Caridade

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Noção de Caridade. 4. Discernimento para a Ação. 5. Necessidade da Caridade Segundo Paulo. 6. Fora da Caridade não há Salvação. 7. Caridade Moral e Caridade Material. 8. A Caridade Desconhecida. 9. Conclusão. 10. Bibliografia Consultada

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é analisar os princípios que regem a prática da caridade, no sentido de ampliar a nossa noção acerca desta palavra, desgastada pela repetição excessiva.

2. CONCEITO

Caridade - do latim caritas (amor), de carus (caro, de alto valor, digno de apreço, de amor). Identifica-se hoje, freqüentemente, a caridade com um afeto piegas que se traduz por gestos de assistência paternalista. O termo evoca, imediatamente, a idéia de esmola, tanto que a expressão viver de caridade pública, significa viver de esmolas. No entanto, caridade é algo bem mais profundo (Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo).

Etimologicamente, caridade sugere dom, preciosidade, intimidade. De fato, caridade é oblação, virtude, atitude de comunhão. Mais ainda, é vida. Por isso mesmo, comporta exigências e é objeto  de preceito. Refletimo-la em perspectiva cristã, pois de realidade eminentemente cristã se trata.

Pode identificar-se com amor se este está despido de ambigüidades. Supera, em objeto e motivação, a filantropia. Relaciona-se proximamente com a justiça enquanto esta é, primeiro que tudo, justificação e inculca ordem na comunhão de caridade, impedindo que esta degenere em confusão. A sua área coincide em grande parte com a graça, pois tanto o ser do homem que esta atinge e sobrenaturaliza como as faculdades e ações que aquela beneficia e dinamiza constituem uma mesma e única realidade pessoal (Polis - Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado).

Definição de Caridade:  "Não olvides que a caridade é o coração no teu gesto" (Emmanuel). 

3. NOÇÃO DE CARIDADE

A noção de caridade está posta na parábola do bom samaritano. (Lucas cap. 10, 25 a 37)

Nela narra-se que "Um homem, que descia de Jerusalém para Jericó, caiu nas mãos de ladrões que o despojaram, cobriram-no de feridas e se foram, deixando-o semi-morto. Aconteceu, em seguida, que um sacerdote descia pelo mesmo caminho e tendo-o percebido passou do outro lado. Um levita, que veio também para o mesmo lugar, tendo-o considerado, passou ainda do outro lado. Mas um Samaritano que viajava, chegando ao lugar onde estava esse homem, e tendo-o visto, foi tocado de compaixão por ele. Aproximou-se, pois, dele, derramou óleo e vinho em sua feridas e as enfaixou; e tendo-o o colocado sobre sue cavalo, conduziu-o a uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, tirou duas moedas e as deus ao hospedeiro, dizendo: Tende bastante cuidado com este homem, e tudo o que despenderdes a mais, eu vos restituirei no meu regresso".

A caridade está simbolizada na ação do samaritano que, embora menos esclarecido que os outros, quanto à lei de Deus, concretiza o auxílio.

4. DISCERNIMENTO PARA A AÇÃO

Da definição de Emmanuel, deduz-se, por analogia, que a "Caridade é o amor em ação". Assim, cabe-nos povoar a mente de pensamentos de amor. Não somente para cultivá-los dentro de nós, mas para convertê-los em gestos de amor. Todo o conhecimento do Espírito requer esforços de pesquisas, de estudos, de meditação constante. Contudo, se todo esse esforço não redundar em ação benéfica, ele torna-se inútil. "O exercício, a prática, a realização de obras que o conhecimento preconiza, são os que o consagram, consolidam suas conquistas, abrem-lhe caminho para novas aquisições, novas reformulações, os que estabelecem mútuo revigoramento, que a todos faz crescer. Permanecer adstrito às aquisições de conhecimentos, sem a correspondente realização de obras, é dirigir-se para a inutilidade, afastar-se da realidade, adentrar-se nos domínios da fantasia; é construir falsos valores para a possibilidade de se melhorar" (Curti, 1981, cap. 11, p. 110).

5. NECESSIDADE DA CARIDADE SEGUNDO PAULO

"Ainda que eu falasse todas as línguas do homens, e mesmo a língua dos anjos, se não tivesse caridade não seria senão como um bronze sonante, e um címbalo retumbante; e quando eu tivesse o dom da profecia, penetrasse todos os mistérios, e tivesse uma perfeita ciência de todas as coisas; quando tivesse ainda toda a fé possível, até transportar montanhas, se não tivesse caridade eu nada seria. E quando tivesse distribuído meus bens para alimentar os pobres, e tivesse entregue meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo isso não me serviria de nada.

