Evolução e Espiritismo

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Considerações Iniciais. 4. Evolução Biológica: 4.1. Fixismo; 4.2. Transformismo; 4.3. Darwin e a Teoria da Evolução. 5. A Metafísica e a Evolução: 5.1. O Evolucionismo; 5.2. A Evolução Segundo Spencer e Bérgson; 5.3. A Vitória dos Mais Aptos. 6. Espiritismo: 6.1. O Senso Moral; 6.2. Livre-Arbítrio; 6.3. O Progresso. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O que se entende por evolução? Evolução e progresso são a mesma coisa? Há alguma diferença entre evolução e evolucionismo? Como ver a evolução sob a ótica do Espiritismo?

2. CONCEITO

Etimologicamente, o termo evolução significa desenvolvimento, volver para fora o que já está contido em algo. Nesse sentido, evolução seria o desenvolvimento, pela atualização das possibilidades, das potências já inclusas virtualmente em algo. Deste modo, a evolução seria o processo das atualizações das potências dos seres, e nesse sentido lato, todos estão de pleno acordo. (Santos, 1965)

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A teoria da evolução pode ser vista sob dois pontos de vista: a) biológica: b) metafísica. Do ponto de vista biológico, é a transformação das espécies vivas umas nas outras, hipótese básica das ciências biológicas dos últimos tempos. Do ponto de vista metafísico, é o progresso do universo, hipótese de muitas filosofias e doutrinas religiosas. Em termos da sociologia e da antropologia, a evolução está associada ao comportamento dos seres humanos e às mudanças estruturais da sociedade como um todo. Há, também, uma diferença fundamental entre evolução e revolução. A evolução é uma acumulação lenta, gradual, de mudanças quantitativas; a revolução é uma mudança brusca, radical, qualitativa. (Temática Barsa)

4. EVOLUÇÃO BIOLÓGICA

4.1. FIXISMO

Baseado na física aristotélica, esta teoria admite que as espécies não sofrem mudanças, ou seja, surgiram sobre a Terra, cada qual já adaptada ao ambiente onde foi criada, pelo que, uma vez que não havia necessidade de mudanças, as espécies permaneciam imutáveis desde o momento em que surgiram. O fixismo pressupõe: a) criacionismo – todos os seres vivos eram obras divinas e, por isso, perfeitos; não precisavam de sofrer alterações; b) geração espontânea – a vida surgia quando havia condições favoráveis para isso; c) catastrofismo – se as catástrofes naturais destruíssem determinados seres vivos, outras espécies existentes iriam povoar esses locais desabitados.

4.2. TRANSFORMISMO

Embora o fixismo fosse uma teoria de fácil aceitação, ela não prevaleceu ao longo do tempo. Em seu lugar, surgiu a hipótese do transformismo, ou seja, a ideia de que as espécies não permaneciam imutáveis, mas sofriam modificações, isto é, evoluíam. Esta teoria só foi possível com o desenvolvimento do método teórico-experimental, em que se criava uma sistemática, para o estudo e nomenclatura das espécies atuais. Também valioso foi o estudo dos fósseis, registros das espécies que existiram em tempos antigos. O ápice do evolucionismo deu-se no século XIX, principalmente depois da vinda da nova ciência, aquela que se baseava na observação e coleta de dados, fazendo inferências e tirando as devidas conclusões dos dados analisados.

4.3. DARWIN E A TEORIA DA EVOLUÇÃO

Charles Darwin (1809-1882), a bordo do Beagle, conseguiu documentar grande quantidade de observações, que estão expostas em Sobre a Origem das Espécies (1859).

A teoria de Darwin mostra-nos que as espécies evoluíram. A transformação, porém, foi gradual, lenta e contínua. Por intermédio de uma seleção natural, os indivíduos sofrem modificações espontâneas, mas sobrevivem apenas as mais aptas. Além disso, são esses indivíduos que podem se reproduzir e transmitir esses caracteres a seus descendentes. Nesse processo, que é literalmente uma "luta pela vida", visto que existem mais seres vivos do que recursos, os organismos vivos menos adaptados desaparecem.

A teoria da evolução ganhou um novo impulso com a teoria da herança biológica formulada por Gregor Mendel (1822-1884), depois de suas experiências com ervilhas. (Temática Barsa)

5. A METAFÍSICA E A EVOLUÇÃO

5.1. O EVOLUCIONISMO

É uma doutrina metafísica que se refere à realidade como um todo e que embora se sirva das hipóteses e dos resultados da teoria biológica da evolução, sua tese vai muito além de tudo o que qualquer possível teoria científica possa legitimamente atestar. Nesse sentido, o evolucionismo foi assumido como esquema fundamental de muitas metafísicas, tanto materialistas quanto espiritualistas. A característica fundamental que essas metafísicas distinguem na evolução é o progresso. Para elas, evolução significa essencialmente progresso.

