Filosofia Cristã e Espiritisimo

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. O Conceito de Filosofia. 3. Filosofia Grega: 3.1. Platão; 3.2. Aristóteles. 4. Jesus e o Cristianismo. 5. Filosofia Cristã: 5.1. Patrística; 5.2. Escolástica. 6. Espiritismo. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é analisar as relações entre fé, razão e revelação explicadas tanto pela Filosofia Cristã como pelo Espiritismo. Sendo assim, o nosso roteiro segue os seguintes passos: conceito de filosofia, filosofia grega, Jesus e o cristianismo, filosofia cristã e Espiritismo.

2. O CONCEITO DE FILOSOFIA

A filosofia, tal qual surgiu na Grécia, mostra uma nova maneira de construir o conhecimento, distanciando-o do processo mitológico vigente até então. Partindo da dúvida, da crítica, do paradoxo, quer chegar à verdade das coisas. Nesse sentido, começa a indagar sobre a natureza e o papel do homem no universo, a imortalidade da alma, o destino versus livre-arbítrio etc.

Embora o termo filosofia comporte varias acepções, como por exemplo, filosofia da vida, filosofia de um povo, filosofia de trabalho, é preciso estar ciente de que a disciplina acadêmica que se intitula filosofia usa essa palavra num sentido estrito, que exclui de seu âmbito não só a concepção de vida da vovó e as disciplinas ascéticas dos monges tibetanos, mas também textos das filosofias milenares chinesa e hindu.

Se perguntarmos a dez físicos "o que é a física", eles responderão de forma parecida. O mesmo não acontece com a Filosofia. Por que? Porque para definirmos a Filosofia deveríamos vivenciá-la. De qualquer forma, a origem do conceito de filosofia está na sua própria estrutura verbal, ou seja, na junção das palavras gregas philos e sophia, que significam "amor à sabedoria". Filósofo é, pois, o amante da sabedoria. Mas o que é a sabedoria? É um termo que significa erudição, saber, ciência, prudência, moderação, temperança, sensatez, enfim um grande conhecimento.

3. FILOSOFIA GREGA

Em termos históricos, a filosofia grega caracteriza-se por três grandes períodos evolutivos:

a) período pré-socrático ou de formação: de Tales a Sócrates (século VI e V a. C.), em que predominam as questões cosmológicas;

b) período socrático ou de apogeu: Sócrates, Platão e Aristóteles (século IV a. C.), em que predominam as questões metafísicas;

c) período pós-socrático ou de decadência: de Aristóteles aos século I a. C. em que predominam as questões morais.

Salientemos, para efeito de nosso estudo, os contributos de Platão e de Aristóteles.

3.1. PLATÃO (427-347 A. C.)

Segundo o Platonismo, a alma humana, quando vem a este mundo, traz implícita a reminiscência do mundo eterno onde viveu (Menon). É por isso que certas idéias lhe são inatas. Por virtude das idéias latentes, um escravo ignorante, por exemplo, responde com acerto a questões de geometria, se as perguntas forem bem dirigidas. A alma é imortal (Faidon), e pode elevar-se à felicidade da participação do Justo, do Belo e do Verdadeiro. Destas virtualidades da alma nascem as inspirações, e as inspirações podem elevar a mente ao contato com as Idéias sobrenaturais. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)

Assim, para Platão, que criou a dialética, o processo de conhecimento se desenvolve por meio da passagem progressiva do mundo das sombras e aparências para o mundo das idéias e essências.

3.2. ARISTÓTELES (384-322 A. C.)

A filosofia de Aristóteles (discípulo de Platão) caracterizava-se, antes de tudo, pelo seu realismo, pela sua observação fiel da natureza, pela sua objetividade científica, pelo seu rigor metodológico e pela unidade harmônica do seu sistema que constitui uma síntese orgânica e maravilhosa.

Apaixonado pela Biologia, dedicou inúmeros estudos à observação da Natureza e à classificação dos seres vivos. Tendo em vista a elaboração de uma visão científica da realidade, desenvolveu a Lógica para ser uma ferramenta básica do raciocínio. E com ela todos os silogismos para bem conduzir o pensamento.