A caridade é paciente; é doce e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária e precipitada; não se enche de orgulho; não é desdenhosa; não procura seus próprios interesses; não se melindra e não se irrita com nada; não suspeita mal; não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.

Agora, essas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem; mas, entre elas, a mais excelente é a caridade" (São Paulo, 1.ª Epístola aos Coríntios, cap. 13, 1 a 7 e 13). 

Allan Kardec comentando essa passagem evangélica diz que Paulo compreendeu tão bem essa verdade que "coloca a caridade acima mesmo da fé, porque a caridade está ao alcance de todo o mundo, do ignorante e do sábio, do rico e do pobre, e porque independe de toda crença particular" (1984, p. 201).

6. FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO

A máxima "fora da caridade não há salvação" apoia-se sobre um princípio universal e abre a todos os filhos de Deus acesso à felicidade suprema: é a consagração do princípio da igualdade diante de Deus e da liberdade de consciência; com esta máxima por regra, todos os homens são irmãos, e, qualquer que seja sua maneira de adorar a Deus, eles se estendem as mãos e oram uns pelos outros.

Na máxima "fora da caridade não há salvação" estão contidos os destinos dos homens na Terra e no céu; na Terra, porque à sombra desse estandarte eles viverão em paz; no céu, porque aqueles que a tiverem praticado, encontrarão graça diante do Senhor (Kardec, 1984, cap. 15, it. 8 a 10, p. 201 a 203).

7. CARIDADE MORAL E CARIDADE MATERIAL

A caridade pode ser feita de muitas maneiras: por pensamentos, palavras e ações

Em pensamentos — orando pelos pobres abandonados que morreram sem ter podido mesmo ver a luz;

Em palavras — dirigindo palavras de ânimo aos irritados pelo desespero, às crianças e ao velhos descrentes de Deus;

Em ações — doando nosso tempo, nossos recursos financeiros, nossa boa vontade para os nossos semelhantes.

A caridade material, que consiste em fornecer roupas, alimentos e recursos financeiros aos mais necessitados não é tão difícil.

A caridade moral, porém, já é mais difícil, porque consiste em suportarmo-nos uns aos outros. Há, assim, grande mérito em calarmo-nos para deixarmos falar um mais tolo; sabermos ser surdos quando uma palavra de zombaria escapa de uma boca habituada a escarnecer (Kardec, 1984, cap. 13, it. 9 e 10, p. 173 a 175).

8. A CARIDADE DESCONHECIDA

"Um sincero devoto da Lei foi exortado por determinações do Céu ao exercício da beneficência; entretanto, vivia em pobreza extrema e não podia, de modo algum, retirar a mínima parcela de seu salário para o socorro aos semelhantes... Magoava-lhe o coração a impossibilidade de distribuir agasalho e pão com os andrajosos e famintos à margem de sua estrada... Reconheceu, todavia, que, se lhe era vedado o esforço na caridade pública, podia perfeitamente guerrear o mal, em todas as circunstâncias de sua marcha pela Terra...

... Assim é que passou a extinguir, com incessante atenção, todos os pensamentos inferiores que lhe eram sugeridos; quando em contato com pessoas interessadas na maledicência, retraía-se, cortês, e, em respondendo a alguma interpelação direta, recordava essa ou aquela pequena virtude da vítima ausente; se alguém, diante dele, dava pasto à cólera fácil, considerava a ira como enfermidade digna de tratamento e recolhia-se à quietude... Era tão fortemente minucioso que chegava a retirar detritos e pedras da via pública, para que não oferecessem perigo aos transeuntes...

... Nessa posição, a morte buscou-o ao tribunal divino, onde o servidor humilde compareceu receoso e desalentado. Temia o julgamento das autoridades celestes, quando, de improviso, foi aureolado por brilhante diadema, e, porque indagasse, em lágrimas, a razão do inesperado prêmio, foi informado de que a sublime recompensa se referia à sua triunfante posição na guerra contra o mal, em que se fizera valoroso empreiteiro" (Xavier, 1966, cap. 20).

9. CONCLUSÃO

A caridade, esse sentimento interior, que no parecer de Paulo é mais excelente do que a fé e a esperança, deve ser diariamente praticada. Dar de comer a  que  tem fome, no exato momento que a pessoa está com fome, vale mais do que a multidão palavras que estimulam a paciência e a resignação. 

10. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro, M.E.C., 1967.

CURTI, R. Espiritismo e Reforma Íntima. 3. ed., São Paulo, FEESP, 1981.

Polis - Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado. Lisboa/São Paulo, Verbo, 1986.

XAVIER, F. C. Jesus no Lar, pelo Espírito Néio Lúcio. 5. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1966.

São Paulo, dezembro de 1998.