Inteligência e Instinto

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Inteligência versus Instinto. 4. Ato Instintivo e Ato reflexo. 5. O Homem e  o Animal. 6. Linguagem e Inteligência. 7. Herança e Automatismo.  8. Razão, Paixão e Instinto. 9. Inteligência e Espiritualidade. 10. Conclusão. 11. Bibliografia Consultada

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é relacionar a inteligência e o instinto no sentido melhor compreender a complementaridade entre estes dois termos.

2. CONCEITO

Inteligência  -  do lat. intellectusinter e  lec.  =  escolher entre, ou intus e lec = escolher dentro, como preferem outros - é a faculdade que tem o espírito de pensar, conceber,  compreender.

O termo inteligência é ainda usado pelos psicólogos com considerável latitude de sentido. Por vezes emprega-se como sinônimo de cognição (tal como a palavra "entendimento"), isto é, aplica-se a qualquer dos processos pelos quais se constrói o conhecimento; outras vezes é restringido aos processos conceptuais; e em alguns casos é usado no sentido ainda mais restrito de função de apreender relações, ou, até, especiais formas de relação. No uso comum e quotidiano, tende-se a sublinhar o caráter prático da inteligência, como consistindo na capacidade de empregar meios adequados para atingir os vários fins que se tem em vista. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)

Instinto - do  lat. instinctu significa  impulso inato, inconsciente, irracional, que  leva  um ente vivo, um animal, a proceder de tal ou tal forma. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira). Estímulo ou impulso natural, involuntário, pelo qual homens e animais executam certos atos sem conhecer o fim ou o porquê desses atos.

3. INTELIGÊNCIA VERSUS INSTINTO

Os  psicólogos  procuram  realizar  uma  tarefa  difícil:  a   de distinguir  a  inteligência  do instinto. O que ressalta logo nessa distinção é que a inteligência  é flexível, muito mais que o instinto. A inteligência tem a seu favor o passado, as experiências que ela coordena, e que aproveita para o exame de novas situações. Por outro lado, o instinto é cego, tal qual se  observa no  cão,  que,  mesmo domesticado, pisoteia o lugar  em  que  vai dormir, como se devesse dormir sobre a erva. O gato faz o gesto de tapar seus excrementos, mesmo quando os deposita sobre as pedras. (Santos, 1965)

4. ATO INSTINTIVO E ATO REFLEXO

No ato instintivo há um tender para um fim útil sem consciência desse fim. Já o ato reflexo é inflexível. Um espiro provocado virá, inflexivelmente, sem que se possa impedi-lo. Por outro lado, os reflexos podem ser úteis ou não, enquanto o instinto é sempre útil. Ao realizar o ato instintivo pode haver modificações na execução, o que é importante.

A observação cuidadosa do comportamento de alguns animais  mostra que o conceito comum de instinto, como mero impulso simples,  não basta  para  explicar  a  complexidade de  seus  atos.  A  aranha construirá  a teia diferentemente, segundo as circunstâncias  e  o  lugar   que  disponha. O  castor  constrói   diferentemente,   segundo   a corrente  da água, o nível da mesma ou a presença de homens.

Os reflexos são estimulados por um processo externo, enquanto o instinto pode ser provocado por um estímulo externo, mas é sempre o desdobramento de uma ação interna. (Santos, 1965)

5. O HOMEM E  O ANIMAL

Do ponto de vista biológico, somos animais, mas como criadores da civilização estamos a uma distância considerável da restrita vida animal. Na evolução biológica do homem, o fator mais importante tem sido o desenvolvimento do volume cerebral que permitiu uma crescente capacidade de aprender, resolver problemas e pensar de maneira construtiva.

Apesar da inteligência e da tecnologia que possui, o homem continua a portar-se em vários aspectos como um animal. Os etnólogos, investigadores do comportamento, observam que é possível  no homem verificar muitas maneiras de agir instintivas e próprias dos animais. Como exemplo, pode-se mencionar a luta por um território, a agressão aos intrusos e a formação de clãs. Além disso, verificam-se nos animais muitas características consideradas humanas. Alguns macacos podem até fazer uso de utensílios simples; muitos animais possuem algumas formas de linguagem e apresentam um certo comportamento social. (Enciclopédia Combi, it. Homem, 9)

6. LINGUAGEM E INTELIGÊNCIA

A língua funciona como instrumento para a transmissão de informações entre o homem e como sistema de símbolo para o pensamento e a formação de conceitos. A forma lingüística aprendida pelos homens não é herdada. Uma criança chinesa, criada num meio de fala inglesa, expressa-se perfeitamente nessa língua. Por outro lado, a linguagem dos animais não é aprendida, mas herdada como instinto.

