Fundamentos do Espiritismo e suas Consequências

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Considerações Iniciais. 4. A Doutrina Espírita: 4.1. Existência de Deus; 4.2. Reencarnação; 4.3. Mediunidade; 4.4. Evolução. 5. Os Fatos: 5.1. Os Cientistas; 5.2. Conversão dos Sábios; 5.3. Observação dos Fatos. 6. Conseqüências Morais; 6.1. A Lei Natural; 6.2. A Liberdade de Ação; 6.3. Recompensa Futura. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é fazer um resumo da Doutrina dos Espíritos. Este trabalho consta de três partes: a doutrina propriamente dita, os fatos que originaram tal doutrina e as conseqüências morais que daí dimanam.

2. CONCEITO

Fundamento 1. A expressão fundamento comporta várias significações tais como origem, princípio, raiz ou razão de ser, finalidade etc. 2. Princípio em que repousa de fato uma ordem de fenômenos. 3. Princípio em que repousa de direito um sistema de asserções ou de regras, i.é., que as torna legítimas do ponto de vista lógico, moral ou jurídico. 4. Causa no sentido de razão de ser. Aristóteles diz: "Acreditamos conhecer um objeto de maneira absoluta – não acidentalmente ou de modo sofístico – quando acreditamos conhecer a causa por que a coisa é e acreditamos conhecer que ela é causa da coisa e que esta não pode ser de outra maneira". Nesse sentido, causa é razão, logos, pois não só permite compreender a ocorrência de fato da coisa, mas também o seu "não pode ser de outra maneira", sua necessidade racional. (Abbagnano, 2000)

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Quem compulsar os livros de Allan Kardec, principalmente a Revista Espírita, encontrará as explicações que o Codificador dava aos seus contraditores. Ele afirmava que o Espiritismo não é a idéia de uma única pessoa (e muito menos a dele), mas a essência das instruções ditadas pelos Espíritos superiores. Esclarecia que estes (os contraditores) não deviam temer a nova doutrina, pois de duas uma: ou é uma utopia ou uma realidade. Se o Espiritismo fosse uma utopia, ele cairia no descrédito, pois os fatos se incumbiriam de desmoralizá-lo; se fosse uma verdade, os fatos acabariam por consolidá-lo, quer os críticos queiram ou não.

Ao informar-nos de que a obra não lhe pertence, enfatiza o seu papel de organizador, compilador, codificador desses ensinamentos. Acrescenta ainda que qualquer pessoa pode absorvê-lo, pois os conhecimentos ali expostos encontram-se no livro da natureza.

4. DOUTRINA ESPÍRITA

Dentre os seus pressupostos básicos, anotamos:

4.1. EXISTÊNCIA DE DEUS

Para o Espiritismo, Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. Deus é eterno, imaterial, soberanamente bom e justo. Dele vertem-se dois princípios, o princípio material e o princípio espiritual. Embora nos falte um sentido para compreendê-Lo, podemos deduzir a magnanimidade de sua obra através de tudo o que existe no universo. Em outras palavras, é pelos efeitos que chegamos às causas. Assim, se o efeito for inteligente a causa também o será.

A primeira pergunta de O Livro dos Espíritos é: "Que é Deus?". Ao responder que é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, chama-nos a atenção para o seguinte: não devemos ver Deus à nossa imagem e semelhança, mas, sim, à imagem e semelhança Dele. Quer dizer, deveríamos fazer um grande esforço para evitar a Sua concepção antropomórfica. Ao contrário, percebendo-O como uma luz ou uma energia – embora ainda formas materiais –, já é um começo para transcendermos a dogmática religiosa.

4.2. REENCARNAÇÃO

Este é um princípio, sem o qual, não podemos compreender o alcance da Doutrina Espírita. A reencarnação, que consiste em admitir para o homem muitas existências sucessivas, é a única que corresponde à idéia da justiça de Deus com respeito aos homens de condição moral inferior; a única que pode explicar o nosso futuro e fundamentar as nossas esperanças, pois oferece-nos o meio de resgatarmos os nossos erros através de novas provas. A razão assim nos diz, e é o que os Espíritos ensinam. (Kardec, 1995, pergunta 171)

Muitos se dizem espíritas, mas não acreditam na reencarnação. Falta-lhes o cerne da doutrina, pois a compreensão do que somos necessita, muitas vezes, do conhecimento intuitivo do que fomos no passado. Sem esse elo de ligação, o nosso raciocínio fica embotado.

