro O Contrato Social, escreve em 1762 a obra Emílio ou da Educação, também cognominada de cartilha da Infância. Esse livro é uma crítica ao modelo de educação vigente na época, ou seja, de fora para dentro, autoritário, do tipo magister dixit.

Os pontos essenciais de sua filosofia educacional eram:

- atenção ao natural;

- desenvolvimento do julgamento independente;

- harmonia das necessidades e habilidades;

- fundamentos da humanidade em geral.

É a partir de Rousseau que o mundo passa a conhecer a chamada revolução copernicana em educação: educação de dentro para fora. (Encyclopaedia Britannica, 1980, p. 353 e 354)

3.2.2. PESTALOZZI

Baseando-se em Rousseau, diz que a educação deve ser orgânica, intelectual e moral, ou em outras palavras, o desenvolvimento "da cabeça, do coração e do corpo".

As idéias de Pestalozzi podem ser resumidas:

- o indivíduo deve voltar-se para dentro de si mesmo;

- desenvolvimento do poder pessoal: a pessoa toma conhecimento através da própria investigação e não pela infindável conversa sobre os resultados da arte e da ciência;

- educa-se mais pelo que se faz do que pelo que se aprende.

Dedicou-se à educação dos pobres. (Encyclopaedia Britannica, 1980, p. 359 e 360)

3.2.3. ALLAN KARDEC

Discípulo de Pestalozzi. Absorve de seu mestre a perspectiva da educação voltada para o crescimento harmônico do indivíduo. Antes de se tornar espírita, fora premiado, por concurso, em 1831, pela apresentação de sua notável memória: qual o sistema de estudo mais em harmonia com as necessidades da época?

Publicou vários livros acerca do processo educacional, entre os quais: Plano apresentado para a melhoria da instrução pública, Curso Prático e Teórico de Aritmética - este baseado no método Pestalozzi.

Seus pendores e suas aspirações, tê-lo-iam impelido para o misticismo, mas a educação, o juízo reto, a observação metódica levaram-no a uma análise racional do Espiritismo.

depreende-se dos seus estudos que A BASE SÓLIDA DO ESPIRITISMO ESTÁ NA EDUCAÇÃO CORRETA.

Publicou uma obra para a posteridade, ou seja, O LIVRO DOS ESPÍRITOS — MÉTODO SOCRÁTICO POR EXCELÊNCIA, pois editou-o através de perguntas e respostas, no intuito de apresentar a UNIVERSALIDADE DOS CONHECIMENTOS.

4. PRECONCEITO, SUPERSTIÇÃO E VERDADE

4.1. PRECONCEITO

Pré-conceito significa pré-julgamento. Como isto surge? Primeiramente pela nossa ignorância e limitação. Assim sendo, herdamos de nossos avós e de nossos pais certos ensinamentos, com caráter de verdade. Exemplo: a vara produz filhos obedientes; quem bem ama bem castiga. Isso leva à delinqüência e cria filhos rebeldes.

4.2. SUPERSTIÇÃO

É um sentimento religioso baseado no temor e na ignorância, o que induz ao conhecimento de falsos deveres, ao receio de coisas fantásticas. Se você cometer o "pecado" vai arder no fogo do inferno. Antigamente quem tinha sífilis era pecador. Diziam: ele está com a doença ruim. Hoje é a Aids.

4.3. VERDADE

Os primeiros filósofos já queriam diferenciar a opinião do conhecimento verdadeiro. Era a doxa e o paradoxo. Mas o que é a verdade? É o reflexo fiel do objeto na mente, adequação do pensamento com a coisa. Verdadeiro é todo o juízo que reflete corretamente a realidade. O que existe na realidade não pode ser verdadeiro ou falso. Simplesmente existe. Verdadeiros ou errados só podem ser nossos conhecimentos ou juízos a respeito do objeto. Em outras palavras, verdadeiro ou errado pode ser apenas o reflexo subjetivo da realidade objetiva. (Bazarian, s. d. p., p.142 e 143)

5. O PROBLEMA DA EDUCAÇÃO

5.1. EDUCAÇÃO FORMAL

Entende-se por educação formal aquela praticada nas organizações de ensino onde se tem "professor, escola e aluno".