A língua influi de diversas maneiras sobre o pensamento. os lugares comuns podem dar lugar a falsas conclusões. A expressão "pobre mas honrado" é tão admitida que, não sem certa surpresa, comprova-se amiúde que a pobreza não acompanha necessariamente a honradez, ou vice-versa. A linguagem não condiciona o pensamento, mas ajuda a pensar. (Enciclopédia Combi, it. Linguagem, 1 e 2)

7. HERANÇA E AUTOMATISMO

O Espírito  André Luiz diz: "Se, no círculo humano, a inteligência é seguida pela razão e a razão pela responsabilidade, nas linhas da Civilização, sob os signos da cultura, observamos que, na retaguarda do transformismo, o reflexo precede o instinto, tanto quanto o instinto precede a atividade refletida, que é a base da inteligência nos depósitos do conhecimento adquirido por recapitulação e transmissão incessantes, nos milhares de milênios em que o princípio espiritual atravessa lentamente os círculos elementares da natureza". (Xavier, 1977, p.39)

Assim, no reino mineral, o princípio inteligente adquire a atração, no reino vegetal, a sensação, no reino animal, o instinto, e no reino humano, o pensamento contínuo, o livre-arbítrio e a razão.

8. RAZÃO, PAIXÃO E INSTINTO

Allan Kardec, no cap. III de A Gênese, relaciona instinto, paixão e  inteligência.  Diz-nos que o instinto é sempre guia  seguro  e nunca  erra.  Pode  tornar-se  inútil,  mas  nunca   prejudicial. Enfraquece-se  com a predominância da inteligência. 

As  paixões, nas primeiras idades da alma, têm de comum com o instinto o serem criaturas solicitadas por uma força igualmente inconsciente. As paixões nascem principalmente das necessidades do corpo e dependem, mais do que o instinto do organismo. O que, acima de tudo, as distingue do instinto é que são individuais e não produzem, como este último, efeitos gerais e uniformes; variam, ao contrário, de intensidade e de natureza, conforme os indivíduos. São úteis até a eclosão do senso moral, em que o ser passivo  transforma-se  em ser racional. Depois  disso,  torna-se nociva, caso não seja disciplinada pela razão.

O homem que só agisse constantemente pelo instinto poderia ser muito bom, mas conservaria adormecida a sua inteligência. Seria qual criança que não deixasse as andadeiras e não soubesse utilizar-se de seus membros. Aquele que não domina as suas paixões pode ser muito inteligente, porém, ao mesmo tempo, muito mau. O instinto se aniquila por si mesmo; as paixões somente pelo esforço da vontade podem domar-se. (1975, p. 80 e 81)

9. INTELIGÊNCIA E ESPIRITUALIDADE

Tão acostumados aos atos maquinais, acabamos por traçar planos errôneos para a nossa evolução espiritual. É o caso de querermos padronizar o nosso comportamento. Esse devia ser sempre novo e responder aos estímulos do momento. É como o aprendizado: não se deve decorar técnicas, mas sim tornar-se capaz de..., estar apto para...

É preciso não confundir a boa memória ou o raciocínio fácil com a espiritualidade. A espiritualidade pode se auxiliada pela inteligência, pois esta lhe faculta a capacidade de aprendizagem. Porém, se a espiritualidade dependesse exclusivamente da inteligência, não veríamos tantas pessoas iletradas realizarem prodígios enquanto os que foram à faculdade cometerem  atrocidades no seio da sociedade. Há casos em que a boa memória até atrapalha. Cita-se o caso do médico, que por excesso de memória, tinha dificuldade para prescrever a receita ao seu paciente.

10. CONCLUSÃO

A inteligência  e o instinto são duas faculdades de  nosso  espírito. Saibamos ponderá-los eficazmente, a fim de que possamos viver  em paz com a nossa consciência.

11. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Enciclopédia Combi Visual. Barcelona (Espanha), Ediciones Danae, 1974.

Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa/Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, s.d. p.

KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 17. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1975.

SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.

XAVIER, F. C. e VIEIRA, W. Evolução em Dois Mundos, pelo Espírito André Luiz, 4. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977.

São Paulo, dezembro de 1995.