A crença na reencarnação leva-nos aos princípios correlatos: preexistência e sobrevivência do Espírito e pluralidade dos mundos habitados. Jesus ensinou-nos que na casa do Pai há muitas moradas. Quer dizer, não podemos imaginar a vida existente só em nosso Planeta, quando no Universo existem outros tantos milhões de orbes.

4.3. MEDIUNIDADE

A mediunidade, faculdade humana natural na qual podemos entrar em contato com Espíritos mais evoluídos, deve ser considerada também como um princípio fundamental. É através dela que o ser humano aumenta a sua capacidade de compreensão do Universo. Como traduzir a vida e convivência dos Espíritos desencarnados, sem entrar em contato com eles? Se eles não nos alertassem sobre as bem-aventuranças futuras, como a nossa visão terráquea poderia vislumbrar um mundo feliz?

No que tange à mediunidade, convém não confundir o desenvolvimento mediúnico com o fenômeno mediúnico. O desenvolvimento mediúnico é o esforço hercúleo de procurar novos conhecimentos, novas instruções e nova maneira de entender uma situação, uma dificuldade. O fenômeno mediúnico é simplesmente o fato mediúnico, sem estudo, sem reflexão.

4.4. EVOLUÇÃO

De acordo com a lei do progresso, ensinada pelos Espíritos superiores, estamos permanentemente num processo de evolução. Nesse sentido, quer queiramos ou não, somos obrigados a evoluir. É que esta lei é compulsória. Às vezes, com os nossos atos impensados, detemos o seu avanço, mas nunca o retardaremos indefinidamente.

A transformação moral para o bem deve ser a tônica de nossa vida. O que adianta sabermos tudo que há no mundo, se não nos tornarmos melhores no convívio com o próximo?

5. OS FATOS

5.1. OS CIENTISTAS

A ciência, depois que se tornou teórico-experimental, começou a deduzir as suas conclusões dos fatos observados. O cientista formula teoricamente as suas hipóteses; depois, faz experimentos para verificar se elas estão corretas ou não. Se os dados coletados responderem afirmativamente, proclama-os como uma nova teoria; se os dados responderem negativamente, reformula as suas hipóteses e tenta novamente. E assim, por intermédio de tentativas e erros, vai construindo o edifício de uma ciência particular.

O Espiritismo procede da mesma forma que as ciências naturais. A única diferença é que se utiliza das percepções extra-sensoriais. E com uma diferença substancial: na ciência natural, a teoria vem antes dos fatos; no Espiritismo, os fatos precedem a teoria. Exemplo: a teoria da existência dos Espíritos não foi concebida antes da observação dos fatos; foram os próprios Espíritos que se apresentaram, e deram ensejo à formulação da teoria.

5.2. CONVERSÃO DOS SÁBIOS

O verdadeiro cientista é um ser humano sem preconceitos. Ele simplesmente se rende aos fatos. Por isso, toda a vez que surge uma teoria mais avançada, ele procura mudar o seu ponto de vista a respeito da mesma. O Espiritismo propiciou este ensejo de mudança a muitos cientistas. Muitos deles aproximaram-se dos fenômenos mediúnicos com o intuito de desmascarar a fraude. Não encontrando razão suficiente, acabaram aceitando os pressupostos espíritas e tornaram-se grandes pesquisadores no campo mediunidade. Exemplo: William Crookes (1832-1919), figura preeminente no mundo científico, famoso pelas materializações de Katie King, confessa que iniciou as suas investigações sobre fenômenos psíquicos pensando que tudo fosse truque.

