SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito 3. O Fundamento da Fé. 4. Fideísmo. 5. Razão e Fé. 6. Poder da Fé. 7. Fé Cega ou Raciocinada. 8. Fé Divina e Humana. 9. Fé e Incerteza. 10. Conclusão. 11. Bibliografia Consultada

1. INTRODUÇÃO

objetivo deste estudo é buscar uma compreensão mais ampla da fé, esse sentimento inato que nos pertence e que precisa ser exercitado.

2. CONCEITO

- do latim fides. O termo é empregado em muitas acepções que poderiam ser divididas em profanas e religiosas. No sentido profano, significa dar crédito na existência do fato, fazer bom juízo sobre alguém, expressar sinceridade no modo de agir etc. Quando o testemunho no qual se baseia a confiança absoluta é a revelação divina, fala-se de

Fé no seu sentido religioso. A Fé, neste sentido, não é um ato irracional.  Com efeito, o espírito humano só pode aderir incondicionalmente a um objeto quando possui a certeza de que é verdadeiro (Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo).

"Ter é guardar no coração a luminosa certeza em Deus, certeza que ultrapassou o âmbito da crença religiosa, fazendo o coração repousar numa energia constante de realização divina da personalidade. Conseguir a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer "eu creio", mas afirmar: "eu sei", com todos os valores da razão tocados pela luz do sentimento" (Xavier, 1977, pergunta 354).

3. O FUNDAMENTO DA FÉ

A fé não é nem anti-racional e nem a-racional, não desconhece nem renega o saber; funda-se em razões tais que a razão, uma vez consultada, desdobra-se num atestado de confiança de que seria ridículo, e até odioso, estabelecer as provas através de um raciocínio formal. "Não se prova que se deve ser amado expondo por ordem as causas do amor; seria ridículo" como observou Pascal. Mas este amor, fundado na razão, ainda que não sobre raciocínios, é o único que pode realizar em nós a realidade concreta de um ser espiritual, de um ser ele próprio capaz de conhecer e de amar. Eis porque a fé desemboca no mais realista dos saberes (Lalande, 1993).

4. FIDEÍSMO

Teologal - O homem dispõe de um só princípio de conhecimento para as verdades da religião natural: a revelação divina manifestada ao homem através da Tradição; fora desta, a razão humana é apenas fraqueza e erro. Para os protestantes franceses é o dogma da salvação pela fé, independentemente não só das obras como de crenças determinadas.

Filosófico - Os filósofos fideístas são os que fundamentam todo o conhecimento humano numa “fé” mais ou menos sentimental. Só a fé pode apreender a essência das coisas (JERPHAGNON, 1982).

5. RAZÃO E FÉ

A Razão e a Fé pertencem à essência da natureza humana. São, pois, atributos potenciais do Espírito, que se atualizam e se desenvolvem no decurso da Vida, em etapas sucessivas, desde a indiferenciação primitiva até as formas mais bem definidas da consciência, no rumo certo da entelequia aristotélica.

"Razão e Fé constituem, portanto, elementos essenciais do Espírito, conjugados em torno de um eixo que é a Vontade. Esta, a Vontade, se representa pelo livre-arbítrio, o princípio da liberdade, sem o qual a Razão de nada serviria e a Fé não teria sentido. Vê-se claramente a natureza sintética do Espiritismo. Todas as antinomias, todas as contradições se resolvem numa visão mais ampla do problema universal. O racionalismo e o empirismo, o positivismo e o idealismo, o materialismo e o espiritualismo, o ontologismo e o existencialismo, e assim por diante encontram o seu delta comum numa visão gestáltica ou global do Universo. Não há motivo para as intermináveis disputas a respeito de Razão e Fé, pois ambas pertencem à própria substância do ser, que desprovido de uma delas já não poderia ser.

Fé e Razão estão implícitas na própria destinação dos seres e a Razão se desenvolve, ao mesmo tempo, apoiada na Fé e buscando a Fé. Vice-versa, a Fé serve de apoio à Razão e nela encontra o meio de desenvolver" (Pires, 1983, p. 47). 

6. PODER DA FÉ

"O poder da Fé recebe uma aplicação direta e especial na ação magnética; por ela o homem age sobre o fluido, agente universal, lhe modifica as qualidades e lhe dá uma impulsão, por assim dizer, irresistível. Por isso aquele que, a um grande poder fluídico normal junta uma Fé ardente pode, apenas pela vontade dirigida para o bem, operar esses fenômenos estranhos de cura e outros que, outrora, passariam por prodígios e que não são, todavia, senão as conseqüências de uma lei natural. Tal o motivo pelo qual Jesus disse aos apóstolos: se não haveis curado é que não tínheis fé" (Kardec, 1984, cap. 19, it. 5, p. 245). 

7. FÉ CEGA OU RACIOCINADA

A Fé é um sentimento inato no indivíduo. A direção desse sentimento pode ser cego ou raciocinado. A Fé cega, não examinando nada, aceita sem controle o falso como o verdadeiro, e se choca, a cada passo, contra a evidência e a razão; levado ao excesso produz o fanatismo. A Fé raciocinada, a que se apoia sobre os fatos e a lógica, não deixa atrás de si nenhuma obscuridade; crê-se porque se está certo, e não se está certo senão quando se compreendeu; eis porque ela não se dobra; porque não há Fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade (Kardec, 1984, cap. 19, it. 6, p. 246).

8. FÉ DIVINA E HUMANA

A Fé é humana e divina. É o sentimento inato, no homem, de sua destinação futura, cujo germe foi depositado nele, primeiro em estado latente, o qual deve crescer por sua vontade ativa. Assim, unindo sua força humana à Vontade Divina poderá realizar os "prodígios" e que não é senão o desenvolvimento das faculdades humanas (Kardec, 1984, cap. 19, it. 12, p. 250).

9. FÉ E INCERTEZA

A dificuldade maior na questão da fé é esperar algo que é incerto. Temos a intuição de que este é o caminho, mas a demora na obtenção do necessário incrusta-nos o desespero. A intuição afirma que devemos perseverar, contudo a espera é difícil. De qualquer forma, temos de continuar, pois desistir no meio do combate, é ficar sem ponto de apoio e sem perspectiva de um futuro mais promissor.

A fé é o nosso grande sustentáculo. Que seria de nossa incerteza, de nossas  tribulações sem esse ponto de apoio para sermos reconfortados? Aquele que tem fé vigorosa aceita de bom grado qualquer extremo, pois, embora esteja no meio da incerteza momentânea, espera que o tempo, o grande arquiteto do universo, possa oferecer as oportunidades para que  os seus ideais sejam concretizados.

10. CONCLUSÃO

Não nos esmoreçamos ante a dor do caminho. Se Deus é por nós quem será contra nós? Perseveremos um pouco mais. Quem sabe, se naquele momento em que nos achamos abatidos e desiludidos, não seria o momento oportuno que a divindade escolheu para a mudança de nossa rota na vida?

11. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro, M.E.C., 1967.

JERPHAGNON, L. Dicionário das Grandes Filosofias. Lisboa, Edições 70, 1982.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.

LALANDE, A. Vocabulário Técnico e Crítico de Filosofia. [tradução de Fátima Sá Correia ... et al.]. São Paulo, Martins Fontes, 1993.

PIRES, J. H. Introdução à Filosofia Espírita. São Paulo, Paidéia, 1983.

XAVIER, F. C. O Consolador, pelo Espírito Emmanuel. 7. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977.

São Paulo, dezembro de 1998.