Palavras da Vida Eterna

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Considerações Iniciais. 4. A Palavra no Antigo e no Novo Testamento: 4.1. Antigo Testamento; 4.2. Novo Testamento. 5. Palavra do Evangelho: 5.1. Evangelho; 5.2. Salvação; 5.3. O Reino de Deus; 6. Palavra dos Apóstolos; 6.1. Apóstolos; 6.2. Paulo; 6.3. Servidores da Palavra. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

As palavras da vida eterna apresentam-se naturalmente? Temos de procurá-las? Onde encontrá-las? Como torná-las um patrimônio indestrutível de nossa alma imortal? Para desenvolvermos este tema, escolhemos os seguintes tópicos: as palavras no Velho e no Novo Testamento, as palavras do Evangelho e as palavras dos apóstolos.

2. CONCEITO

Palavra – Manifestação vocal da linguagem articulada. É como palavra que a linguagem é considerada natural no homem, sob a forma de palavra interior – articulação e pronúncia esboçadas que acompanham o pensamento –, ou do diálogo, que permite a comunicação entre os homens e o surgimento das sociedades culturais.

A palavra remete-nos à linguagem, à comunicação, ao pensamento articulado por nós mesmos e pelos outros. As palavras são carregadas pelos sentimentos que as expressam. Elas não são frias; são revestidas de vida, do carisma daquele que a expressa.

Vida – Que tem existência, vigor, consistência. Que não está morto, pesado, cansado.

Eterno – Aquilo que não tem começo e nem fim, aquilo que sempre existiu. Deus, por exemplo, é eterno. Também são eternas as leis criadas por Deus. Por isso, denominam-se Leis Naturais ou Divinas.

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Em todos os momentos de nossa vida, estamos ouvindo palavras: dos amigos, dos inimigos, dos vizinhos, dos professores, dos alunos, dos locutores de rádio, dos transeuntes ao celular, das conversas ao pé do ouvido.

Diariamente, somos bombardeados por uma gama enorme de palavras; somos obrigados a fazer uma seleção, guardando algumas e jogando outras no lixo. Isso é natural e intuitivo. Dentre todas essas palavras, convém não descartar aquelas que dizem respeito à vida eterna, ao Reino de Deus, à salvação de nossa alma. Às vezes, nossos ouvidos ficam moucos e não as registram a contento. Por isso, venham de onde vierem, saibamos aclimatá-las pacientemente em nosso psiquismo.

4. A PALAVRA NO ANTIGO E NO NOVO TESTAMENTO

4.1. ANTIGO TESTAMENTO

No Antigo Testamento, o tema da palavra divina não é objeto de especulação abstrata, tal qual o logos dos filósofos alexandrinos. É, antes de tudo, um fato experimental: Deus fala diretamente a homens privilegiados; por eles, fala a seu povo e a todos os homens.

Tanto nos povos Orientais como nos povos Primitivos, a palavra tinha um sentido de coisa real, como o hálito que sai da boca, mesmo sendo invisível. Por isso, diz-se que a palavra é hálito, sopro, espírito que, por último, é pensamento. Ela não é apenas pensamento, vontade, mas coisas. Tem dinamismo, energia, vida própria.

No Antigo Testamento, Deus fala pelos profetas, verdadeiros intérpretes da Sua palavra, os quais eram avisados por sinais, inspirações, sonhos e intuições. Eles não tinham a permissão de receber a mensagem e guardá-la esotericamente. Muito pelo contrário, a sua missão, muitas vezes permeada de perseguições e contradições, era a de disseminar o Verbo criador, para que a palavra ecoasse no coração de todos os viventes, além, é claro, de permitir que Deus fosse mundialmente conhecido. (Leon-Dufour, 1972)

4.2. NOVO TESTAMENTO

No Novo Testamento, a palavra de Deus transforma-se em palavra de Jesus. Jesus não é um profeta no sentido de intermediar Deus: Ele é o próprio Arauto, o Verbo que se fez carne. De acordo com as Escrituras, Jesus foi incumbido de salvar o "pecador". Para tanto, operava curas e dava exemplos de como conquistar o Reino de Deus. Os discípulos de Jesus também se tornaram os divulgadores das palavras de vida eterna, porque, depois de conviverem com o Mestre, sentiam-se no dever de propagá-las aos outros.

Dentre os ensinamentos do Novo Testamento, a "Parábola do Semeador" é a que melhor ilustra o tema ora proposto. A semente (palavra) lançada à terra encontrou diversos tipos de terreno: ao longo do caminho, pedregoso, cheio de espinheiros e terra boa. A palavra, que é divina, portanto pura, foi lançada igualmente em todos os terrenos. Como em alguns lugares não tinha condições de frutificar, acabou morrendo. Mas, ao ser lançada na terra boa deu frutos de cem por um. (Leon-Dufour, 1972)

Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, explica-nos que a semente representa as diferenças que existem na maneira de aproveitar os ensinamentos do Evangelho. Encontra uma aplicação nas diferentes categorias de Espíritos, ou seja, para uns a palavra ressoa com intensidade enquanto para outros apenas passa de largo.

