Maquiavelismo e Espiritismo

SUMARIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Considerações iniciais. 4. Nicolau Maquiavel: 4.1. O Príncipe; 4.2. O Método de Maquiavel; 4.3. A Lógica da Força. 5. Maquiavelismo: 5.1. Maquiavel era Maquiavélico?; 5.2. O Demônio Maquiavélico; 5.3. Extensão do Termo. 6. Maquiavelismo e Espiritismo: 6.1. Moral para o Indivíduo e Moral para o Estado; 6.2. Os Meios e os Fins; 6.3. Frases de Maquiavel diante do Espiritismo. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é analisar o pensamento e a obra, O Príncipe, de Maquiavel, do qual surgiu o termo maquiavelismo, com repercussões sobre a política, a religião, a administração e as ações dos indivíduos de um modo geral.

2. CONCEITO

Maquiavel. Nicolau Maquiavel, Nicollò Machiavelli (1469-1527), foi político, historiador e escritor italiano. Nasceu e morreu em Florença. Foi chanceler e secretário das Relações Exteriores da República de Florença, cargos modestos, apesar dos títulos, limitando-se as funções à redação de documentos oficiais. Maquiavel é mundialmente conhecido pelo livro "O Príncipe". Deixou, porém, outros escritos, tais como, Comentários sobre a Primeira Década de Tito Lívio, A Mandrágora, História de Florença, além de inúmeros tratados histórico-político, poemas e sua correspondência particular, organizada pelos descendentes.

Maquiavelismo. Vem de Maquiavel. Tomou, contudo, outro significado, principalmente por causa da máxima que lhe foi atribuída – "os fins justificam os meios" –, em que a eficácia da ação é privilegiada em detrimento da conduta moral. Na linguagem comum, as pessoas cínicas, ardilosas, traiçoeiras, que agem de má-fé para atingir fins inconfessáveis, são chamadas de maquiavélicas.

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Para compreendermos O Príncipe, temos que situar a Itália do início do século XVI, submetida a todo o tipo de exações, principalmente as dos franceses e dos espanhóis. O Príncipe deveria restaurar a ordem política vigente, fundamentada no principado. Parte do pressuposto que o poder político é de fato gerado na violência. O realismo político de Maquiavel advém de suas leituras de autores do passado como Lívio, Políbio, Tucídides e Xenofonte. Acha que "todos os escritores que trataram da política concordam em dizer que quem quiser fundar o Estado e proporcionar-lhe leis deve supor de antemão os homens malvados e sempre prontos a mostrar a sua malvadeza todas as vezes que tiverem oportunidade". Daí criar o mito do Príncipe, o qual deveria libertar a Itália do principado e colocá-la no rol da república, em que os seus representantes seriam escolhidos pelo sufrágio universal.

4. NICOLAU MAQUIAVEL

4.1. O PRÍNCIPE

Antes de Maquiavel, o governante de um país era comparado ao piloto de um navio, que tinha por objetivo conduzi-lo ao porto, sem que afundasse. Analogamente, o governante de uma República deveria conduzir o povo, sem dispersá-lo, para a prática da virtude. Maquiavel, em O Príncipe, aceita conduzir o povo sem avarias, porém faz silêncio sobre a condução do povo à virtude. Tem dúvidas quanto ao realizar a justiça. O Príncipe retrata o descontentamento do seu autor por ter sido banido da vida pública. O que está por detrás do livro é a aparência do bom e do virtuoso que o condutor do povo deve ter. Não importa se o ser humano é virtuoso, mais vale parecer virtuoso.

4.2. O MÉTODO DE MAQUIAVEL

Maquiavel não foi um teórico como Hobbes, em Leviatã, Platão em, A República, e mesmo Kant na sua legitimação do poder. Ele parte das observações práticas. Primeiramente, estuda tudo o que os outros escritores disseram sobre o assunto; depois, reflete sobre a sua própria experiência, inclusive com a sua exclusão da vida política de Florença. Enquanto os outros escritores usavam o método dedutivo, ou seja, do geral para o particular, ele usou o método indutivo, ou seja, do particular para o geral. Em outras palavras, quis transformar em lei as suas observações pessoais. Não é de se estranhar que tenha cometido um viés, que foi ver tudo pelo lado da violência, pelo uso da força, sem levar em conta a conduta moral mais elevada dos indivíduos.

4.3. A LÓGICA DA FORÇA

Maquiavel procura entender a lógica da força. Para tanto, inspira-se na paixão do Estado o que faz com que o Príncipe, investido de responsabilidades excepcionais, se encontre situado fora do comum e deva saber entrar na via do mal tão necessário, mas igualmente "não se afastar do bem que pode". Para Maquiavel, o Príncipe, mesmo dando poucos exemplos, será mais benéfico do que o piedoso, que deixa reinar e penetrar a desordem na esfera governamental.

