Fundamentalismo e Espiritismo

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Considerações Iniciais. 4. Os Três Grandes Fundamentalismos Monoteístas: 4.1. Fundamentalismo Judaico; 4.2. Fundamentalismo Cristão; 4.3. Fundamentalismo Islâmico. 5. Mídia, Terrorismo e Conservadorismo: 5.1. Terrorismo não é Fundamentalismo; 5.2. Conservadorismo não é Fundamentalismo; 5.3. A Mídia Distorceu o Significado Original do Fundamentalismo. 6. Espiritismo e Fundamentalismo: 6.1. O Bom Fundamentalismo; 6.2. O Mau Fundamentalismo; 6.3. Defender sempre os Bons Fundamentos Espíritas. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é situar os diversos sentidos que o termo “fundamentalismo” sugere, extraindo daí, lições úteis para uma reflexão mais acurada de nossa atuação no Movimento Espírita.

2. CONCEITO

Fundamento. Comporta várias significações: origem, princípio, raiz, finalidade. É o princípio em que repousa de fato uma ordem de fenômenos. É o alicerce, a base, sobre o qual o edifício se erguerá. (Cuvillier, 1961)

Fundamentalismo. É a concepção epistemológica de que todo conhecimento fatual está ancorado em uma base muito firme ou fundamento. (Bunge, 2002)

Na Teologia Protestante. Aceitação e defesa organizada de um certo número de princípios religiosos em que se têm como verdades fundamentais indispensáveis, ou necessárias a uma consciência cristã coletiva. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Em termos religiosos, a origem do termo "fundamentalismo" deu-se no século passado. Os primeiros a utilizá-lo foram os protestantes americanos que, no início do século XX, designaram a si mesmos como “fundamentalistas”, para distinguir-se de protestantes mais “liberais”, que, a seu ver, distorciam inteiramente a fé cristã. É uma corrente teológica que admite apenas o sentido literal das escrituras.

A temática do fundamentalismo é um campo escorregadio. É que com o passar do tempo, este termo tornou-se inflacionário. Originalmente, pertencia exclusivamente ao campo religioso; depois, passou a ser usado de modo secular. Hoje, qualquer pessoa que defende com entusiasmo certa ideia é denominada de “fundamentalista”.

4. OS TRÊS GRANDES FUNDAMENTALISMOS MONOTEÍSTAS

4.1. FUNDAMENTALISMO JUDAICO

O fundamentalismo judaico tem por base o Antigo Testamento. Além do Velho Testamento, o Talmude também é considerado essencial para o alicerce da fé dos judeus.

Numa época em que muitos estão rompendo os grilhões do passado, os fundamentalistas judeus observam sua Lei revelada com uma rigidez maior que nunca. (Armstrong, 2001)

4.2. FUNDAMENTALISMO CRISTÃO

O fundamentalismo cristão é um movimento teológico e social, que se deu preponderantemente dentro do Protestantismo. Para os protestantes, a Bíblia é a autoridade máxima, não só com relação à fé, mas para reger a sociedade e a ciência, de um modo geral.

Assim sendo, os fundamentalistas cristãos rejeitam as descobertas da biologia e da física sobre a origem da vida e afirmam que o Livro do Gênesis é cientificamente exato em todos os detalhes. (Armstrong, 2001)  

4.3. FUNDAMENTALISMO ISLÂMICO

Movimento religioso muçulmano, do século XX, que defende a volta da obediência estrita às leis do Corão, às leis das Sagradas Escrituras do profeta Maomé. Para eles, os costumes ocidentais são frutos da perversão; a modernidade é o império de Satã, que utiliza instrumentos sedutores (a música, a bebida, as boas roupas, os automóveis caros, etc.) como uma maneira de envilecer a pureza dos verdadeiros muçulmanos.

As mulheres muçulmanas, repudiando as liberdades das ocidentais, cobrem-se da cabeça aos pés com  seu xador. (Armstrong, 2001)

Observação: o fundamentalismo ocorre também entre budistas, hinduístas e até confucionistas, que rejeitam muitas conquistas da cultura liberal.