5.3. OBSERVAÇÃO DOS FATOS

O Espírita deve ter em mente que a observação dos fatos mediúnicos não segue a mesma dinâmica da observação dos fatos em ciência natural. Em se tratando dos fenômenos mediúnicos, os Espíritos não estão sempre à nossa disposição para as nossas pesquisas. Não é como o químico que vai a um laboratório, mistura alguns elementos e descobre uma dada lei da matéria. No campo da mediunidade, é preciso aguardar a manifestação espontânea dos Espíritos, pois eles não são autômatos. Podemos evocá-los a qualquer hora, mas não há garantia de que estarão ali naquele momento.

Para que se tenha cunho científico, precisamos de um número grande de dados. O Espiritismo, para se dizer científico, deve proceder da mesma forma. Assim, convém ser moderado, paciente e esperar a boa vontade dos Espíritos para aquilo que eles querem tornar público.

6. CONSEQUÊNCIAS MORAIS

"Se se tratasse apenas de uma coleta de fatos, fácil seria a tarefa do espírita; eles se multiplicariam em toda a parte com tal rapidez que não faltaria matéria; mas os fatos, por si sós, tornam-se monótonos pela repetição e, principalmente, pela similitude. O que é necessário ao homem que pensa é algo que lhe fale à inteligência". (Revista Espírita de 1858, p. 2). Quer dizer, que tipo de ilações morais podemos extrair daquilo que estamos observando?

"O Espiritismo tem conseqüências de tal gravidade, toca em questões de tal alcance, dá a chave de tantos problemas, oferece-nos, enfim, tão profundo ensino filosófico, que ao lado de tudo isto uma mesa girante é pura infantilidade". (Revista Espírita de 1859, p. 191)

6.1. A LEI NATURAL

Depreende-se, do estudo da doutrina, que há uma lei natural regendo os destinos do ser humano. Se nossas ações enveredarem para o bem, seremos recompensados com o bem; se optarmos pelo mal, mais cedo ou mais tarde, seremos recompensados com o mal. A lei de ação e reação funciona matematicamente: recebemos sempre o retorno daquilo que fizermos. Em outros termos: "A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória".

6.2. A LIBERDADE DE AÇÃO

É interessante notar como a Doutrina Espírita ajustou-se bem ao caráter e à personalidade do próprio Codificador, que insistia na liberdade da assimilação doutrinária. Ele adotava a seguinte regra: "expor sem impor". E esta não é a base da verdadeira educação? A construção do saber tem que ser individual. Podemos nos valer dos ensinamentos e exemplos dos outros, mas a construção e o progresso dependem dos nossos esforços. É inútil e prejudicial impor deveres que o indivíduo não considere como tais. O ideal da moral (instruir sem impor), deixando o indivíduo advertido do mal e das conseqüências de suas ações, tem maior eficiência do que programar artificialmente uma reforma interior. (Geley, 1975)

6.3. RECOMPENSA FUTURA

A felicidade repousa na consciência tranqüila pelo dever retamente cumprido. O Espiritismo é o cristianismo redivivo. Nesse sentido, ser espírita nada mais é do que entender e colocar em prática a mensagem de amor ensinada por Cristo. A Doutrina Espírita repousa nisto, ou seja, na transformação moral de nossos sentimentos frente aos acontecimentos da vida. Aquele que odeia, passe a amar; aquele que fere, passe a curar; aquele que reclama, passe a agradecer; aquele que se desespera, passe a confiar em Deus; aquele que se ache solitário, passe a buscar a boa convivência.

7. CONCLUSÃO

A Doutrina Espírita, quando bem compreendida, assemelha-se à atuação do verdadeiro cristão, pois o Espiritismo nada mais faz do que reviver os ensinamentos trazidos por Cristo, sob a inspiração da fé raciocinada.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Tradução de Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
GELEY, G. Resumo da Doutrina Espírita. Tradução de Isidoro Duarte Santos. 3. ed., São Paulo: Lake, 1975.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995.
KARDEC, A. Revista Espírita de 1858.
KARDEC, A. Revista Espírita de 1859.

São Paulo, maio de 2004