5. MAQUIAVELISMO

5.1. MAQUIAVEL ERA MAQUIAVÉLICO?

Maquiavel escreveu O Príncipe por volta de 1514, mas foi publicado somente em 1532, cinco anos depois de sua morte, quando, então, o termo maquiavélico ganhou peso, no sentido de uma conduta moral insatisfatória, em que "os fins justificam os meios". Para diferenciar o maquiavelismo de Maquiavel e o que foi perpetrado depois de sua morte, deveríamos ler outras obras de sua autoria, principalmente os Comentários sobre a Primeira Década de Tito Lívio, escritos em 1517 e publicados em 1531.

5.2. O DEMÔNIO MAQUIAVÉLICO

O Príncipe foi publicado em 1532 sob a autorização papal, conforme costume da época. Mas, os ataques foram sendo intensificados de tal modo que obrigou o papa Paulo IV a colocá-lo no livro do Index em 1559. Em 1564, o Concílio de Trento confirmava tal proibição. A partir daí a lenda do maquiavelismo teve seu nome cada vez mais ligado ao do demônio.

5.3. EXTENSÃO DO TERMO

O mito do maquiavelismo penetrou profundamente no imaginário coletivo. Ainda hoje há os falsos discípulos de Maquiavel. Eles estão na política, nas funções administrativas e no trato com as mulheres entre outras. Se um candidato usa a fraude para tirar votos do seu adversário, é-lhe emprestada a pecha de maquiavélico, mas não sabe que Maquiavel só aceitava a fraude em função de uma guerra e não na vida cotidiana. Mesmo no caso de "os fins justificarem os meios", Maquiavel só os aceitava quando esse fim visasse o bem da comunidade e não sobre quaisquer fins.

6. MAQUIAVELISMO E ESPIRITISMO

6.1. MORAL PARA O INDIVÍDUO E MORAL PARA O ESTADO

Maquiavel distingue uma moral do indivíduo, que visa a obtenção de virtudes, e outra para o estado, que visa obter o bem comum, nem que para isso seja necessário o emprego do constrangimento, da coação e da persuasão. Maquiavel afirma que todo o julgamento moral deve ser secundário na conquista, consolidação e manutenção do poder. Ele diz: "Todos concordam que é muito louvável um príncipe respeitar a sua palavra e viver com integridade, sem astúcias nem embustes. Contudo, a experiência do nosso tempo mostra-nos que se tornaram grandes príncipes que não ligaram muita importância à fé dada e que souberam cativar, pela manha, o espírito dos homens e, no fim, ultrapassar aqueles que se basearam na lealdade". Sob o ponto de vista espírita, Allan Kardec encaminha-nos para outro tipo de reflexão, pois em toda a sua obra ressalta a importância de combater o orgulho e o egoísmo, os dois principais cancros da sociedade.

6.2. OS MEIOS E OS FINS

Os fins justificam os meios? Para Maquiavel, sim. Em termos doutrinários espíritas, não. O verdadeiro espírita deve se pautar por um principio único, aquele que propicia a paz de sua consciência. Nesse caso, quer esteja à frente ou na retaguarda de qualquer empreendimento, procurará tratar todos de igual modo, pois assim também deseja ser tratado. Prestemos atenção para não nos deixarmos confundir os meios com os fins específicos de cada uma de nossas ações.

6.3. FRASES DE MAQUIAVEL DIANTE DO ESPIRITISMO

"Quando fizer o bem, faça-o aos poucos. Quando for praticar o mal, fazê-lo de uma vez só". Os Espíritos superiores nunca nos exortam a praticar o mal. Este geralmente é fruto de nossa ignorância com relação às leis naturais.

"Creio que seriam desejáveis ambas as coisas, mas, como é difícil reuni-las, é mais seguro ser temido do que amado". A Doutrina Espírita exorta-nos ao cumprimento do dever. Nunca nos instrui para ser amado ou odiado. Quer apenas que cumpramos as leis morais e que isso deixe em paz a nossa consciência.

"Todos os profetas armados venceram, e os desarmados foram destruídos". Jesus, o grande artífice do cristianismo, nunca nos sugeriu pegar em armas para que uma ideia fosse aceita. O Espiritismo segue a mesma linha.

7. CONCLUSÃO

Embora seja louvável a contribuição de Maquiavel para o pensamento político, os princípios espíritas fundamentam-se em outra ordem de valores, ou seja, nos valores morais trazidos por Jesus Cristo.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ARANHA, M. L. de A. Maquiavel: A Lógica da Força. São Paulo: Moderna, 1993. (Coleção Logos)

DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993

PINZANI, Alessandro. Maquiavel & O Príncipe. Rio de Janeiro: Zahar, 2004 (Filosofia Passo-a-Passo)

São Paulo, outubro de 2009