Niilismo e Espiritismo

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Considerações Iniciais. 4. Niilismo: 4.1. O Pensamento Russo; 4.2. Nietzsche e o Niilismo; 4.3. Obras que Ressaltam a Ideia Niilista. 5. O Problema da Vida Futura: 5.1. Materialismo (Niilismo); 5.2. Panteísmo; 5.3. Dogmatismo Religioso. 6. Vida Futura e Espiritismo: 6.1. Verdades Espirituais; 6.2. Moisés, Jesus e a Doutrina Espírita; 6.3. Lei do Progresso. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO 

O que é o niilismo? Qual a sua origem? O “nada” nos espera além-túmulo? Em se tratando da vida futura, qual a alternativa proposta pelo Espiritismo?  

2. CONCEITO  

Niilismo – do latim nihil, nada, é o pensamento obcecado pelo nada, a doutrina da morte de Deus. Pode-se, também, dizer que é “a absolutização do nada”. No espírito do vulgo, o niilismo andou associado às ideias de assassínio e de revolução, pois os niilistas procuravam derrubar as instituições por meio da força.  

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS  

Górgias é apontado como o primeiro niilista da história ocidental. Dele vem a frase: “Nada existe; se alguma coisa existisse, não a poderíamos conhecer; e, se a conhecêssemos, não seria comunicável”.  

Além dele, podemos apontar outros pensadores: Fridegísio de Tours procurou provar que o nada possui algum ser – alguma substancialidade; Mestre Eckhart declara que Deus e o nada, “o anjo, a mosca e a alma” são a mesma coisa; Charles de Bovelles defende a “negação originária das criaturas e da matéria” que é o nada; Leonardo da Vinci anotou: “Entre as grandes coisas que estão abaixo de nós, o ser do nada é imensamente grande”? (Volpi, 1999) 

Faremos aqui um estudo do niilismo, compreendendo a sua natureza russa, o ponto de vista de Nietzsche e depois entraremos no campo religioso, principalmente com relação às expectativas da humanidade com relação à vida futura.  

4. NIILISMO  

4.1. O PENSAMENTO RUSSO 

No século XIX, por volta de 1860-1870, o niilismo constitui uma corrente de pensamento professada pelos russos Dobroliubov, Tchernychewski e Pisarev. Esta corrente é caracterizada pelo pessimismo metafísico do prolongamento do positivismo de Comte, e, pelo ceticismo com relação aos valores tradicionais: morais, teológicos e estéticos. O princípio fundamental era o individualismo absoluto, a negação dos deveres impostos pela família, pelo Estado e pela religião. (Volpi, 1999) 

4.2. NIETZSCHE E O NIILISMO  

Nietzsche foi o expoente máximo do niilismo. Num fragmento redigido em seus últimos anos de lucidez, ele diz: Niilismo: falta-lhe a finalidade. Carece de resposta à pergunta “para quê?” Que significa o niilismo? Que os valores supremos se depreciaram (VIII, II, 12). Deduz-se que o niilismo é a falta de referências tradicionais, dos valores ideais para as respostas aos porquês da vida. A desvalorização dos valores supremos levaria o ser humano à perda dos seguintes princípios: a) Deus; b) fim último; c) ser; d) bem; e) verdade.  

4.3. OBRAS QUE RESSALTAM A IDEIA NIILISTA

Nessa linha de pensamento, lembremo-nos das obras 1984, de Orwell, O Mundo Novo, de Huxley e O Declínio do Homem, de Konrad Lorenz: todas elas mostram-nos a perda da liberdade humana, que se poderia sintetizar na seguinte frase: “Na convicção de lhe dar tudo, essa sociedade reduz o homem a nada e o atira ao abismo do niilismo”. (Reale, 1999) 

5. O PROBLEMA DA VIDA FUTURA 

Ao refletirmos sobre o que esperarmos além da vida física, encontraremos explicações do niilismo, do panteísmo e do dogmatismo religioso. 

5.1. MATERIALISMO (NIILISMO) 

O Niilismo – do lat. nihil, nada, fruto da doutrina materialista – significa ausência de toda a crença. Como a matéria é a única fonte do ser, a morte é considerada o fim de tudo. Os adeptos do niilismo incentivam o gozo dos bens materiais, dizendo que quanto mais usufruirmos deles, mais felizes seremos. Como se vê, a consequência do niilismo é a corrida em busca do dinheiro, da projeção social e do bem-estar material. 

