Dever

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Considerações Iniciais. 4. O Dever Segundo alguns Pensadores; 4.1. Sócrates Platão e Aristóteles; 4.2. Pensadores da Idade Média; 4.3. Fichte; 4.4. Kant. 5. Dever e Evangelho Segundo o Espiritismo: 5.1. Lei da Vida; 5.2. Onde Começa e Termina o Dever? 5.3. Especulações Morais. 6. Ação e Dever: 6.1. Ação Livre; 6.2. Direitos e Deveres; 6.3. Pensamentos sobre o Dever. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O que devemos entender por dever? Qual a relação entre deveres e obrigações? Há distinção entre agir segundo o dever e por dever? Que contributos prestaram os grandes pensadores ao entendimento do dever? Que subsídios Allan Kardec nos oferece para melhor entendermos esse tema?

2. CONCEITO 

Dever – Do latim devere significa a obrigação moral determinada, expressa numa regra de ação. É o princípio da ação e estriba-se na razão. Muitas vezes usados como sinônimos, as duas palavras "dever" e "obrigação" podem ser empregadas com significados diferentes: enquanto obrigação designaria a necessidade moral que vincula o sujeito a proceder de determinado  modo, dever significaria esse procedimento a que ele está obrigado. Por outras palavras: obrigação seria o aspecto formal e subjetivo e o dever o material e Objetivo da mesma realidade global. (Enciclopédia Verbo da Sociedade e Estado)

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O dever, na sua origem, e segundo os estóicos, pertencia a uma ética fundada na norma do “viver segundo a natureza”, isto é, conformar-se à ordem racional do todo. Os estóicos não se referiam à felicidade, ao prazer ou à conquista de virtudes; simplesmente alimentavam a crença que, havendo uma lei natural, a conduta humana nela seria alicerçada. Isso já era o suficiente para pautar o comportamento de cada ser humano.

Ao longo do tempo, outros pensadores expressaram os seus pontos de vista sobre o dever.

O dever está presente em todos os aspectos de nossa vida de relação.

Refletir sobre os nossos deveres e obrigações é muito útil para o nosso aperfeiçoamento moral e intelectual.

4. O DEVER SEGUNDO ALGUNS PENSADORES

4.1. SÓCRATES PLATÃO E ARISTÓTELES

Sócrates, Platão e Aristóteles, filósofos gregos da Grécia clássica, deram outro verniz ao dever: embora aceitassem a conformação com a ordem racional do todo, procuraram relacioná-lo com a felicidade e a prática das virtudes. Colocavam a busca da felicidade (eudaimonia) no centro da vida moral. Para eles, o homem feliz é aquele cujo daimon (divino) é virtuoso. Esta foi a concepção que permaneceu ao longo da história.

4.2. PENSADORES DA IDADE MÉDIA

Durante a Idade Média, a filosofia ficou totalmente à mercê da Igreja. Esse período, denominado de escolástica, caracterizou-se pela construção de um saber alicerçado na lógica aristotélica. Para esses religiosos, o dever tinha íntima relação com os mandamentos, mandamentos esses alicerçados no Evangelho de Jesus. Porém, eles tomam a palavra mandamento, não no seu sentido grego de entolé (ensino, instrução), mas no de ordenação, ou seja, obediência à autoridade, que no caso específico referia-se ao Papa, aos vigários ou aos padres.

A ingerência da Igreja mutilou o pensamento inovador. O servo tem que obedecer, sob pena de cometer o pecado. Observe que na Boa Nova do Cristo não existe a palavra dever. O que consta nos seus ensinamentos é a palavra “feliz”, que aparece 55 vezes no Novo Testamento. A palavra feliz dá a idéia de liberdade, de conformação à vontade de Deus, mas de forma espontânea e não como uma obrigação, um temor da divindade. Veja a irracionalidade do pecado original: uma mancha que todos nós herdamos ao vir a este mundo.

4.3. FICHTE E KANT

Johann Gottlieb Fichte (1762-1814), em Doutrina Moral (1798), afirma o caráter originário da idéia do dever, da qual deriva o reconhecimento dos outros eus. A idéia do dever é a autodeterminação originaria do eu, mas ela não poderia ser realizada se não existissem outros eus, outros sujeitos em face dos quais, somente, a idéia do dever pode ter a sua determinação e, portanto, possibilidade de realização.

Immanuel Kant (1724-1804) distingue a ação empreendida conforme o dever da feita “por dever”. Na ação feita conforme o dever não há esforço da criatura; na feita “por dever”, sim, pois aqui ela luta contra as suas próprias inclinações.