5. MÍDIA, TERRORISMO E CONSERVADORISMO

5.1. TERRORISMO NÃO É FUNDAMENTALISMO

É inadequado usar o termo “fundamentalismo” para os ataques terroristas. Quando dizemos que o ataque às torres gêmeas dos Estados Unidos foi feito pelo fundamentalismo, estamos cometendo uma injustiça, pois o fundamentalismo islâmico não apregoa essas atrocidades. Geralmente, são os jovens despreparados, uma pequena minoria, que pensa estar ali a salvação da humanidade. Por isso, não hesitam em fuzilar devotos, matar médicos que trabalham em clínica de aborto, assassinar presidentes etc.

5.2. CONSERVADORISMO NÃO É FUNDAMENTALISMO

Muitas vezes o fundamentalismo é usado como sinônimo de conservadorismo, sectarismo, fanatismo, alegando que essas pessoas estão presas ao passado, e por isso, imunes ao desenvolvimento das ciências da época moderna. Em geral, é de uso pejorativo, porque carrega carga negativa. Nesse caso, o fundamentalista seria o fanático, o conservador, o autoritário. É sempre o outro que é fundamentalista. Diz-se que, por esta razão, o protestantismo de hoje prefere o termo evangélico-conservador ao de fundamentalista. (Oro, 1996)

5.3. A MÍDIA DISTORCEU O SIGNIFICADO ORIGINAL DO FUNDAMENTALISMO

A mídia, de certa maneira, distorceu completamente este termo, pois o interpreta como movimento ideológico político, supostamente conservador, que recorre à religião para fundamentar o seu militarismo e atuação política. Geralmente evoca a atuação política de grupos radicais islâmicos e as organizações chamadas Igrejas eletrônicas.  

Em vista disso, perdeu-se o seu sentido original, transformando-se em um termo ambíguo, inflacionário e escorregadio, em vista de seu sentido metafórico e pejorativo assumir maior relevância. (Oro, 1996)

6. ESPIRITISMO E FUNDAMENTALISMO

6.1. O BOM FUNDAMENTALISMO

Nossos argumentos espíritas devem estar alicerçados nos fundamentos básicos codificados por Allan Kardec. Nesse sentido, todos somos fundamentalistas, porque sem essa crença e essa obediência doutrinária aos princípios pelos quais o Espiritismo foi codificado, estaremos nos movendo em terreno pantanoso.

Sem a devida estrutura, sem a devida base, sem o devido alicerce para nos fazermos entender, a unidade de princípios acaba se deteriorando e acabamos nos confundindo com qualquer tipo de espiritualismo.

6.2. O MAU FUNDAMENTALISMO

Sempre que defendermos uma ideia, presos somente à codificação de Allan Kardec, podemos estar sendo fundamentalistas sem o saber. Observe que o próprio Allan Kardec, codificador do Espiritismo, já nos alertava: “Se a ciência descobrir coisas que contrariem o que está na codificação, não hesite, fique com a ciência.”

6.3. DEFENDER SEMPRE OS BONS FUNDAMENTOS ESPÍRITAS

Defender os fundamentos espíritas não necessariamente é ser fundamentalista. Há fundamentos que o espírita não pode abrir mão, como o princípio da reencarnação, a lei da evolução e o progresso dos Espíritos, que foram criados por Deus, simples e ignorantes. Não os defendendo, podemos destruir todo o edifício construído por Allan Kardec.

7. CONCLUSÃO

Para que o espírita seja fundamentalista sem cair no fundamentalismo, deve debruçar-se sobre as obras básicas e complementares do Espiritismo, extraindo daí o alicerce para o seu pensamento, tendo em mente que a razão deve estar sempre em primeiro lugar.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ARMSTRONG, Karen. Em Nome de Deus: O Fundamentalismo no Judaísmo, no Cristianismo e no Islamismo. Tradução de Hildegard Feist, São Paulo: Letras, 2001.

BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)

CUVILLIER, A. Pequeno Vocabulário da Língua Filosófica. São Paulo: Nacional, 1961.

GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.].

ORO, Ivo Pedro. O Outro é o Demônio: Uma Análise Sociológica do Fundamentalismo. São Paulo: Paulus, 1996. (Temas de Atualidade)

São Paulo, maio de 2011.