5.2. PANTEÍSMO 

O Panteísmo – do grego pan, o todo, e Theos, Deus – significa absorção no todo. De acordo com essa doutrina, o Espírito, ao encarnar, é extraído do todo universal; individualiza-se em cada ser durante a vida e volta, por efeito da morte, à massa comum. As consequências morais dessa doutrina são semelhantes às do materialismo, pois ir para o todo, sem individualidade e sem consciência de si, é como não existir. 

5.3. DOGMATISMO RELIGIOSO 

O Dogmatismo Religioso afirma que a alma, independente da matéria, é criada por ocasião do nascimento do ser; sobrevive e conserva a individualidade após a morte. A sua sorte já está determinada: os que morreram em "pecado" irão para o fogo eterno; os justos, para o céu, gozar as delícias do paraíso. Essa visão deixa sem respostas uma série de anomalias que acompanham a humanidade, como, por exemplo, os aleijões e a idiotia. 

6. VIDA FUTURA E ESPIRITISMO 

6.1. VERDADES ESPIRITUAIS

As verdades espirituais existem independentemente de termos esta ou aquela concepção de mundo. A continuidade da vida após a morte é uma realidade e dela não podemos fugir. A grande surpresa para os indivíduos que cometem o "suicídio" é a de que continuam vivos no mundo dos Espíritos. Fato este, relatado pelos próprios Espíritos, através da mediunidade. Sendo um fato, só nos resta ponderar sobre o seu conteúdo.

A reencarnação, um dos princípios fundamentais do Espiritismo, oferece-nos os meios para entendermos a morte e seus mistérios. A cada nova existência alteramos o teor específico de nossas vibrações mentais. São elas que nos posicionarão no mundo dos Espíritos: se leves e suaves, teremos condições de habitar um mundo mais evoluído; se pesadas e grosseiras, teremos de nos contentar com orbes mais atrasados. Não há privilégios: "A cada um segundo as suas obras", eis a lei. 

6.2. MOISÉS, JESUS E A DOUTRINA ESPÍRITA 

Allan Kardec, no capítulo II “Meu Reino não é Deste Mundo”, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, cuja essência é tratar da vida futura, faz uma comparação entre as acepções do Judaísmo, do Cristianismo e do Espiritismo. 

O princípio da vida futura pode ser assim sintetizado: os judeus tinham ideias muito vagas acerca da vida futura. Eles acreditavam nos anjos, mas não tinham conhecimento de que eles mesmos poderiam, no futuro, vir a ser anjos. Jesus Cristo coloca a vida futura como um dogma central de seus ensinamentos. Por isso, não se dizia rei deste mundo. Para o Espiritismo, a vida futura é uma realidade baseada em fatos, fatos estes mostrados pelos próprios Espíritos desencarnados. 

6.3. LEI DO PROGRESSO  

De acordo com os princípios codificados por Allan Kardec, percebemos que o Espírito é imortal e viveremos no além-túmulo, sujeitos à Lei do Progresso. Ao contrário de outros pontos de vista, o Espírito mantém a sua individualidade e o estado de felicidade ou infelicidade dependerá do que fizemos de bom ou de ruim nesta vida.  

Pelo simples fato de duvidar da vida futura, o homem dirige todos os seus pensamentos para a vida terrestre. Sem nenhuma certeza quanto ao porvir, dá tudo ao presente. Nenhum bem divisando mais precioso do que os da Terra, torna-se qual a criança que nada mais vê além de seus brinquedos. E não há o que não faça para conseguir os únicos bens que se lhe afiguram reais. A perda do menor deles lhe ocasiona uma tremenda angústia.  

7. CONCLUSÃO  

Allan Kardec nos ensina que a imortalidade dá ao Espírito a garantia de alcançar a perfeição. Como não consegue atingi-la em uma única vida, são necessárias diversas existências. Esta ida e vinda vai lapidando as suas impurezas até se tornar um Espírito puro e poder habitar mundos mais evoluídos. 

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984. 

KARDEC, A. Obras Póstumas. Tradução de Guillon Ribeiro. 15.ed., Rio de Janeiro: FEB, 1975.  

REALE, Giovanni. O Saber dos Antigos: Terapia para os Dias Atuais. Tradução de Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Loyola, 1999. 

VOLPI, Franco. O Niilismo. Tradução de Rido Vannucchi. São Paulo: Loyola, 1999.

São Paulo, março de 2014.