Ao contrário de Platão, dizia que é partindo da existência do ser, que devemos atingir a sua essência. Utiliza-se para isso o método indutivo, em que partindo da observação particular pensa em generalizar para o todo. (Cotrim, 1990, p. 128-131)

4. JESUS E O CRISTIANISMO

Jesus Cristo (de Jesoûs, forma grega do hebraico Joxuá, contração de Jehoxuá, isto é, "Jeova ajuda ou é salvador", e de Cristo, do grego Christós, corresponde ao hebraico Moxiá, escolhido ou ungido) veio ao mundo numa manjedoura.

Contava trinta anos quando começou a pregar a "Boa Nova". Compreende a sua vida pública um pouco mais de três anos (27 a 30 da era cristã). Utilizou-se, na sua pregação, o apelo combinado à razão e ao sentimento, por meio de parábolas ilustrativas das verdades morais.

As duas regiões de sua pregação:

1) Galiléia (Nazaré) - as cercanias do lago de Genesaré e as cidades por ele banhadas, e principalmente Cafarnaum, centro a atividade messiânica de Jesus;

2) Jerusalém - que visitou durante quatro vezes durante o seu apostolado e sempre por ocasião da Páscoa.

Na Galiléia, percorrendo os campos, as aldeias e as cidades, Jesus anunciava às turbas que o seguem o Reino de Deus; é aí, também, que recruta os seus doze apóstolos e os prepara para serem as suas testemunhas. Ao mesmo tempo, vai realizando milagres.

Em Jerusalém, continuamente perseguido pela hostilidade dos fariseus (seita muito considerada e muito influente, que constituía a casta douta e ortodoxa do judaísmo), ataca a hipocrisia deles e esquiva-se às suas ciladas. Como prova de sua missão divina, apresenta-lhes a cura de um cego de nascença e a ressurreição de Lázaro. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)

É justamente dessas pregações que os Evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João compõem os textos do Novo Testamento. Daí que surge o Cristianismo, ou seja, a religião monoteísta que coloca em primeiro plano a comunhão com Deus, o Pai, por intermédio de seu filho Jesus Cristo, Salvador da humanidade.

5. FILOSOFIA CRISTÃ

É a filosofia que, influenciada pelo cristianismo, predominou no Ocidente, principalmente na Europa, no período que vai do século I ao século XIV de nossa era.

Problema central: conciliar as exigências da razão com as perspectivas da fé na revelação.

A filosofia cristã divide-se em dois períodos:

5. 1. PATRÍSTICA (SÉC. I A V)

Santo Agostinho (354-430), influenciado por Platão, é o pensador que mais se destaca nesse período.

Deixou formulado indicando o caminho para a sua solução - o problema das relações entre a Razão e Fé, que será o problema fundamental da escolástica medieval. Ao mesmo tempo demonstra claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma. Entretanto, defronta-se com um primeiro obstáculo no caminho da verdade: a dúvida cética, largamente explorada pelos acadêmicos. Como a superação dessa dúvida é condição fundamental para o estabelecimento de bases sólidas para o conhecimento racional, Santo Agostinho, antecipando o cogito cartesiano, apelará para as evidências primeiras do sujeito que existe, vive, pensa e duvida.

Em relação ao platonismo, o posicionamento de Santo Agostinho não é meramente passivo, pois o reinterpreta para conciliá-lo com os dogmas do cristianismo, convencido de que a verdade entrevista por Platão é a mesma que se manifesta plenamente na revelação cristã. Assim, apresenta uma nova versão da teoria das idéias, modificando-a em sentido cristão, para explicar a criação do mundo.

Deus cria as coisas a partir de modelos imutáveis e eternos, que são as idéias divinas. Essas idéias ou razões não existem em um mundo à parte, como afirmava Platão, mas na própria mente ou sabedoria divina, conforme o testemunho da Bíblia. (Rezende, 1996, p. 77 e 78).

