Estudo da Natureza de Cristo

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Considerações Iniciais. 3. Análise dos 9 subtítulos.

1. INTRODUÇÃO

Quem foi Cristo? Que provas temos sobre sua natureza? Os milagres provam a sua divindade? O que se entende por divindade? As palavras ditas por Jesus provam a sua divindade? Qual a opinião dos apóstolos? Como interpretar o termo “O verbo se fez carne”?

2. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Este tema está exposto no livro Obras Póstumas de Allan Kardec.

Abarca 9 subtítulos.

A natureza de Cristo ainda é motivo de muitas discussões acaloradas.

3. ANÁLISE DOS 9 SUBTÍTULOS

I — ORIGEM DAS PROVAS DA NATUREZA DE CRISTO

A divergência de opiniões sobre esse ponto tem dividido a Igreja há muito tempo. A razão é simples: os dogmas não condizem com a realidade dos fatos. Os fatos estão nos atos e nas palavras de Jesus. Como Jesus nada escreveu, e os seus historiadores, os apóstolos, nada escreveram em vida, somos obrigados a aceitar que os Evangelhos são o único elemento de solução do problema.

Além disso, todos os escritos posteriores devem ser classificados como comentários, reflexos de opiniões pessoais, muitas vezes contraditórias, que não tem a autoridade das narrações dos que receberam do Mestre instruções diretas.

Os Evangelhos são fontes fidedignas, pois foram confirmadas por pesquisadores altamente qualificados, entre eles Renan e Charles Guignebert.

II — A DIVINDADE DE CRISTO FICA PROVADA PELOS MILAGRES?

Segundo a Igreja, a divindade de Cristo é firmada nos milagres, testemunho do seu poder sobrenatural. Quando o demônio podia fazer os mesmos prodígios, a crença nos milagres perdeu o seu valor. A obstinação em dar valor ao demônio produziu consequências nefastas para a Igreja, e uma das principais causas da incredulidade.

Os fatos miraculosos não são privilégio da religião cristã, pois não há religião, idólatra ou pagã que não tenha os seus milagres.

No sentido teológico, os milagres representam uma exceção às leis da natureza. Desde que um fato possa ser explicado e decorra de uma causa conhecida, deixa de ser milagre.

O conhecimento do princípio espiritual, da ação dos fluidos e do perispírito fornecem informações importantes para a contraposição aos milagres levantados pelas religiões. Observemos os efeitos do magnetismo, do sonambulismo, do êxtase, da dupla vista, do hipnotismo, da catalepsia, da letargia etc.

Os milagres do Evangelho não são invalidados pelo Espiritismo. Tira apenas o seu caráter sobrenatural.

III — A DIVINDADE DE JESUS É PROVADA PELAS SUAS PALAVRAS?

O dogma da divindade de Jesus funda-se na absoluta igualdade da sua pessoa com Deus, sendo ele mesmo Deus. “Aquele que me enviou”, tantas vezes repetidas por Jesus, revelam não somente a dualidade de Jesus e de Deus, mas também excluem a igualdade absoluta entre eles, porque o que é enviado, necessariamente é subordinado ao que envia: obedecendo, pratica um ato de submissão.

Um embaixador, falando do seu soberano, dirá: meu senhor, o que me envia; mas, se é o soberano que vem em pessoa, falará em seu próprio nome e não dirá: aquele que me enviou, porque não se pode enviar a si mesmo. Jesus o disse em termos categóricos: eu não vim de modo próprio, mas foi Ele que me enviou.

Fazer do enviado o próprio Deus é inaceitável. A divindade de Jesus deve ser compreendida por sua superioridade moral do seu espírito e não do seu corpo, da sua encarnação.

IV — PALAVRAS DE JESUS DEPOIS DE SUA MORTE

As palavras de Jesus, durante a sua vida e depois da morte, acusam uma dualidade de pessoas perfeitamente distintas, ao mesmo tempo que o profundo sentimento da sua inferioridade e subordinação relativamente ao ser supremo.