5. PALAVRA DO EVANGELHO

5.1. EVANGELHO

Evangelho é a tradução portuguesa da palavra grega Euangelion. Para os gregos mais antigos ela indicava a "gorjeta" que era dada a quem trazia uma boa notícia. Mais tarde passou a significar uma "boa-nova", segundo a exata etimologia do termo. Esta palavra foi enriquecida de significados, porém tomá-la como sendo o verbo evangelizar é o mais correto. Por quê? Na época de Cristo não havia a palavra Evangelho como a temos hoje. O seu uso restringia-se ao verbo evangelizar, que não era simplesmente transmitir uma mensagem, o querygma, a Palavra de salvação, mas também um agir, um testemunhar em favor do que é anunciado. (Henry, 1970)

5.2. SALVAÇÃO

Quais são as palavras de salvação? O que significa salvar-se? Ser salvo é ser tirado dum perigo onde se corria risco de perecer. Conforme a natureza do perigo, o ato de salvar tem afinidade com a proteção, a libertação, o resgate, a cura; e a salvação, com a saúde, a vitória, a vida, a paz. De acordo com a Doutrina Espírita, a salvação diz respeito ao aperfeiçoamento da alma, a fim de que o ser humano não caia mais em estados de angústia e depressão após o transe da morte.

Jesus, em sua época, atravessava cidades ensinando que a salvação é para todos. Alguém lhe perguntou se eram poucos aqueles que se salvam? Jesus respondeu: "Façam todo o esforço possível para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo: muitos tentarão entrar, e não conseguirão. Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês vão ficar do lado de fora. E começarão a bater na porta, dizendo: 'Senhor, abre a porta para nós!' E ele responderá: 'Não sei de onde são vocês'. E vocês começarão a dizer: 'Nós comíamos e bebíamos diante de ti, e tu ensinavas em nossas praças!' Mas ele responderá: 'Não sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, todos vocês que praticam injustiça!' Então haverá aí choro e ranger de dentes, quando vocês virem Abraão, Isaac e Jacó junto com todos os profetas no Reino de Deus, e vocês jogados fora". (Lucas 13, 22 a 28)

5.3. REINO DE DEUS

Na mesma linha de pensamento da salvação, encontra-se o Reino de Deus. Este também atingirá o mundo todo. "E Jesus dizia: ‘A que é semelhante o Reino de Deus, e com o que eu poderia compará-lo? Ele é como a semente de mostarda que um homem pega e joga no seu jardim. A semente cresce, torna-se árvore, e as aves do céu fazem seus ninhos nos ramos dela’. Jesus disse ainda: ‘Com o que eu poderia comparar o Reino de Deus? Ele é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado’".

O Reino de Deus pode ser vislumbrado nas seguintes frases: "Buscai primeiro o Reino de Deus e sua justiça." (Mateus, 6, 33); "O reino de Deus não vem com aparência exterior." (Lucas, 17, 20); "O Reino de Deus está no meio de Vós." (Lucas, 17, 21); "Aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus." (João, 3, 3); "Se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo algum entrareis no Reino dos Céus." (Mateus, 5, 20); "E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás é apto para o reino de Deus." (Lucas, 9, 62)

6. PALAVRA DOS APÓSTOLOS

6.1. APÓSTOLOS

Esta palavra, como tantas outras, sofreu uma mudança ao longo do tempo. Etimologicamente, vem do grego apostollein e tem o mesmo sentido de mittere, isto é, de enviar. O verbo apostollein é composto de duas palavras gregas: apo (que traz a idéia de separação) e stellein que significa equipar. Na Antiguidade, os mestres agiam de acordo com a idéia de afastamento, de deslocamento, e não a de mandato, de poder conferido. Os Setenta (setenta e dois judeus que traduziram a Bíblica hebraica para o grego, no século III) nunca empregaram a palavra apóstolos, mas utilizaram o verbo apostollein para traduzir o hebreu sâlâh (enviar) com a idéia de mandato. O sâliah (enviado) tem o mesmo poder que o seu mandante. (Henry, 1970)

O vocábulo apóstolos do Novo Testamento quer transmitir essa idéia de mandato. É escolhido de preferência a outros termos como kéryx (mensageiro) ou ággelos (enviado). O sentido do deslocamento torna-se secundário.

Presentemente, esta palavra aplica-se não só aos discípulos e apóstolos das epístolas como a todos os novos evangelizadores. O sentido desta palavra ampliou-se de tal sorte que se empalideceu e chega a ser usada como palavra profana. Em muitos casos, apostólico é ser ativo. (Henry, 1970)

6.2. PAULO

Dentre os apóstolos, destacamos Paulo. Depois de se converter ao cristianismo, após sua queda no caminho de Damasco, não cessou mais de pregar a palavra de Deus. As suas diversas epístolas são um exemplo vivo. Ele se diz "apóstolo" "não da parte dos homens, nem por meio de um homem, mas da parte de Jesus Cristo e de Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos". (Gál. 1,1) Com isso, passa a pregar o Cristo, mas o Cristo crucificado, pois em toda a sua vida passou por enormes dificuldades até a sua morte em nome do Evangelho.

6.3. SERVIDORES DA PALAVRA

Todos nós somos servidores da palavra divina, com uma missão mais ou menos larga. Missionários há que têm de verter muitas lágrimas, derramar muito sangue e sofrer as maiores desditas. Para a grande maioria dos seres humanos, foi pedido apenas o cumprimento dos deveres de cada dia. Para os grandes missionários, a tarefa apostólica é uma espécie de mistério, pois muitos se lançam nessa direção sem o saberem e, quando menos esperam, estão lá disseminando o Verbo Divino e não têm mais condições de voltar.

7. CONCLUSÃO

Reflitamos sobre as palavras que nos convidam ao crescimento espiritual. Sopesemos cuidadosamente aquelas que nos auxiliam na compreensão de nós mesmos, para que possamos adquirir mais forças e sermos mais ativos na prática do bem.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

HENRY, A. M., A Força do Evangelho. Tradução de José Ismar Petrola. São Paulo: Herder, 1970.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.

LEON-DUFOUR, X. et al. Vocabulário de Teologia Bíblica. Rio de Janeiro: Vozes, 1972.

São Paulo, agosto de 2008