5.2. A EVOLUÇÃO SEGUNDO SPENCER E BÉRGSON

Spencer definia evolução como a passagem do homogêneo indiferenciado para o heterogêneo diferenciado. É toda a trajetória da ameba aos organismos superiores. Segundo Spencer, o sentido geral da evolução é otimista. No caso do homem, só terminará com "a máxima perfeição e a mais completa felicidade". Enquanto a evolução biológica desvinculou a ideia de evolução da de progresso, a evolução materialista e espiritualista têm no progresso a sua característica otimista fundamental.

Bérgson, por seu lado, viu na evolução o produto de um elã vital, que é a consciência, liberdade e criação. (Abbagnano, 1970)

5.3. A VITÓRIA DOS MAIS APTOS

A teoria da evolução das espécies de Darwin passou a ser empregada nas relações sociais com o termo "luta pela vida" e "vitória dos mais aptos". Esta posição filosófica estimulou a competição desenfreada entre os seres humanos, no sentido de que cada um deve vencer o seu próximo. Hobbes, por exemplo, fala-nos de que o "homem é lobo do homem", em que uma pessoa tem que estar sempre à frente da outra. Observe a ênfase que Maquiavel dá, em O Príncipe, aos "fins justificarem os meios". Esse tipo de visão da evolução levou o ser humano a uma posição dramática: queremos ser mais do que o outro e não nós mesmos.

6. ESPIRITISMO

6.1. O SENSO MORAL

Allan Kardec, em A Gênese, André Luiz, em Evolução em Dois Mundos e Emmanuel, em A Caminho da Luz, falam-nos do aparecimento do protoplasma e de toda a cadeia evolutiva descrita pela ciência biológica. O Espiritismo corrobora com a Ciência; a única diferença é que faz intervir a ação dos Espíritos.

No processo de evolução do Espírito, o ponto alto é o aparecimento do senso moral. Enquanto o princípio inteligente estagia no reino animal, o senso moral é quase nulo. Somente quando adquire a razão, o pensamento contínuo e o livre-arbítrio, na fase humana, é que começa a responder pelos seus atos. Daí, a responsabilidade de cada um pelo seu próprio progresso.

6.2. LIVRE-ARBÍTRIO

O Espiritismo mostra-nos que, no inicio da sua caminhada evolutiva, o Espírito não possui o livre-arbítrio, cuja escolha é deixada a cargo dos mensageiros do espaço. Somente quando desenvolveu o senso moral, que é responder pelos seus próprios atos, foi lhe dado a capacidade de escolher e seguir o seu caminho.

O ser humano não é fatalmente conduzido ao mal; os atos que pratica não estavam escritos, determinados por uma fatalidade. "Ele pode, como prova ou expiação, escolher uma existência em que se sentirá arrastado para o crime, seja pelo meio em que estiver situado, seja pelas circunstâncias supervenientes. Mas será sempre livre de agir como quiser. Assim, o livre-arbítrio existe no estado de Espírito, com a escolha da existência e das provas; e no estado corpóreo, com a faculdade de ceder ou resistir aos arrastamentos a que voluntariamente estamos submetidos". (Kardec, 1995, questão 872)

6.3. O PROGRESSO

Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, mostra-nos que o progresso intelectual nem sempre anda junto com o progresso moral. No longo prazo, porém, deverão equilibrar-se para que haja maior coerência das ações praticadas pelo ser humano.

Nesse sentido, o Espírito Emmanuel adverte-nos que a sabedoria e amor são as duas asas que nos conduzirão ao progresso. Paralelamente, o Espírito André Luiz diz-nos que o ciclo de reencarnações somente terminará quando tivermos sedimentado as nossas ações nas máximas do Evangelho de Jesus.

7. CONCLUSÃO

O progresso é inexorável e a lei de causa e efeito é providencial. Assim, tenhamos consciência dos nossos atos diários. Adiando para amanhã a prática do bem, podemos retardar a nossa evolução material e espiritual.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995.

SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.

TEMÁTICA BARSA. Rio de Janeiro, Barsa Planeta, 2005.

São Paulo, dezembro de 2009