5. DEVER E O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

5.1. LEI DA VIDA

O dever é, primeiramente, a obrigação moral diante de si mesmo; depois, com relação aos outros. O dever encontra-se tanto nos mais ínfimos como nos mais elevados detalhes da vida. O dever íntimo de cada um de nós está entregue ao nosso livre-arbítrio, que muitas vezes não sabe controlar os apelos da paixão.

5.2. ONDE COMEÇA E TERMINA O DEVER?

“O dever começa precisamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do vosso próximo; termina no limite que não gostaríeis de ver ultrapassado em relação a vós mesmos”.

A igualdade perante a dor é a providência divina para ajudar-nos a delimitar a esfera de nossas ações. Deus não quer que cometamos o mal argumentando ignorância dos seus efeitos. (Kardec, 1984, p. 226 e 227)

5.3. ESPECULAÇÕES MORAIS

O cumprimento do dever depende das circunstâncias, ou seja, implica em contrariar e ser contrariado. Por isso, ao estarmos livres para escolher esta ou aquela ação, tornamo-nos responsáveis pelo que praticamos.  O sentimento de dever pode ser obscurecido pelo sentimento da paixão. A paixão é útil quando é governada e prejudicial quando governa. Muitas vezes, o dever se acha em antagonismo com as seduções do interesse próprio. Nessas circunstâncias, a vontade deve ser acionada, a fim de estabelecermos limites das referidas seduções.

O cumprimento do dever está entremeado de contradições. A confiança em Deus e em nós próprios muito nos auxiliarão na suplantação de todas as nossas dificuldades.

6. AÇÃO E DEVER

6.1. AÇÃO LIVRE

A intenção de praticar um ato torna-o responsável pelas suas conseqüências. Contudo, nem sempre é livre para escolher o que lhe acontece, mas é seguramente livre para escolher a resposta ao que lhe acontece. Diferentemente dos animais, que apenas respondem, o ser humano tem que organizar o seu pensamento, avaliar situações e circunstâncias, pesar os prós e os contra e decidir-se por um comportamento, por uma atitude.

À pergunta, que é uma ação livre, responderíamos, de imediato, que uma ação é livre quando nada se lhe oferece obstáculo. Esta, porém, não é uma resposta convincente. De acordo com os escritos enciclopédicos, uma ação, para ser dita livre, é a ação pela qual o agente pode responder. Ser livre é poder agir no mundo numa determinada situação, o que implica a existência do sujeito agente em relação com o objeto agido.

6.2. DIREITOS E DEVERES

Ao lado dos direitos, cada um de nós tem também deveres: para consigo mesmo (sua consciência); para com o próximo; para com o mundo em que habita. Acontece que visamos muito mais aos direitos do que aos deveres. Exemplo: exigimos o direito de liberdade, mas negligenciamos o dever de ser livre. Como explicar? Observe que todo o ato livre, para que realmente seja livre, deve ter como conseqüência uma ampliação da liberdade. O vício, que é um ato livre, não amplia a nossa liberdade, porque a necessidade gerada cria uma dependência, impedindo a continuidade dos atos livres. 

A vida é composta de direitos e deveres. Importa saber qual é a nossa parcela dos direitos e dos deveres para que assim, cumprindo com os deveres que a nossa consciência nos indicar, adquiramos o direito em relação ao próximo e à sociedade. Ninguém é herói por acaso. Faltava-lhe as circunstâncias para por em prática tudo o que arquitetara, silenciosamente, no seu subconsciente. Há muita sabedoria na frase: “A vida de deveres fáceis e enfadonhos não é tão fácil quanto parece”. O óbvio não é tão óbvio quanto o senso comum o apregoa.

6.3. PENSAMENTOS SOBRE O DEVER

H. F. Amiel diz: “O nosso dever consiste em sermos úteis, não como desejamos, mas como podemos”. Para André Maurois, “Infelizmente, nem sempre coincide o dever com o interesse”. Dante Veoleci alerta-nos: “De grande valor moral é quem, dispondo de poder ou de autoridade, só faz o que lhe ordena o dever e não o que lhe é mais fácil, vantajoso ou agradável”. J. W. Goethe consola-nos: “Quando um dever se nos afigura demasiadamente pesado, temos um meio para torná-lo mais leve. É cumpri-lo com  maior escrúpulo”. Para C. Cantu, “O cumprimento do dever é superior ao heroísmo”.

7. CONCLUSÃO

Ajamos sempre de acordo com o interesse geral. Esta ação, várias vezes repetida, amplia-nos a visão de mundo, colocando-nos no devido lugar para o cumprimento de nossos deveres.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.

POLIS - ENCICLOPÉDIA VERBO DA SOCIEDADE E DO ESTADO. São Paulo: Verbo, 1986.

São Paulo, outubro de 2011