5.2. ESCOLÁSTICA (SÉC. XI A XV).

Santo Tomás de Aquino (1221-1274), influenciado por Aristóteles, é o pensador que mais se destaca na Escolástica.

Santo Tomás representa o apogeu da escolástica medieval na medida em que conseguiu estabelecer o perfeito equilíbrio nas relações entre a Fé e a Razão, a teologia e a filosofia, distinguindo-as mas não as separando necessariamente. Ambas, com efeito, podem tratar do mesmo objeto: Deus, por exemplo. Contudo, a filosofia utiliza as luzes da razão natural, ao passo que a teologia se vale das luzes da razão divina manifestada na revelação.

Há distinção, mas não oposição entre as verdades da razão e as da revelação, pois a razão humana é uma expressão imperfeita da razão divina, estando-lhe subordinada. Por isso o conteúdo das verdades reveladas pode estar acima da capacidade da razão natural, mas nunca pode ser contrário a ela. (Rezende, 1996, p. 81).

6. ESPIRITISMO

A filosofia espírita não é dicotômica, ou seja, não divide a realidade em duas partes, não abre um abismo entre matéria e espírito. Pelo contrário, é o delta, o campo de chegada de todo o conhecimento, pois fazendo uma ligação do Espírito ao corpo físico através do Perispírito, descortina-nos a clareza da dimensão espiritual do homem na sua plenitude e potencialidade.

Em 18/04/1857 surgiu O Livro dos Espíritos, que veio abalar a fé dogmática e a fé cega, dando-lhe os condões da fé raciocinada. Kardec, valendo-se de todos os seus antecessores, vai imprimir ao Espiritismo uma dimensão mais acurada das verdades eternas. Diz-nos que a Fé é inata, pertence à essência do ser; contudo ela precisa de ser raciocinada.

Eis como se expressa J. Herculano Pires, em Introdução à Filosofia Espírita: "Razão e Fé constituem, portanto, elementos essenciais do espírito, conjugados em torno de um eixo que é a Vontade. Esta, a Vontade, se representa o livre-arbítrio, o princípio da liberdade, sem o qual a Razão de nada serviria e a Fé não teria sentido. Vê-se claramente a natureza sintética do Espiritismo. Todas as antinomias, todas as contradições se resolvem numa visão mais ampla do problema universal. O racionalismo e o empirismo, o positivismo e o idealismo, o materialismo e o espiritualismo, o ontologismo e o existencialismo, e assim por diante, encontram o seu delta comum numa visão gestáltica ou global do Universo. Não há motivo para as intermináveis disputas a respeito da Razão e Fé, pois ambas pertencem à própria substância do ser, que desprovido de uma delas já não poderia ser". (1983, p. 47)

Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, trata dos aspectos imanentes e transcendentes da fé. Observe que ele relaciona fé humana e fé divina. Na primeira, acentua o esforço do homem para a realização de seu fim; na segunda, coloca a crença humana sob a orientação dum poder superior, que supervisiona os nossos atos. Acrescenta, ainda, que a fé, sendo inata, pode manifestar-se racional ou dogmaticamente e que o Espiritismo aceita, somente, a primeira.

7. CONCLUSÃO

A revelação espírita, sendo de iniciativa dos Espíritos e fruto do trabalho dos homens, incita-nos a debruçar sobre os seus princípios. Inteiremo-nos, assim, da essência do Espiritismo: ele é um sol que nos tira do abismo das sombras.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia para uma Geração Consciente. Elementos da História do Pensamento Ocidental. 5. ed., São Paulo, Saraiva, 1990.
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa/Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, s.d. p.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.
PIRES, J. H. Introdução à Filosofia Espírita. São Paulo, Paidéia, 1983.
REZENDE, A. (Org.). Curso de Filosofia: para Professores e Alunos dos Cursos de Segundo Grau e de Graduação. 6. ed., Rio de Janeiro, Zahar, 1996.

São Paulo, março de 2001