Que maior autoridade do que as próprias palavras de Jesus? Quando ele diz categoricamente: “Eu não vim de moto próprio, mas foi Deus que me enviou”.

A confusão sobre a identidade entre Deus e Jesus vem da análise da palavra Verbo que no grego significa logos e passou para o latim como verbum.

V — DUPLA NATUREZA DE JESUS

O que devia ser humano em Jesus era o corpo, a parte material e, neste ponto de vista, compreende-se que ele tenha sofrido, como homem. O que devia ser divino nele era a alma, o espírito, o pensamento, em uma palavra, a parte espiritual do ser. Se sentia e sofria como homem, devia falar e pensar como Deus. Falava como homem, ou como Deus? Eis uma questão importante para a autoridade excepcional dos seus ensinos. Se falava como homem, as suas palavras podem ser controvertidas; se falava como Deus, são indiscutíveis; não as aceitar é heresia; o mais ortodoxo é o que mais se aproximar delas.

VI — OPINIÃO DOS APÓSTOLOS

As opiniões dos apóstolos devem ser consideradas, pois conviveram mais de perto com o mestre Jesus. Há várias considerações deles a respeito de Jesus. Eis uma delas: "Varões israelitas, ouvi estas palavras: A Jesus Nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com virtudes, e prodígios, e sinais, que Deus obrou por ele no meio de vós, como também vós o sabeis.” (ATOS DOS APÓSTOLOS, II, 22 a 28. — Pregação de S. Pedro).

VII — PREDILEÇÃO DOS PROFETAS SOBRE JESUS

Além das afirmações de Jesus e da opinião dos Apóstolos, há um testemunho, de que os mais ortodoxos dos crentes não podem negar o valor, pois que o exibem constantemente como artigo de fé; é o do próprio Deus, isto é, o dos profetas, seus inspirados, anunciando a vinda do Messias.

Eis uma das passagens da bíblia consideradas como predição desse grande acontecimento: "Eu o verei, mas não agora; eu o contemplarei, mas não de perto. Nascerá uma estrela de Jacó, e levantar-se-á uma vara de Israel, e ferirá os capitães de Moabe e destruirá todos os filhos de Sete (NÚMEROS, XXIV, 17).

VIII — O VERBO SE FEZ CARNE

“O Verbo se fez carne” é a passagem contada por João. Está em (S. JOÃO, I, 1 a 14). Esta passagem dos Evangelhos é a única que, à primeira vista, parece encerrar implicitamente uma ideia de identificação entre Deus e a pessoa de Jesus; é também aquela sobre a qual se estabeleceu mais tarde a controvérsia a respeito do assunto. É preciso notar-se que as palavras supracitadas são de João e não de Jesus e admitindo-se que não tenham sido alteradas, não exprimem, na realidade, senão uma opinião pessoal, uma indução, onde se descobre o misticismo habitual da linguagem daquele escritor.

A qualificação de Messias divino não significa igualdade entre o mandatário e o mandante, mais do que entre um rei e o seu representante a de enviado real. Jesus era um Messias divino pela dupla razão de ter recebido de Deus a sua missão, e estar em relação direta com Deus pelas suas perfeições.

IX — FILHO DE DEUS E FILHO DO HOMEM

O título de Filho de Deus, longe de implicar a igualdade, é antes indicativo de submissão; ora ninguém pode ser submetido a si mesmo. Para que Jesus fosse absolutamente igual a Deus, seria preciso que fosse como Ele de toda a eternidade, isto é, que fosse incriado; ora o dogma diz que Deus o gerou de toda a eternidade, e quem diz gerado diz criado; quer seja ou não de toda a eternidade, nem por isto é menos criatura, e, como criatura, subordinada ao seu criador; esta é a ideia implicitamente contida na palavra Filho.

É evidente que a qualificação de Filho do homem quer dizer aqui: nascido do homem, por oposição ao que está fora da humanidade.

São Paulo, fevereiro de 2022.