Se tomarmos uma pessoa ao acaso, ela pode realizar a seguinte escala: maternal infantil até os 7 anos de idade; 1º e 2º graus até 15 anos de idade; colegial até 18 anos; faculdade até 23 anos etc. Pode formar-se médica, advogada, professora etc.

A educação formal fornece certas técnicas para formar um especialista. Chega, inclusive, a certos exageros, como o dos médicos que só cuidam de uma única parte do organismo humano.

Hoje fala-se de uma educação holística, porém fora da educação formal.

Assim sendo, o que chamamos educação é um processo consistente em acumular informações e conhecimentos, tirados dos livros, e isso qualquer um que saiba ler pode conseguir.

Em algumas escolas cria-se a metodomania; em outras, a conscientização, que é como colocar o aluno numa fôrma.

5.2. EDUCAÇÃO SOB A ÓTICA ESPÍRITA

O Espiritismo, bem refletido, é um processo educacional por excelência.

Vejamos:

o Espírito, estando no plano dos Espíritos desencarnados, solicita sua oportunidade para vir a este planeta de provas e expiações — para missão ou resgate. Observe que segundo a Doutrina Espírita, o Espírito tem que se ligar ao corpo físico, e fá-lo através do Perispírito. Há ligação do perispírito com o princípio vito-material do germe. A partir daí o Espírito faz a sua evolução como encarnado.

Os Passos na educação espírita podem ser resumidos da seguinte forma:

Ato da concepção: já existe um Espírito ligado ao feto em formação;

Até aos 7 anos: por habitar um corpo ainda frágil, pode-se modificar com mais facilidade o comportamento do Espírito reencarnante. Eis o que dizem os Espíritos à pergunta 383 de O Livro dos Espíritos — Qual é, para o Espírito, a utilidade de passar pela infância? — Encarnado-se com o fim de se aperfeiçoar, o Espírito é mais acessível, durante esse tempo, às impressões que recebe e que podem ajudar o seu adiantamento, para o qual devem contribuir os que estão encarregados da sua educação. Em nota de rodapé, J. H. Pires comenta: — Os pais e os professores espíritas devem ponderar sobre este item e os que se lhe seguem. O Espiritismo vem abrir um novo capítulo da Psicologia infantil e da Pedagogia, mostrando a importância da educação da criança não apenas para esta vida mas para a sua própria evolução espiritual.

Após os 7 anos: readquire a sua própria personalidade, tornando-se mais difícil a modificação de caráter, desde que impulsionado para o mal.

Diz-nos o Espírito Emmanuel em O Consolador nas perguntas 108 a 111 que somente o lar educa. A escola apenas instrui. Paralelamente, o Espírito André Luiz diz-nos que o lar é o principal agente transformador de nossa conduta.

6. CONCLUSÃO

O Espiritismo, analisando o indivíduo dentro do seu tríplice aspecto — ESPÍRITO, PERISPÍRITO E CORPO FÍSICO —, fornecerá subsídios valiosos para entendermos a perfeita educação. Não a educação formal, passageira, técnica, mas aquela que atinge o fundo do ser, o psiquismo. Por isso, devemos estar sempre estudando o Espiritismo e refletindo sobre o seus conteúdos morais, pois quanto mais enriquecermos o nosso ser nesta vida, mais ricos iremos para a vida futura. Eis a verdadeira felicidade do Espírito: retornar mais rico de qualidades morais do que quando aqui veio.

7. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BAZARIAN, J. O Problema da Verdade. São Paulo, Círculo do Livro, s. d. p.
BENTON, W. e BENTON, H. H. (Editores). The New Encyclopaedia Britannica Macropaedia. 15.ed.,Chicago/London/Toronto/Geneva/Sydney/Tokyo/Manila/Seoul, 1980. (Vol. 6).
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.
SANTOS, T. M. Noções de Pedagogia Científica. São Paulo, Editora Nacional, 1963.
XAVIER, F. C. O Consolador (pelo Espírito Emmanuel). 7. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1977.

São Paulo, 11/04/1993